Se tinha um momento decisivo no jogo, era aquele em que eu me encontrava. A rasteira que me deram a apenas um metro da grande área nos rendeu uma falta, e um grande perigo para o time adversário. Havia apenas duas meninas na barreira. “Corajosa” – pensei. Não que eu seja uma pessoa muito convencida, mas meu chute é o mais forte entre o de todas as garotas que se encontravam em campo, e confesso que nem eu mesma ficaria na barreira sabendo que o chute seria o meu. Concentrei-me, e observei a minha frente, procurando alguma brecha, algum espaço, mesmo que pequeno, que me permitisse fazer a bola entrar no gol. Talvez no canto direito. Não pegaria na barreira, e a goleira não conseguiria alcançar. Ninguém sairia machucada e eu conseguiria fazer o gol. Chutei. A goleira se jogou para cima da bola como se ela fosse feita de ouro, mas acho que esqueceu que não conseguiria pegá-la com aquele enorme espaço entre suas mãos. Resultado: a bola passou entre seus braços, e entrou no gol.

Comecei a correr pelo campo como uma louca, as meninas do meu time vinham me abraçar e dançar comigo. Era o gol do jogo. Precisávamos enrolar apenas mais cinco minutos, e ganharíamos de um a zero. E foi o que fizemos. Assim que o jogo acabou, tudo o que eu queria era dormir, mas quem disse que o Liam ia deixar? Estávamos sentados na arquibancada

– O que? – gritou – Você acabou de ganhar um jogo, não pode simplesmente ir dormir. Você ta na final, Cath, sabe como isso é importante pro time?

– Eu sei Liam, mas hoje de manhã eu já tive que fazer todas as tarefas do clube, fiquei uma meia hora esfregando o chão, você tem ideia de como minhas costas estão doendo?

– Tenho, eu fico abaixado assim quando derrubo meu cereal debaixo do armário. - falou, e eu comecei a rir. Coloquei as mãos sobre o rosto, apoiando os cotovelos sobre meus joelhos e falei, abafado:

– Ta bem, o que você quer fazer?

– Isso! –me abraçou – Ah, eu tava planejando de ir dormir na casa do Joseph. A irmã dele vai estar lá e... Para de fazer essa cara, não vai rolar nada.

– Aham, sei! Quando soube que ela estaria lá não pensou duas vezes, né? – comecei a rir, e ele riu junto comigo, ficando corado.

– Ah, mas mesmo assim Cath, vai ser legal. O Fred vai estar lá, e a irmã dele, Alanna, também vai.

– Nossa, que convidatido, hein! – falei, em tom irônico. Odeio a irmã do Fred, e acho que o odeio também. Ele é tão frio, e, argh, grosso. E a irmã dele é simplesmente uma estúpida. Tem quinze anos e pensa que é a rainha do mundo.

– Por favor, vai comigo! O Joseph é legal, e a irmã dele também é gente boa.

– A irmã do Joseph é amiga da Alanna, tem algum jeito de ela ser legal? Acho que não.

– Mas ela é, você vai ver.

– Me mande uma foto de vocês quando chegar lá, aí sim eu vou ver.

– Não, você vai. Por favor... – fez biquinho – de presente de aniversário.

– Liam, seu aniversário é só daqui quatro meses. – bufei, e olhei para ele, que continuava com aquela cara de bebê. Seus olhos verdes brilhavam sob a luz do fim de tarde, e os cabelos castanhos quase os cobriam. – Você sabe que está muito emo com essa franja comprida, né? – perguntei, e ele tirou aquela fofa do rosto e a substituiu por uma de raiva. Claro que não era raiva de verdade, então comecei a rir e ele não aguentou, se juntando a mim.

– Só corto se você for comigo. – Falou. É, eu teria que fazer isso, pela dignidade dele.

– Ta bem. – Prolonguei o “e” de “bem”, fazendo cara de derrota.

– Legal. – Falou, se levantando e indo em direção à rua. – Vai pegar suas coisas e passa na minha casa às 18:30, beleza? – Concordei com a cabeça, e o observei virando a esquina.

Que cavalheiro... Nem pra me levar em casa.

Olhei no relógio e eram 17 horas. Saí de lá o mais rápido que pude e assim que cheguei em casa, parei diante à porta e comecei a pensar no que faria primeiro. Eu tinha que fazer o jantar, tomar banho, arrumar minhas coisas, o quarto de meus pais e ir para a casa de Liam, que era na mesma rua que a minha.

Comecei pelo jantar. Fiz um macarrão ao molho branco e algumas batatas fritas, já que meu pai as adora, o que me levou quarenta minutos. Agora eu tinha apenas cinquenta para fazer o resto das coisas. Rapidamente arrumei o quarto dos meus pais, o que não era difícil por ser um cômodo pequeno, e fui tomar um banho. Sentir aquela água quente relaxou meus músculos, e só de saber que todo aquele suor estava saindo do meu corpo, já me senti dez vezes melhor que antes.

Coloquei uma roupa qualquer, joguei um shorts e uma camiseta para dentro da mala e fui para a casa de Mike. Ele nem me chamou para entrar, já que já estava na porta me esperando para irmos.

Chegamos, e tocamos a campainha. Depois de um minuto, alguém abriu a porta. Esse alguém me olhou de baixo para cima com a maior atenção do mundo, fazendo uma cara de desprezo. Adivinha quem era? Isso mesmo, Alanna.

– Oi Liam. – Falou, abrindo um sorriso e o abraçando. Quem deixou ela abraçar o meu melhor amigo? – E você? Tá fazendo o que aqui?

– Fui chamada. Você...?

– Não tem nada que eu não seja chamada, então decidi vir junto com o meu irmão. – Sorriu, falsa.

Essa noite vai ser longa.