Theory of Nothing escrita por Mari Hime


Capítulo 7
VII - Rumo ao Destino


Notas iniciais do capítulo

Antes tarde do que nunca!

Se tiver um tempo, deixe um review, isso realmente incentiva a continuar. É uma média de seis mil palavras por capítulo, é um pouco desgastante e, apesar de ter várias visualizações, pouquíssimos comentam. Eu sei que é chato ficar pedindo pra comentarem, mas dá a impressão que a história não está legal.

Muitas coisas fugiram do meu controle esse ano, e por isso a demora. Sinto muito.

E Feliz 2016!



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Saint Seiya pertence ao Masami Kurumada.

Baseado em um sonho que tive em 2008

~O~o~O~

Theory of Nothing

~O~o~O~

VII

Rumo ao Destino

"Nunca há garantia de voltar, morrer é a única certeza." - Piratas do Caribe

~O~o~O~

"VAI COMEÇAR"

"Corra, não pare!"

"VAI COMEÇAR"

"Mas eu estou cansada..."

"VAI COMEÇAR"

"Não Importa! Se você parar, aquelas coisas vão te pegar!"

Não me lembro direito como foi que parei neste lugar, mas sabia que deveria correr.

Conseguia sentir os músculos de minhas pernas doendo, meu maxilar estava tensionado e meus dentes rangiam, segurando os gritos que eu queria dar.

Olhei para trás e vi uma massa escura e de me fazer ter calafrios. Aquilo eram mãos? Ou melhor, garras? Não sei, e preferia continuar na ignorância, mas aquela amontoado estava me perseguindo e vez ou outra podia escutar um grito horripilante vindo daquela coisa.

Olhei para baixo, para depois de meus pés descalços, e não via nada. Nem chão, nem nada. Era como se eu corresse em meio ao ar. Sem absolutamente nada para me sustentar.

O lugar onde estava parecia um corredor sem fim. Corria em um espaço pequeno, suficiente para apenas duas de mim. Acima e abaixo do meu corpo não havia nada além de escuridão e vazio. Atrás de mim, algo que não conseguia identificar vinha em minha direção. Era um pouco mais denso que fumaça e mais escuro que as noites.

Mas a minha frente eu podia ver...

Um ponto, pequeno, ordinário, quase insignificante, que brilhava. Devia ser a saída daquela maratona doentia. Tinha que ser! E eu corria naquela direção. Ora olhando para baixo, ora olhando para cima. Nada. Ora olhando para trás. Medo. Ora olhando para frente. Expectativa. Eu tinha que chegar lá!

Continuei a correr até perder totalmente o fôlego. Meus pulmões queimavam a cada respiração que eu dava, meus pés estavam com bolhas e algumas sangravam. Mas o ponto luminoso continuava lá. Era como se eu não tivesse dado um simples passo em sua direção, era como se eu corresse parada.

Que raiva!

Mas eu tinha que continuar a correr, a escuridão estava me alcançando e não importa como, não podia parar.

E eu teria continuado, se não fosse por meus pés que tropeçaram em algo. Eu cai. E gritei.

Uma das mãos de desprendeu daquela coisa escura que me perseguia, e agarrou meus tornozelos, me puxando para aquele redemoinho que agora gritava de prazer. Eu não morreria por cair naquele abismo, mas com certeza encontraria meu fim naquela coisa.

Tentei me soltar. Tentei me segurar ao nada. A qualquer coisa. Mas fui tragada pelas sombras.

Espere...

As sombras não costumavam ser tão gélidas e ásperas... Ou costumavam?

Aquelas patas rasgaram meu vestido até que ficasse completamente nua. Até que minha pele fosse perfurada e mais sangue começasse a escorrer por toda parte. Até que meus cabelos foram puxados, me levando para adentro daquela coisa. Estava sendo engolida pelas trevas?

Sentia dor. O sangue escorria de meus pés e tronco, minhas pernas doíam, cada respiração ardia, cada pensamento me apavorava.

Tentei fazer qualquer coisa, uma mágica? Qualquer poder! Eu era uma deusa! Só tinha que me lembrar como fazer. Qualquer porcaria que tenham me ensinado tinha dar em algum resultado!

Me lembrei de algo, uma das poucas coisas que sabia fazer. E sd minhas mãos ensanguentadas, uma pequena luz surgiu, como se fosse fogo, queimando aquelas criaturas terríveis e que finalmente me largaram.

"VAI COMEÇAR"

E fui lançada ao nada.

"VAI COMEÇAR"

E caí em direção ao precipício.

"VAI COMEÇAR"

Estava cansada para tentar me segurar a algo.

Este era o meu fim?

Olhei para baixo e vi. Penhascos tão pontiagudos quanto agulhas.

"VAI COMEÇAR"

Dor.

Pânico.

Medo.

Fim...

"VAI COMEÇAR"

"Afinal, o que diabos vai começar?!"

E um grito de horror rompeu minha garganta... Enquanto eu caia e caia...

~O~o~O~

22 de janeiro de 2012, 03h07min

Algum lugar

O silêncio do meu quarto foi rompido.

Meu coração batia tão forte que eu o sentia em meus ouvidos. O ar que entrava em minhas narinas machucava-me. Meu peito subia e descia freneticamente.

Tive dificuldade em enxergar o meu redor, estava tudo muito escuro. Mas aos poucos, fui reconhecendo meu quarto. As cobertas estavam todas caídas da cama, os lençóis abarrotados e os travesseiros no chão. Uma de minhas mãos estava erguida debilmente, tentando segurar algo que eu não sabia o quê.

Eu estava segura este tempo todo?

— De novo não... - suspirei pesadamente.

Pude ouvir os passos apreçados que alguém dava no corredor, provavelmente Artemis.

Sequei o suor do meu rosto com as mangas de minha camisola e tentei acalmar as batidas de meu coração. Estiquei os músculos da perna que estavam enrijecidos e abaixei meu braço. Meu maxilar tremia.

Não era a primeira vez que aquilo me acontecia. Esses sonhos, ou melhor, pesadelos, estavam mais constantes que o normal. Eu via sombras e sangue sempre que minha mente vagava pelo mundo dos sonhos, ouvia vozes e sentia um medo absurdo de tudo aquilo.

Sempre aquela coisa me perseguia. Sempre.

E eu Realmente acreditava que tudo era real. Isso até acordar.

Eu estava segura. Eu sempre estive segura. Mas...

Mas eu não me sentia mais segura.

Levantei meu corpo e encarei a imagem do espelho a minha frente. Meus cabelos soltos e bagunçados, meus olhos vermelhos cor de sangue, o suor de meu rosto.

Aquela foi a primeira vez que não consegui fugir. Eu fui pega.

A Escuridão me alcançou...

... Esta noite, eu perdi. - disse roucamente.

Eu... perdi?

~O~o~O~

22 de janeiro de 2012, 11h53min

Pompéia, Itália

— Quanto tempo mais falta pra chegarmos?

— Quer parar de reclamar? Ainda faltam vinte minutos!

— Você disse isso a vinte minutos atrás! Eu estou com frio!

— Milo, quer fechar essa matraca? - Aldebaran fechou com força o mapa em suas mãos. - E Shaka, sem querer ser chato, mas falta muito?

— Se vocês calarem a boca e me deixarem em paz, eu vou achar a entrada. - o cavaleiro de virgem voltou a sentar no chão, em posição de lótus.

Os doze cavaleiros de ouro, junto do Mestre e de Atena estavam parados em frente a um dos portões da cidade de Pompéia, na Itália. O local mais próximo do monte Vesúvio que podiam ir, tentando encontrar o portal que daria passagem a um palácio.

O virginiano vasculhava todos os pontos com seu cosmo para tentar encontrar alguma passagem. Procurava até ficar exausto, as vezes franzia as sobrancelhas e as vezes apertava com força os olhos fechado, mas uma hora já tinha passado e nada, deixando alguns nervosos e outros apreensivos. A única que estava calma era Saori, que ora tirava fotos, ora ria de seus protetores, principalmente porque todos atraíam os olhares de algumas pessoas maravilhadas por seus rostos e corpos, deixando alguns constrangidos e outros exibidos. Todos vestiam roupas civis, os rapazes usavam jeans e camisas de mangas compridas, estavam simples, mas bonitos, e tinham em suas costas as caixas de Pandora, onde suas armaduras estavam guardadas.

— Estou começando a achar que tudo isso é uma brincadeira daquela menina. - Aioria sussurrou. - Aposto que não tem Santuário nenhum e estamos perdendo tempo aqui.

— Eu acho que ela inventou tudo aquilo só para nos despistar e deixar o nosso santuário sem proteção e atacar. - disse Giovanni. - Mas ela não esperava que deixamos uma guarda lá! Hehe.

— Quatro cavaleiros de Bronze, duas amazonas e um projeto de gente ruivo. Grande guarda hein. - Milo abriu um pacote de biscoitos de chocolate. - espero que tenha um banquete nos esperando.

— Seu banquete vai ser estraçalhar alguns corpos. E passe esses biscoitos pra cá!

— Parem de ser desconfiados. Não ouviram que ela e o Shaka são irmãos? - Mu bronqueou.

— Mais um motivo para desconfiarmos. Desde quando o santinho conhece deuses sem ser Atena? - o canceriano sorriu para logo depois se arrepiar.

— Está querendo rever os deuses do Submundo, Máscara? - o virginiano respondeu calmamente por trás de suas costas, levantando-se do chão.

— Ah Shaka, encontrou? - perguntou Saori, enquanto abaixava sua máquina fotográfica.

— Sim, senhorita. Vamos continuar andando nesta direção para a boca do vulcão, há uma parte que não existem construções e lá há um pouco de Cosmo emanando. A entrada deve ser lá.

— Muito bem, então vamos logo. - Shion estava odiando os olhares furtivo que as moças lançavam a eles, aquilo estava o deixando incomodado.

A mórbida cidade de Pompéia deixara de ser uma cidade mórbida e passou a ser o destino de muitos turistas de todo o mundo. Entretanto, apesar de toda aquela gente de diferentes lugares, a cidade continuava tão misteriosa do que costumava ser nos tempos romanos.

O chão empoeirado era coberto por pedras largas e achatadas, esculpidas após o derramamento de lava a séculos atrás; as antigas casas, agora ruínas, eram totalmente desoladas, onde apenas os corpos fúnebres, que se tornaram pedra ao serem engolidos pelas lavas, eram seus residentes.

O silêncio era constante, em respeito as pessoas sepultadas nas cinzas, as grandes construções se resumiam em ruínas, pilastras caídas, muros quebrados. Tudo destruído. Tudo macabro. Como se os espíritos daquela população devastada pela fúria de um Vulcão ainda estivessem ali, presentes, a espreita das poucas sombras que o Meio Dia lhes proporcionava, esperando para carregar os profanos ao inferno.

— Pra quê viver em lugar onde a vista dá para este cemitério de pedras? - Afrodite franziu o nariz. - Que gosto doentio.

— Tô até imaginando como as sextas-feiras são empolgantes aqui. - Máscara triturava os biscoitos com satisfação.

— Máscara da Morte, não estamos aqui para farrear. - Saga ergueu uma sobrancelha. - Nem pense em dar suas "fugidas" aos fins de semana.

— Se ferrou. - Milo sorriu, enquanto voltava a pegar seus biscoitos.

— Milo, isso vale para você também. - o geminiano disse com a voz grave.

— Ah, qual é! Eu nem disse nada! - deu uma dentada no doce.

— E nem se atreva a pensar em qualquer coisa errada.

— Nossa, alguém está de mau humor... - Afrodite comentou lentamente.

— Não é mau humor. - a testa de Saga estava franzida. - Será que não percebem que não estamos em casa? Aqui é um território que não nos pertence. Não são nossas leis.

— De quem foi a ideia de virmos até aqui mesmo? - Milo resmungou para ninguém específico. - Parece até que estamos indo direto para os braços do demônio por vontade própria... Como se não tivéssemos sofrido o suficiente naquele inferno.

— Não fale sobre aquele lugar. - Aldebaran pediu. - Ainda sinto calafrios ao lembrar daquilo.

— Milo, fale baixo. - Mu bronqueou. - Atena vai ficar triste se ouvir você reclamando dessa maneira.

— Não estou reclamando dela. - se justificou. - Estou reclamando dessa situação. É pedir demais uma folguinha?

— Não compreendo como você ainda não se acostumou com nossa vida. - Camus disse calmamente.

— Eu me acostumo com as coisas boas da nossa vida. - jogou o pacote de bolachas para Aioria. - Afinal de contas, por que viemos para cá?

— Milo, não pode ser tão burro a este ponto...

— Eu sei que aquela menina nos pediu para vir! - mostrou a língua ao leonino. - O que eu quero dizer é: Por que nós realmente viemos?

— E por que não viríamos? - Shura falou baixo, para que a deusa não ouvisse aquela conversa.

— Como "por que"? Mesmo se isso tudo não for uma armadilha, o que diabos nós temos haver com os problemas daquela garota? Que garantia temos de que ela é realmente Gaia?

— Ela conhece Atena, e ela sim tem tudo haver com nossa vida. - respondeu Aioros. - Isso deveria bastar para nós.

— É, mas eu não entendo as razões de Atena se importar com isso, eu nem sabia que Gaia realmente existiu. Ela não era só uma lenda que criaram para explicar como o mundo se formou?

— Aparentemente, não era apenas uma lenda. - respondeu o aquariano.

— Atena parece conhece-la, e Shaka...

— Bom ponto. - Máscara cortou Mu. - O monge ali deve saber bem mais do que aparenta saber, o que é estranho. Primeiro ele tem uma irmã que é uma deusa que ninguém sabia que existia, depois falam que ele é um semi-deus, depois ele fala que não é um deus. - o canceriano relembrou as cenas da noite em que voltaram a vida. - Tem alguma coisa fedendo nessa história, e não sou eu. (1)

E por um reflexo involuntário, os dez olharam para Shaka, que andava a frente junto ao Mestre.

— É... isso é mesmo estranho... - Shura deixou descapar.

— Neste ponto, você tem razão, Máscara. - Afrodite comentou evasivamente. - Alguém aqui sabia que o virginiano ali tinha uma irmã? - olhou sugestivamente para Mu. Todos sabiam que aqueles dois eram muito amigos, desde pequenos.

— Ele nunca comentou nada sobre a família dele para mim. - Mu respondeu. - Mas acho melhor não nos intrometermos nessa situação. Não é da nossa conta.

— Como "não é da nossa conta"? - Aioria se zangou. - Ele é nosso amigo.

— Sim, ele é. - Mu olhou pacientemente para o amigo. - E é por isso que devemos dar espaço a ele. Se Shaka não contou, então é porque ele não quer falar sobre esse assunto. Além disso, todos nós temos coisas que não queremos expô-las, não é mesmo?

Aioria abriu a boca para responder, mas ficou calado. Aquilo era verdade.

— Odeio gente que consegue ler a minha mente. - Shura brincou com Mu.

— E eu sei que você não me odeia de verdade. - sorriu.

O grupo desviou seu olhar quando o Grande Mestre se dirigiu a jovem deusa.

— Atena, talvez seja melhor voltarmos outro dia, está muito tempo andando.

— Ora Shion, não se preocupe, não sou feita de papel. - Saori retrucou. - Preciso tomar Sol e esticar as pernas de vez em quando.

— Deixe a menina em paz, seu velho caduco.

— Dohko, mais respeito. - o Mestre suspirou diante da infantilidade do outro. - Esse lugar não é seguro, o vulcão está ativo e há ruínas demais.

— Não vai acontecer nada demais, Shion, relaxe. - A deusa tinha um semblante calmo. - Esse lugar é lindo, apesar de ser silencioso em demasia. Perfeito para um Palácio.

— É um lugar que foi construído aqui para que a humanidade não tivesse contato com ele. - respondeu Shaka.

De fato, parecia um lugar desolado. Às margens do Vesúvio, a vegetação voltara a crescer, a grama formava um tapete verde por entre as pedras, algumas plantas rasteiras e até mesmo flores decoravam a paisagem, além de servir de alimento ao roedores que ali viviam. Não foram poucas as vezes que avistaram coelhos, esquilos e castores se alimentando de raízes, e também pequenas raposas que ficavam a espreita de sua caça. Nos galhos das árvores frutíferas, que davam um aroma delicioso de maçãs, limões e laranjas; pássaros de tamanhos e cores variáveis se abrigavam. A cidade podia se assemelhar a um grande mausoléu, mas também haviam belezas tão naturais e encantadoras que parecia que nunca houvera uma erupção violenta. Era como se o lugar tivesse se escondido do progresso do Mundo. Como se tivessem voltado no tempo.

— Já estou sentindo o Cosmo que Shaka falou. - Dohko comentou. - Vamos seguir em frente.

Continuaram o caminho, se afastando cada vez mais da cidade silenciosa e se aproximando do vulcão. Shion e Dohko iam na frente, sendo seguidos por Saori e o restante dos cavaleiros. Shaka diminuíra o passo, andando calado por vários minutos e às suas contas, os outros o encaravam fixamente. Milo, Aioria e Máscara, principalmente, eram os que mais falavam, cutucando o loiro ao citar a menina que se intitulava "Gaia". Camus, Mu e Afrodite só estavam esperando o virginiano explodir.

— Parem de me encarar - sibilou o virginiano, depois de quase quinze minutos no mais profundo silêncio.

— Não estamos encarando. - Aioria desviou seu olhar rapidamente para um arbusto qualquer.

— Não, imagina se estivessem. - o loiro continuou a pisar duro.

O grupo continuou a andar em silêncio por mais um minuto, continuando a encarar o colega.

— Eu não vou repetir.

Essa era a hora. Milo tomou folego.

— Ora Shaka, pare de nos torturar, você sabe que estamos curiosos!

— É! Você não espera que escutemos um monte de coisas estranhas sobre você e fiquemos calados. - Aioria se justificou.

— E que história toda é essa? - Máscara ergueu as sobrancelhas. - O que mais está escondendo da gente?

— Eu não estou escondendo nada. - disse seco.

— Ah, não? - provocou Máscara. - Então você não sabia que Gaia não é só uma lenda, não é mesmo?

Shaka ficou calado por breves segundo, fazendo o canceriano sorrir presunçoso, mas então respondeu.

— Gaia é uma lenda, porque ela própria quis se tornar uma lenda. Esse é o significado de "apagar a própria existência", você é esquecido, como se não tivesse existido.

— Mas você sabia que ela existiu. - Saga não obteve resposta, tomando o silencio como um "sim". - Por quê?

— Porque, por motivos maiores dos quais eu desconheço, aquela menina nasceu filha de meu pai. - falou quase num sussurro. - Esse é o único motivo de eu saber a verdade.

— Então podemos mesmo confiar nela? - perguntou Aioria.

— Se vão ou não confiar em Apola, isso depende exclusivamente do juízo de valores que cada um de vocês atribuirá sobre ela. - virou levemente o rosto para trás, "vendo" seus amigos. - Mas, sim. Ela disse a verdade. Ela é Gaia.

O grupo andou mais alguns minutos, e então Afrodite cutucou Mu com o cotovelo, indicando sugestivamente o virginiano.

— Hã... - Mu recomeçou a conversa. - Por que não contou a ninguém toda essa história?

— Porque não era necessário. E além do mais, não fazia diferença se sabiam ou não. Ou fez?

— Bom... não. - Shura respondeu. - Mas agora pode falar a verdade, já que estamos indo para a casa dela e, portanto, precisamos saber algumas coisas.

— Ela mesma disse que vai contar, não disse? - Shaka suspirou. - Além do mais, eu não sei tanto quanto vocês acham que sei.

— Tudo bem, então conte o que você sabe. - pediu Aioros - Qualquer coisa é melhor que nada.

Shaka pareceu pensar sobre o pedido do colega.

— O que querem saber?

Antes que qualquer pudesse sequer pensar no que dizer, o escorpiano saiu a falar rapidamente.

— Desde quando você sabe dessa história? E você é mesmo um semi-deus? Qual deus você reencarnou? Porque Buda não era deus, até onde eu sei, então isso significa que você é um outro alguém, e... - Milo se atropelava nas perguntas, até Camus ter dado um tapa ardido em seu pescoço.

— Fale devagar, está me dando nos nervos...

— Camus, já ouviu falar em camomila? Talvez te ajude... - Milo passava a mão no recém machucado.

— Tudo bem Shaka, uma pergunta de cada vez. - Aioros ria. - Desde quando?

— Hum... - pareceu ponderar. - Há bastante tempo, antes de ir ao Santuário, se bem me recordo.

— Okay... e, sobre a parte de ser Semi-deus... - Aldebaran começou, mas logo foi cortado.

— Se não quiser falar, não precisa. - a voz de Saga se fez presente. - Já invadimos demais sua intimidade.

— Não há o que ser dito, para ser sincero. Não sou o que pensam que sou, acredite.

— Mas você é... metade deus. - Shura afirmou.

— Sou, ou pelo menos deveria ser. - deu um sorriso que ninguém viu. - Isso não faz diferença na minha vida, sou mais humano do que jamais serei deus.

— Para mim, parece que você já sabia disso há muito tempo mesmo. - Saga comentou.

— Sim, e como não faz diferença na minha vida, saber isso também não faria diferença alguma a vocês. - Shaka não falava seco, mas também não parecia confortável em falar sobre esse assunto. - Se isso realmente fosse algo necessário, então o próprio Mestre teria contado.

Um pouco mais a frente, Shion e Dohko andavam ouvindo atentamente a conversa. Ao ser mencionado, Shion franziu a testa. Aquilo era verdade. Os dois tinham conhecimento sobre maior sobre o virginiano.

— Não vai nos dar mais informações sobre isso, né? - Aldebaran deu uma meia risada.

— Na hora certa, talvez. - retribuiu a risada.

— Tá, tudo bem... Mas tem uma coisa que está me incomodando muito. - Aioria voltou o foco da conversa. - Como aquela garota... a sua irmã... nos fez voltar... de... lá... ? - Tentava formular uma pergunta.

— Oh, isso nem mesmo eu sei. - Shaka sorriu assustadoramente. - Talvez ela tenha se tornado uma bruxa com o tempo, será que está em nosso sangue?

— Não brinque com isso, seu maldito! - Aioria sentiu os pelos se arrepiarem. - Sabe que não gosto dessas coisas de magia negra!

— Vai ter que esperar Apola contar os segredinhos dela, então.

— Certo... - Camus ficou pensativo. - Uma última pergunta. Quando foi a última vez que você a viu?

Shaka diminuiu ainda mais o ritmo dos passos e voltou a ficar em silêncio.

— Hum... Acho que a vi uma única vez, quando ela nasceu. Mas não estou certo...

— E você simplesmente passou a ignorar a existência dela desde então. - Máscara mais afirmou do que perguntou.

— Máscara...! - Afrodite bronqueou, temendo que o paciência de Shaka se esgotasse.

— Eu não ignorei nada, apenas prestei atenção em assuntos mais urgentes e que realmente tinham haver com minha vida.

— Família não tem nada haver com sua vida? - Shura murmurou um pouco incrédulo.

Shaka parou de andar, assim como os outros a sua volta. A pergunta de Shura estava carregada com certo rancor. Família... o que era mesmo uma família? Tanto tempo se passara e eles, aqueles que cresceram órfãos, que se esqueceram do que era o calor do colo de uma mãe, a mão protetora de um pai, a voz suave de uma avó.

Não. Realmente, família tinha tudo haver com eles. Com todos. Em todos os momentos de todos os dias. Mas era apenas um sonho distante, a realidade era muito mais dura.

— Não é isso. - Shaka voltou a andar. - A questão é que eu não vejo Apola como minha irmã. Da mesma forma que ela não me vê como seu irmão. E é melhor que as cosias permaneçam assim.

— Como assim? - perguntou o geminiano.

— Há mundos diferentes e que não deveriam se misturar. Ela é de um mundo diferente do meu, não há motivos para sentimentalismos em nossa relação que se limita exclusivamente ao sangue.

A maioria ficou atônica com a resposta.

— Shaka, não fale coisas estranhas pra gente e saia andando por ai! - Aioria protestou. - O que quer dizer com isso?

— Não fomos criados juntos, nem se quer tínhamos contato um com o outro. - sorriu de canto. - Comparando a situação, vocês são mais irmãos meus do que ela jamais foi.

E com esse comentário tão simples e ao mesmo tempo profundo, a barreira de gelo que Shaka criou no início da conversa foi quebrada.

— Finalmente... essa conversa acabou. - Shion murmurou.

Virginianos...— Dohko meio riu, meio suspirou.

Aquilo era tão típico de Shaka. Dizer coisas sérias e muitas vezes cruéis, e então desfazer sua imagem de demônio com poucas palavras dóceis. Aquilo realmente era frustrante.

— Não fale coisas desse tipo com essa naturalidade... - Milo tinha corado com o comentário do amigo.

— Cara... eu acho que essa foi a coisa mais bonita que ouvi o Shaka dizer. - Aioria começou a rir.

— Bonita? Isso foi como se Lúcifer tivesse dito que gosta de orquídeas.

— Idiotas... - o loiro ignorou os comentários engraçadinhos.

— Shaka? - Aioria não esperou por uma resposta. - Por que não permitiram que tivessem contato um com o outro? E quem foi que não permitiu?

— Separaram vocês? - Aioros jamais imaginaria tem que viver longe de seu irmãozinho, por mais que este seja exagerado em suas reações. - Por quê?

— Para separar algo, essa coisa precisa, primeiramente, estar junta. - Shaka sorriu, os outros que andavam a suas costas não perceberam.

— Você não respondeu nenhuma das perguntas. - pontuou Mu.

— Bom. - suspirou - Dentre vários motivos que não vale a pena citá-los, como já disse, eu e ela pertencemos a mundos diferentes. Eu sou humano, e ela é...

E com um quebrar das folhas secas em seus pés, o ar deu um estalo alto, como se algo tivesse sido rompido. Tinham andado o suficiente até se afastarem completamente da vila de Pompéia e alcançado os pés do Vesúvio. Ao redor, haviam algumas poucas pilastras dóricas que estavam cobertas pela vegetação. Nada além disso.

O estalo os fez parar subitamente. Atena, que estava mais a frente, olhou para o céu: Um azul magnífico, daqueles que só vemos no inverno.

— ... Ela é uma deusa - a jovem completou a frase inacabada do protetor.

Houve um estalo ainda mais alto e, então, um farfalhar de folhas secas junto a uma brisa fria.

— O que foi esse barulho? Vocês também ouviram? - Aioria vasculhou todo o perímetro com seus olhos ferinos.

— Psiu, fale baixo bichano. - Milo, por outro lado, preferira fechar os olhos. - Estou tentando ouvir.

— Não há ninguém por perto, pelo menos não vivo. - disse Máscara, que já vistoriara o local com seu cosmo.

— Estamos perto. - declarou o Mestre. - Já posso sentir um cosmo diferente do nosso.

— Isso não explica esse estalos. - Dohko apontou. - Ou será alguém veio nos buscar?

— Acho que isso foi um aviso. - comentou Saga, enquanto se aproximava da deusa. - Para avisar que alguém ultrapassou os limites da cidade.

— Faz sentido. - Camus disse. - Estamos além de onde é permitida a presença de turistas, de qualquer forma.

— Não acredito que seja um aviso para os guias turísticos de Pompéia. - Shaka disse.

— Então... agora eles sabem que chegamos? - perguntou o Touro.

Milo colocou a caixa de Pandora no chão, percorrendo os olhos pela clareira. E então, escalou com maestria a maior árvore que encontrou.

— Não tem Palácio algum por aqui, só vejo mato e pedra. - gritou.

— Não chame a atenção, seu imbecil. - falou o aquariano.

— Não tem ninguém por perto, relaxa. - Milo ignorou o amigo e continuou a gritar.

— Não estamos no território de Gaia ainda. - Atena falou. - Não sinto nada de diferente.

— O que acha, Mestre? - Mu olhou para o lemuriano mais velho.

Shion varreu o local com seu cosmo, avaliando atentamente o ambiente. Apesar do silencio absoluto e do leve cosmo que sentia, não parecia haver nada de estranho, nem o Portal nem um inimigo a vista.

— Aioros e Saga, fiquem próximos de Atena. - ordenou, com sua voz tempestuosa. - Shaka, você é o que tem maior percepção deste Cosmo entre nós, então continue e nos guiar. - O virginiano fez um breve aceno de concordância. - Creio que seja melhor vocês vestirem suas armaduras, não sabemos o que vamos encontrar pela frente.

— Não acha melhor esperar um pouco? Nossas armaduras chamam a atenção. - Dohko olhou para atrás, para se certificar que não havia mais nenhum turista curioso aos arredores.

— Não quero ser pego de surpresa. - Shion mirou o céu. Já passara do meio dia, mas o Sol ainda estava no topo do céu, brilhando. - Milo, desça daí. Com este Sol, sua armadura brilhará mais que um farol.

— Sim senhor! - pulou com graça até o chão.

— Senhor... - Dohko bufou, enquanto colocava sua Caixa de Pandora na grama.

Uma a uma, as precisas caixas foram postas e abertas.

O esperado, é claro, aconteceu.

Um timbre suave, uma melodia encantadora, começou a soar. Postas lado a lado, as armaduras reconheceram umas as outras e começaram a ressonar. O ouro tremia e produzia um som de alegria. As armaduras estavam felizes de estarem juntas, muito, muito felizes. E, aos raios de Sol, as armaduras brilhavam intensamente, como estrelas.

Atena sentia essa felicidade em seu amago, sorrindo docemente para aquela pequena orquestra de sons e luzes.

— Nunca pensei que fosse ver isso novamente. - comentou Afrodite, maravilhado com o som.

— Não consigo me acostumar com essas coisas de nossas armaduras. - Aioria comentou. - Parece que estão comemorando.

— É, realmente assustador. - Máscara falou debochado.

— Assustador por quê? - Mu indagou, e Shion andou até sua direção, abaixando-se para ficar da altura da armadura de Áries.

— Como essas coisas sabem que estão juntas?

— Máscara. - começou o Mestre, enquanto acariciava o elmo de sua antiga armadura. - Elas estão tão vivas quanto nós. Elas sentem, ficam felizes, zangadas e compreendem o mundo que as cercam. - os olhos lilases fitaram os azuis. - Você, mais do que ninguém, sabe disso, não é mesmo?

Afrodite e Shura deram uma pequena risada da bronca que o canceriano recebera.

— Não riam, malditos. - murmurou, completamente sério.

Mas aquilo era a mais pura e cruel realidade. Máscara sabia mais do que qualquer um a alma das armaduras. Ele tinha noção da complexa e extensa conduta ética e moral que regia aquelas couraças de ouro. Rejeitado devido a todas as atrocidades e injustiças que cometera.

Rejeitado por sua própria armadura...

A sensação de sentir o corpo nu e completamente desprotegido era terrível, e somente a lembrança o assustava. Quando um cavaleiro lutava, a armadura tornava sua segunda pele. Perder aquela pele por vontade da própria armadura o machucava. Era como perder sua amiga mais íntima. Era como... como perder uma parte se si próprio.

Um calafrio percorreu sua espinha ao lembrar das cenas da luta contra Shiryu. (2)

— Qual o problema Giovanni? - Afrodite ergueu as sobrancelhas. - Não me diga que está com medo? - desdenhou, percebendo a inquietação do melhor amigo.

— Fique de boca calada. - resmungou.

— Engraçado. - ignorou-o, continuando a provocação. - Lembro perfeitamente que você sempre se gabava de não ter medo de nada.

— Afrodite, eu juro que se não parar...

— Veja só você agora: Com medo da sua armadura não te aceitar de novo? - Máscara tremeu com as palavras.

— Afrodite, acho que já deu. - Shura estranhou o comportamento do colega.

— Espere, Shura. - Aioros compreendeu o que Afrodite estava fazendo ao provocá-lo. - Deixe-o.

— Então esse é o seu Carma?

— Cale a boca, estou te avisando. - o Cosmo do canceriano ergueu-se.

— Está com medo de ser rejeitado? - disse com uma voz cínica. - Você mudou... o que aconteceu? - sorriu de lado.

— Eu vou te mostrar o que me mudou, seu maldito! - as mão de Máscara estavam fechadas em punhos e todo o seu corpo tremia. Tremia não de ódio pelas palavras do amigo, mas, sim, ódio de si mesmo. Por seu passado e por tudo mais. Seu Cosmo ficou violento, partindo para acertar um soco no pisciano.

Afrodite foi rápido ao desviar do soco, e a armadura de Peixes, percebendo o perigo, uniu-se a seu corpo, protegendo-o. As outras armaduras também notaram a violência que cercava seus cavaleiros.

— Oe, nem voltamos à vida direito e já vão brigar? - Aldebaran coçou a cabeça.

— Eu não sei como o Santuário se manteve de pé com a quantidade de lutas desnecessárias que vocês fazem. - Camus comentou.

— Podemos apostar? - Milo perguntou descaradamente, recebendo uma carranca de Saga e Shaka. - Ok... sem apostas...

Afrodite continuava a sorrir, mas não cinicamente, mas de forma mais suave. Ainda em posição de luta, Máscara da Morte estava paralisado. A armadura de câncer cobria todo seu corpo, reluzindo orgulhosamente. Sua pele formiga sob aquele ouro, sentindo a vida que percorria cada átomo de sua protetora.

— Pronto, viu só? - Afrodite cutucou. - Não doeu nada experimentar, certo?

Máscara o encarou por alguns segundos, retornando a sua posição desleixada, como se nada daquilo tivesse ocorrido. Mas olhou agradecido ao colega, quando respondeu:

— Morra, desgraçado.

— Não há de quê.

— É... - começou Shura. - As coisas estão realmente voltando aos eixos em nossas vidas.

— Não se preocupe Máscara da Morte. - Saori sorriu do constrangimento de seu cavaleiro. - Tenho certeza de que a armadura de Câncer já lhe perdoou.

— Espero que sim, senhorita... - coçou a nuca. - Mas sinto que ainda preciso me redimir.

— Vai ter tempo pra isso mais tarde. - Aioria resmungou. - Vamos voltar a procurar o portal, por favor? Eu estou morrendo de fome!

— Aioria está certo. - Dohko encarou o Mestre. - Estamos há duas horas andando sem parar.

— Shaka? - Shion indagou.

— Estamos próximos, mestre.

— Excelente.

Continuaram andando pelo caminho que cada vez mais ia se fechando, as ruínas já estavam longe, a ponto de não ver mais nada além da vegetação. O lugar era completamente arborizado por densas macieiras, e arbustos de frutinhas azedas. O chão estava completamente coberto por grama, folhas e maças caídas, e por entre os galhos podiam observar o Sol em seu pico aquecendo as províncias enregeladas pelos ventos frios do inverno. Andaram por alguns minutos, até que chegaram a um campo aberto, sem árvores, frutas ou animais. Somente grama e algumas pedras.

— É daqui que vem o Cosmo. - o virginiano sentenciou.

Os cavaleiros se entreolharam, entranhando o lugar.

— Hã, sem querer ser chato, mas não tem portal nenhum aqui. - Shura coçou a nuca.

— É, tipo... só tem mato aqui. - Máscara chutou uma das pedras do chão.

— É aqui, eu tenho certeza. - afirmou.

— Eu também tenho Shaka, posso sentir um pouco de cosmo aqui. Mas não sei em que lugar especificamente. - disse Saga. - Sinto como se todo esse lugar emanasse energia.

Atena olhou para os lados e fechou os olhos, buscando a origem daquele cosmo.

— Sim, estão certos. - Atena abriu os olhos. - Mas esse cosmo não é de um lugar, exatamente.

— O que quer dizer senhorita? - perguntou Saga.

— Isso quer dizer que vocês estão sentindo o meu Cosmo, e não o do lugar que estão procurando. - uma voz masculina diferente se pronunciou.

Diferente, mas nostálgica.

E com péssimas lembranças de um passado não muito longínquo.

— Ótimo. - Milo estralou os dedos. - Quem foi que chamou o peixe?

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.

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~O~o~O~

 

 


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Notas finais do capítulo

Observações:

1- Talvez seja bom relembrar alguns fatos que ocorreram no capítulo 4.

2 - A armadura de câncer rejeita Máscara da Morte na luta contra Shiryu no episodio 50 (Levante-se Dragão) em Cavaleiros do Zodíaco, Santuário - A Batalha das Doze Casas.



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