– então…. O canalha era casado. - Emmett murmurou, e eu assenti, tomando um gole de café.

Eram seis da manhã, e eu passara o resto da madrugada chorando e contando tudo ao Emmett. Ele tinha conseguido me tirar do bar, e nós estávamos em meu apartamento.

– não venha me dizer “eu avisei”, porque eu já estou me sentindo uma idiota só pelo papel de trouxa. Não preciso de ninguém piorando tudo. - murmurei, com o coração tão amargo quanto o café.

– hey, relaxa. Eu não sou do tipo que se gaba por estar certo. Eu preferia não estar certo a ver você sofrer tanto. - falou, e eu abaixei a cabeça, pedindo pro café fazer logo efeito. Eu tinha uma festa “surpresa” em minha homenagem para ir mais tarde, então não podia aparecer de ressaca ou com olheiras.

– eu mereço sofrer assim…. Depois do que fiz com você…. Depois do que fiz comigo…. Aquele canalha me enfeitiçou de uma maneira que agora eu sofro mais por ter sido tão idiota e ter agido tão idiota todo esse tempo. - suspirei, pegando a mão de Emmett com amizade. Mas foi impossível não tremer de ansiedade por dentro. - muito obrigada por estar comigo, e me perdoa minhas grosserias e gritarias de hoje e de sempre. Eu tenho que parar de beber e de ser idiota.

– eu concordo. - falou, rindo, e eu mostrei a língua pra ele. - e como você passou essa semana?

– numa fossa terrível. A dor parece que não vai acabar. Eu tento levantar todos os dias, tento comer, tento trabalhar, tendo dormir, tudo no automático. Não sou eu, esses dias, e acho que por isso sua irmã está mais preocupada. Mas eu estou bem. O máximo que eu sinto é raiva por ter sido trouxa.

– é aceitável. - falou, e eu ri, pegando o macarrão com molho que eu tinha esquentado.

– bom jantar. - falei, entregando a ele uma tigela de macarrão às seis da manhã.

– minha irmã está fazendo falta aqui, não está? - ele falou, dando uma olhada geral, e eu assenti. - parece tudo tão vazio sem ela…. E você aí, a chef de cozinha, jantando uma quentinha requentada de macarrão com molho às seis da manhã.

– são coisas de quem mora ou sozinho, ou com amigos que não são maníacos por limpeza como a Vitória. - murmurei, comendo o macarrão. Não sei se era a fome, mas estava uma delícia.

– isso é uma indireta? - perguntou, e eu ri.

– se a carapuça servir, Emmett, pode usar à vontade. - pisquei, e ele revirou os olhos.

– se eu morasse aqui, tudo ia ficar mais limpo. E as comidas não seriam requentadas. Você ia ter tempo pra cozinhar. - falou, e eu pude perceber um interesse implícito na sua frase.

Depois de todo esse tempo….? Não, é bobagem.

– hey, eu não sou tão desleixada assim. Tive uma semana de cão. Dá um tempo. - falei, entre risos, e ele ficou me olhando com um sorriso no rosto. - o que?

– é bom te ver sorrindo de novo. - falou, e eu corei violentamente.

– é bom estar contente de novo. - respondi, e ele afagou meu rosto. - Emmett….

– o que? - sussurrou, sorrindo. - eu sempre amei ver você corada.

– não faz isso…. - implorei, afastando sua mão de meu rosto.

– não faz o que?

– não haja como se nada tivesse mudado. - pedi, e ele suspirou.

– pra mim, nada mudou. - respondeu, e eu o fitei, confusa.

– como é? - sussurrei, sem entender.

– nada mudou. Eu ainda te amo como sempre, Ângela. Por mais que eu me esforçasse pra te esquecer, não deu. Eu tentei, tentei com todas as minhas forças, eu fui embora, eu namorei outras mulheres, mas…. - ele deixou a voz se perder, e uma lágrima rolou por seu rosto. Eu a enxuguei, carinhosamente.

– eu te magoei muito, não foi? - sussurrei, começando a chorar também. Ele me fitou, e contornou a bancada para ficar bem perto de mim. Enxugou minhas lágrimas com beijos, e aquele gesto me cortou como navalhas afiadas em meu coração.

– te ver sofrendo é como uma tortura pra mim…. Só o que eu sempre quis foi sua felicidade, mas eu fui um idiota por não ter lutado por você. Minha irmã parou de falar comigo por causa disso, mas se compadeceu quando viu que eu estava sofrendo. - falou, e eu assenti.

– e então foi comigo que ela parou de falar. - murmurei, querendo esquecer aquela época. Mas eu precisava falar. - eu te deixei por impulso, Emmett, e eu sinto muito por isso. Eu não sabia o que fazer, porque eu estava com medo de compromisso…. Mas eu te amei, só agora percebi isso. Só que eu perdi.

– não, não perdeu…. Angel, eu estou aqui. Todo seu. Sempre foi assim, e vai ser assim pra sempre. - sussurrou, beijando meu rosto, e eu balancei a cabeça.

– eu não posso ficar com você depois de tudo…. Eu magoei você demais, Emmett, e mal posso conviver com isso. - falei, e ele soltou um som exasperado.

– eu posso…. Eu posso conviver com isso. Eu te quero de novo, Ângela, pra sempre. Será que é muito difícil você entender isso? - falou, com lágrimas nos olhos, e eu respirei fundo.

– eu te fiz muito mal…. Eu me fiz muito mal. Passei dois anos da minha vida vivendo uma mentira, magoando e brigando com todos os que amo…. Tudo por causa do Damon…. Ele…. Ele me encontrou frágil e assustada, Emmett, e se moldou às minhas necessidades de uma forma que eu fiquei dependente dele. Não era amor, era necessidade. Como você pode me querer depois de tudo o que fiz por ele? Fui eu mesma que destruí o que tínhamos, eu e você. Não tem como voltar atrás. - falei.

– e quem disse que eu quero voltar atrás? Quem disse que eu quero ter o que tínhamos antes, ser o que éramos antes? Não, Ângela, eu quero um amor novo. Eu quero você como é agora, mais madura, responsável e decidida. Quero construir uma vida de verdade ao seu lado. O que tínhamos antes não era nada comparado ao que podemos ter de agora em diante. Seja minha outra vez, e eu te garanto que você e eu seremos felizes pro resto de nossas vidas. - falou, lindo, intenso, e eu fiquei sem palavras.

Emmett ainda me queria. Depois de todo este tempo, depois de tudo o que passamos, ele ainda me queria. E eu o queria, também. Eu sempre o quis e, mesmo pensando estar apaixonada por Damon, o que eu sentia toda vez que eu pensava em Emmett era forte e avassalador. Só agora eu me dou conta de que meu coração sempre pertenceu a ele, e a mais ninguém.

– sua irmã não vai gostar nada disso. Ela vai sempre temer que eu cometa a mesma burrada de novo e, acredite, eu também receio isto. - sussurrei, encostando minha cabeça em seu peito, e ele me abraçou com delicadeza.

– minha irmã sabe que eu te amo, e sabe que eu só vou ser feliz ao seu lado. Além disso, ela sabe que o erro foi meu também, porque eu devia ter lutado por você. Ela nos ama, e só quer nossa felicidade. Ela vai lutar por nós dois, também. Só falta você dizer “sim”. - falou, beijando minha cabeça, e eu sorri em seu peito.

Tudo pode até parecer estranho. Eu ter virado uma louca apaixonada por Damon e, depois de passar uma semana na fossa por ele, estar aqui, prestes a voltar com Emmett e estar me comprometendo a ficar com ele pra sempre. Eu até confesso que também acho isso uma loucura. Mas eu amo Emmett. Percebo isso agora, quando a ideia de dizer não e ficar sem ele é insuportável. Eu não sei o que o futuro reserva pra gente, mas este precipício é sem volta, e nós não conhecemos o fundo. Entretanto, enquanto Emmett estiver segurando minha mão, eu pularei.

– sim. - sussurrei, criando coragem para enfrentar tudo o que tiver pela frente. - sim, Emmett, sim.

Então ele me beijou. A sensação foi mais intensa do que tudo que eu já tinha vivido com qualquer outro, até com ele mesmo em outros tempos. Meu coração bateu forte, dolorido, como se estivesse morto durante todo este tempo e só agora estivesse batendo de novo. Acho que era aquilo…. Eu o amava, e não tinha mais medo disso.

– Angel…. - sussurrou, entre nossos lábios. Sorri.

– sim?

– você vai dizer “sim” pra tudo agora? - ele brincou e nós rimos.

– pra tudo não, seu idiota. Cale a boca e fala logo. - pedi, e ele riu de novo.

– decide, ou eu calo a boca ou eu falo. - brincou e eu revirei os olhos.

– ou você poderia me beijar. - sussurrei, e ele me deu um selinho.

– vou fazer isso e muito mais, pode ter certeza…. - murmurou, sedutor, e eu sorri. - mas antes eu preciso te dizer algo.

– então diz. - pedi.

– feliz aniversário.

→ THE END ←