O que parecia ser um grande trem de madeira puxado por cavalos chegou a Andrômeda naquela manhã. Mas os Guerreiros sabiam, era o clã Alighieri. Tinham vindo para o sepultamento de Mia.

Naquela tarde, cinco cavalos vieram do acampamento que eles haviam montado ao lado da cidade, cada um trazendo um cigano. Dante, Diana e outros três que os jovens lembravam-se vagamente da última vez que tinham se encontrado. O clã inteiro não caberia no Salão, então eles seriam os representantes.

Vestiam suas leves roupas de sempre, poderia ser outro dia qualquer de festa, mas era um momento triste. Os Guerreiros, já em seus trajes de gala, os recepcionaram. Poucas palavras foram trocadas, mas Dante e Diana cumprimentaram todos com um abraço, e foram apresentados aos mestres e a Derek.

Já no Salão, todos estavam posicionados do lado esquerdo do cubículo de Mia, por enquanto vazio. Li logo chegou com a morena no flutuador de mármore. Contemplaram o rosto da garota por alguns segundos, até que Marin foi a primeira a se pronunciar.

— Mia foi... Uma excelente aprendiza. Nunca vou esquecer quando a recrutei... Ela tinha os pés em carne viva de tanto correr. Fico feliz que tenha pelo menos se entendido com os seus antes de partir. Era muito corajosa, ainda me admira a confiança com a qual lidou com os Videntes.  – completou olhando para Dante. – Adeus, querida. – Dante tomou seu lugar a frente.

— Me entristece ouvir as condições em que Mia chegou aqui... Mas fico feliz em saber que ela teve uma boa vida. Gostaria apenas de ter feito parte dela assim como vocês, conhecê-la melhor e talvez ter sido algo mais do que uma distante lembrança do passado. – ele se inclinou e a beijou na testa. – Em nome do clã Alighieri, e ouso dizer, por todos os outros. Nós lhe dizemos adeus, Mia Lester. Sua linhagem acabou, mas sempre será lembrada, a única cigana que possuía magia e decidiu usá-la para algo além de truques circenses. Esta noite, acenderemos uma fogueira para você, para iluminar seu caminho para a outra vida. – foi a vez de Caleb falar, ele estava abatido, não tirava os olhos dos de Mia, como se a qualquer momento ela fosse abri-los e bocejar.

— Mia foi a melhor amiga que qualquer um de nós poderia querer. – falou firmemente. – Ela salvou nossas vidas e mais do que isso... A tornou melhor. Fizemos parte de sua vida sim, mas, eu pelo menos, talvez não tenha dado a ela seu devido valor. – respirou fundo e fechou os olhos. – A Sexta Geração de Guerreiros se despede. – e se afastou.

— Em honra de Mia, da Classe Hélio. – disse Seth fazendo-a flutuar para seu lugar na parede.

~*~

Caleb observava os amigos no jardim com os ciganos, conversando e trocando histórias. Aquilo não o atraia muito, o vazio em seu peito era muito grande. Estava sentado ao pé daquela árvore onde estiveram antes de tudo mudar, em seu último dia normal. A brisa era fresca, e ele brincava com os botões de sua roupa.

— Olá. – disse Dante sentando-se ao seu lado. O rapaz não disse nada, sequer se moveu, nem parecia esperar algo. Parecia apenas que queria descansar suas pernas.

— Desculpe. – disse Caleb quebrando o silêncio.

— Pelo que?

— Por não ter cumprido a promessa que fiz a você... Por não tê-la protegido.

— Você e eu sabemos que não poderia ter mudado nada. Mia fazia o que queria.

— Mas...

— Não adianta se culpar. Ela se foi, o que podemos fazer agora é honrar sua memória, vocês estão convidados para a cerimônia da fogueira se quiserem. – o Guerreiro apenas abraçou seus joelhos em resposta. – Você fez o melhor que pôde Caleb, agora se empenhe em achar aqueles que fizeram mal para a nossa garota.

Caleb assentiu, mas não conseguindo mais se controlar, escondeu o rosto entre os joelhos começando a chorar.