Jason andava de um lado pro outro no apartamento. Ele estava sozinho, mas sabia que não por muito tempo. O filho de Júpiter não podia mais esconder, ele não conseguia mais esperar, já tinha esperado tempo suficiente. Já fazia um mês que estava esperando e não encontrava o momento certo, sempre acontecia alguma coisa que o atrapalhava. Jason era orgulhoso demais para pedir ajuda de alguém, queria poder dizer que tinha sido tudo ideia dele, queria levar todos os créditos.

Cada tic-tac do relógio fazia seu coração bater mais rápido, suas mãos tremiam e suavam mais do que nunca. Jason preferia enfrentar dois monstros ao mesmo tempo do que fazer o que estava prestes a fazer. Isso era muito pior do que ficar de baixo da terra, era muito pior do que viajar nas sombras. De tempos em tempos ele precisava se lembrar de respirar calmamente, ele precisava se acalmar, mas, naquele momento, aquilo parecia humanamente impossível.

As palavras já tinham sido ensaiadas mais de um milhão de vezes, mas mesmo assim ele não se parou quando elas encheram a sala outra vez. Tudo que antes estava em um papel amarrotado estava, agora, dentro da sua cabeça. Ele não queria esquecer nada, queria que tudo fosse perfeito, inesquecível.

Ele precisava se acalmar, suas mãos tremiam muito e parecia que borboletas tinham resolvido se instalar na sua barriga, várias, milhares talvez. Seus pés o levaram para o banheiro. Jason tirou os óculos e molhou o próprio rosto na água gelada, se não se acalmasse estragaria tudo. Ele precisava pensar em outra coisa. Seus olhos passaram a analisar a roupa que vestia. Uma camisa de botão roxa e uma calça social preta, não era nada demais, mas ele gostava assim, simples. Sua barba estava feita e seus óculos no lugar de novo.

A noite tinha sido planejada com cuidado, nada daria errado.

Jason respirou fundo algumas vezes e voltou para a sala. Ele sentou no sofá novo, e ligou a televisão, também nova. Nico era detalhista de não gosta das coisas menos do que perfeitas. A casa estava sempre limpa e as coisas sempre estavam nos seus devidos lugares, bem, as coisas de Nico sempre estavam nos devidos lugares, Jason vivia largando sapatos na sala, toalhas de banho na cozinha, meias no banheiro...

Os olhos do filho de Júpiter pararam sobre a árvore de Natal em um canto. Ela era de plástico reciclado, um presente de Grover, e estava cheia de bolas e enfeites coloridos. Nico tinha arrumado cuidadosamente as bolinhas para que nenhum lado da árvore tivesse mais bolinhas do que o outro. O filho de Hades tinha também arrumado todos os presentes. Talvez Jason nunca fosse se acostumar.

Sete anos desde a guerra contra Gaia. Cinco desde que eles começaram a namorar. Três vivendo na mesma casa. Era muito tempo, eles não eram mais crianças, os dois trabalhavam e estavam fazendo faculdade. Jason fazendo pós-graduação em história e Nico terminando medicina.

Um barulho no quarto e Jason soube que Nico estava de volta.

Tudo o que ele tinha lutado para acalmar voltou em dobro. Seu coração palpitava, suas mãos tremiam e suavam. Ele respirou fundo, mas não adiantou. Jason desligou a televisão. Seus pés pareciam mais pesados do que de costume enquanto ele andava até o quarto. Quando abriu a porta o filho de Júpiter encontrou um Nico sentado na cama.

- Você não pode ficar viajando nas sombras por qualquer motivo, Nico. Hazel não mora tão longe, você podia ter vindo andando.

- Eu sei, pai - o moreno disse revirando os olhos. Ele se jogou na cama. - Eu não sei porque vocês insistem em comemorar o Natal. Quer dizer, nós não somos cristãos.

- Pare de reclamar, é Natal.

Jason disse encerrando o assunto e o filho de Hades revirou os olhos mais uma vez. O loiro se sentou na ponta da cama, olhando para Nico.

- E como foi lá?

- O de sempre, eu cuidei das crianças enquanto eles faziam os preparativos para amanhã. Emily não parava de se transformar, agora que ela descobriu como fazer isso está insuportável. Graças aos deuses que Marcelo ainda não descobriu que ele pode se transformar também.

Jason riu. Emily e Marcelo eram os gêmeos de Hazel e Frank, eles tinham um ano agora. Os dois não podiam ser mais diferentes, a menina era branca, de olhos puxados, como Frank. O menino moreno, dos olhos redondos e escuros, como Hazel.

Os dois ficaram quietos por um tempo. Até que Nico se sentou de frente para Jason, ficando de pernas cruzadas.

- Você me disse que tinha uma surpresa. O que é?

O coração de Jason voltou a bater forte. Era agora ou nunca. Ele se levantou calmamente e estendeu a mão para Nico, sem dizer uma palavra. O filho de Hades o olhou desconfiado, mas segurou sua mão mesmo assim.

Jason o levou para a sala, onde o fez sentar no chão, perto da árvore de Natal. As várias caixas de pressentes no pé da árvore eram, em sua maioria, para os amigos e família. Eles só trocavam três presentes, um antigo combinado para não exagerar na quantidade.

- O que...?

- Nós vamos trocar os presentes - Jason disse e Nico sorriu.

Eram em momentos assim que Jason tinha certeza de que o filho de Hades adorava o Natal.

O loiro se sentou de frente para Nico e lhe passou a primeira caixa. Ela era quadrada, não muito grande, e estava embrulhada com papel vermelho com desenhos de Papai Noel. Jason sorriu, ele ia adorar ver aquilo. Nico abriu o embrulho rapidamente. A caixa se mostrou preta sem detalhes. O coração de Jason parecia prestes a pular de seu peito. O filho de Hades abriu cuidadosamente e seus olhos não conseguiram esconder a decepção. Eram meias. Jason sorriu ainda mais.

- Gostou? - loiro perguntou animado. - Você disse que estava precisando de novas...

- Eu... São perfeitas, Jason - ele disse sorrindo.

O filho de Hades era um ótimo mentiroso, mas dessa vez ele não conseguiu esconder que estava, no mínimo, decepcionado. Jason deu um selinho no moreno. Nico colocou a caixa de lado e Jason pegou a próxima. Era retangular e era maior que uma caixa de sapato. Ela estava embrulhada em um papel do Mickey.

Jason não conseguiu conter uma risada, Nico o olhou desconfiado e abriu o papel devagar, como geralmente fazia. O filho de Júpiter não conseguia parar de sorrir e mexer as mãos, se controlar, mas era praticamente impossível. Nico conseguiu esconder melhor a decepção dessa vez. Era um liquidificador.

- Gostou?

- Claro Jason, é... útil.

Nico se curvou e deu um selinho em Jason. O filho de Hades colocou a caixa de lado e pegou outra embaixo árvore. Era grande, embrulhada em um papel azul com caveiras. Jason estava tão nervoso que demorou um pouco para conseguir rasgar o papel. Nico o olhou desconfiado.

Quando abriu quase se sentiu mal por estar fazendo aquilo. Era uma jaqueta cara que eles tinham visto algumas semanas antes na cidade.

- Nico, eu não acredito que você fez isso.

O moreno sorriu.

- Você disse que tinha gostado tanto...

- Mas você mesmo disse que era muito cara.

Nico coçou a nuca, vermelho.

- Eu precisava de uma desculpa para não te deixar comprar...

Jason colocou a caixa de lado ainda sorrindo. Suas mãos tremiam. Ele queria sair gritando e se esconder em algum lugar. Ele não se lembrava de já ter estado tão nervoso.

O filho de Hades pegou uma segunda caixa, dessa vez roxa e menor que a primeira. Jason tentava não demonstrar o nervosismo, mas suas mãos tremiam muito.

- Você está bem, Jason? Parece nervoso – Nico disse lhe entregando a caixa.

- Eu... Claro. Eu estou bem, estou melhor que bem, estou maravilhoso – Ele disse rasgando o papel.

Nico não pareceu engolir a história, mas deixou por isso mesmo. Jason reconheceu a caixa sendo de uma marca famosa. Ele abriu a caixa devagar. Dentro estava um lindo relógio preto com detalhes em dourado.

- Nico... É... Lindo. Você não precisava ter gasto tanto dinheiro comigo.

As bochechas de Nico estavam mais vermelhas que uma lata de Coca-Cola. O filho de Júpiter puxou o moreno para um abraço e, por mais que soubesse que algo melhor aguardava o moreno, seu coração se apertou. Jason deu outro selinho em Nico e se afastou. Ele forçou um sorriso e pegou uma caixa pequena embrulhada em papel de Natal.

De novo o moreno abriu devagar e dessa vez encontrou um par de fones comum. Nico sorriu e beijou Jason, que soltou outra gargalhada. O filho de Hades o olhou desconfiado, ele então fechou a boca, se segurando.

- OK - o filho de Hades sorriu. - Esse é o meu último.

A caixa era menor que uma caixa de sapatos e estava embrulhada em papel vermelho. Jason abriu sem se preocupar com o embrulho. Ele encontrou seu perfume favorito.

- Ah, Nico. Você é o melhor namorado de todos.

Jason o puxou para um beijo, dessa vez mais demorado. Eles se soltaram e Jason sentiu que ia desmaiar. Ele estava muito nervoso, sentia suas mãos suadas e seu coração descompassado. O filho de Júpiter se levantou e puxou Nico com ele. O moreno ficou encarando Jason enquanto ele recolhia os papeis de presente do chão, como se esperasse alguma coisa mais. Jason se segurou e perguntou com a cara mais séria que conseguiu:

- Alguma coisa errada?

- Hm, não. É só que...

Nico pareceu confuso e Jason perguntou com sua melhor voz de desentendido:

- É só que...?

- Não, nada. Eu só...

O filho de Hades deu um selinho em Jason.

- Eu te amo – ele murmurou baixinho.

- Eu te amo, Neeks.

Eles se encararam por longos segundos e Jason pensou em terminar com tudo aquilo de uma vez. Era o momento perfeito. Seu coração voltou a bater forte e as borboletas, que estiveram quietas por um minuto, voltaram a se agitar. Jason não conseguia se mexer, não conseguia obrigar seus pés a irem até o quarto.

- Eu vou preparar o jantar – Nico disse por fim e sumiu na cozinha.

Jason se deu um tapa na cabeça. Ele terminou de recolher os papeis de presente e os levou até a cozinha para jogar no lixo. O filho de Júpiter encostou no batente da porta e ficou admirando Nico pegar as coisas de costas para ele enquanto cantarolava uma canção qualquer. Jason não conseguia pensar em nada mais perfeito do que passar a véspera de Natal em seu apartamento em Nova Roma com o melhor namorado do mundo.

Antes que pudesse se parar ele foi até o quarto e abriu o armário, que fez muito barulho. Jason não se importou, tirou de lá uma caixa pequena, uma caixa que Nico não tinha visto até agora. Ele colocou no bolso de trás e voltou para a cozinha.

Nico ainda estava de costas para a porta, ligando o fogão. Jason chegou por trás e segurou sua cintura. O filho de Hades pulou de susto, mas sorriu.

- Você não pode fazer isso, Jason. E se eu queimar a casa toda?

- Você não faria isso – ele respondeu beijando o pescoço do filho de Hades.

Ele não resistiu e começou a mordiscar o lugar também, vendo Nico ficar arrepiado e parar de fazer o que estava fazendo. Jason adoraria continuar ali a noite toda, mas parou.

- Eu ainda não entreguei sua surpresa.

Jason disse virando Nico de frente para ele. Seu coração batia tão forte que ele não entendia como Nico não conseguia ouvir. Ele suava frio.

- Foi engraçado ver sua cara enquanto você abria os presentes – Jason disse e viu a bochecha de Nico ficar vermelha. – Eu só os comprei por que precisava de dinheiro pro seu presente de verdade.

- Você sabe que dinheiro não é problema, Jason, minha residência paga bem e...

- Eu precisava comprar isso com o meu dinheiro, Nico. Não conseguiria passar o resto da vida pensando que você tinha pago por isso.

O rosto de Nico mostrava claramente que ele não tinha entendido o que ele queria dizer. Jason se ajoelhou e segurou a mão de Nico. A expressão de Nico passou de confusa para puro medo em menos de um segundo. Jason sorriu, pelo menos ele não era o único nervoso.

- Eu estou planejando e tentando fazer isso a algum tempo – a voz de Jason saiu controlada, ao contrário do que ele se sentia. – Eu só não conseguia achar o momento certo. Eu tinha um texto e tudo planejado, mas eu não consigo me lembrar o que estava escrito e nem e importo no momento.

- Jason...

O filho de Júpiter ignorou o moreno. Se ele parasse agora talvez não conseguisse continuar e terminar aquilo nunca. Jason tirou a caixinha do bolso e a abriu na frente de Nico.

- Nico Di Angelo vuoi sposarmi?

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Todos perceberam que Nico estava mais feliz naquele natal, mas soube o porque até o filho de Hades quase derrubar Emily no chão depois de Hazel gritar:

- AhMeusDeuses, o que é isso no seu dedo Nico?