Angelique escrita por Miss Lolly


Capítulo 1
Capítulo 1




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Todo mundo deseja ser amado. Mas será que todos encontrarão o amor?

Por mais que muitos recusem admitir, a maior parte das pessoas aqui do planeta Terra gostam de uma boa história de amor. Um dos motivos para que eu as faça acontecer.

Relatos da existência de cupidos remontam desde a época dos gregos antigos. Fora popularizado como Amor, sua forma divina e romana era conhecida como Eros, filho de Vênus e Marte. Todos diziam ser um ser que nunca desgrudava de seu arco e flecha, o qual usava para acertar o coração de homens e deuses. De sua mãe herdou o amor e a beleza, de seu pai, a invencibilidade, foi então a partir daí que a frase “o amor é invencível” caracterizou as consequências de suas flechadas. O anjo da paixão que vive à procura de corações solitários também teve sua grande paixão, Psiquê, uma mortal, a mais bela dentre todas, que despertou a inveja da deusa Vênus, Cupido lutou pela sua amada e por fim a transformou em uma imortal, passando a eternidade ao lado do ser que mais amou.

A história contada acima é a que popularizou o anjo que une corações, porém, não é a verdadeira. Veja bem, há muitas coisas que não são verdadeiras nesse mundo, muitas histórias que contam por aí que são passada de geração em geração. Como por exemplo, nem todos os anjos não possuem sexo, se tratando de um ser místico que hora é visto como uma divindade, hora é visto como um ser angélico, o cupido possui sexo, porém, nunca sente atração. Esta história, que tem como objetivo consertar alguns dos maiores erros da humanidade, que é a respeito de seu conhecimento sobre o cupido, deve, antes de continuar, reparar um dos mais imperdoáveis que ela mesma está cometendo até agora: não existe apenas um cupido.

Centenas de cupidos estão espalhados pelo mundo. Não se sabe ao certo quantos são. Eles vagam procurando encher de amor corações carentes. Apesar de nunca se esbarrarem, todos trabalham em perfeita harmonia, como se alguma força superior indicasse como deveriam fazer seus trabalhos. Eles não sabem de onde veem e, a maioria não conhece o significado do que faz. Um deles é Angelique, uma cupido. Como foi dito, cupidos possuem sexo e Angelique é uma garota de aparência exuberante, digna de mitos humanos que dizem ser ela filha de Vênus, a mais linda entre deusas e humanas. Ela observa as pessoas e tenta entender seus modos de vida, tenta entender o motivo de uma precisar se apaixonar por outra. O motivo de uma ter exatamente outra pessoa correspondente. Mas até agora Angelique não sabia. Apenas sabia, pois descobriu em seu tempo de cupido, que apenas flechava pessoas pré-condicionadas uma a outra. O amor não surgia de repente, ele não surgia com uma flechada. A flecha apenas selava o que já estava destinado a acontecer.

Ela existe há quarenta anos. Não sabe o que era antes disso, sua primeira recordação é dela caminhando para encontrar o primeiro casal ao qual flecharia. Não sabia de onde vinha e nem quem eram seus criadores, apenas sabia qual era seu trabalho e que o faria por um tempo indeterminado. Não tinha ideia de qual era o seu prazo de validade, apenas que não envelhecia como os humanos. Ela continuava com a mesma aparência de quarenta anos atrás. Rosto delicado, olhos e cabelos negros, pele próxima ao âmbar e lábios finos, porém bem definidos. Se fosse humana, sua idade seria em torno dos vinte e dois anos. Sua pele era cheia de tatuagens, a cupido tinha a teoria de que elas remontassem a vidas passadas, passou anos tentando juntá-las, tentando saber se elas contariam alguma história, porém, não obteve muito sucesso. Ela quase não falava, palavras não eram necessárias em sua vida, quase ninguém a via, apenas uma pequena parcela da população, a que tinha um coração puro. Angelique usa um corpete preto, o qual nunca tira, assim como uma mini-saia e bota, de cano até o joelho, de mesma cor. Não é uma visão que as pessoas estão acostumadas quando se trata de seres místicos. Mas, como já foi dito, esta história é para contar a verdade para todos.

Angelique sempre procurou saber o motivo de sua existência, ela nunca se conformou de que era apenas aquilo, que era uma criatura de apenas uma utilidade. Como um ser cheio de questões, como ela, era capaz de ser o mesmo ser conhecido por espalhar amor? A cupido achava isso uma grande ironia. Quando não estava ocupada com sua obrigação, Angelique gostava de passar seu tempo no cemitério. Sentava em túmulos de amantes, muitos que ela mesma juntou, e tentava desvendar uma das grandes perguntas: o que é o amor?

A divindade do amor não sabia o que era o amor. O quão errado isso soava? Ela encarava os nomes nos túmulos e imaginava a vida que essas pessoas tiveram antes da morte, todas as lembranças de cada uma delas desapareceram no momento em que o coração parou de bater. Angelique não acreditava em vida após a morte, pois nunca morria, então não precisavam de amor no outro lado, e se não precisavam de amor, então não existiam. Disso ela tinha certeza.

Apenas para registro, cada cupido tem uma personalidade única e ela remete a que tipo de casal formará. Existe cupido brincalhão, cupido rancoroso, cupido orgulhoso e tantos outros amores que qualquer pessoa já viu em sua vida, Angelique era uma cupido solitária e reflexiva, então ela era atraída por pessoas que se sentiam da mesma maneira que ela. Nessa noite fria e silenciosa, Angelique sentia aquela costumeira força lhe puxando para um canto da cidade, em um piscar de olhos, ela estava em uma lanchonete, uma moça com cabelos castanho-chocolate e um sobretudo verde-musgo estava fechando a porta do local, apenas a iluminação do letreiro e da rua é que impediam do lugar ser totalmente escuro. O que deixava a cupido tranquila era que se fora chamada ali, isso significaria que nada de mal aconteceria com aquela moça. Vejam bem, o amor nunca é o vilão. A jovem chorava enquanto brigava com a chave que não queria fazer as cinco voltas que assegurava a tranca do estabelecimento. A essa altura de sua experiência, a cupido não se perguntava como que alguém naquele estado poderia conhecer o amor de sua vida, apenas sabia que a qualquer momento seria puxada para a pessoa correspondente.

Poucos segundos depois e duas quadras de distância, ela apareceu na frente de um antiquário, um homem vinte anos mais velho do que a moça também fechava seu estabelecimento. O amor não tem idade. Com o cabelo grisalho e barba por fazer, o semblante daquele homem estava pacífico, provavelmente no dia de hoje teve um movimento maior em sua loja. Pronto, Angelique já sabia quem seria o casal que formaria. Um dos dons de cupido é saber toda a história de vida de uma pessoa só de olhar nos olhos dela. Não tardou e Angelique viu os olhos da moça e do homem. Tinham histórias diferentes, porém, suas dores eram parecidas. A moça, que se chamava Gabriela, recebeu há onze dias a notícia de que seu ex-namorado estava em uma das tendas explodidas por um homem-bomba no Afeganistão. Eles haviam terminado há um ano, logo quando ele fora convocado para servir no exército, o motivo era de que, como o futuro era incerto, ele não a prenderia em um relacionamento em que estaria instável, ele tinha medo de que Gabriela deixasse de viver, de que perdesse oportunidade enquanto esperava por uma volta incerta dele da guerra. Não havia sido Angelique que flechou esse casal, eles eram pessoas felizes antes de se conhecerem, não faziam o perfil da cupido. Gabriela há onze dias chorava a morte de seu ex.

Já Davi, era um homem viúvo, há seis anos perdeu sua esposa para o câncer. Desde então se dedicou exclusivamente para o antiquário, loja que herdou dela. Teve alguns encontros e relacionamentos casuais durante esse tempo, porém, nenhum conseguia diminuir a dor e o buraco que a morte de Elisa causou dentro dele. Nenhum dos dois sabiam, mas, em poucos minutos, suas vidas mudariam para sempre. Eles se conheceriam e entenderiam que a vida pode dar uma segunda chance. Até mesmo para as pessoas mais solitárias.

Entendam, a flecha da cupido Angelique é diferente da maior parte dos outros cupidos. Por serem pessoas solitárias, o amor não aparece por conta própria entre elas, ele precisa ser semeado em seus corações, cresce aos poucos para que a memória anterior não seja dilacerada, mas sim diminuída gradativamente. O que aconteceria naquela noite seria o começo de um amor verdadeiro, porém, primeiramente fantasiado de uma amizade, que, mais cedo ou mais tarde, transbordaria e abandonaria sua roupagem amigável e se revestiria do que realmente era: amor, o mais puro e verdadeiro deles.

Angelique sabia o quanto era lindo seu trabalho, mesmo sem entender o sentimento. Ela sabia quanto o amor é importante para os humanos. Os minutos que mudariam a vida daquelas pessoas estavam ficando cada vez menores. Ela esperava o momento certo para atirar sua flecha. Assim que Davi virou a esquina que Gabriela se aproximava, Angelique atirou sua flecha, o acertou primeiro e, em seguida, Gabriela. Ambos passaram por si, se encarando.Para os olhos humanos, isso não era nada demais, mas Angelique sabia que aquela troca de olhares era o primeiro passo para despertar o amor dentro deles. Afinal, era como destino, o amor dos dois já existia dentro deles, apenas esperava pela flecha da cupido. Dez passos dados, Davi parou e olhou para trás, se perguntando o motivo daquela jovem ter lhe chamado tanto a atenção. Gabriela sentia um frio no estômago, aquele homem era muito mais velho do que ela, como que ele havia chamado tanto a atenção dela?

Ambos pararam para pensar em seus falecidos amores. Imediatamente se sentiram culpados. Cada um deu seu passo em direção ao caminho em que estava. Angelique soube que precisariam de mais uma ajuda sua para se conhecerem, então foi na frente da moça, que não a viu, e soprou, fazendo com que um papel, que estava quase inteiro fora no bolso do sobretudo, saísse voando. Davi sentiu aquele vento frio e olhou para trás, a direção que ele vinha, viu um papel voando e aquela moça bonita correndo para alcançar. Para ajudá-la, ele pegou o pedaço de papel e o devolveu. Ela sorriu timidamente e agradeceu, ficaram se encarando com sorrisos bobos no rosto. Angelique ficaria só por mais alguns minutos ali, apenas para ter certeza de que seu trabalho havia sido feito por completo. Davi se apresentou e perguntou se aquela moça estava se sentindo segura para andar sozinha em ruas como aquela, Gabriela sentiu segurança no homem e se apresentou, disse também que já era acostumada. Os dois começaram uma conversa ali mesmo, no meio da calçada, a cupido sabia que seria uma dessas conversas em que poderiam durar quarenta minutos, mas a vontade deles seria de que queriam que fossem horas.

A cupido esticou suas asas e voou para o alto de um prédio, longe dali. Ela observou o movimento da cidade, tantas pessoas que precisam de amor e mais tantas que, apesar de o desejarem, nunca o vão conhecer. Aspirações já nascem dentro de cada ser humano, desejos e sonhos crescem com o tempo. Talvez alguém pense que somente será realizado quando conhecer um grande amor, mas isso pode não estar escrito em seu coração, pode ser somente um desejo que cresceu em seus anos de vida. Desejos não criam pessoas correspondentes.

Apesar de terem algumas dúvidas, seres como Angelique conhecem as respostas para muitas perguntas feitas há milênios pelos homens. Uma delas é a que mais apavora a cupido, o destino existe. Apesar de ações alterarem o percurso de vida da pessoa, mais cedo ou mais tarde, elas acabarão com algo que já foi traçado. Se nasceu destinado a ter um amor em sua vida, a pessoa será flechada apenas uma vez, se nasceu destinada a ter vários, será flechada quantas vezes foi destinada, assim como se nasceu para não ter um único amor, a pessoa nunca conhecerá as consequências de ser flechada por um cupido.

Isso assustava Angelique pois lhe dava a certeza de que aquilo seria sua vida até quando a força superior dissesse que seria. Não adiantava cortar suas asas, esconder suas tatuagens, jogar fora seu arco e flecha, eles sempre voltavam. Angelique estava cansada disso.


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