O último ato no Tabuleiro de Copas escrita por Sober, Isobelle


Capítulo 3
Uma visita no País das Maravilhas


Notas iniciais do capítulo

Lucile Hatter é a adorada filha do Chapeleiro Maluco, e pela primeira vez em toda sua tranquila vida no País das Maravilhas, a doce Lucy conhece um humano pertencente à outro lugar. Uma visita inesperada. Lucy ajuda-o a atravessar a sala dos desafios, e querendo fugir da rotina, demonstra-se disposta a ajudar o garoto desconhecido em qualquer coisa que ele vá se meter por entre as terras do País das Maravilhas; longe de saber das inúmeras aventuras e perigos que estão por vir.



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Lucy

Os raios solares começavam a despontar no céu límpido e perfeitamente tingido de azul-claro luminoso. As árvores balançavam, o farfalhar as folhas era audível, o vento doce soprava, esguiando-se pelas tulipas que cochichavam inquietas. Sentei-me no tronco grosso, as pernas pendendo para os lados enquanto meus lábios eram molhados com um chá aromático de jasmim - com muito açúcar, exigência da Lebre de Março. Abaixo da árvore onde eu descansava, havia uma grande e farta mesa onde meu pai e alguns animais tomavam seu rotineiro chá.

Era regra amanhecer o dia com um delicioso chá de jasmim no País das Maravilhas, e meu pai era responsável por fornecê-lo, devido ao fato de que nossa casa era rodeada de plantação de jasmins. Papai me explicou que a regra do chá de jasmim era porque os jasmins eram as únicas flores que não tinham vida. Pobres jasmins.

— Ei, loirinha, largue essa árvore e venha tomar chá conosco! — Mallymkun, o dormidongo, gritou com sua voz aguda e estrondosa. Revirei os olhos, com um sorriso largo. Após largar a xícara muito bem apoiada no tronco, desci com facilidade da árvore, pousando no chão em questão de segundos. Cheguei bem a tempo de ver a Lebre de Março jogando cubos de açúcar para cima para balançar a xícara no vento.

Ela perdia de agarrar alguns cubos de açúcar, mas ninguém pegava tantos. Depois, reclamava para meu pai que ele fez um chá muito doce.

— Oh, veja só você! O que a Rainha Vermelha diria se a visse agora? — brincou meu pai, gesticulando para meu vestido esverdeado de tecido fino, coberto por camadas de musgo e fiapos de madeira. Gargalhei, dando pequenos tapas no vestido para amenizar o estado. — Faça o seguinte, Lucy, vá trocar de roupa. Nós todos te esperamos. — disse, com um sorriso amigável. Sorri.

— Não, não vão esperar. — afirmei, correndo para dentro de casa após ver meu pai dar de ombros. Que lugar melhor para se viver do que o País das Maravilhas?

•••

As margaridas que ornamentavam as picadas da floresta tagarelavam sem fim. Berros e cumprimentos eram frequentes na medida que eu caminhava entre elas.

— Ora, Magda, tenha modos. Margaridas não berram! — fingi-me de ofendida, colocando a mão sobre os lábios abertos para indicar surpresa. As outras gargalham.

— Sou muito mais especial do que essas margaridas fofoqueiras. — a velha margarida Magda afirmou, dando início a uma série de segredos que julguei não serem próprios para contar assim à todo mundo.

— Hum, tudo bem, vejo vocês outra hora! — falei, afastando-me aos poucos. As conversas das margaridas logo ficou para trás, e outro som invadiu meus ouvidos. Alguns arbustos balançavam, e murmúrios pouco inteligíveis soavam. Franzi o cenho, caminhando lentamente até o arbusto, quando o Coelho Branco saltou para fora do arbusto. Sorri.

— Oh, olá, pequena Lucile. Como vai você? Puxa, estou muito, muito atrasado para o chá da tarde, não estou? — murmurou, olhando nervosamente para o seu relógio. Neguei com a cabeça.

— Papai acabou de pôr a mesa. Corra e você consegue chegar antes da dormidongo. — falei, dando uma piscadela. O coelho arregalou os olhos, saltando para longe enquanto gritava algo sobre uma visita. Observando mais um pouco através do arbusto, pude avistar uma porta. Nas histórias do meu pai, ele me contou que quando surge uma porta na floresta, é porque temos visita. Diz ele que a primeira visita foi da garota que recuperou o trono da Rainha Branca. Bem, isso deve fazer muito tempo, porque a Rainha Vermelha escapou da prisão há anos e agora briga com a sua irmã pela coroa de Wonderland.

Abri um sorriso largo e, sem ao menos hesitar, corri até a porta. Olhei ao meu redor e não avistei ninguém. É lógico! Os desafios. Só alguém com a sanidade esgotada consegue passar por eles. A ideia de abrir a porta e ajudar quem quer que estivesse lá dentro fazia meu corpo formigar. Decerto, aquilo era uma aventura. Aventuras aqui não são muito frequentes. Não temos visitas há tempos. Meu pai nunca me deixou participar de nada perigoso. Aquilo não era perigoso, era? Claro que não.

Nada no País das Maravilhas seria perigoso demais para um Hatter.

Girei a maçaneta - que me exigira um pouco de força - e então, a porta liberou-me a visão de uma sala de piso bege quadriculado, paredes amarelas e um teto azul livre de lâmpadas ou lustres. Apesar da péssima combinação de cores, era uma bela sala.

No meio dela, um tufo de cabelos castanhos era visível, usando um moletom vermelho e calças acinzentadas. Não, esperem. Acho que aquilo era o que chamavam de jeans. Bom, ninguém aqui usava jeans. Ao ouvir o barulho da porta, ele virou-se, e por um segundo dei-me o luxo de nadar no mar estrelado que seus olhos tão azuis formavam.

Sorri amigavelmente, acenando.

No País das Maravilhas, é raro encontrar humanos - e os que existem, não têm aparência normal. Meu pai, o Chapeleiro, é pálido como leite e tem cabelos rubros como uma maçã. Os gêmeos são pequenos, gorduchos e achatados.

— Olá, você aí. — murmurei, sorridente. O garoto pula, provavelmente assustado, e após virar-se para mim, me encara como se jamais tivesse visto alguém igual. Eu não tinha uma aparência extraordinária como a do meu pai, nem sequer herdei seus cabelos ruivos. Tinha ondulados cabelos longuíssimos e platinados, pele pálida - mas não tanto quanto a do meu pai - e olhos azuis.

Eu era assim tão estranha?

— Quem é você? — ele perguntou, ainda assustado. Sorri, erguendo a mão para um high five, mas percebi que havia uma barreira transparente que impedia minha mão de atravessar. Entorto os lábios.

— Bom, eu sou a Lucy. — falei, como se fosse óbvio. — E você, quem é? De onde é? Você não devia ser maior? — perguntei, empolgada. Ele observou-me por uns instantes, hesitando antes de responder.

— Meu nome é Stuart. Sou... de Paradise. Que fica... lá em cima. E... acho que foi aquela garrafa. — apontou para uma garrafa grande e cheia pela metade, onde estaria escrito “Beba-me”. Com lá em cima, ele quis dizer no céu?

— Bom, se você já tem o tamanho certo, traga a chave e entre aqui, oras — sorri, chamando-o com as mãos. Ele entortou os lábios, apontando para uma mesa de três pés, onde uma chave dourada descansava. Suspirei pesadamente, colocando a mão na testa.

— Você realmente não pensou em segurá-la quando bebeu o líquido? — ergui as sobrancelhas, dando uma risada fraca ao vê-lo negar com a cabeça. Mordi os lábios, apontando para um pequeno bolinho róseo protegido por um plástico transparente onde estava escrito “Coma-me”. Ele pegou o bolinho nas mãos pálidas, fitando-me com uma expressão confusa. — Isso deve te fazer crescer.

— E se me fizer diminuir até sumir? — perguntou receoso. Bati a mão no ar, negando com a cabeça.

— Bobagem. Se sumir, sumiu. Mas você pode comer ou tentar escalar um dos pés da mesa gigante. — cruzei os braços, aguardando sua escolha. Como imaginei, ele cedeu, arrancando o plástico e então mordendo o bolinho. Uma, duas, três mordidas e metade do bolinho havia sumido. — Não coma tudo! — alertei, mas ele já estava três vezes maior que a mesa, curvado por causa do teto baixo. Revirei os olhos.

— E agora? — ele gritou, com a voz chorosa. Gargalhei.

— Como está o tempo ai em cima? — berrei de volta, fazendo-o revirar os olhos. Sorri travessa. — Certo, pegue a chave e procure a garrafa que te fez encolher. Depois é só beber e pronto! — sorri largamente, e Stuart retribuiu. Agarrou a chave com seus dedões exageradamente grandes e depois segurou a pequena garrafa nas mãos, bebericando o resto do líquido que jazia ali.

— Você é um gênio, Lucy. — falou quando largou a garrafa. Sorri.

Então, finalmente, Stuart voltara a encolher, desta vez com a chave nas mãos. Ele sorriu, correndo em direção ao buraco da porta. Afastei-me para que ele pudesse passar. Ele corria rápido, sorridente, talvez não visse a hora de sair daquela sala maluca, e... puff.

— Mas o que deu errado? — gritou, socando a barreira que protegia a porta. Levei a mão à testa, balançando a cabeça negativamente.

— Stuart, pegue a chave! Você a deixou cair — apontei para o chão, onde a chave estava — bem ali. Como não percebeu? — balancei a cabeça novamente, observando-o corar. Correu até a chave, segurou-a e veio de encontro à porta novamente. Finalmente, conseguiu atravessar a barreira. Fechou a porta atrás de si e após alguns segundos, ela desintegrou-se junto com a chave.

Stuart observou o excesso de verde ao seu redor, sorrindo com as borboletas cintilantes e as fuinhas azuladas. Deu uma risada fraca, balançando a cabeça como se pretendesse acordar.

— Como eu vim parar nesse lugar? — perguntou num murmúrio, ainda observando a paisagem.

— Ora, garoto, se você não sabe, como a gente vai saber?! — Danna, a rosa, falou. Stuart arregalou seus olhos de uma maneira tão assustada que achei que ele estava passando mal.

— As flores daqui falam? — ele murmurou, afastando-se de Danna. Rolei os olhos.

— Claro! As de Paradise não? — sorri, aproximando-me dele com curiosidade.

— Certo, me deixe recapitular. Fui jogado por um coelho dizendo que eu estava atrasado e tive que ingerir coisas estranhas para passar por essa porta. Acho que estou ficando louco. É um sonho? — ele perguntou. Me aproximei do garoto, logo dando um beliscão em seu braço. — Ai! Por que fez isso?

— Você perguntou se era um sonho. Agora sabe que não é. E, Stuart, não se preocupe, todo mundo é louco. Sempre me disseram que ser louco é normal. Meu pai falou que as melhores pessoas são. — disse, entusiasmada.

— Eu já ouvi essa frase... — Stuart balbuciou, pensativo. Dei de ombros, apontando com a cabeça para mais adentro da floresta.

— Me diga, para onde quer ir? Talvez eu possa te ajudar, sabe? Ser sua parceira de aventuras. Afinal, te ajudei ali, não foi? — falei, com um sorriso largo. Ele franze o cenho.

— Não sei para onde devo ir. — ele disse, confuso. Franzi o cenho. — Por acaso aqui teria alguém chamado Rainha Vermelha?


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Notas finais do capítulo

- Banner de capítulo feito pelo Lionheart.
— Capítulo por Maddie.
Oi, vocês! Como vão? Finalmente, minha doce Lucy surgiu na história. Para deixar claro, todos os POV's do Stuart serão feitos pelo Lionheart, e todos os POV's da Lucy serão feitos por mim. Iremos alternar entre os capítulos. Outra coisinha: Vão me desculpar qualquer erro de ortografia que deixei passar :c
Anyway, não esqueçam de dizer o que acharam, deixem suas reviews elogiando, dando ideias, opinando, qualquer coisinha. Nada de fantasmas, e, ah! Feliz 2015 pra vocês. Vejo-os na próxima narração da pequena Chapeleira *-* xx



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