World gone wrong escrita por BabeG


Capítulo 2
Capítulo 2




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Sinto meus pés quentes no chão frio e seco enquanto balanço o corpo para frente e para trás em um movimento suave. Talvez olhar o mar e imaginar que estou lá flutuando me ajude a ficar mais calma. Prendo meu cabelo em um coque e deixo meu corpo desabar em cima da pedra pontuda na qual eu já estava parada há pelo menos 20 minutos. Cair dali seria morte certa. Uma queda de 10 metros diretamente em um rio revolto e cheio de pedras. Ainda bem que não sou suicida nem nada que pareça com isso.

Ta querendo se matar? Espero que tenha uma carta de despedida me esperando dentro do meu armário. – Falou uma voz atrás de mim. Uma voz inconfundível. Joseph. Não me virei. Apenas sorri e abaixei a cabeça.

Pode ter certeza que você seria a primeira pessoa pra quem eu mandaria uma carta de despedida. – Respondi, me levantando e olhando na direção de Joseph. – Espero que você não esteja julgando as minhas roupas.

Como você sabia? - Ele fez cara de entediado.

Eu sempre sei o que você tá pensando, Joseph. Te conheço desde quando a gente não sabia falar. – O empurrei com o ombro devagar e comecei a andar lentamente. Eu não queria realmente chegar em casa.

Você devia pedir pijamas novos pro Conselho do nosso bairro. Cinza com certeza não te valoriza. Ah, e devia pensar também em começar a usar chinelos.

Eu não pensei muito antes de sair de casa. Eu estava nervosa demais pra pensar em qualquer coisa.

Relaxa, Bel. Hoje não é pra ser um dia torturante. É só o dia da escolha das nossas designações. A gente tem sorte que a Ágora ainda deixa a gente escolher o que quer fazer.

Hoje é, sim, um dia muito torturante. Ter que escolher entre viver como nós vivemos pra vida toda ou abandonar a família e começar algo novo me parece aterrorizante o suficiente.

O colegial inteiro eles nos deram atividades que nos ajudaram a fazer essa escolha. Bom, pelo menos a mim ajudaram muito.

Você me conhece, Joseph. Eu sou a pessoa mais indecisa que existe.

Bom, você não tem muita concorrência, afinal, não restou muito da população mundial. – Ele disse, abrindo um sorriso debochado. Dei um soco em seu braço. Não se brinca com a destruição da Terceira Guerra Mundial. Principalmente no meio da rua, onde todos podem ouvir e o delatar à Ágora.

Tchau, seu doido. Vê se presta mais atenção nas coisas que você fala em público. – Falei quando cheguei ao topo da escada que dava para a porta da minha casa. Ele apenas fez um sinal de silêncio com o indicador na frente da boca, sorriu e foi embora.

Entrei em casa e passei rápido pela sala, indo em direção às escadas. Quando eu estava prestes a chegar no segundo andar, ouvi meu pai me chamando. Sentei-me, esperando que assim eu conseguisse ver sua face para que não tivesse que descer de novo. E lá estava ele. Um quarentão (quase cinquentão, mas ele não gosta que eu diga isso), de mais ou menos 1,80m e cabelos já grisalhos, me encarando com rosto sério.

Devemos criar uma regra sobre avisar para onde está indo quando sai de casa e... Nossa, que estranho. Essa regra já existe. Desde sempre. Por que você insiste em quebrá-la? – Disse, cruzando os braços.

Acho que é um pouco óbvio pra onde vou todas as vezes que saio sem avisar. Até a vizinha sabe. E isso não tem a ver com o fato de ela ser intrometida e fofoqueira. – Declarei, fazendo minha melhor cara de tédio.

Ainda assim, eu quero saber... Sempre. Me preocupo com você. – Ele falou, fazendo esforço para demonstrar em sua feição que realmente ficava preocupado comigo.

Ta bom, pai. – Digo, levantando. Mando um beijo ao ar antes de me virar e começar a subir. Pude ouvir um “e diga ao Joseph que ele tem que disfarçar melhor se não quiser ser pego” ao fundo, mas ignorei.

Joseph devia se cuidar, realmente. É quase evidente que ele é... Bom, gay. Não assumido, é claro. Ninguém pode saber. Hoje, com todo esse problema da extinção do ser humano, a homossexualidade é considerada um crime contra a humanidade e um ato de egoísmo. Não por mim, é claro. Eu adoro os conselhos de moda que recebo de Joseph. Mas para grande parte da população, é assim que funciona: é um crime e deve ser punido devidamente.


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