Black Past escrita por Giovanna Luiza


Capítulo 1
Capítulo Um: Azkaban.


Notas iniciais do capítulo

A história tem começo no terceiro livro. Portanto, há spoilers do livro em questão.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/577277/chapter/1

Grito. Berro. Maldições. Um soluçar descontrolado. O que um homem precisava fazer para conseguir um remédio para dor de cabeça em Azkaban? Encostou as costas na parede úmida da prisão. Certamente a maioria dos prisioneiros estaria em um estado mental onde já não ligavam para isso, mas chegava ser deselegante não colocarem alguns comprimidinhos na cela. Soltou um riso amargo. Como se a prisão tivesse algo de elegante e confortável.

Um de seus dementadores passou pela cela, deixando o ambiente ainda mais frio. Sirius estava acostumado com a temperatura, mas as lembranças sempre tornavam tudo pior. De novo, ouviu um barulho de explosão que lhe fez estremecer. Malditos. Soltou um pequeno rosnado, mesmo sabendo que era inútil. Pena que não ensinavam como matar essas criaturas das trevas em Hogwarts. Será que realmente existia um modo?

Sua mãe costumava dizer que um Black era exclusivo em tudo o que fazia. Realmente, era tão exclusivo que Sirius era um dos poucos prisioneiros de segurança máxima, ou seja, tinha três dementadores só para ele. O que a dona Walburga diria sobre exclusividade agora, hein? Ainda com um riso amargo, arrastou-se pelo chão lamacento e olhou dentro do pote onde estava a gororoba que seria sua comida. Não sabia exatamente quanto tempo estava por lá, mas não era tempo o suficiente para conseguir identificar todos os ingredientes daquela meleca, e nem descobrira porque raios nunca levavam talheres. Era extremamente desconfortável comer com as mãos, os dedos ficavam muito grudentos. Mas, de novo, não se esperava que os prisioneiros tivessem sanidade mental para se preocuparem com isso.

Começou a comer, subitamente desejando a comida de Hogwarts, aquela torta de abobora deliciosa que os elfos preparavam. Mas a boa lembrança foi sugada rapidamente e, antes que os dementadores o levassem para a parte mais sombria de sua mente, ele tapou os seus ouvidos e começou a repetir seu mantra. Eu sou inocente. Eu sou inocente. Eu sou inocente. Eu não traí James e Lily. Eu sou inocente. Eu sou inocente. Eu sou inocente. Foi Wormtail, foi Wormtail, foi Wormtail.

— Eu preciso confessar, Dawlish, essa área me dá mais arrepio do que todas as outras. — a voz de um senhor estremeceu. — Quem foi que inventou a maldita lei de auditoria?

— Ministro Nobby Leach, 1966. — Sirius respondeu tediosamente, como se estivesse fazendo uma prova de História da Magia. Não que ele fosse bem nas provas de História da Magia, então havia a probabilidade (não muito pequena) dele estar errado. Ou não. — Olhe só, Cornélio Fudge! E o paspalho do Dawlish, é o seu assistente?

— Auror, Black. — Dawlish respondeu, um pouco assustado.

O ministro olhou para o prisioneiro, perplexo. Obviamente, Sirius Black não estava em seu melhor estado. Sujo, maltrapilho, magro, os cabelos embaraçados, as tatuagens parecendo ainda mais assustadoras. O prisioneiro também estava perplexo com a aparência de Fudge. Pelas barbas de Merlin, ele estava velho!

— Você... você sabe quem eu sou?

— Se o seu pai não tivesse morrido na minha frente em uma batalha, eu poderia ter as minhas dúvidas. — debochou. — O tempo não foi generoso com você. E raios me partam, como deixou alguém tão incompetente quanto Dawlish se tornar auror? Os tempos realmente mudaram. Na minha época, você precisava ter pelo menos dois neurônios funcionando.

Os funcionários do ministério estavam perplexos. Estavam tendo uma conversa racional com um dos prisioneiros de segurança máxima? Normalmente, eles apenas se jogavam contra a grade e gritavam coisas incompreensíveis. Mas lá estava o traidor mais odiado do mundo bruxo, sentado, com a barba suja de comida, tirando sujeira debaixo das unhas e conversando calmamente com eles, como se tivessem se encontrado em uma rua qualquer.

— Olha quem fala, Black.

Sirius riu.

— Essa foi boa, eu gosto de humor negro, se me permite o trocadilho.

— Eu... Eu não entendo. — Fudge deixou escapar, perplexo.

— Não vou explicar. — bufou Sirius, perplexo. — Essa é a piada mais velha no repertório da minha família. Se bem que eu me recordo de uma muito boa, sobre um trasgo, uma bruxa má e uma leprechaum que se encontram em um bar e...

Santo Deus, ele estava falando de piadas! O homem era mais louco do que eles pensavam.

— Não estou falando disso! — Fudge respondeu, horrorizado. — Era para esse lugar trazer a tona os seus maiores demônios.

Ah, ele trazia. Mas não ia discutir isso com o ministro da magia.

— O senhor se recorda da minha família, ministro? — retrucou pacientemente.

— Mas é claro que sim! Inclusive, recentemente o marido de sua prima...

Oh, isso sim era uma tortura maior do que os dementadores: escutar fofoquinha sobre a sua família. Ele por um acaso estava com cara de dona Maricota?

— Meu caro ministro, eu convivi com demônios durante dezesseis anos da minha vida. — interrompeu, ainda com a expressão zombeteira. Havia passado todos os seus sete anos em Hogwarts aperfeiçoando-se nesse talento junto a James, e sabia muito bem que conseguia tirar qualquer um do sério. — Perto da Mui Antiga e Nobre Casa dos Black, esse lugar é um playground. Ainda tem os gritos desvairados que me lembram da minha mamãe querida, a mocinha aqui do meu lado não para de gritar alguma coisa sobre a unha dela, até parece a querida Narcissa. E essa comida compete com o talento de Monstro para vomitar no meu prato. Eu estou em casa!

Ele era realmente doente.

— Você é doentio, Black. — Fudge disse, se afastando da grade.

— O senhor teria a bondade de me emprestar o seu exemplar do Profeta Diário e algo para escrever? — Sirius pediu tediosamente, voltando a encarar a parede de concreto em sua frente. — Sinto falta das palavras cruzadas.

— O que? — Fudge perguntou, surpreso. — Ah... Claro. Aqui.

Com as mãos trêmulas, Sirius pegou o jornal e se arrastou para um canto mais iluminado em sua cela. Forçando as letras a tomarem um sentido, conseguiu ler a julho de 1993. 1993. Fora preso no ano de 1981. Céus! Doze anos! Ele agora tinha trinta e três anos! Literalmente tinha perdido sua juventude, era praticamente um velho. E seu afilhado, Harry... Agora ele deveria ter uns treze anos. Sentiu um aperto no peito. Não bastava apenas ter perdido o seu melhor amigo, não pode ver o seu afilhado crescer. Provavelmente, fora criado pela irmã cara de cavalo de Lily. Ah, se ela tivesse encostado em um fio de cabelo do seu garoto...

... ele não poderia fazer nada. A quem estava querendo enganar? Estava há doze anos jogado nessa prisão, em um estado de lixo humano, mal conseguia manter a própria sanidade. E Wormtail, o maldito, estava solto, em algum lugar lá fora. É claro que ele sempre podia pensar que alguém pisou no rato maldito ou que o guloso foi capturado por uma ratoeira. Isso iria lhe conferir uns sete segundos de alegria, até os dementadores tirarem isso dele.

Voltou a sua atenção para as palavras cruzadas. Pelo menos agora teria uma distração. E depois, quem sabe, poderia se aventurar a ler as noticiais? Quem sabe não haviam publicado alguma coisa sobre quadribol, isso lhe daria uns quatorze segundos de prazer.

Um objeto no qual a pessoa deposita sua alma; um insulto usado para pessoas que não possui antecedentes familiares mágicos; poção que lhe permite assumir a forma de outra pessoa.

Sirius bufou. Quem é que era responsável pela elaboração das palavras cruzadas, um menino de sete anos? Mas por que esperava qualquer coisa mais desafiante? Eram palavras cruzadas, afinal. Voltou para a primeira página. Pelo menos poderia gastar o seu tempo com algo minimamente interessante, para variar. Oh, um funcionário do ministério havia ganhado um prêmio! Que família bonita, tinham um ratinho...

— Um ratinho com uma marca de verruga perto do olho. — Sirius sussurrou, perplexo. Voltou a sua atenção para a foto, aproximando-a. Sim, estava lá! Uma marquinha mínima, quase imperceptível, mas estava lá! E quantos dedos aquele ratinho tinha? Não, não era possível, não erra possível! — Rato filho da puta desgraçado, é o Wormtail!

Quase rasgando o jornal de raiva, foi ler a notícia. Apertou os olhos para tentar captar as letras melhor e, com um pouco de dificuldade, conseguiu.

FUNCIONÁRIO DO MINISTÉRIO DA MAGIA GANHA GRANDE PRÊMIO.

Arthur Weasley, chefe da Seção de Controle do Mau Uso dos Artefatos dos Muggles no Ministério da Magia, ganhou o Grande Prêmio Anual da Loteria do Profeta Diário.

A Sra. Weasley, encantada, declarou ao Profeta Diário: “vamos gastar o ouro em uma viagem de férias ao Egito, onde nosso filho mais velho, Bill, trabalha para o Banco Gringots como desfazedor de feitiços. ”

A família Weasley vai passar um mês no Egito, de onde voltará no início do ano letivo em Hogwarts, escola que cinco dos seus filhos ainda frequentam.

Tremendo de raiva, colocou o jornal no interior das vestes e se deitou no ninho de panos que deveria ser a sua cama. Wormtail não era tão tapado assim, afinal. Arranjar uma família bruxa para se manter a par das novidades e melhor ainda, em Hogwarts... Apenas uma palavra, um sinal que seu mestre voltara e ele iria retornar como o bom rato que era, e com um presente que deixaria claro a sua lealdade: a cabeça do seu afilhado. Ia completar o serviço que Voldemort deixara em aberto anos atrás, ia acabar com os Potter.

Como em todas as vezes, Sirius não foi dormir, desmaiou de cansaço. Esse pequeno dilema sempre o atormentava. Não dormir fazia com que manter a sua sanidade ficasse mais difícil e estar acordado era uma tortura, mas dormir significava que ele teria pesadelos, e com isso ia ficar mais difícil manter sua sanidade. O desmaio não era uma boa saída: ele acabava não escolhendo nenhum, mas sofrendo as consequências dos dois.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Black Past" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.