World gone wrong escrita por BabeG


Capítulo 3
Capítulo 3




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Paro na frente do meu pequeno armário. As coisas são bem simples por aqui. A Ágora não nos permite ter muito. Boa parte dos recursos disponíveis vão para o Cônscio, que é o bairro onde ficam os cientistas e os engenheiros. Eles constroem qualquer tipo de coisa para a Ágora, onde ficam os legisladores e os intelectuais, e para o Gaya, onde ficam os militares. E eu moro na Trívia. O lugar do “resto”, como eu gosto de chamar, e como meu pai odeia que eu chame. Por aqui moram as pessoas que trabalham duro para sobreviver. O que é produzido aqui serve para toda a sociedade. A comida, a energia, as roupas, os itens de higiene pessoal e os aparelhos domésticos. Todas as fábricas estavam nas nossas mãos. O Conselho é formado por membros daqui, também. O Conselho tem o poder de desfazer qualquer decisão da Ágora, mas isso raramente acontece. As pessoas por aqui não costumam procurar por confusão. Normalmente, quem se mete com a Ágora simplesmente desaparece.

Pego meu vestido e o jogo na cama.

Mãe. – Grito com a maior força que posso. – Por que você colocou brilhos no meu vestido? – Terminei, bufando. Ela sabe que eu não aprecio muito essa coisa de brilho e extravagância. Isso é coisa dos ágoros. Não minha.

O banho é uma ótima hora pra se pensar na vida. E acho que, depois de três anos com a oportunidade de fazer isso, é hora de finalmente resolver o que vou fazer da minha vida. Em cima da hora. No dia da Designação. Sou um desastre mesmo...

Tenho quatro opções. A primeira é continuar com os meus pais e trabalhar nas Fazendas ou nas fábricas. A segunda é me juntar aos militares no Gaya. A terceira, me juntar aos cientistas e intelectuais no Cônscio. E a última, mas não menos torturante, me mudar para a Ágora. Com os meus queridos e amados legisladores. Pelo menos há uma opção que eu definitivamente posso descartar, sem pensar duas vezes: a Ágora.

Meu momento de reflexão foi interrompido pelo grito de meu pai me lembrando de que eu estava atrasada por conta do meu pequeno passeio à beira do rio. Saí do banho e já comecei a secar o cabelo e passar maquiagem ao mesmo tempo. A Ágora disponibilizou uma pequena bolsa de maquiagem para que eu pudesse me arrumar. Prendi o lado esquerdo do meu cabelo com uma presilha dourada e deixei o lado direito caído sobre o ombro, com as costumeiras ondulações nas pontas.

Me encarei no grande espelho que se estendia do chão ao teto ao lado de minha cama. Era estranho me ver arrumada. Normalmente, eu estaria vestindo uma calça larga e velha, uma bota de andar na terra e uma camisa xadrez, com luvas laranjas e o cabelo em coque, assim como todos faziam no meu bairro, que era de fazendeiros. Mas hoje não. Hoje tenho que parecer apresentável a todos os superiores, e a todas as pessoas que vão à Designação assistir.

Nos encontramos com a família de Joseph e pegamos o trem até a Ágora. O trem parou ao lado de um grande estádio fechado. Acima da grande porta de entrada, lia-se “Estádio Lydia Smith”. Respirei fundo, entrelacei meus dedos nos de Joseph e entrei. Muitas pessoas já estavam sentadas. Os assentos estavam divididos entre os quatro setores. Nos dirigimos aos nossos assentos e esperamos o início da cerimônia.

Quando ela se iniciou, Lydia Smith, vice-presidente do setor da Ágora, fez seu discurso.

Um ciclo termina aqui para os nossos queridos estudantes. Agora... – Ela começou, mas eu não prestei atenção em mais nenhuma palavra. Me perdi em meus pensamentos, e a mão de minha mãe apertando a minha parecia ser um lembrete de que eu precisava me decidir logo. E pior: era um lembrete de que ela me ama. E eu poderia magoá-la se escolhesse sair de casa.

Ouvi cada nome ser chamado, até que a letra “I” chegou. “Isabel Gramber”. Levantei-me, com os pés tremendo. Cada par de olhos que me encarava me dava mais medo, e me deixava mais insegura. As escadas que levavam até o palco pareciam não ter fim, e eu desejei mesmo que não tivessem. Mas então cheguei ao topo. Recebi meu diploma do meu professor de Matemática, que por acaso me odiava. Por um segundo pensei na possibilidade de ele jogar o diploma na minha cara, ou se recusar a me entrega-lo, mas então percebi que essa foi uma coisa bem idiota de se pensar. Um adulto sério e equilibrado como ele nunca faria isso. Caminhei até Lydia, parando em frente ao palanque atrás do qual ela discursava. Entregaram-me um microfone. Encarei todo aquele público, e minhas mãos pareciam ter dez vezes menos força que o normal. Levei-o até a boca. Todos esperavam pela minha escolha.

– Falei, deixando o microfone sobre o palanque e voltando ao meu lugar o mais rápido que pude. Ao me sentar ao lado de minha mãe, pensei que sua mão não viria de encontro a minha. Que ela não olharia mais para mim. Mas então senti o toque de sua pele, e uma leve pressão de seus dedos nos meus. Ela estava comigo pro que fosse.

Agora, a Ágora iria analisar minha decisão com base no meu desenvolvimento durante todo o período do colégio. Desde a aula de educação física até as de química. Do o meu perfil psicológico ao perfil das pessoas com quem eu andava. E então, em menos de um dia, eu receberia uma resposta. E caso essa resposta fosse uma aprovação, eu deixaria minha família para iniciar uma vida nova em outro lugar, e com outras pessoas. E isso parecia completamente assustador para mim.




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