Darkness escrita por Isobelle


Capítulo 1
Are you afraid of dark?


Notas iniciais do capítulo

Primeiro one-shot, primeira história de terror. Não tenho muito o que falar, então, boa leitura ♥ xx



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Estava um dia lindo. O sol brilhava no céu límpido e o vento mantinha uma temperatura fria pelo bairro. Emily e Phil Collins acabavam de mover as caixas da mudança para dentro da casa; eram os mais novos membros da vizinhança. Qualquer um podia notar o sorriso empolgado no rosto de Emily, quase rasgando suas bochechas. Ela carregava caixas para lá e para cá sem ao menos reclamar, não cansada de repetir para Phil o quanto adorou a decoração vintage da casa.

– Ela não é maravilhosa, querido? – Emily suspirou, abraçando o marido com força. Phil assentiu, fechando as portas e observando a sala, ornamentada por inúmeras caixas rabiscadas com coisas do tipo "Panelas", "Coisas da cozinha", "Objetos sem graça que a Emily me forçou a trazer". Phil bateu as mãos uma na outra e Emily imitou o gesto, apesar de que apenas uma boa faxina os livraria de toda a poeira.

– Era a última caixa. – Phil balbuciou, apontando com a cabeça para uma caixa que pousava em seus pés. – Vou levar os objetos sem graça pro quarto. – Beijou o rosto de sua amada, e então subiu com duas caixas nos braços. Emily fitou a caixa por alguns segundos. "Coisas da Emily" estava escrito nela, em vermelho, diferente das escritas na cor azul em todas as outras caixas. Ela podia jurar que as coisas dela estavam na caixa que Phil levara consigo há alguns segundos atrás.

– Amor, você esqueceu uma caixa! – Gritou, observando a escada por um tempo, mas seu marido não apareceu, nem respondeu. A casa estava silenciosa, nem sequer o barulho de Phil movendo-se no andar de cima manifestava-se. Emily retirou as fitas que seguravam a caixa, e então abriu-a. De fato, ali estavam suas coisas. Franziu o cenho, abaixando-se para vasculhar a caixa. Então, um rangido. Era o som de passos num chão de madeira. Olhou para seus pés e viu que o chão da sala era de azulejos. Então... de onde vinha aquele som? Olhou ao seu redor, mas não encontrou nada. Não tinham portas abertas, nem movimentação alguma no corredor.

Emily deu de ombros, voltando então a vasculhar a caixa. Alguns objetos lá no fundo tinham uma coloração vermelha incomum, que Emily podia jurar não ter comprado assim. Segurou em suas mãos um porta-retrato, onde a foto de casamento do casal Collins. O vidro que protegia a foto estava quebrado e com manchas vermelhas no rosto dos dois. Passou o dedo no vidro, tentando identificar a textura da mancha, mas quando seu dedo abandonou a foto, não havia manchas, não havia vidro quebrado. Outro rangido. Levantou a cabeça e pôde ver uma porta aberta, parecia a porta para a sala de jantar. Ergueu o tronco, observando a porta sem nem desviar o olhar.

– Phil? – Chamou, não obtendo resposta. Passou por cima da caixa, tentando ver se tinha alguém ali, e então viu algo. Um vulto passara com uma enorme velocidade, pequeno, não fazia barulho. Cabelos negros e roupa branca, agarrando algo fofo nas mãos; um lenço ou um urso, Emily já não sabia dizer.

O ar adentrou sua boca com tanta rapidez que fez barulho. Sua reação de imediato foi pular pra trás, e o porta-retrato pulara de suas mãos, quebrando-se no chão. Caminhou de costas, tentando afastar-se daquela porta, mas a caixa impediu-a de ir mais longe. Tropeçou e caiu de costas, e pelo barulho, julgou ter derrubado todas as coisas que estavam na caixa virada. Antes de cair, tudo que viu foi a porta fechando-se num estrondo, mas nada a puxava. Respirou fundo, balançando a cabeça na intenção de livrar-se dos pensamentos. Provavelmente era uma alucinação. Talvez ela estivesse nervosa com a mudança. Ou talvez não. Levantou-se do chão, então um cheiro azedo invadiu suas narinas. Algo empapava sua calça jeans - ela podia sentir o molhado encharcando suas pernas. Abaixou a cabeça e tudo que viu antes de fechar os olhos e gritar o mais alto que pôde foi um pequeno feto encharcado de sangue no fundo da caixa virada. O líquido escarlate pintava a caixa, os objetos, o chão e suas pernas.

– Phil! Phil! Oh meu Deus, Phil! – Gritou em pânico, cobrindo o rosto enquanto lágrimas de medo escorriam pela sua face.

– O que aconte... Ah, Deus, isso é um feto? – Phil arregalou os olhos, franzindo o nariz devido ao cheiro. Emily chorava enquanto Phil abraçava com força, tentando acalmá-la.

– Tira isso daqui! Por favor, tira isso daqui... – Balbuciava a mulher, muito pouco inteligivelmente.

***

– Emy, você está bem? – Phil murmurou, acariciando os cabelos da esposa já deitada. Ela deu um sorriso fraco e balançou a cabeça positivamente. Phil sorriu, dando um beijo estalado em sua testa antes de deitar ao seu lado. Já estava perto da meia noite, e ambos estavam cansados. Emily ficou encarregada de carregar as caixas para o andar de cima enquanto Phil limpava o sangue do chão e das coisas da esposa. O homem dormiu como um bebê, enquanto a esposa acordava a cada dez minutos, a cena que ocorrera mais cedo dominando seus pensamentos com facilidade. Tinha medo de ter pesadelos, então forçava-se a abrir os olhos assim que um pensamento ruim chegava.

– Emily! – Uma voz longínqua soou. Parecia um sussurro de perto, ou um grito de longe. Emily abriu os olhos, erguendo a cabeça para garantir que seu marido estava dormindo. Respirou fundo, fechando os olhos novamente. Um vento forte e gélido invadiu o quarto, fazendo-a tremer. Um calafrio percorreu seu corpo. Não estaria a janela fechada? – Emily, ajude... – Soou a voz novamente, dessa vez mais próxima. Abriu os olhos mais uma vez, sentando-se na cama, já irritada. – Emily! – Dessa vez, soou em um grito perfeitamente audível. Phil moveu-se na cama, abafando os ouvidos com o travesseiro. Então viera outro barulho, mas não era uma voz.

O rádio da sala estava ligado no volume máximo, depois a televisão, depois o liquidificador da cozinha. Emily estreitou os olhos, tentando enxergar pela brecha que tinha abaixo da porta. Pés perambulavam para lá e para cá; pés pequenos, imundos e cortados. Então, todo o barulho parou. A casa ficou silenciosa como estava há alguns minutos; como deveria estar. Repentinamente, o lençol que cobria Emily e Phil foi puxado e levado para debaixo da cama. Um grito ensurdecedor soou nos ouvidos de Emily, vindo de algum lugar desconhecido, e a luz que adentrava o vidro da janela, vindo da rua, apagou. Um completo apagão no bairro.

– Emily, me ajude! – Uma voz feminina e frágil clamava por Emily, tão próxima que parecia estar murmurando aquilo com os lábios colados na fechadura da porta. A mulher arregalou os olhos. Tentou chamar o marido, ou mandar quem quer que estivesse do outro lado da porta ir embora, mas nada escapava de sua garganta. Era como uma mão invisível lhe apertando o pescoço para mutá-la.

A pobre Emily tremia como nunca. Fechou os olhos e contou até dez, e acreditava que quando abrisse os olhos, teria saído do pesadelo; teria acordado, ou parado de alucinar, qualquer coisa que a livrasse daquele conto de terror. Porém, quando abriu seus olhos, dentes afiados e um rosto pálido tampavam sua visão. Mãos gélidas e cortantes agarravam seu pescoço, e unhas rasgavam a pele de seus braços. Debateu-se o máximo que pôde, de olhos fechados, com medo de ver aquela criatura horrível novamente. Alguns segundos se debatendo, gritando e chorando, deixou de sentir a presença do monstro. Ao invés disso, sentia-se envolvida em um abraço aconchegante, as lágrimas pintando a camisa cheirosa de Phil.

– Phil? E-eu ouvi algo, vi algo, a televisão, o liquidificador, eu... Você ouviu o grito? Alguém não parava de chamar meu nome, Phil... – Emily falava com a voz chorosa, enquanto o marido emitia "sh" frequentemente, tentando acalmar a mulher.

– Está tudo bem, querida. Provavelmente o grito veio da vizinhança por causa do apagão. Você deve estar assustada com aquela coisa de hoje mais cedo. Eu sei que foi assustador um feto aparecer na sua caixa, Emy, mas... vai ficar tudo bem, eu te prometo. Volte a dormir, certo? Se cubra e não saia da cama, eu vou pedir algumas velas para a vizinha, não demoro. – Falou Phil, sereno. Calçou as chinelas e caminhou até a porta.

– Phil, não me deixe sozinha, por favor! – A mulher murmurou, deixando escorrer algumas lágrimas. O marido fez um sinal com a mão para que ela esperasse e mandou-lhe um beijo.

– Volto antes de você terminar de falar otorrinolaringologista. Eu te amo. – Falou Phil, antes de sumir pela porta. Emily agarrou o lençol que cobria o colchão, passando os olhos pelo quarto na esperança de encontrar alguma arma para defender-se. Agarrou um pedaço fino de ferro enferrujado que estava próximo da cama e então caminhou descalça até a porta. Olhou para trás e não pôde encontrar o seu lençol, que tinha certeza que fora puxado violentamente para o chão há poucos minutos. Mordeu o lábio, tentando engolir o medo. Suas mãos tremiam inquietas, e calafrios percorriam todo seu corpo.

– Otorrinolaringologista. Viu? Ele não é tão rápido. – Uma voz soou, seguida de uma risada travessa e abafada. Por um momento, achou ter deixado escapar a frase, mas deu conta de que não era sua voz. Era uma voz doce de criança. Virou-se para frente a tempo de ver alguém correndo pelas escadas até a porta que dava para o porão. Lágrimas rolaram pela sua bochecha involuntariamente.

– Olhe, pode levar o que quiser, só não me machuque... quando meu marido chegar, ele vai pegar você. – Ameaçou Emily, tentando manter a voz firme. A criatura gargalhou, adentrando o porão e fechando a porta.

Emily desceu as escadas hesitante, aproximou-se da porta do porão e esticou a mão lentamente até a maçaneta, mas antes de tocá-la, ouviu o rangido de outra porta abrindo-se. Um lamurio irritante era audível, seguido de fungados. Emily virou-se lentamente, tentando localizar o barulho, então viu a porta da sala de jantar entreaberta. Caminhou até ela em passos curtos e silenciosos, olhando para trás a cada instante. Na porta, tinham marcas pretas de duas pequenas mãos. Adentrou a sala de jantar, olhando ao redor.

– Tem alguém ai? – Perguntou em alto de bom som, ainda vasculhando o local com os olhos. A sala estava vazia; ainda não tinham colocado nada lá. Mas no canto do local, pousava uma poltrona vermelha que não os pertencia. Ela era velha e empoeirada, e estava virada de lado.

Atrás da poltrona, no chão, Emily pôde ver uma figura vestida de branco, abraçando as pernas com um urso sujo pendendo nas mãos. Era uma criança, a mesma que vira mais cedo. Tinha curtos cabelos castanhos e molhados, pálida como leite, mas estava suja de preto nas mãos, pés e no vestido. Emily respirou fundo, levemente aliviada por não ser nenhum ladrão, assassino ou um louco que fugiu do manicômio.

– Olá... Ei, como chegou aqui? – Emily perguntou, hesitante, mas não obteve resposta. Aproximou-se da criança. – Está tão suja... está perdida? – Insistiu, agachando-se ao lado da menina, com um sorriso dócil nos lábios. Ela imitia grunhidos agudos. Parecia ferida, magoada, abandonada. – Onde estão seus pais? Se você me disser onde mora, posso lhe levar até lá, se não for muito longe... ou se me der o número da sua casa, eu posso ligar. – Falou docemente, esticando a mão para tocar a criança. A menina levantou a cabeça lentamente, então Emily recuou a mão, esperando a reação da pequena criança.

– Você tem medo do escuro? – A garota perguntou. Emily notou que aquela era a mesma voz que a chamara pouco tempo atrás, a mesma voz que falou que seu marido não era tão rápido. Ela tinha uma voz firme e parecia não estar assustada. Emily respirou fundo.

– Devo ser sincera? É, tenho sim. – Emily confessou, rindo de si mesma. Uma risada seca veio da criança. Ela largou seu ursinho no chão, então levantou-se. Virou de frente para Emily e então ergueu nos lábios um sorriso horripilante. Não tinha dentes de criança, mas sim de animal. Dentes amarelos e todos afiados. Sangue escorria pelos seus olhos.

– Mas não devia. – A voz da garota saiu diferente do que era antes. Grossa, carregada de eco, seca. Emily arregalou os olhos e gritou, tentando acertar a criança com o ferro. A criança avançou em cima de Emily como um animal, cravando seus dentes no corpo da mulher enquanto a mesma gritava e se debatia, até não estar mais acordada para fazê-lo. O corpo inerte, rasgado e encharcado de sangue permanecia no chão, enquanto a criança devorava seu coração. Um barulho vindo da sala soou, e logo Phil apareceu na porta da sala de estar. Berrou, aterrorizado ao ver o corpo de sua mulher aberto, comido, sangrando. A criança entortou a cabeça, sorrindo como uma maniaca. O sangue de Emily Collins escorria pelo seu queixo.

– O que fez com ela, seu monstro? – Phil berrou, tateando nos bolsos o seu celular, afastando-se na medida que a criança aproximava-se dele.

– Me diga, Phil, você tem medo do escuro? – A criatura perguntou, antes de avançar em cima do pobre homem.

***

– "Há algumas horas atrás, fora encontrado os corpos de Emily e Phil Collins, um casal novo na vizinhança, pendurados do lado de fora da casa que tinham acabado de comprar. Fora uma cena aterrorizante. Corpos totalmente abertos e devorados, sangue pingando no chão..."

– Mãe, você desligou a televisão? – O menino gritou, tateando o sofá a procura do controle. Estava escuro, não enxergava nada, nem sequer ouvia nada. Sua mão pousou em pele. Tateou mais um pouco e julgou ser uma perna, pouco coberta com um tecido fino e bordado; como um vestido. – Mãe? – Sua voz vacilou, e suas mãos já estavam trêmulas. Estava, sim, assustado. Era uma pobre criança indefesa, sozinho no escuro. E, de fato, ele não suportava ficar sozinho na escuridão.

– Olá. Você tem medo do escuro?


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado, opiniões são bem vindas *-*



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