Sedução & Pecado escrita por Dreamy Girl


Capítulo 1
Capítulo 1




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As consultas, naquela manhã de sábado, estavam quase encerradas quando Sasuke Uchiha entrou. Sakura levantou os olhos automaticamente, certa de que devia ser outro paciente, e ficou surpresa ao ver o homem alto, esguio e forte que caminhava em sua direção.

— Como vai, Sakura?

Parecia haver um certo sarcasmo, ou desafio, no tom de voz profundo e vibrante.

— Muito bem, obrigada, sr. Uchiha. Se quiser ver o dr. Hatake, ele está quase terminando. Quer que eu avise que o senhor está aqui?

— Oh, não é preciso. — E se virou, arrogante e dominador como só ele sabia ser. — Se você esperar mais alguns minutos, eu lhe darei uma carona.

Sakura se sentiu corar.

— Não é preciso. O ponto de ônibus é aqui em frente.

A luz do sol entrava pelas grandes janelas, iluminando-o. Era um homem meio assustador, embora seu rosto fosse rusticamente bonito. Os cabelos e os olhos, negros como a noite, combinavam com a pele branca. Sasuke Uchiha, um homem a quem todos respeitavam.

— Você não gosta de mim, não é?:— perguntou ele.

— Oh, o senhor está enganado! — mentiu ela, com os olhos verdes impenetráveis e o rosto corado.

— Melhor assim.

Sakura sentiu as mãos tremerem um pouco e achou melhor mudar de assunto.

Se me der licença, tenho algumas coisas para terminar.

— Então vá em frente! — murmurou ele, o rosto indiferente.

Ela percebeu que ele caminhava até a janela e, procurando ignorá-lo, curvou-se sobre a máquina de escrever. Sempre ficava nervosa quando via aquele homem, mas não podia se dar ao luxo de ofendê-lo. Como tudo na cidade, o centro médico havia se beneficiado muito com a generosidade de Sasuke Uchiha. Fora quase totalmente reconstruído e já não era o lugar escuro e melancólico de outrora. Ao contrário, era um lugar bonito, iluminado e com ar condicionado. O dr. Hatake estava satisfeito: tinha uma equipe de primeira classe e equipamentos novos. Não que o velho homem fosse um bajulador; o doutor achava que Sasuke Uchiha tinha um dever perante a comunidade, assim como ele próprio perante os doentes da cidade. Os Uchiha eram uma família muito importante da região, proprietários da mina de ,cobre de Monte Regina, onde uma vez fora encontrado ouro.

Sakura tinha uma antipatia meio gratuita pelo arrogante Sasuke Uchiha e se sentia um pouco envergonhada com isso. Afinal, mal o conhecia, embora soubesse do poder e da influência daquele homem. Uma vez, há quase dois anos, ele propusera mandá-la para uma universidade do sul do país. Sakura, porém, que ficara órfã aos oito anos e fora criada por uma velha tia, tendo sempre que aceitar a caridade alheia, simplesmente recusou a ajuda de Sasuke Uchiha. Tsunade concordou com a sobrinha, embora tivesse ficado aborrecida por ver tanta inteligência desperdiçada. Agora Tsunade havia morrido e Sakura vivia sozinha na casa grande e velha, satisfeita com o emprego no centro médico. Fora obrigada a deixar de lado as ambições; pelo menos as coisas que jamais conseguiria, por mais que se esforçasse. Suspirou ao pensar nisso, e o homem alto que estava perto da janela virou-se para olhá-la.

— O que foi?

— Eu estava pensando.

— A respeito de como poderia ter sido?

— Não, oh não!

— Pois me pareceu que sim.

Ela meneou a cabeça com determinação.

— Acho que vou ligar para o dr. Hatake, pois ele não gostaria que eu deixasse o senhor esperando.

Mas não foi preciso: o dr. Hatake e sua paciente já estavam saindo do consultório. O médico olhou de maneira penetrante para Sakura e deu uns tapinhas no ombro da sra. Uzui, a paciente, quando esta dirigiu um olhar rápido e ansioso a Sasuke Uchiha, ao sair.

— Como vai, Sasuke? — Os dois homens se apertaram as mãos.

— Prazer em vê-lo.

— Será que poderia me conceder alguns minutos?

— Ora, certamente. — Os olhos opacos do médico se dirigiram para Sakura. — Pode ir embora, querida. Vá e divirta-se. Você merece uma medalha por cuidar daquelas crianças levadas. A mãe delas é uma tola!

Ela sorriu e Sasuke Uchiha a fitou.

— Sakura, eu gostaria que você esperasse.

Aquilo era uma ordem, e até o dr. Hatake pareceu aquiescer com a sua cabeça grisalha.

— Está bem — respondeu Sakura, pouco à vontade diante daqueles olhos negros e brilhantes.

Sasuke inclinou a cabeça e Sakura teve a impressão de que ele nunca fora contrariado. Principalmente por uma mulher. Ela viu- os dois desaparecerem e então começou a arrumar a mesa de trabalho em forma de bumerangue. Seu trabalho como recepcionista era bem remunerado, além de muito agradável. Ela sabia que deixava os pacientes à vontade graças à sua simpatia e cordialidade. Quanto ao dr. Hatake, confiava a ela diversas responsabilidades. Fora ele quem a trouxera ao mundo, como o fizera com a maior parte da geração mais jovem da cidade, e também cuidara de Tsunade.

Mas o que intrigava Sakura era o fato de Sasuke Uchiha querer lhe dar uma carona. Talvez sentisse pena dela...

Ao terminar de cobrir a máquina de escrever, ela viu a figura magra da última paciente do dr. Hatake se aproximando pelo corredor. A mulher olhou para Sakura, acenou e encaminhou-se para a saída com indecisão. A maioria das pacientes tinha uma quedinha por Kakashi. Esse era um risco que todos os médicos jovens e atraentes corriam.

Sai se aproximou da mesa de Sakura pouco depois, franzindo o cenho como se alguma coisa o estivesse irritando.

— Ainda está aqui?

— Estou.

— Será que mudou de idéia quanto ao meu convite para jantar?

— Oh, não, não mudei!

— Mas você iria gostar muito!

— Estou certa que sim. Mas o pSailema é que não gosto de misturar negócios com prazer.

Sai gemeu de maneira dramática e sorriu.

— Como se ninguém fizesse isso! Você poderia dizer "sim". Sakura pareceu pensar um pouco.

— Parte do seu pSailema, doutor, é que as mulheres sempre se atiram nos seus braços.

— Que interessante! — Ele sorriu de novo. — Atribua isso à condição humana. Tem certeza de que não vai mudar de idéia?

— Tenho.

Sai suspirou e olhou em volta.

— Há alguém mais por aqui?

— O dr. Hatake está conversando com Sasuke Uchiha.

— Credo! Mas não como paciente, não é?

— Acho que é uma conversa particular.

— Estou embasbacado! imagine só, o "Grande Homem" vir até aqui! — Houve um momento de silêncio, e depois Sai olhou para a porta de entrada. — E onde é que está a linda esposa dele?

— Não veio.

— Você não acha que ela é linda? — insistiu Sai, sorrindo de maneira um tanto maliciosa.

— Eu não a vejo há muito tempo. Mas, sim, ela é bonita; é a mulher mais linda que já vi. Porém não acho que haja alguma coisa imperfeita na casa de Sasuke Uchiha.

— Então você não tem prestado atenção aos mexericos?

— É isso mesmo! — Sakura levantou o rosto com uma expressão de desafio. — Eu não dou ouvidos a mexericos, principalmente quando eles são maldosos!

Sai sorriu, irônico, e segurou-lhe o queixo.

— Mas que interessante! As pessoas que vivem naquele santuário são alvo de fofocas. Quem não ouviu histórias curiosas a respeito da encantadora e neurótica Karin? É de conhecimento geral que o casamento deles não é um grande sucesso.

Sakura achou aquela conversa desagradável.

— Isso não é de nossa conta, não acha?

— Eu diria que é bom saber que até os todo-poderosos têm pSailemas.

— Você não gosta dele?

— Eu o admiro muito! Oh, não ligue para o que eu disse. Gosto deste trabalho. Mas é você que me intriga. Vive tão bem-vestida e elegante que faria até a encantadora Karin parecer vulgar. No entanto, não se interessa por homem nenhum.

— Principalmente por um que se chama Sai, não é isso que quer dizer?

— Não, não é. Quero dizer que você quase não sai!

— Saio, sim. E com freqüência.

— Para ir a um concerto, a um cinema ou a uma festa! Isso é terrível! — Ele levantou a mão e segurou de leve o coque de cabelos rosados, soltando-os por cima dos ombros dela. — Mesmo o modo como penteia os cabelos é antiquado!

— Mas é adequado para o meu trabalho.

— Saky! — disse Sai carinhosamente, num tom de voz que pareceu suplicante. — Será que não acredita que eu só quero conhecê-la melhor? Você é muito bonita e não pode continuar a levar uma vida tão simples assim.

— É isso o que pensa de mim? — Ela jogou a cabeça para trás procurando uma presilha.

— Não procure parecer inteligente demais. As mulheres não precisam disso.

— Mas que idéia mais absurda! E faça o favor de devolver a minha presilha. Detesto estar desarrumada.

Sai deu um sorriso e tirou o pé de cima da presilha prateada.

— Você não tem nem um pouquinho de medo de ficar para titia?

— Eu só tenho dezenove anos!

— Eu sei. Mas é que você é uma garota tão esperta! Eu quero ensiná-la a se divertir.

— Por favor, Sai. — Sakura estendeu a mão para pegar a presilha. — O sr. Uchiha vai me dar uma carona e não acho que ele vá ficar impressionado com os meus cabelos soltos!

— Não vai uma ova! — replicou Sai, o rosto carrancudo. — Você é engraçada, sabe? Não há um único homem no mundo que resista a esses cabelos lindos.

— Isso é ridículo!

— É mesmo!

Sai não concluiu o que ia dizer porque Sasuke Uchiha apareceu, os olhos negros fixos neles.

— Ora, sr. Uchiha! — exclamou Sai, aproximando-se dele com uma reverência divertida.

— Como vai, Sai? — Sasuke Uchiha atravessou o vestíbulo e estendeu a mão, que Sai apertou com uma admirável demonstração de prazer e traiçoeira duplicidade.

— Estava ansioso por lhe agradecer por todo esse equipamento novo. Não imagina como ele é importante para nós. É um milagre!

— Estou contente por ter podido ajudar.

— E ajudou muito! — respondeu Sai, entusiasmado. — Acho que também preciso agradecer pelo meu ingresso no Country Club.

— O prazer foi todo meu. — Sasuke Uchiha inclinou a cabeça, mas Sakura notou que seu olhar era sério e avaliador. Sai não pareceu ligar nem um pouco, pois continuou sorrindo.

— Você está pronta, Sakura? — Havia um curioso tom de desafio naquela voz.

— Sim. — Ela reuniu suas coisas, desejando não parecer tão tímida e hesitante. — Até logo, doutor.

— Sai. Pode continuar me chamando de Sai. Não é nenhum segredo!

Havia um brilho de ironia nos olhos de Sasuke Uchiha.

— Até a vista, Sai.

— Talvez nos vejamos no clube. Dizem que o senhor é espetacular em todos os esportes.

— Eu costumava ser. Hoje em dia disponho de muito pouco tempo... Tenho alguns planos para a mina.

— É maravilhoso! — O tom de voz de Sai dava a entender que ele entendia tudo de altos negócios. — Toda a cidade depende do senhor.

— Às vezes eu sinto vontade de fugir dela. — Sasuke Uchiha estendeu o braço e abriu a porta. — Tenha a bondade, Sakura.

Ela ouviu Sai se despedindo, e então saiu para a luz do sol.

Levantou as mãos para ajeitar os cabelos e Sasuke disse, de maneira um tanto seca:

— Deixe-os assim. Eu não pretendo estrangulá-la.

— Esse pensamento nunca me passou pela cabeça.

— Então, por que essa cara?

Ela sentiu o rosto ficar vermelho de novo.

— Eu não me incomodaria de voltar para casa de ônibus.

— Eu não achei que se incomodaria. Afinal, com todas as atenções de Sai...

Sakura olhou para a rua ensolarada e viu um grande carro de luxo estacionado.

— Não interprete mal a situação. Eu só vejo o Sai no trabalho.

— Sei disso.

— Sabe? Pois estou surpresa com isso.

— O que demonstra como você é jovem. Tenho espiões por toda parte. E me contam tudo, quando têm oportunidade.

— Que coisa horrível!

Sasuke encolheu os largos ombros, como se não ligasse a mínima para a opinião de Sakura, e abriu a porta do carro. Ela entrou, agradeceu e se acomodou. Ele sentou-se ao lado dela e Sakura estremeceu.

— Acalme-se! — disse Sasuke. — Eu não tenho nenhuma intenção de aterrorizá-la.

— Adiantaria alguma coisa eu dizer que estou calma?

Ele a olhou por um momento e deu partida no carro. A cidade de Konoha, muito aprazível, era dominada pela família de Sasuke e sua prosperidade dependia da mina de cobre de Monte Regina, que ficava a uma distância considerável do centro urbano.

Era novembro, e as árvores alinhadas nas ruas e nas margens dos rios estavam floridas. Sakura achava que uma das vantagens de viver nos trópicos era poder desfrutar daquele cenário luxuriante, e a cidade de Konoha era repleta de parques e jardins. Havia até cisnes negros e brancos nadando sob a ponte, e a relva ia até a água verde-jade.

Sasuke Uchiha parecia imerso nos próprios pensamentos, de modo que Sakura também se manteve calada. Talvez fizesse um piquenique perto do lago quando chegasse em casa. O ar estava quente e parado, e talvez houvesse um temporal no fim da tarde, mas, até lá, ela já teria voltado. Relâmpagos a assustavam desde quando tinha doze anos, quando um raio derrubara uma figueira que havia na escola, matando uma das professoras. Sakura ainda se lembrava da cena e dos gritos das outras meninas. Era impossível viver nos trópicos sem dominar c, medo, mas este ainda permanecia e se expressava numa espécie de abstração e numa aparência doentia em seu olhar.

Sasuke Uchiha teve que repetir a pergunta antes que ela o ouvisse.

— Oh, desculpe. Eu estava sonhando acordada.

— Eu perguntei se você é feliz, Sakura.

— Não pareço ser?

— Não tive intenção de ofendê-la, mas preciso discutir algo com você. E a respeito de uma mudança de emprego, de uma coisa que pode fazer por mim.

Ela sondou o perfil moreno. Ele estava muito sério, sua expressão era até mesmo cruel.

— Tem alguma coisa a ver com a sua visita ao dr. Hatake?

— Sim.

Ele desviou o carro para uma estrada que margeava o rio, onde viviam as principais famílias da cidade. — Mas a minha casa não fica nesta direção!

— Você logo vai chegar à sua casa — disse Sasuke asperamente. — Eu só quero um pouco de sossego para poder conversar, e isso não inclui uma rua cheia de vizinhos fofoqueiros. — Os olhos negros a fitaram com insolência. — Está bem?

— Parece que não tenho escolha, não?

Sakura virou a cabeça para que ele não lhe visse o rosto. As enormes árvores que margeavam a estrada formavam um túnel verde e fresco por onde soprava uma brisa gostosa que mexia com os cabelos de Sakura, que caíam como fios de seda sobre seu rosto. Ela, porém, não ousava levantar a mão para tirar as mechas que lhe atrapalhavam a visão. Tinha que ficar quieta e obedecer. SasukeUchiha era um "ser superior" e queria lhe pedir alguma coisa. Isso quase a fez rir.

Finalmente cruzaram o rio e avistaram na margem oposta a grande mansão branca que Madara Uchiha, o bisavô de Sasuke, construíra na época em que a mina produzia ouro. Era um edifício com altas colunas, rodeado por árvores enormes e antigas.

— Que maravilha! — disse ela, suspirando.

— É apenas uma casa — retrucou ele de maneira um tanto seca. — São as pessoas que contam.

— Alegro-me que pense assim.

— Não pedi a sua opinião, senhorita.

— Eu sinto muito. — Sakura abaixou a cabeça de maneira quase penitente. — Sobre o que queria me falar?

— Acho que sabe que eu tenho uma filha, não?

— Sim. Eu já a vi diversas vezes. É encantadora.

— E também um tanto delicada. E muito nervosa. E por este motivo que quero que venha ficar conosco, como uma espécie de dama de companhia. Yumi tem um primo, Yuzuki, e você também vai cuidar dele. Yuzuki tem seis anos e é filho de minha irmã. Ela e o marido vão viajar durante uns seis meses, e não querem levar Yuzuki por causa do inverno europeu. Ele sofre de bronquite e preferiu ficar comigo.

Sakura arregalou os olhos, receando ter sido pega numa armadilha.

— Por que eu?

— Por motivos óbvios, Sakura. Eu a conheço. Conheço o seu passado. É uma moça inteligente e educada, uma verdadeira dama. Já pensei muito nisso e conversei com o dr. Hatake a respeito. Ele vai sentir muito perdê-la, claro, mas reconhece que você tem as qualidades de que eu preciso: é altamente competente, paciente e diplomática.

— Em suma, sou suficientemente respeitável para ser admitida na "Grande Casa"!

— Foi o doutor quem disse que você tinha muito tato, não eu!

— Mas eu não posso! — Por que não?

— Por favor, não me obrigue a fazer isso. Estou muito feliz no centro médico. Em todo caso, não era a sra. Uchiha quem deveria me contratar? Ou pelo menos me entrevistar?

— Qual sra. Uchiha? Minha esposa ou minha mãe?

—As duas!

— Minha mãe concorda comigo em tudo, sempre fez isso.

Pensamos do mesmo modo. Minha esposa não se interessa por quase nada, hoje em dia. O parto de Yumi foi difícil e ela nunca mais se recuperou totalmente. Ela pode não gostar de você, mas não vai dizer nada.

— Só para agradá-lo?

— Isso não foi gentil, Sakura. Acho que andou dando ouvidos aos mexericos.

— Acho que sim. A gente não quer ouvir, mas as pessoas não param de falar nos Uchiha.

— Pensa que não sei disso? A sociedade costuma ficar de olho nas pessoas ricas ou famosas. Um único passo em falso e você está frito.

— Mas ser rico e famoso deve ter as suas compensações, não?

— Olhe para mim, Sakura.

Ela o olhou de esguelha. Estava decidida a não se deixar levar por aquele homem enérgico e perturbador.

— Você ainda está magoada comigo, por eu lhe ter oferecido... auxílio, não é?

— Não, sr. Uchiha, não estou. O problema é que acho que não seria feliz trabalhando na sua casa.

As sobrancelhas escuras dele se uniram, dando-lhe um ar ameaçador.

— E quem é que está lhe pedindo para ser feliz? Nunca lhe ocorreu que ninguém é feliz? Você não era feliz quando não passava de uma colegial que vivia amuada. Seu pai trabalhou na mina, era um dos nossos melhores engenheiros. Ele não estava a serviço quando caiu na floresta, mas achamos que lhe devíamos alguma coisa. Só que você não quis aceitar.

— E me alegro por isso. — Havia um tom de amargura na voz doce e pura. —Que idiota fui!

— Você não deve ligar tanto para isso.

— Oh, eu não ligo. — Ela sentiu as têmporas latejarem. A luz do sol que se filtrava por entre as árvores deixava seus cabelos mais brilhantes ainda. — Nunca perguntei antes, mas foi o senhor quem me indicou para o centro médico?

— Essa é outra coisa pela qual você não consegue me perdoar?

— Foi o senhor? — Sakura virou a cabeça e olhou fixamente para ele.

— Isso tem importância? Estou esperando a sua resposta, Sakura. Sou um homem ocupado.

— É o que estou vendo! O senhor nunca teve consideração pelas pessoas.

— Apesar desse rosto de anjo, você tem a língua afiada! — Sasuke se inclinou e ligou de novo o motor do carro. — Mas talvez mude de idéia. Afinal, não vai receber de volta o emprego no centro médico.

Ela sentiu vontade de gritar, mas sabia que não adiantaria. E, ao fitar os olhos dele, viu que estes tinham um brilho sombrio e irônico.

— Sinto muito não poder ajudá-lo. Nunca tive muita experiência com crianças.

— Você é pouco mais que uma criança. Além disso, ouvi o doutor elogiá-la pelo modo como cuidou dos filhos dos Uzui. Nossas crianças são santinhas, perto daquelas. Os estudos de Yumi ficaram muito prejudicados por causa das doenças e ela precisa de alguém como você, que possa ser amiga e professora.

— Então está me pedindo isso em nome de sua filha?

— Estou suplicando.

— Bem, isso bastaria para convencer um monte de pessoas.

— De fato. Mas, e quanto a você?

— Eu adoro crianças e acho que entendo como se sente. Mas o senhor pode estar enganado quanto às minhas qualidades e talvez sua esposa não me aceite.

— Então tenho que lhe assegurar de novo de que não há nada que ela possa fazer para alterar a minha decisão.

— A minha, o senhor que dizer.

— Deixe pra lá. Pense nisso. Eu lhe dou até segunda-feira para decidir.

A expressão de Sasuke ficou séria e Sakura se recostou no banco. Havia muita força naquele corpo tenso e esguio. Ela compreendeu que aquele era um homem perigosamente excitante. Será que era por isso que não queria trabalhar para ele? Seria por algum instinto de preservação?

Fizeram o resto do percurso em silêncio e logo chegaram à casa antiga e avarandada que outrora pertencera aos avós de Sakura.

— Esta casa é grande demais para você — disse ele.

— Ela é tudo que eu possuo.

Sasuke desligou o motor do carro e se virou para ela.

— Estou disposto a pagar muito bem. Muito mais do que você está ganhando agora. E não terá despesa nenhuma: vai viver como membro da família.

— Não daria certo.

— Detesto gente que se faz de difícil!

— Estou tentando compreender, mas não consigo. O senhor está propondo me pagar bem por uma função que é tradicionalmente pouco remunerada.

— Você vai fazer jus ao que receber. Sei que esteve estudando à noite. Poderia continuar a fazê-lo com o que economizar. Além de uma bolsa de estudos por período integral durante um ano. Você talvez complete o seu curso.

— Mas poderia perder a minha liberdade.

— Que liberdade? Para se manter e para manter essa casa, você deve gastar tudo que ganha. Tudo que estou lhe pedindo é que se interesse pela minha filhinha, e por isso lhe pagarei bem. Você vai viver com muito luxo, e no final do seu contrato de trabalho estará mais próxima de concretizar as suas ambições.

— É possível. — Ela estava se sentindo sem jeito e insegura; parecia mais uma colegial do que uma jovem competente que sempre lutara sozinha pela vida. — Vou pensar seriamente nisso.

— Não há nada mais que você possa fazer. Vou providenciar para que a sua casa seja fechada e conservada durante a sua ausência. Acredite, Sakura, você é necessária.

— Eu vivi nesta cidade durante toda a minha vida...

— E nós a vimos crescer. Todos conhecem as suas boas qualidades, Sakura.

— Mas não sou o anjo que vocês imaginam que eu seja. Sasuke deu uma risada e a fitou.

— Agora saia. Tenho muito trabalho a fazer.

Ela desceu e ficou em pé ao lado do carro, alta e esbelta, suas pernas longas e graciosas.

— Devo telefonar para o senhor, ou o quê?

— Você nunca conseguiria me localizar. — Ele olhou para a rua pouco movimentada. — Eu lhe telefonarei.

— Até logo, e obrigada por me trazer.

— Está se sentindo melhor agora?

— O que quer dizer?

— Até logo, Sakura. Talvez fosse melhor levá-la até a minha casa primeiro. Em todo caso, trataremos disso na segunda-feira.

— Fala como se já estivesse tudo acertado — ela se queixou.

— De certo modo. E melhor você entrar, agora. Acho que o telefone está tocando... provavelmente é uma das suas vizinhas. A propósito, Sakura, o dr. Hatake me disse que você é muito leal. Eu aprecio muito isso. Muitas pessoas não o são.

Ela não conseguiu pensar em nada para responder. Mas não ia mesmo adiantar. Sasukej á se despedira e partira sem olhar para trás.


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