Se eu corro escrita por Puck


Capítulo 1
Eu quero guardar teu beijo na concha das mãos


Notas iniciais do capítulo

Alguém lê Ten Count por aí e assim como eu, ficou procurando pra ver se tinha fanfic desse mangá espetacular? ♥



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O item 10 da lista só existia em sua cabeça.

Shirotani Tadaomi adoraria saber, portanto, como foi que Kurose-kun já havia descoberto qual era o desejo contido ali. Será que ele era tão patético e transparente assim? Seu rosto esquentou ainda mais; estava ciente de que Kurose o encarava por cima da mesa. Sempre tão intenso, Shirotani pensou enquanto apertava as luvas no colo. O moreno realmente não tirava os olhos de si. Isso era ruim e incrível ao mesmo tempo. Afinal, quem não ficaria feliz junto a alguém que o deseja, apesar de todos os seus defeitos? Que o amasse, por mais inalcançável que parecesse?

— Por favor, pare de me olhar assim, Kurose-kun — Virou o rosto para a rua. Havia um cachorro sentado no chão do outro lado do vidro, olhando para ele. Tinha os mesmos olhos grandes e escuros de Kurose. Inexplicavelmente, se sentiu ainda mais envergonhado.

Olhou para frente e se deparou com os olhos de Kurose-kun nos seus.

Pôde jurar que ouviu um som parecido com uma chaleira no fogo vindo da própria cabeça e abaixou o rosto, fitando as próprias mãos enluvadas pousadas sobre as coxas. Ele sempre ficava constrangido quando Kurose o olhava daquela forma, observando-o, como se ele fosse um pedaço precioso e estranhamente belo de porcelana, tão frágil quanto encantador.

Corou de novo. Sentiu as orelhas queimarem.

Meu peito. Parece estranho.

E ele era o mais velho dali.

Que deprimente, choramingou para si mesmo.

— Desculpe, Shirotani-san, é que eu...

Kurose deu um suspiro. Shirotani ergueu o rosto para ele. Se surpreendeu. O moreno parecia indeciso, um pequeno rubor acentuando-se em suas bochechas. Mas ele estava sorrindo. Dirigindo a si um sorriso pequeno e afável, que fez com que suas bochechas queimassem novamente.

— O décimo item na sua lista — Continuou Kurose-kun, cuidadosamente —, é beijar alguém, não é?

O quê?

— N-não necessariamente — Shirotani não conseguiu encará-lo nos olhos. Kurose continuava com toda sua atenção concentrada nele.

— Mas você quer, não quer, Shirotani-san?

Eu... quero?

— Só de pensar no quão... no quão nojento isso dever ser, eu...

— Talvez, então, abraçar alguém? — Kurose o interrompeu.

Não, eu...

— Isso não parece tão... difícil... para estar em décimo... — Mordeu o interior das bochechas. Havia mais uma coisa que queria acrescentar, e ao mesmo tempo, não queria. Fechou os olhos. Precisava de calma. Contando isso para Kurose-kun, quem sabe, isso não fosse uma evolução no tratamento de sua doença? Soltou o ar, lentamente. — P-porque acho que se for Kurose-kun... não há muito problema...

Foi como um estalo.

Kurose pareceu genuinamente surpreso, chegando a ficar sem reação por alguns poucos segundos.

Sua expressão se suavizou no instante seguinte, e seu sorriso se tornou mais aberto.

— E-eu estou falando do abraço! — Shirotani se apressou em dizer. — N-não que eu q-queira, uhnnn, abraçar Kurose-kun, eu só, ahnn, ah...

E Kurose riu. Uma risada deliciosa, grave e aconchegante. Shirotani congelou, fitando o moreno como se estivesse deslumbrado.

— Você tem lenços aí com você, Shirotani-san? — Perguntou Kurose, ainda rindo baixinho, limpando as lágrimas que brotaram nos cantos de seus olhos.

— A-ah... — O mais velho tateou os bolsos. — C-claro!

Ele puxou, do bolso interno da jaqueta, um pacote de lenços. Estava fechado. Abriu com cuidado e puxou um de dentro, estendendo-o para Kurose-kun.

Kurose pegou o lenço pelas bordas, com as pontas dos dedos, e levantou da cadeira. Shirotani ficou confuso. O moreno, então, inclinou-se para frente, em sua direção.

— Kurose-kun...? — com as sobrancelhas franzidas, Shirotani se afastou, indo para trás o máximo que podia. Kurose apenas continuou sorrindo.

Delicadamente, ele pôs o lenço de papel diante dos lábios dele, inclinado do melhor jeito que pôde sobre a mesa, a expressão suave e paciente. Ele pediu:

— Por favor, Shirotani-san, não se afaste.

Então, se aproximou. Shirotani prendeu a respiração, mas obedeceu; não se moveu. Chegou até mesmo a fechar os olhos quando sentiu o lenço ser pressionado contra seus lábios. Foi como ser tocado pelo vento. Sentiu os lábios de Kurose-kun fazendo pressão contra os seus, massageando-os levemente através do lenço. Shirotani sentiu que Kurose também prendia a respiração; provavelmente para não assusta-lo ainda mais.

Durou apenas alguns segundos.

E quando Kurose se afastou, Shirotani viu-se estranhamente decepcionado.

— E então? — Kurose voltou a se sentar, deixando o lenço sobre a mesa. — Achou isso “nojento”?

A realização atingiu o pobre e inebriado Shirotani como um tapa.

— E-e-eu...! É-é claro que sim! N-n-não faça esse tipo de coisa sem avisar, Kurose-kun! — Exasperou, vermelho até a raiz dos cabelos, sentindo os lábios trêmulos, ainda que o calor indireto dos lábios de Kurose permanecesse ali, como um fantasma cuja presença Shirotani descobriu amar. Só que...

Ele se levantou em um salto. Sua pele formigava.

— Preciso...

— Tudo bem, pode lavar o rosto — Kurose disse, apoiando o cotovelo na mesa. — Vou estar esperando aqui. Não estou me sentindo rejeitado, se é isso o que está preocupando você.

Shirotani corou ainda mais — e ele nem achava que fosse possível.

Pediu coragem aos céus:

— No entanto, Kurose-kun... — Shirotani esfregou as mãos. — I-isso não quer dizer que realizei o décimo item. E-ele não foi... realizado ainda...!

Kurose riu baixinho de novo, os olhos brilhando com um sentimento carinhoso demais para Shirotani nomear.

— Entendi — Ele sorriu.

— Ainda bem — Shirotani retrucou, fechando as mãos em punho antes de correr para o banheiro, tentando disfarçar ao máximo o rubor em suas bochechas e o sorriso que vinha junto.

Sentia-se feliz. Queria não ter essa urgência de lavar o rosto e as mãos, porque por mais nojento que fosse, de alguma maneira, ele gostara do toque indireto de seus lábios. De alguma maneira, ele queria mais.

Entrou no banheiro e fechou a porta.

Ele estava feliz, apesar de tudo.


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Notas finais do capítulo

:]