Medos de Barbara escrita por J R Mamede


Capítulo 1
Um novo começo


Notas iniciais do capítulo

Olá!

Esta é uma fic que fiz para o desafio "Heróis e Vilões" do Nyah! Fanfiction, e posso dizer que foi extremamente gratificante escrever sobre uma personagem que tento adoro.

Sempre fui fã de Batman, culpa do meu irmão que coleciona quadrinhos deste herói. Gostava quando ele me contava repetidas vezes a história da vida do órfão Bruce Wayne e como ele se transformou no vigilante de Gotham. Porém, minha simpatia maior é por Barbara Gordon e sua participação heroica como Batgirl, posteriormente, Oráculo.

Como sou romântica, torço pela felicidade do casal Barbara e Dick Grayson (um dia Robin, hoje Asa Noturna), mas este foi um comentário desnecessário, então podem desconsiderar.

Espero que gostem de minha narrativa; fiz com muito amor e carinho.



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A risada maníaca ecoava.

Ainda via com nitidez aquele rosto psicopata gargalhar loucamente, enquanto eu me contorcia em agonia, sentindo o sangue escorrer de minhas entranhas.

Acordei aos gritos, assustada e com a imagem daquele sorriso perverso borrado em um vermelho escarlate.

A risada teimava em invadir minha mente, meu quarto, minha alma.

Transpirava e o coração batia em meu peito como um motor furioso de uma Ferrari. Ajeitei-me na cama de forma que eu pudesse ficar sentada e com as costas apoiadas nos travesseiros recém-arrumados na cabeceira. Acendi o abajur e, perto dele, um copo d’água me esperava, já acostumado com minhas madrugadas mal dormidas por conta deste pesadelo que me assombraria pelo resto da vida.

Percebi que o sono não voltaria mais, então olho para a minha companheira indesejada que me encarava ao lado da cama. Por mais que eu quisesse, ela nunca iria embora. Já várias vezes me vi brigando e xingando-a com ardor, porém, ela fazia questão de mostrar sua insensibilidade perante aos meus desejos, provocando-me com sua presença e humilhando-me com sua cruel habilidade de lembrar-me que eu precisaria dela para sempre.

Arrastei um pouco meu corpo para perto dela, apoiando minhas mãos em seus braços. Precisei de um pouco de impulso para sentar em seu colo. Arrumei minhas pernas com os únicos membros que obedeciam aos meus comandos cerebrais, ajeitando meus pés no apoio que a acompanhante dispunha. Sentei-me um pouco mais ereta e, quando estava confortável ­─ se é que posso me atrever a sentir isto ─ comecei a dirigir somente com as mãos, rodando as finas rodas daquela cadeira que se tornara uma parte de meu corpo.

Rodei até a sala de meu pequeno apartamento, a fim de pegar um livro que começara a ler no dia anterior. Posicionei-me ao lado do abajur e, com auxílio de sua iluminação extintora de trevas, comecei a folhear as páginas e cheirá-las com agrado. Encontrei a parte que me aguardava e comecei a entrar no livro, embebedando-me de suas palavras.

Nunca me arrependi da escolha de minha carreira.

Ser bibliotecária é muito mais do que tirar poeiras dos volumes e mandar alguém ficar quieto. Ser bibliotecária é apaixonar-se por cada obra e inspirar-se em cada autor; é deleitar-se pelas histórias e proporcionar uma grande fuga da realidade.

Fugir da realidade era o que eu mais almejava nesta vida.

Por um momento parei de ler e o estouro da bala sendo disparada surgiu em minha mente, invadindo-me de medos e más recordações.

Tomei um susto ao escutar a campainha alertando-me de uma visita inesperada e, mais uma vez, o temor tomou conta de mim. Sempre que escutava a porta bater ou a campainha tocar, sentia arrepios e receios. Era tão difícil abrir a porta de meu apartamento quando alguém aparecia, quanto colocar o dedo na chama bruxuleante de uma vela: ambas me davam medo de ser ferida.

Olhei a janela e surpreendi-me com o sol que resplandecia lá fora. Não percebera a hora passar enquanto lia.

Com relutância, direcionei-me à porta, a qual recebia alguns socos leves.

─ Barbara? ─ escutei uma voz familiar chamando-me.

Girei a chave três vezes para a esquerda e destranquei a minha singela proteção. Ao abrir a porta, Dick sorria-me ao seu jeito descontraído e um buquê de flores amarelas era segurado por ele.

─ O que faz aqui? ─ pergunto, deixando espaço para ele passar.

─ Fazer uma visita, o que mais seria? ─ fitando-me com carinho, confessou: ─ Senti sua falta, Barbara.

Abraçamo-nos por um longo tempo. Dick Grayson, o rapaz de cabelos negros e olhos claros, era um amigo muito especial. Não nos víamos há exatos três meses, quando Bruce sugeriu-me afastar-me por um tempo de Gotham, após o acidente.

─ Será melhor para você, Barbara. ─ afirmou quando eu ainda estava recuperando-me na cama do hospital. ─ Você se sentirá mais segura e o seu pai também.

Quando me lembro das aflições que papai passou por conta do desastre, um ódio invade o meu ser, e a sede de vingança cresce cada vez mais. O que eu mais desejava era ir atrás do Coringa e matá-lo como um animal abatido. Gostaria de vê-lo sangrar e pedir por piedade, arrancando aquele sorriso de sua face.

Não fui capaz. Provavelmente, nunca mais serei capaz.

Desgraçado! Seu plano diabólico não dera certo, mas conseguiu deixar-me cheias de limitações. O Coringa planejava provar ao mundo que até mesmo o homem mais equilibrado do mundo era capaz de enlouquecer. Para provar sua tese, o vilão demoníaco fizera uma visita à casa de James Gordon e, quando a filha do comissário atendeu a porta, foi surpreendida com o sorriso vermelho escancarado e um tiro que atingiu sua espinha.

Graças ao patife, fiquei paraplégica e reservada a uma vida repleta de infelicidade. Nunca mais pude sair às ruas de Gotham e protegê-la dos perigos que a assombram.

Nunca mais vesti o manto da personagem que criara e alegrara-me tanto: Batgirl.

─ Não irei embora, Bruce ─ contestei. ─ Não tenho medo de nada.

Tinha sim.

─ Não se trata de medo, Barbara, mas sim, de segurança ─ rebateu meu pai, pálido e abatido. ─ Precisa engolir seu orgulho, minha filha, e se recuperar em outro lugar ─ aproximou-se para acariciar meus rubros cabelos. ─ Eu irei com você, querida. Cuidarei para que tudo fique bem.

Eu fazia forças para não chorar, para não mostrar meu pânico e minhas preocupações. Era difícil, mas tentava ao máximo mostrar ao meu pai, grande e admirado comissário de Gotham City, que nada me abalaria.

─ Não precisa ir comigo, pai ─ falei. ─ Gotham precisa mais do senhor do que eu. Ficarei bem, eu sei me cuidar.

Claro que, a princípio, o senhor Gordon não aceitou. Dissera-me que eu deveria ter pelo menos uma enfermeira auxiliando-me, já que eu não aceitara sua companhia. Eu precisei das enfermeiras por pouco tempo, utilizando de seus serviços apenas no hospital para me ajudarem a adaptar-me a esta nova rotina de vida.

A única coisa que fiz ao chegar ao novo lar temporário fora chorar. Via-me sozinha e desamparada. Sentia-me triste e indefesa sem minhas pernas. As aventuras que tivera com Batman, Robin e Asa Noturna ficariam apenas em minhas recordações. Havia aposentado por invalidez.

Na primeira semana, telefonei para o meu pai. No começo assegurara que estava tudo perfeitamente bem, porém, o senhor Gordon não é tolo, nada lhe passa despercebido, afinal, ele está acostumado a lidar com criminosos mentirosos, detectando rapidamente suas embromações.

─ Eu não aguento mais, pai! ─ confessei quando ele insistiu com suas perguntas investigativas. ─ Não suporto estar tão impotente diante de tantos crimes acontecendo. Era combater o crime que me motivava a viver. Agora sou só uma aleijada insignificante e inútil.

O choro fora inevitável. Linhas de lágrimas desenhavam meu rosto e soluços ecoavam pela sala.

─ Eu quero matar aquele filho da mãe! ─ vociferei.

─ Barbara, minha filha ─ escutei a voz fraca de meu pai. ─ Eu sinto tanto, querida.

Após um momento de silêncio, quando eu havia recuperado a razão e a calma, meu pai, um pouco receoso, relatou-me sobre um caso de tráfico de armas, convidando-me a ajudá-lo.

─ Você tem grande conhecimento em informática ─ falou. ─ Eu desconfio de um grande magnata e acredito que há várias informações incriminadoras em seu computador particular. Você é uma grande hacker, Barbara. Eu sei que pedia para parar de bisbilhotar os computadores alheios ─brincou ─, mas desta vez é necessário, e eu preciso de você.

Aquela missão que meu pai me confiara era como uma injeção de ânimo e adrenalina. Vi-me capaz novamente de combater o crime, só que desta vez, substituindo as artes marciais por programas de computadores.

Após quase três meses eu vasculhei os arquivos de George Voltolini, a figura importante dos mundos dos negócios. Demorei um pouco a decifrar as inúmeras senhas que escondiam os documentos e, qualquer coisa que encontrava, enviava por e-mail ou por fax para o comissário Gordon analisar na delegacia de Gotham.

Meu pai preferiu que eu permanecesse no mesmo lugar enquanto fazia minhas investigações. Achou melhor eu ficar um tempo fora da escura Gotham e me dedicar nos inquéritos sem precisar sair do apartamento que alugara, somente com a companhia do computador e do notebook.

Ele ainda temia por mim, e eu compreendia.

Eu também temia por mim.

Descobri que o empresário tinha contatos com traficantes mexicanos, os quais eram responsáveis pela entrada das armas no país, deixando aos cuidados de Voltolini.

Quando finalizei as buscas e todos os documentos importantes estavam em minhas mãos, o magnata George Voltolini fora incriminado e preso. Ele já desconfiava de sua prisão, pois a polícia havia batido em sua porta para vasculhar sua casa em busca de provas. Meu pai conseguiu prendê-lo quando tentava fugir para a Itália, país de sua existência, causando alvoroço no aeroporto de Gotham City.

Adoraria ter visto pessoalmente mais um criminoso atrás das grades graças a minha ajuda. Entretanto, a sensação de dever cumprido era inestimável.

Naquela manhã em que Dick batera em minha porta, fazia três dias que eu completara minha missão. Estava satisfeita comigo mesma, apesar dos fantasmas de um passado não muito distante continuarem a me assombrar.

Peguei gentilmente o buquê que ele me presenteara e pedi para acompanhar-me até a cozinha e tomarmos o café da manhã. Além das flores, recebi outra coisa.

─ Alfred pediu para agradecer ─ disse Dick, estendendo um pequeno livro retirado do bolso de seu casaco. ─ Falou que é uma obra esplêndida. ─ imitou o simpático mordomo, fazendo-me rir.

Há muito não ria com tanto prazer.

Conversamos casualmente, bebericando o nosso café fumegante e passando manteiga em nossas torradas crocantes e um tanto queimadas. Eu fitava-o, tentando desenhar em seu belo rosto a máscara que eu me habituara a ver todos os dias. Sentia falta de vê-lo trajando seu uniforme de Asa Noturna e, ao seu lado, lutar pela justiça.

─ Bruce e eu andamos conversando sobre você ─ comentou Dick. ─ Eu soube de seus serviços para o comissário Gordon e acho que eles seriam de vital importância para nós. Sentimos falta; queremos que volte à equipe, senhorita Gordon ─ piscou de forma descontraída.

─ Acha mesmo que eu devo voltar?

─ Tenho certeza ─ garantiu, pousando sua mão na minha.

Eu não conseguiria sair pelas ruas intimidantes de Gotham e ameaçar bandidos e mentes insanas com minhas habilidades marciais, porquanto a cadeira era minha limitadora e meu bloqueio. Entretanto, ainda possuía o meu cérebro e, graças a ele, era capaz de executar uma tarefa favorável e pertinente para limpar as ruas da cidade.

─ Então a Batgirl voltou? ─ perguntou Dick com seu sorriso de menino.

─ Não ─ afirmei, deixando-o um pouco confuso. ─ A Batgirl morreu, Dick. Esse é o nascimento de Oráculo.


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Notas finais do capítulo

Gostaram? Se sim, torçam, rezem, façam figas para eu ganhar, ou pelo menos ficar entre os dez melhores, kkk

Obrigada por ler! Se comentar, agradeço ainda mais.Beijos!