Classe dos Guerreiros - Ascensão da Noite escrita por Milady Sara


Capítulo 16
Novamente


Notas iniciais do capítulo

Olá, leitores fantasmas e comentadores (ultimamente os fantasmas são maioria neh)! Acabei passando um mês sem postar, MAS como compensação vou postar os três capítulos que estou devendo, mais o de hoje a cada dia, e semana que vem voltamos pro esquema da terça-feira. Sem mais, boa leitura!



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Osíris dava pulinhos enquanto andava pela estreita estrada. Finalmente estavam em Vega, a poucos minutos de Elephim onde Leto os estaria esperando. Nuvens escuras cobriam o céu e uma brisa fria se espalhava, mas mesmo assim Fox estava suando. A quimera dava passos lentos e fortes, os dentes cerrados e o rosto transparecia a dor aguda que sentia. Segurava firmemente seu último cigarro enquanto caminhava.

Vega era ao contrário das outras cidades pelas quais haviam passado, era uma verdadeira cidade fantasma, nem mesmo os gatos a povoavam e ao invés de prédios tinha apenas esqueletos de estruturas. Aquela cidade nunca tinha conseguido ser terminada, diziam que forças da natureza impediam, como se não fosse um lugar para pessoas viverem.

O gato branco está empolgado, há muito tempo não via seu mestre e tinha certeza que ele poderia ajuda-los a resolver o problema dos Noctem.

De repente, Fox desabou no chão, ela puxava fortemente seus cabelos como se quisesse arrancá-los com as próprias mãos enquanto fica em posição fetal, seus olhos apertados e ela sussurrava sem parar. Chegando mais perto, o felino pôde entender o que era:

— Ben uyun, hadi... Ben uyun, hadi… Ben uyun, hadi… Não, não, me deixa em paz! Eu não vou! – dizia ela começando a lacrimejar.

— Fox! – disse o gato tentando trazê-la de volta a razão. – O cigarro! Na sua mão! FOX! – ele arranhou a mão que segurava o objeto, e com o que pareceu ser muita força de vontade, a de cabelos opacos pôs o cigarro entre os lábios e o acendeu. Poucos segundos depois, ela pareceu relaxar. A respiração era acelerada enquanto o suor descia por sua testa. – Eles estão bem perto não é? – em resposta ela apenas piscou lentamente, enquanto o gato deitou-se ao lado de sua cabeça.

~*~

Roy estava na proa do navio enquanto ele zarpava, não de um porto, mas de uma praia deserta, junto com outros 14 como aquele. Nunca tinha saído de Solomon-Elsa até pouco tempo atrás e agora estava indo para as Ilhas Douradas levando todo o seu povo.

Não queria simplesmente dar as costas para seu lar, mas como líder tinha obrigação de pensar em um bem maior ao invés de suas próprias vontades. Algum dia, quando aquilo tudo tivesse acabado, todos voltariam, ou talvez os elfos ajudassem, de qualquer modo, apenas não queria pensar que nunca iria retornar.

Perdido nesses pensamentos, não viu Grace chegando até que ela ficasse ao seu lado, com o mesmo olhar para o horizonte. Suspirando, pensou que pelo menos, estaria com sua família até o fim.

~*~

Aquela floresta era diferente de todas as que Fox já tinha estado, pelo menos em Astra. Era muito selvagem, não havia sinal da passagem de pessoas por ali. Seu último cigarro já tinha acabado há algum tempo e ela já podia ouvir os sussurros novamente. Onde aquele maldito felino gigante estava afinal?

Sua pergunta foi respondida pouco depois, ao chegarem a uma clareira com uma cachoeira no centro. As árvores ao redor eram enormes e estavam repletas não apenas de gatos, mas também havia um tigre, leões da montanha e outros felinos que Fox não sabia dizer o nome, e na ponta do lago uma pantera inteiramente negra, com duas vezes o tamanho de uma normal, que os observava.

— Aquele é seu mestre? – perguntou a mulher, sentindo-se zonza.

— Sim! – respondeu alegremente Osíris.

— Beleza, você fala com ele, eu vou ficar aqui, deitada... – falou jogando-se no chão perto da pantera.

— Quem é sua amiga, Osíris? – perguntou o felino negro com uma voz profunda.

— Meu senhor, - falou curvando-se. – esta é Fox, ela é uma quimera, enviada comigo pelos Guerreiros a sua procura.

— Há muito tempo que os únicos que se importavam com minha existência são aqueles de armaduras escuras.

— Então o senhor os conhece?

— Se os conheço? – bufou Leto, pondo-se de pé. – Nos atacam sem parar faz dez anos! Nunca me atingem, nunca tentam de verdade, querem apenas nos isolar do resto de Astra.

— Meu senhor... É justamente sobre isso que os Guerreiros me mandaram tratar aqui, eles pedem sua ajuda contra esses seres malignos. – com um suspiro, Leto sentou-se.

— Temo que não possa ajuda-los.

— O que? – pronunciou-se Fox. – Como assim? Viemos de longe só pra pedir sua ajuda!

— Lamento... Mas estou exaurido, poucos servos me restaram e minha magia enfraquece mais a cada dia, tenho mantido Elephim a salvo faz uma década, e ainda usei grandes reservas para conseguir que chegassem aqui.

— De que adianta então, - falou a quimera com raiva, se aproximando de Leto. – termos encontrado a merda do grande felino das terras do sul, se ele não serve pra nada?

Ao invés de ficar com raiva, como era esperado, Leto pareceu entristecer-se.

— Sinto muito, minha cara. Não sou mais o mesmo, gostaria de poder ajudar, mas não posso.

Um silêncio se estabeleceu enquanto a de cabelos opacos foi até o lago e contemplou seu reflexo.  Fora tudo em vão... – ben... – Aquela viagem impensada, a quase morte de Victor... -  uyun... – Para que? Para que ela ouvisse aqueles sussurros novamente depois de tanto tempo? Para descobrirem que Leto mal tinha forças para se defender quanto menos para ajudar?  – hadi... – Deixou-se cair de joelhos ainda contemplando seu rosto cansado naquelas águas cristalinas.

— Você pode sentir também, não é pequena? – pronunciou Leto quebrando o silêncio. – Eles se aproximam, em um grande número.

— Sim...

— O que? – surpreendeu-se Osíris. – O que faremos?

— Eu lutarei até o fim por meu lar. – disse o felino maior ficando de pé. – Mesmo que eu morra, meu legado deve continuar com você meu bom servo.

— Senhor...

— Sinto que não possa ajudar, mas talvez eu saiba de alguém que pode. Volte para seus amigos bípedes, lhes diga para ir ao extremo oeste, além da Caverna das Lembranças... Lá eles encontrarão Micaela, uma bruxa. Ela pode ser útil.

— Uma bruxa? Uma bruxa poderá nos ajudar?

— Talvez possa. – intrometeu-se a quimera. – Eu conheci Micaela há muitos anos... É difícil explicar, mas talvez ela seja capaz de tudo.

— Okay... – disse o gato confuso, tentando absorver aquela informação. – Devemos fazer o caminho de volta então? Voltar agora para Andrômeda?

— Na verdade, só você. – disse Fox o pegando no colo, e completando antes que ele protestasse. – Não tenho mais cigarros, eles vão me pegar de qualquer jeito... Mas não vai ser fácil, isso eu posso prometer. Vou ficar pra trás enquanto você volta. – e com uma mão, colocou seu colar no pescoço de seu amigo peludo. – É o que posso fazer. – com lágrimas em seus grandes olhos azuis, Osíris enfiou suas garras no ombro da amiga, em uma espécie de abraço desajeitado. De repente, todos os felinos se agitaram e Osíris soube pelo triste sorriso da mulher que o segurava, que era hora de ele ir embora.

— Resgataremos você. – disse ele antes de correr para se juntar aos outros felinos que fugiam dali em formação, deixando poucos em Elephim,

— Sei que vão. – pronunciou ela, mas o gato já não podia mais ouvi-la.

Ficaram ali, Fox, Leto e mais seis felinos grandes. Prontos para a batalha.

Não tardou para que ouvissem inicialmente os sons de árvores caindo, o que fez os gatos rosnarem e sibilarem e logo, um grande grupo de Noctem, portando suas armas, montados em puros sangues negros como suas armaduras, apareceu.

Era sem dúvida um pequeno exército e abrindo caminho entre a multidão de cavaleiros, surgiu uma mulher. Pálida, usando um vestido que cobria totalmente suas pernas e pés, os longos cabelos negros presos em duas tranças, e quando ela olhou para Fox, a quimera ouviu novamente “Ben uyun, hadi.”. Era aquela mulher que vinha tentando chama-la, aquela pessoa estava sussurrando em seu ouvido enquanto a seguia de perto esse tempo todo. Mas enquanto observava suas olheiras fundas e seu rosto quase infantil, a compreensão passou pelo rosto de Fox.

— Isso é um feitiço? – indagou a de cabelos opacos e a outra mulher levantou uma sobrancelha curiosa. – Por que... Não, você não pode ser ela. Eu me lembro, eu estava lá quando fizeram a estátua, eu levei o mármore! Que piada de mau gosto é essa?

— Não é piada, meu bem. – disse Mínima. – Talvez eu lhe explique, quando fizer parte do nosso exército. – e voltou para trás dos cavaleiros, que começaram a avançar.

Leto e seus felinos atacaram primeiro, dando fortes patadas junto com poderosas mordidas, decepando membros e fazendo a substância preta que os Noctem tinham no lugar de sangue pintas a grama esmeralda.

Fox estalou seu pescoço e separou os joelhos, não havia tempo para brincar, era o momento de aqueles cavaleiros verem porque ela tinha que ser temida, e porque a queriam tanto em seu exército. Não sentia mais os efeitos dos cigarros, mesmo que ouvisse a voz da mulher de tranças em sua cabeça, agora podia se transformar de verdade.

Com um rosnado, os pelos da mulher de cabelos opacos assumiram um tom dourado, em seguida sua pele, enquanto garras e escamas surgiam por seu corpo. A boca se encheu de dentes grandes e afiados, e num rugido, asas explodiram de suas costas. Em poucos segundos, ela era um dragão dourado, de músculos fortes e asas radiantes, muito maior do que Luna, Fox tinha assumido a forma de um dragão antigo, de quando havia mais magia e mais dragões.

Fazia décadas desde que assumira aquela forma, sentia-se desajeitada, mas o tamanho compensava isso. Com um passo derrubou árvores e pisou em vários inimigos, num sopro incendiou cavaleiros e ao bater as asas eles voaram como se suas armaduras fossem feitas de papel.

A sorte parecia estar a seu favor, mas eram muitos inimigos e a voz de Mínima ecoava cada vez mais em sua mente.  Balançou a cabeça tentando fugir daquele chamado, mas foi intervalo de tempo grande o suficiente para que os Noctem pulassem sobre seu corpo, sacudiu-se para manda-los para longe, mas novamente aquela voz veio, bloqueando até mesmo seus próprios pensamentos. Quando percebeu, estava sendo esmagada por homens de armadura, poderia livrar-se deles novamente, mas Mínima a subjugava, surgindo e pondo a mão em seu focinho enquanto rosnava.

Fox tentou resistir, pensou em tudo que achou que fosse ajuda-la, mas logo, foi como se perdesse a vontade, a mente distante do corpo, e ela não podia fazer nada, além de ver pelos olhos de dragão, o sorriso triunfante da mulher de tranças enquanto a fazia sentar obedientemente, como um cão.

Leto estava sendo segurado por três Noctem, ela quis gritar para ele, cuspir fogo, qualquer coisa, mas só conseguiu observar enquanto colocavam uma coleira evidentemente mágica, repleta de orbes, no pescoço do felino que se debatia.

Uma lágrima quente caiu de seu olho esquerdo, era uma escrava novamente... Mesmo depois de prometer a si mesma que isso jamais voltaria a acontecer.

Novamente uma escrava.


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Notas finais do capítulo

E aí, que tal???



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