UM MOTIVO PARA SORRIR - Express Especial de Natal escrita por Serena Bin


Capítulo 3
Bônus


Notas iniciais do capítulo

É isso meninos e meninas, essa será a ultima fic do ano e espero que gostem.
Eu agradeço a todos voces por esse ano fantastico. E desejo um 2015 maravilhoso a todos, cheio de coisas boas e milhares de MOTIVOS PARA SORRIR.
:)



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Amanhece uma manha gélida e pálida. São pouco mais de oito da manhã quando Sarah me acorda.

– Feliz Natal! - diz sorrindo - Eu vou até o mercado.

– Feliz Natal. - respondo ainda sem abrir os olhos.

– Peeta já trouxe os pães? - pergunto vagamente.

– Não, talvez ainda esteja dormindo - responde Sarah - Eu volto logo.

Eu me mantenho deitada confortável pelo calor de minha cama.

Hoje a lista de bondades ganha mais um ítem: Sarah e o porta-retrato.

Eventualmente olho para o pequeno objeto em cima da estante e me lembro da noite anterior, relembrando como fora agradável estar na companhia de pessoas boas novamente, de não me sentir angustiada. É nesse momento que tomo conta de que não tive pesadelos essa noite. Verdade é que não me sinto bem assim a meses.

Quando desso para o café, encontro Greasy já acordada. Ela me cumprimenta e diz que estou diferente. Verdade. Me sinto diferente, um pouco mais viva.

Eu agradeço o elogio e vou direto até a janela da sala. Eu tento disfarçar mas falho porque Greasy solta:

– Acalme-se, criança. Ele ainda está dormindo - sinto que estou corando, mas Greasy me tranquila - Fique tranquila, tenho certeza de que ele nao esqueceu dos pães.

Pães. Se Greasy soubesse que não dou a mínima para os pães. Eu apenas me importo com a presença dele. Preciso tê-lo por perto. É inacreditável a falta que ele me faz, não só nas noites pesarosas, não só pela companhia mas por mim.

Eu agora, mais do que nunca preciso dele.

E eu gostaria de dizer a ele tudo o que tenho engasgado em meu peito desde que voltamos ao doze, mas como uma lebre assustada tudo o que faço é fugir. Sinto raiva de mim mesma. Fui capaz de vencer uma guerra e matar uma líder politica, mas não sou capaz de encarar o garoto do pão. Vencer os Jogos Vorazes foi mais fácil.

– Espero que ele não se esqueça, estou com fome esta manhã - digo tentando parecer indiferente, mas Greay Sae ri me deixando ainda mais nervosa.

O tempo passa, passa, passa e passa e quando o relogio marca dez da manhã, é Greasy quem começa a desconfiar do atraso dos pães.

– Talvez alguém devesse ir até a casa dele - Greasy recomenda - Talvez ele tenha tido mais um de seus...

Greasy segura a última palavra mas sei o que ela quer dizer. Que talvez ele possa ter tido um de seus ataques, e esteja penando no chão de sua casa.

Algo próximo ao desespero me toma e é como se eu sentisse aquela sensação de novo, de quando Peeta estava nas mãos de Snow, de modo que eu respondo.

– Talvez devesse-mos mesmo ver como ele está.

– Certo - responde - Se importa de ir até lá?

– Não. - respondo rapidamente, ja vestindo o casaco - Eu vou.

Caminho pela neve e a principio a ideia parece boa, mas a medida com que vou me aproximando do meio da rua, começo a perceber que talvez vir até ele tenha sido uma má ideia. Eu não faço a mínima ideia do que dizer ou como agir.

Mas o que mais me aterroriza é a possibilidade de encontrar um Peeta extremamente modificado como o bestante incontrolável que vi no 13.

Imediatamente um medo percorre o meu corpo porque eu experimentei da força do telesequestro.

Porém eu continuo andando. Estou quase lá quando a porta se abre de repente. Peeta sai de dentro da casa bem vestido, embora eu note um tremor diferente em suas mãos, e eu já vi isso antes, varias vezes, no treze e durante as entrevistas que ele fornecia à Capital. É claro que ele teve uma de suas crises.

– Bom dia - diz descendo as escadas de sua casa e afundando os pés na neve fofa.

Demora até que eu o responda, mas quando o faço digo a mesma coisa.

– Bom dia.

– Precisa de algo? - ele pergunta - Não me esqueci dos pães. Eu ia leva-los mas eu tive um contra tempo.

Contra tempo. Então é assim que ele chama as crises?

– Sem problemas - respondo me aproximando - Eu ia perguntar se voce gostaria de tomar café em minha casa, com Sarah, Greasy e...comigo.

É uma tarefa dificil manter um diálogo com Peeta, porque na maioria das vezes ele passa longos períodos de tempo analisando cada palavra, cada sentença, cada frase. Talvez esse seja um dos motivos que o fizeram se retrair durante tanto tempo.

– Tomar café? - responde vagarosamente - Com voce?

Há uma espécie de dúvida em seus olhos agora um pouco mais escuros que o normal. Algo que eu tambem já vi antes. Imagino o que possa estar se passando na mente dele agora. Meu convite não foi uma ameaça mas para a mente castigada de Peeta, talvez isso possa ter soado como algo duvidoso.

– Obrigado - responde olhando para o chão - Mas...eu...não acho uma boa ideia.

– Por que não? - questiono baixinho caminhando para mais perto de Peeta - É manhã de Natal e...Peeta nós um dia vamos ter de nos falar de novo. Não é possível viver assim. Como podemos ter um passado ligado um ao outro e nos ignorar-mos no futuro?

Eu não sei qual onda de motivação fez com essa coragem toda aflorasse novamente em mim. Porque a última em que senti essa onda súbta de vontade de falar abertamente foi no distrito oito, numa mensagem à Snow.

Peeta se mantém inerte e vejo o tremor em suas mãos se intensificar. De repente sou arrastada pela neve, Peeta está me puxando para dentro de sua casa.

– Entra - ele pede.

Eu deveria correr. Meu cérebro me manda correr, ir para longe dali porque é como se eu já sentisse suas mãos em meu pescoço. Estar sozinha com um Peeta desordenado é um risco entretanto quando penso em fugir minha mente tras a tona uma de minhas conversas com Haymitch, onde ele dizia que eu abandonara Peeta. Então eu resisto ao medo porque eu não vou abandoná-lo dessa vez.

Peeta fecha a porta e se senta no enorme sofá de sua sala. Me lembro desse sofá, oh sim, não poderia esquecê-lo jamais. Aqui Peeta e eu passamos muitas noites em claro tentando sobreviver aos pesadelos. Aconchegados, consolando a dor um do outro.

– Ou voce é louca ou é muito corajosa - Peeta força algo que parece ser uma piada - Porque aceitar estar comigo novamente...

– Louca - eu o interrompo - Completamente louca, eu acho.
Peeta ri, porque a situação é cômica. Estou morrendo de medo apesar de estar vendendo coragem da boca para fora.

– Eu senti falta desse seu humor ácido - ele diz - Sobre o que voce disse lá fora, sobre nós nos ignorar-mos, não é proposital. Acho que nós mudamos muito, voce mudou, e eu então? Não dá pra esquecer o que passamos e foi meio que natural nos afastar-mos e achei que voce estivesse feliz com isso, afinal agora voce está livre para viver seu romance com Gale.

Romance? Gale?

Nunca houve romance algum entre eu e Gale, apesar de um dia eu tê-lo considerado, eu jamais o quis verdadeiramente. É vergonhoso admitir, mas Gale na realidade tornou-se uma válvula de escape, quando eu estava em uma época de destruição, quando eu tinha certeza de que Peeta morreria. E eu quero dizer isso a Peeta, quero expor tudo o que sinto, mas não encontro a maneira correta.

– Eu sempre soube quem voce escolheria, afinal - ele continua cabisbaixo - Me afastar foi uma maneira de não machucar voce e principalmente não machucar a mim, porque todos os dias eu sofro com questões que não sei dizer se são reais ou não.

– Que tipo de questionamentos? - pergunto - Voce deveria contar, quem sabe eu não possa te ajudar.

Demora até que Peeta me entregue uma resposta. É como se ele estivesse selecionando suas dúvidas.

– Questões como por exemplo se sou ou não uma pessoa boa, se minha familia etá ou não morta. Eu sento num canto escuro e fico me perguntando se é real ou não, mas eu quase nunca encontro respostas!

Por um momento eu o imagino sozinho durante a noite enfrentando todos esse fantasmas. Sinto o coração apertar em em meu peito. A ideia de estar no lugar de Peeta faz com que eu fique tonta só de imaginar. Me sinto mesquinha, choramingando por aí um luto eterno quando bem ao meu lado existe alguém que além do luto enfrenta a vastidão de uma mente sem lembranças.

– Real - respondo olhando em seu rosto que ainda se mantem baixo - Voce é uma pessoa muito boa. Real, sua família infelizmente está morta.

Peeta mantém o rosto curvado e posso ver suas lágrimas caindo ao chão. Posso sentir o quão doloroso é para ele passar por toda essa situação sozinho. E como eu faria a um animal ferido, estendo minha mão para ampará-lo.

– Eu tento Katniss - Peeta diz com a voz embargada - Eu tento ser forte e suportar mas as vezes é doloroso demais. Existem dias em que acordo e simplesmente não encontro um motivo para sorrir.

Sorrisos. Talvez essa seja a palavra da vez. Porque tudo está girando em torno disso: Sarah e seu pinheiro, o meu porta-retrato e agora isso. De repente estou guiando Peeta para fora de casa. Segurando firme em sua mão.

– Peeta- digo baixinho, tocando de leve suas mãos. Um tremor ainda maior se segue - Eu posso imaginar, e não sei o que dizer, porque eu nunca fui boa com palavras, mas eu quero que voce saiba que ainda pode contar comigo.

Minhas palavras trazem uma feição de confusão nos olhos de Peeta, uma espécie de estagio entre a realidade e a invenção.

– A propósito, é real. - digo.

– Real? - Peeta questiona - O que é real, Katniss?

– Eu amo voce.

É como se um fardo caísse de meus ombros. Mesmo sem saber qual será a reação dele, eu ainda sim me sinto leve, porque para mim, confessar algo tão intimo é sempre um desafio.

– Ama?

– Sim - respondo já sentindo a ardência em meu rosto.

Acompanho o rosto de Peeta mudar de confuso para algo brilhante, e pela primeira vez desde que voltamos ao doze, consigo um olhar direto e sincero dele. Algo tão próximo aqueles olhares de outrora que sinto que nada mudou. Que no fundo, Peeta ainda é o mesmo.

– Isso é sério? Ou é só uma promessa de Natal? - ele pergunta.

– Acho que nunca falei tão sério em toda minha vida - digo me aproximando para pegar suas mãos, mas antes que isso aconteça algo gelado me acerta com força.

– Desculpe - Peeta diz zombeteiro - Foi sem querer.

Eu me indigno porque eu estava no meio de algo que julgo ser uma declaração de amor e porque está extremamente frio. Então eu retribuo com a mão cheia de neve e o acerto.

Nós parecemos duas crianças de rua. Gritando e rindo alto, atirando bolas de neve um no outro. De repente Sarah aparece no meio da rua e logo é atacada por nós e então Buttercup também se junta a festa gelada.

É estranho. Como se nesse momento eu estivesse vendo a cena toda do alto. Vendo algo próximo a felicidade em rostos que já choraram tanto.

Há uma única sensação que supera o ato de sorrir. Essa sensação consiste em fazer alguem sorrir. E ver Peeta sorrindo solto pela primeira vez depois de tudo é como ganhar um prêmio. Em segundos estou de volta a mim e contemplo Sarah, Peeta e eu cobertos de neve, jogados na rua. Rindo sem nenhum motivo aparente.

Mas então entendo as palavras de Sarah quando diz que a vida pode voltar a ser boa independente de quão duras foram suas perdas. Ela quer dizer que pouco a pouco a vida volta ao normal, que não é com grandes acontecimentos que voltamos a sorrir, mas sim com ações pequenas, com coisas simples que só notamos se alguém nos apresenta. Coisas como o pinheiro na minha sala; como a sobremesa de Peeta; o porta-retrato de Sarah; uma brindeira na neve; um real de quem se ama.

São simplicidades assim que fazem com que eu entenda que apesar de ter perdido e sofrido tanto, basta abrir os olhos e olhar ao redor, e certamente voce achará um motivo para sorrir.


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Notas finais do capítulo

Obrigada por ler. Que tal deixar um comentario? Prometo que leva menos de um minuto. Bjinhus e Feliz Ano Novo.