Entre o guerreiro e o herói escrita por Lgirlsclub


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Agradecimentos a minha beta, Sleepyseven. (Sim, minha. Não vendo e nem empresto. Quanto a dividir, podemos tentar. Let the games begin)



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Thor não podia ter concluído outra coisa, exceto que algo havia de muito errado. Por mais difíceis que as viagens tivessem se tornado, após a destruição da ponte de arco-íris, parecia-lhe impossível que o deixassem duas semanas sentado, no meio do nada, esperando que lhe trouxessem de volta a Asgard. Havia sido uma batalha longa, no entanto. Três meses haviam se passado em meio a tiros e reviravoltas. Teriam se esquecido de observar Midgard?

O Deus do Trovão voltou os olhos para o céu. Passou a língua pelos lábios secos e fechou os olhos. “Jane chamaria isso de fé. Me diria que eu estou rezando”, pensou consigo mesmo. Voltou os olhos para o céu, a voz baixa. Nunca precisara berrar para ser ouvido pelo guardião.

– Heimmdal? Heimmdal, você está aí? Eu preciso voltar para casa, Heimmdal, eu... Por favor?

Sob os pés do herói, uma fumaça azulada começa a se formar. Ele está indo a algum lugar afinal, mas não se lembra de ter sido transportado assim da última vez. Toda essa mudança parece se consolidar na forma de um nó em sua garganta. Ele se esforça para engolir em seco, como se o ato fosse fazer com que o nó sumisse milagrosamente. Não fez. O nó permanece ali, inabalável.

–Heimmdal?

Thor sente seu corpo ser puxado, como se ele estivesse sendo lançado pela distância. Como se alguém com uma catapulta o estivesse o atirando de um ponto a outro de Yggdrasil por mera piada. Ele fecha os olhos, os dentes se trincando. E então cai, desajeitadamente, por sobre a terra áspera. Ele abre um olho, e então o outro. É Asgard. Ou quase.

– Ha. Haha. O grande Thor está de volta, afinal. Haha. – Loki começa a rir ensandecidamente. Os cabelos morenos bem mais longos e bagunçados do que Thor se lembrava. Ele parece ter perdido seu sobretudo, e suas vestimentas estão rasgadas e sujas de sangue. Um início de uma barba chamaria atenção de Thor, se as olheiras não o tivessem o assustado mais rapidamente. Loki parece mais magro também. Como se não comesse há algum tempo. E mesmo assim ele gargalha como um louco.

– Loki?

O moreno começa a recolher do chão o que usara no feitiço. As mãos parecem tremulas. O louro olha ao redor. O castelo pela metade, tijolos espalhados pelo chão. As aldeias queimadas. “Não parece ter uma viva alma aqui”. Ele tenta obter resposta de novo.

– Loki?

– Ha. Haha. Os sete corvos de Odin anunciaram. “Grande guerra há de chegar”, disse o favorito de Odin.

– Irmão, o que houve?

– “Eles atacam de dentro para a fora”, disse o que pousou em seu ombro esquerdo. “Tragam Loki aqui”, bradou Odin. “Falta um.”, disse um corvo que havia parado em sua frente. Esse abriu as asas e voou para longe. O rei contou os corvos. Os sete haviam aparecido. Ele resmunga, “ora, um corvo enlouqueceu”.

Thor não sabe exatamente quando a risada do seu irmão começara a se transformar em choro. Ele o balança de leve, mas os olhos de Loki miram o nada.

– “Traga-o aqui”, disse a ave que pousara sobre sua mão. “Já mandei trazê-lo” responde o rei, o corvo fez um barulho irritado antes de cair de costas. Ele não se levantou jamais. “Chame o primogênito” disse um, até então muito calado. Odin chama Heimmdal e não obtém resposta. “Chegamos tarde demais” diz um dos pássaros em tom de lamúria. “Asgard perecerá”, diz o último corvo, e a esse Odin manda matar.

–Loki?

–Heimmdal não pode ser encontrado em lugar algum do reino.

– Irmão?

–O filho bastardo é jogado numa cela. Isso deveria solucionar as coisas, certo? No dia seguinte os ataques começam.

– Loki, que ataques?

– De dentro do castelo. É tudo um barulho tão grande. Os guardas tentam manter o problema fora das ruas e acabam todos mortos e empilhados. Odin parece hiperventilar. Ele cai em seu sono. Um dos invasores adentra a sala do trono com uma adaga. Odin não vai mais acordar. Enquanto isso outro pária tira o gigante de gelo de sua cela. Diz a ele que ele pode ser contra ou a favor de Asgard. O gigante ri e diz que Asgard nunca esteve ao seu favor de qualquer modo. Ele promete não ficar no caminho e começa a arrumar suas malas para partir para longe de Asgard. Ninguém nunca o quis lá de qualquer forma.

– Loki...?

– Então um invasor tenta matar o filho de um serviçal. A rainha fica no meio do caminho, protegendo a criança. O gigante se esquece de seu acordo e corre em direção à lâmina. A rainha morre nos braços do bastardo, mas o chama de filho mais uma vez. O gigante sabe que não é tão grande, mas tenta batalhar com o assassino. Ele não sabe o que aconteceu. Ele deve ter desmaiado pela perda de sangue. Mas quando ele acorda, está algemado e o corpo de sua mãe está jogado ao seu lado, numa cela imunda e tudo ao seu redor parece queimar e ele se pergunta por que não lhe fizeram o favor de tirar-lhe a vida e ele só quer que tudo pare. Ele só quer parar de ouvir o berro da mãe, de novo e de novo e ele quer chegar a tempo de salvá-la em alguma dessas repetições que passam sem parar na cabeça dele, mas isso não acontece e ele não sabe por que não acontece.

O moreno deixa-se cair sentado no chão. Os braços envolvendo os joelhos com força, a cabeça escondida entre os braços. Ele parece sufocar-se com o próprio choro e seu corpo se balança ininterruptamente.

Os irmãos ficam em silêncio. Os fios louros do Deus do Trovão colando em suas bochechas úmidas. Ele se esforça para secar as lágrimas. Seus olhos se voltam mais uma vez para o moreno, ainda encolhido e se balançando lentamente. Thor sentou-se de frente do mais novo.

– Loki, - Thor secou as lágrimas – Você está me dizendo que estão todos mortos?

– O Loki não morreu ainda. Não, ele não morreu. Por que ele não morreu? – A voz do moreno sai embargada e abafada. Ele solta seus joelhos para encostar os antebraços nos mesmos, as palmas das mãos tampando seus olhos.

– Loki! – O louro pega o irmão pelos braços e balança-o com força. Pela primeira vez desde que chegara o mais novo lhe olha nos olhos, o rosto ganhando alguma sombra de sanidade.

–Thor? Como você voltou para Asgard?

– Irmão, você me trouxe de volta...Lembra?

–Eu?

Thor esfrega os olhos nervosamente. Depois de tudo que ocorrera em Midgard, ele nunca imaginara um problema maior ocorrendo em Asgard. Os ataques à Nova York duraram três meses. A equipe se dividira em duas. Stark e Banner passaram o tempo inteiro tentando hackear a central de controle, enquanto os demais vingadores e os X-Men em serviço buscavam proteger a população de sentinelas descontrolados que simplesmente estavam com algum problema de diferenciar a população normal de Midgard daquela a qual Fury se referiu como “Mutante”. A Shield permanece, até onde sabe o Deus do trovão, tentando descobrir quem controlava os robôs.

Thor não entende, até o momento, o que seriam mutantes, não entende nada sobre o conceito de se “hackear” alguma coisa e muito menos saberia apostar como aquilo que lhe parecia ser uma armadura automatizada poderia ser controlada à distância por qualquer midgardiano, sem que magia estivesse envolvida – e não estava, Stark lhe garantira isso. No entanto seu trabalho se baseara em proteger a população tentando conter os robôs gigantes. Para isso, bastava-lhe o Mjolnir e força. Mesmo assim a batalha havia sido cansativa e toda confusão ainda estava lhe mantendo acordado durante a noite. E ainda, ele preferia lutar essa guerra, revivê-la pelo resto de sua vida, a voltar para seu lar e encontrar Asgard em ruínas.

– Loki?

– Eu ainda estou sangrando, você sabe.

– Como assim?

– Não se pode deixar sangue real tocar o solo de Asgard, eu sei. Ragnarok, o crepúsculo dos deuses. Asgard deve cair. Mas olhe ao redor. Asgard já caiu.

Loki tenta se levantar, mas cambaleia. Recomeça a rir, descontroladamente. “O sangue na roupa de Loki... é dele”.

– Eles não me mataram. Ah, não. Mas me deixaram para morrer. Bem devagar. Eu não sou o único bastardo por aqui.

– Há quanto tempo você está sangrando?

– Tem alguns dias. Não adianta ser um deus para Midgard, não é? O sangue escorre de você como qualquer outro se usarem a arma certa.

Loki passa a mão pela nuca e quando a tira de lá sua mão goteja. O sangue vermelho cai sobre as cinzas que tomam o solo sagrado de Asgard. Thor sente seu estômago apertar.

– Lo-Loki?

O moreno cai e o louro corre em sua direção. O mais velho se esquece do sangramento do mais novo e apoia a cabeça do mesmo com as mãos para então colocar sobre o colo. O mais velho chora nervosamente e o mais novo parece se acalmar.

– Não tem nada para você aqui. Quando eu não te achei por aqui, achei que havia te perdido – Loki engole em seco. – Junto com os outros. Volte para Midgard.

– Irmão, eu... Eu nem tenho como.

– Aqui. Só, beba isso. Quando estiver pronto. – O moreno passa um pequeno frasco com um líquido leitoso para o irmão.

Loki fecha os olhos e a respiração dele parece se acalmar. A de Thor se acelera e suas lágrimas caem sobre o rosto do mais novo, fazendo com que ele reabra seus olhos.

– Por que está chorando?

– Loki... Você... Você está morrendo, não está? Eles morreram, não morreram? – O louro esfrega o rosto, o sangue do moreno lhe sujando a face. – É tudo minha culpa.

– Você não me matou. E nem os matou. Não vejo como pode ser sua culpa.

– Eu não estava aqui para te salvar.

–Agora vejo a diferença.

– Quê?

– Entre ser um guerreiro em Asgard e um herói de Midgard. Como guerreiro, o que conta são as vidas inimigas que você tirou. Como herói o número de pessoas que você salvou não importa. São aquelas que você não tinha nem como salvar que vão tirar seu sono.

– Loki...Eu

– Irmão, - O mais novo o interrompe – Vá.

O mais novo sorri uma última vez antes que sua respiração cesse. O Deus do trovão o abraça e o pega nos braços. Coloca o corpo inerte nas águas e reza para que as Aesiris busquem a alma de seu irmão e o levem para um lugar melhor. Ele mira o líquido e quase pode ouvir Odin dizendo que aquilo era, provavelmente, uma cilada. Ele bebe mesmo assim. Se aquilo o matar, ele vai morrer como um covarde e isso se encaixa com a forma como ele se sente. Se o levar para Midgard, ele ao menos vai parar de imaginar seus amigos morrendo ao seu redor. Ele desmaia por um momento. Quando abre os olhos, está na cama de Jane. Acredita que nada havia acontecido e tudo havia sido um pesadelo, mas ela começa a lhe contar como ele apareceu do nada. Ele olha para as próprias mãos e vê o sangue de Loki as manchando. Ele a abraça e começa a chorar, como nunca havia chorado antes. A midgardiana tenta acalmá-lo, no entanto mal consegue entendê-lo. Ela só compreende “eu não tenho para onde ir”. E ela repete, nervosamente, “você pode passar a noite aqui hoje”, sem imaginar que a estadia seria tão mais longa que isso.


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