Foi no mês de dezembro escrita por HatsuneMikuo


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Amo o Silver, vocês não sabem o quanto. Fic não betada, algum erro me avise que eu corrijo na hora.Espero que gostem da leitura, eu caprichei bastante nela.^^



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As luzes piscavam ornamentadas no gigante pinheiro. Luzes de todas as cores, bolinhas natalinas de cada cor, enfeite, brilho e tamanho. Cada cor representando uma cidade da região, Pokémons ornamentados, desde Pidgeys de madeira e até miniatura das três aves lendárias de Kanto. Articuno, Zapdos e Moltres. Uma criança puxava a mão de quem estava dada em direção a arvore.

Mãe, mãe. O correto é bolas de natais ou bolas de natal?

Bolas de natal” – Corrigiu mentalmente.

Tommy o correto é “bolas de natal”, só tem apenas um natal por ano e várias bolas. – Disse a mãe ao lado da criança, ambas usavam roupas de cores e modelos semelhantes.

Olha mamãe! Que Pokémon é aquele? – A criança voltou a apontar para o pinheiro, por impulso também olhou para a mesma direção.

Onde? – A mãe procurava no meio de tantas luzes e brilho pelo Pokémon que seu pequeno dizia.

“É um Clefairy segurando uma Starmie” – respondeu, só que em mudo.

Ali mãe! Perto da bola azul!

A criança vestia um casaco fechado amarelo e um gorro de lã, a mãe usava um sobretudo creme e gorro de lã. O olhar perdido da mulher se misturava no meio das cores procurando o dito Pokémon que era apontado.

Deve ser um Ditto, não estou conseguindo enxergar direito.

É um Clefairy...” – E novamente respondeu sem movimentar os lábios.

Sua atenção se voltou a um rapaz de vestes negras perto da arvore, a mãe olhava-o com um ar de que procurasse alguma semelhança nele. Nada, nunca o tinha visto por ali, visto que poderia ser um turista, vendo que o mesmo não parecia se incomodar com a falta de educação de olhar muito, voltou à caminhada com seu filho.

Pallet, uma pequena cidade de Kanto, por que estava ali nessa cidade e sozinho? Estava cumprindo um favor a alguém. E esse alguém? Estava com o seu namorado uma hora dessas.

Silver, sem sobrenome ou apelidos. Apenas Silver. Estava em Pallet porque odiava uma pessoa que morava e nasceu ali, odiava o fato de estar nessa cidade, odiava as pessoas que desviavam o olhar sem motivo algum. Odiava uma pessoa em comum que justo era o namorado de sua irmã.

Silver odeia Green, odeia qualquer coisa dele. Ainda mais depois que sua irmã de consideração o chamou para passar aquela data comemorativa depois que a irmã de Green a convidou para festejar em sua casa. Ela até chegou a convida-lo, mas disse que teria outra coisa e não podia faltar.

Ela nem contestou, nem perguntou o por que. Nem parecia a mesma pessoa que convivia apenas com ele durante aqueles tempos negros.

O ruivo apenas caminhou vestindo o seu habitual casaco azul marinho e calça de lã preta. Aquele clima acolhedor e familiar não combinava com ele, uma vez que foi criado sem afeto ou carinho fraternal. Escolheu a segunda Pokébola que guardada em seu cinto e revelou um grande Pokémon pássaro, Howchkrow que logo cumprimentou seu treinador em seguida.

Howchkrow, para a floresta. Use o voar.

Logo recebido à ordem, o Pokémon corvo afirmou abriu suas asas e vou baixo a altura dos ombros do ruivo e segurou nas patas do pássaro e carregou o garoto voando até o lugar desejado.

Howchkrow gritou, estavam encima de uma parte afastada da cidade, só tinha pinheiros cobertos de neve. Silver deu a ordem de descer e o Pokémon foi cuidadoso para nao ferir o seu mestre ou bater em galhos de arvore.

O que foi Howchkrow? – perguntou o ruivo e o Pokémon sacudiu suas asas. - Entendi... Está frio demais para você.– o Pokémon afirmou – Tudo bem, pode retornar– Silver apontou a pokébola para seu Pokémon e o mesmo retornou.

Deviam estar no meio de uma reserva de Pallet, não via nenhum Pokémon, a não ser neve e tronco de arvores. Os arredores de pallet tinham mais arvores grandes do que construções. Não tinha esgotos ao céu aberto e nem prédios altos. Uma típica cidade linda do interior de Kanto. Silver lembrou que seus amigos combinaram de passar o natal e ano novo na cidade natal de Green e Red. Ele apenas concordou porque foi Blue, sua considerável irmã, que o chamou.

Talvez ela não se lembrasse de mais, desde que eles estavam sobre as ordens do Mascara de Gelo, eles nunca comemoravam natal juntos, nem aniversário ou ano novo. Apenas trabalhavam, era tanto trabalho que esqueciam até que tinham nomes ou idade.

Escolheu uma das arvores para se sentar, respirou fundo e começou a cantar de olhos fechados uma pequena canção que lembrava uma sensação nostálgica.

“Moças dançam no ar, coisas de que me lembro... E a canção de alguém, foi no mês de dezembro...”.

Continuaria a cantar a próxima parte da música até abrir seus olhos e sentir que algo frio tocou e derreteu em seu nariz. Limpou com a mão desprotegida da luva, era só um floquinho de neve. A mão que estava em seu bolso era a que não tinha luva. Foi ai que se lembrou de que sua luva direita estava com o Gold desde a primeira vez que se encontraram.

Desde o primeiro encontro...

Gold... Era exatamente da mesma altura, com alguns centímetros de diferença, e ele era alguns meses mais velho. Não foi o melhor momento no laboratório do professor Elm. Desde esse dia teve encontrado ele por alguns trajetos de sua jornada. Nunca prometera a Gold que ele iria devolver sua luva, ela nem fazia falta para si mesmo.

Gold, ele era alegre, sempre sorria e às vezes sorria até por tudo ou nada. Estava sempre cercado de amigos e conseguia fazer muito fácil um, Silver nem se espantou quando o moreno o considerava como um amigo.

Em toda sua vida passou a ter companhias, e não amigos. E Pokémon, lógico. Silver não admitia, mas estava chateado por ser colocado para o escanteio desde que Blue virou próxima de Green. Ele era tão arrogante que o ruivo não entendia como ela podia gostar tanto dele.

Lembrou-se da maneira de como o rapaz tratava o mais novo, da mesma forma como uma raposa ardilosa, apenas esperando baixar a guarda para ter o que quer para si. Quem ele pensa que é para julga-lo ou trata-lo daquela forma sem ao menos conhecê-lo de verdade?

O ruivo parou para pensar no que realmente acabou de contestar. "conhece-lo de verdade", quem realmente o conhecia de verdade fora Blue? Apenas ela sabia dos seus sentimentos e confiava nele. Mas agora ela parecia mais intima do Green do que com ele.

Conhecia Blue desde seus dois anos, e o destino teve que separar os dois, mas desde que derrotaram o Mascara de Gelo até o ruivinho achou que nada separaria sua irmã novamente. Até aparecer um namorado.

Fechou seus olhos e voltou a cantar do inicio a mesma música, só que dessa vez estendeu-a mais um pouco.

"Dias de felicidade e os cavalos na tempestade. São imagens a dançar que posso recordar...".

Silver parou para pensar um pouco. Nunca reparara na letra da música, apenas no ritmo. Era bem calma e lírica e as palavras sumiam quando cantava.

O que tinha de felicidade no passado dos dois? Nada. Mas estavam sempre juntos, isso contava como felicidade? Como o ruivo era o mais novo de todos, ele dormia na mesma cama que Blue até ele ser considerado como maiorzinho e aprender a dormir numa cama sozinho.

Fechou novamente os olhos, dessa vez nenhum som saiu de sua boca. Apenas lembrou-se daquela doce lembrança que guardava como seu mais precioso tesouro.

Blue cantava para ele sempre nessa época porque era o seu aniversário. Era o seu presente de natal e aniversário. Apenas seu.

Passaram tantos anos juntos que contando nos dedos parecem tão poucos. Os dias de cada ano davam a impressão que soma desse quase um milhão de dias, mas se fosse contar matematicamente. Não daria nem três mil dias.

Mas... Isso Parecia tão curto quanto a duração da música.

Voltou a cantar a música do inicio, se a Blue não cantaria para si, ele cantaria apenas para si.

...

Silver virou se rosto, um barulho daqueles não era normal de se ouvir. Por instinto subiu no pinheiro apenas com um salto. Suas técnicas de camuflagem eram perfeitas, ninguém o acharia ali. Observou entre os galhos, alguma coisa se aproximava, mas ainda tinha alguns metros de distancia. Entrou em modo de alerta. Não importa se fosse um Pokémon, isso era força de hábito de algo que já esta acostumado de anos.

O barulho de passos que era inaudível agora começava a serem ouvidos. Uma figura começava a aparecer entre os troncos de pinheiros, o ladino tinha razão, era uma pessoa que se aproximava, mas não em sua direção, um pouco próximo.

Observou mais atento, ele estava acompanhado com um Pokémon de porte grande. Mesmo distantes, a audição e visão de Silver eram seus sentidos mais apurados, ele conversava algo com o Pokémon. Mirou seu casaco de frio vermelho e calça preta, tinha a sensação de conhecê-lo, o Pokémon era um Arcanine, quem deveria ser? E porque estava andando para sua direção? Por acaso usava o Arcanine para fareja-lo?

Silver pôs a mão que não estava de luva em sua pokébola, mas precisamente encima da que guardava seu Weavile. Apenas por precaução. Mas retiro-a quando identificou a voz.

"Gold?"- Perguntou-se em seus pensamentos. Por que ele estaria ali? Estava procurando por ele? O moreno começou a falar e concentrou-se em sua audição, ainda estavam a 10 metros de distancia.

Tem certeza que ele está por aqui Arcanine? Ah que saco, tanto lugar para ficar e aquela cabeleira vermelha resolve vir pro meio do mato.

O Pokémon respondeu com um leve chamado voltando a farejar a neve no chão.

– Tá tão frio aqui... Não sei como o seu focinho não congela... Você deveria trocar de lugar comigo, queria ter esse seu casaco de pelo.

Arcanine não parecia interessado em ouvir Gold tagarelando, apontou seu focinho para o treinador que o garoto estendeu a mão para ele. Um objeto preto que cabia na palma da mão. Silver tentou se lembrar de quando Gold tinha conseguido aquele Pokémon, e percebeu que aquele Arcanine não era dele, e sim de Green.

O ruivo não era idiota o bastante para não saber somar dois mais dois. Se ele estava ali com o Arcanine do Green era porque mandaram busca-lo.

O ladino desceu do pinheiro num salto, o moreno percebeu e o chamou.

Silver! Então você estava ai! Bom trabalho Arcanine, você foi brilhante!– disse afanando atrás da orelha do Pokémon gigante.

– Por que veio me procurar Gold?– disse ríspido.

Ué? Por que você sumiu do mapa e todos estavam perguntando por você. - Disse ainda fazendo carinho na nuca do Pokémon de fogo.

– E quem perguntaria por mim?

– A Blue, a Crys, a Yellow, a Dayse... Vai ter uma festinha de natal com comida na casa dela, vamos?

– A Blue me convidou, mas não vou poder ir.

– Não vai é? Por quê?

O moreno não teve resposta que queria se fosse só um simples sim, mas Silver ao invés de respondê-lo virou os calcanhares andando. Não queria discutir sobre isso e nem perder tempo explicando a razão verdadeira de não querer passar o natal junto com eles.

–E! Silver espera. Não me deixa sozinho.

– Vá embora Gold. Esta perdendo o seu tempo.

– Ah qual é. Eu tive o trabalho de vir até aqui te chamar e você me-

– Como soube que eu estava aqui? - o ruivo não esperou Gold terminar de falar para perguntar. Silver nunca foi uma pessoa de rodeios, aprendeu desde criança decifrar e entender tudo de primeiro sem demoras.

– Eu... Digamos que eu tinha a certeza que você... É que iria... Ir para um lugar afastado pra caramba.

– E usou o Arcanine do Green para me farejar.– o ruivo estreitou os olhos ao falar o nome do mais velho.

– Claro. Ei Silver. Espera ai cara. - o ladino retornou a arvore com um salto sem impulso agitando os galhos derrubando uma grande quantidade de neve. - Aa Silver! Espera ai! Desce aqui, rápidão.

Vendo que o ruivo ainda há de ignora-lo, pediu para o Pokémon de fogo esperar um pouco debaixo da árvore.

– Ei Silver, deixa eu te perguntar. Você estava ouvindo uma voz por essa direção? – o ladino que já estava numa altura de 3 metros sentado num galho com uma das pernas balançando para fora apenas olhou para baixo sem se curvar. Quando notou, percebeu que o moreno estava tentando escalar o pinheiro.

Você ouviu, não ouviu? Fala alguma coisa.

– Que tipo de voz?– apenas respondeu porque o moreno pediu.

– Uma voz... Sei lá. Era baixa, mas eu conseguia ouvir ela, sem ter certeza.

Escalar uma arvore daquelas com os galhos bem acima do tronco era difícil, mas Gold era experiente nisso, não tão eficiente quanto Silver, mas faltava mais um galho para alcança-lo.

Era uma voz familiar, talvez tenha um Pokémon que eu desconheço nessa área que imite a voz humana.

– Como era a voz? Digo... A música– o ruivo se deu conta que Gold se referia a ele sem saber, mas não responderia algo tão óbvio.

Ela era calma, e bonita a melodia, achei até que fosse um Pokémon cantando, pena que não captei a letra.

Há essa hora Gold já pedia espaço para ficar no mesmo galho que Silver. O ruivo negou-se e ameaçou empurra-lo. No final o moreno conseguiu ficar no mesmo galho sentado na frente do ladino, ao menos o galho conseguia suportar o peso dos dois treinadores.

– Me lembrei de um ditado que minha mãe sempre falava. Cada Aipon no seu galho.

– Coisa que não você não segue.

– Ah Silver. Mas é só um ditado.– ele coçou sua cabeça rindo, o ruivo voltou a ficar em silencio. - Hey, mas você estava ouvindo aquela música, não estava?

– Talvez? – Cruzou os braços.

– Até o Arcanine ouviu– olhou para baixo vendo o Pokémon de fogo deitado abaixo de ambos. Estávamos seguindo ela, mas ela parou de repente. - o ruivo voltou sua atenção para o treinador a sua frente. - Era bem bonita até... Ei, Silver. - numa confirmação muda e o moreno continuou. - Era você que estava cantando?

O ladino ergueu os olhos com um pequeno rubor.

Q-quê?– exclamou.

– A música era bonitinha até. Mas ao mesmo tempo triste, e só tinha você aqui. Acho que era você.

– E por que eu cantaria? E por que...

– Ah, qual é. A música era bonita, bem linda, era você que estava cantando. Não era?

– Eu...– o ruivo estava corando, horas assim detestava ter a pele tão clara. - Por que eu estaria cantando?

Era você que estava cantando?– perguntou animado.

– Eu, é...

– Era mesmo?–seus olhos brilhavam e o ruivinho ficava cada vez mais incomodado e sem jeito.

– Eu... Tá. Sim! Era eu que estava cantando.

– Sério mesmo?

–Sim...

– De verdade?

– Sim!

Credo, como você canta mal. – riu.

– Ora seu...

O ladino perdeu a linha e tentou avançar no moreno, apenas empurra-lo ou dar um soco, só que não esperava por esse comentário de Gold, mas também não esperasse que o mesmo deslizasse para o lado. Num impulso tentou segura-lo, mas sua mão sem a luva conseguiu agarrar seu braço. Estavam num galho a três metros de altura do chão, mas antes de toca-lo, Silver conseguiu agarrar com a mão livre o ultimo galho que permitiu que os dois não sofressem um acidente.

– Aaarh!– gritou de dor.

S-Silver...!– o estomago de Gold congelou quando pensou que cairia com a cabeça direto no solo, mas sentiu seu braço ser segurado bruscamente.

Arcanine que estava o tempo todo em baixo do carvalho pôs-se debaixo dos dois. O moreno de olhos dourados olhou para cima para ver Silver fazendo esforço maior para segura-lo de mau jeito. A mão deslizava e segurava o tecido do casaco para até então ceder a outra que sustentavam os dois. Ambos caíram em seguida encima das costas do gigante Pokémon com uma grande quantidade de neve que caia ao mesmo tempo do carvalho.

Aaai!– reclamou o pokecarer empurrando o corpo do ladino de cima de si. - Isso doeu! Valeu mesmo amigão, você salvou a gente!– disse para o Pokémon de fogo que não demonstrou reação.

O ruivo pôs-se deitado com um gemido abafado que foi notado pelo moreno.

– Mas que coisa Silver! Tinha que ter feito isso?

– Eu que tinha que ter feito? Gold! Isso não teria acontecido se você não tivesse me procurado!

– Eu vim te procurar porque me pediram, e te acho e você joga a gente de cima de uma arvore de uns cinco metros.

– Eu joguei? Você que veio com as suas piadinhas idiotas e se desequilibra. Nem era para você estar aqui e muito menos naquele galho!

– Se eu estava naquele galho foi porque você subiu nele e nem quis ouvir o que eu queria falar.

– Pois fale o que quer e vá embora!

– Embora? Depois de tudo que eu já andei?

– Vá embora, Gold!

– Não sem você!

– Afinal, por que você quer tanto que eu vá?

– Porque me pediram! Acha mesmo que eu viria por conta própria?

O grande Pokémon rugiu irritado com a discussão dos dois treinadores. A ultima frase de Gold mexeu com o sentimento do ruivo.

Sim, acabara de confirmar, apenas Blue se importava com ele, e mais ninguém daquele lugar. Mas agora, nem ela parece se importar mais com ele.

Blue sempre teve uma ótima personalidade, sempre soube conversar e se dar bem com outras e todas as pessoas. Diferente dele. Muito diferente...

O que era aquele sentimento que sentiu por alguns segundos quando Gold disse sobre a música? A sua música? Sua e de Blue? Canta mal... É. Ele sempre cantara assim junto com Blue, e ela nunca reclamou ou disse algo como aquilo.

Gold era diferente, ele nunca entenderia o significado da música, ele é totalmente um intruso em relação aos dois.

Silver?– perguntou, o ruivo pareceu mais triste que o habitual. O moreno começava a se lembrar das coisas que acabara de dizer até que ele se vira de costas para si. - Ei Silver. Fala...

– O que eu deveria falar?–disse friamente. - Vá embora, e nunca mais me procure.

– Espera ai Silver. Foi só uma brincadeira...!

– Uma brincadeira que eu não pedi! Vá embora ou eu mesmo saio daqui.

– Ah, qual é... Você-

– Fique aqui então, eu saio.

O ruivo fez menção de se levantar, mas o moreno puxou pelos braços o fazendo arquear a coluna de dor.

– Sil... O que aconteceu?

– Para! - grita. - Para Gold...

– Sil... O seu braço. Ta tudo bem?

– Eu... Acho que desloquei meus ombros...– Disse recuando do contato de Gold corando.

– Sil, espera. Calma, por favor.

Gold se levantou e sentou-se em sua frente pegando as duas mãos do ruivo.

– Você se machucou tentando me salvar Silver. - Abaixou a cabeça encabulado. - Eu te devo um obrigado e desculpas, não é?

O ruivo virou a cabeça. A dor nos dois braços incomodava bastante. Esforçava-se para não evidenciar mais. - Ah... Deve estar doendo muito. Foi mau ai Silv. - ele junta a palma das mãos de modo de perdão.

– Não tem nada Gold. Vá para a cidade, eu não irei voltar.

– Por que não? Ta todo mundo querendo que você volte e logo agora que você está machucado. Mas espera, eu sei o que fazer.

Silver observou Gold vasculhar por dentro de seus bolsos e casaco, retirou se cachecol o pos encima do chão coberto de neve. Colocou uma super poção Pokémon apoiada nos joelhos e ataduras e curativos para Pokémons assim como algumas revistas.

– Por que você carrega tudo isso?

– Ora, porque sou um criador Pokémon. Eu sempre estou com isso tudo caso aconteça algo.

– Eu não vou tomar remédio para Pokémon, Gold.

– Relaxa. Tem o mesmo efeito com pessoas, eu mesmo uso às vezes.

– Gold... Não inventa. – disse sério.

– Sério. Você deve ter deslocado os ombros. Se eu conseguir dar um jeito, é só passar a pomada e fazer uma tipoia com uma compressa de gelo, nesse caso, uma compressa de neve. - O moreno fazia o que falava, pegou neve e jogou encima do cachecol. Dava para ver o desconforto de estar com o pescoço ao frio. – Seria melhor se você se deitasse.

– Eu já falei que-

– Você está irritado comigo por causa do que eu disse, não? - Gold o interrompe em tom neutro. - Se for isso, foi mal... Ta?

– Gold... – O ruivo foi pego de surpresa, seu rosto começava a corar, era a primeira vez que o olhava dessa forma.

– Você nem canta mal assim, foi brincadeira minha. Tá...? Me desculpa mesmo se você não gostou, não queria te deixar mal por isso.

– Ta... Tudo bem. - virou o rosto. Ainda estava chateado com o que o moreno disse algo e dentro de si falava para desculpa-lo, pois será preciso da ajuda dele para sair daquela floresta.

Você tem neve nos cabelos. - Gold riu apontando para sua própria cabeça indicando o local.

– Unf. – Desde que os dois caíram, derrubaram toda a neve acumulada dos galhos da arvore.

– Ah Silv...– Disse puxando manhosamente o i de seu nome. - Bora, deixa eu te ajudar.

– Eu sei como colocar no lugar sozinho.

– Então deixa eu te ajudar. Po.

– Então fique a dois metros de distancia de mim. Estará ajudando muito.

– Ah Silv. Qual é, não seja tão rabugento.

– Então faça o que tem que fazer.– Falou depois de uma longa pausa no diálogo dos dois.

– Sim! Tem você como deitar no chão? Sua roupa vai ficar um pouco suja, mas dá pra limpar depois e...

Gold percebeu o quão diferentes eram suas roupas, olhou para o casaco negro de Silver e como ele tinha algumas partes da costura soltando ou buracos, tinha o aspecto bem desgastado, a mesma coisa de sua calça, enquanto vestia uma roupa nova de frio que ganhara de presente de sua mãe, Silver ainda usava as únicas roupas que possuía, ano pôs ano sem ganhar roupas novas de ninguém.

Ah...

– O que foi?– indagou.

– Nada...! Nadinha. Tem como deitar? Você consegue?

Dito e feito, Gold ofereceu sua mochila para travesseiro, melhor do que a raiz dura da arvores que ambos continuavam debaixo. Relaxado um pouco, Silver esticou as pernas.

– Assim está bem? Foi só um jeito...

– Está ótimo! Acho que consigo fazer isso.

Arcanine até o momento observava os dois zelando pela segurança dos mesmos. Nenhum Pokémon selvagem atreveria se aproximar com um fortíssimo Pokémon, o pequeno e inaudível suspiro de Silver não passou despercebido pelo canzarrão de fogo, assim como os gritos abafados de dor que tentava segurar com a técnica de Gold de colocar o braço de Silver no lugar, ouvia junto com a voz do ruivo gritando para o moreno ir embora, ouvia tudo pacientemente como um leal Pokémon.

Cansado, já com gelo dentro de seu casaco derretendo e molhando geladamente seus ombros, Silver empurra com a mão descoberta Gold para o lado.

Chega! Já disse isso mil vezes!

– Ah fala sério. Eu tento te ajudar e você me trata assim! Olhe seus braços até estão curados, já consegue até me bater.

– Era o que eu deveria estar fazendo se não estivessem doloridos!

– Pode vir então...!

O gigante Pokémon de fogo interrompe a conversa num grosso latido, as atenções dos dois voltam para Arcanine. O ruivo se levanta.

– Silver, fica no pelo de Arcanine, ele é quentinho... - Ah! Qual é Silver!! –gritou.

Num salto Silver volta para o mesmo galho que estava ignorando o moreno.

– Por que você é sempre assim!?

Gold observava o ruivo ignora-lo sentado no galho com uma das pernas dobradas e a outra balançando.

– O que foi? Por que me ignora? Eu não vou subir de novo, é doido...

Silver agradeceu mentalmente pela decisão tomada, finalmente teria paz.

– Por que você insiste tanto ficar sozinho sendo que tem gente que insiste tanto em ficar com você?

– O que?- Silver parou de balançar a perna e olhou para baixo, não ouvira direito.

– Ah, agora você fala alguma coisa, é?...

– O que você disse? Antes.

– Por que você quer tanto ficar sozinho enquanto tem gente que quer ficar perto de você?- disse soletrando palavra por palavra em tom alto

– E quem seria?

– Zé Mané, se seu QI fosse tão baixo quanto um Slowpoke eu teria que dar três berries por dia!

– Idiota!

– Chato! ... Cansei! Se você quer ficar sozinho então, fique!

Gold se virou e falou para Arcanine segui-lo. Alguns passos depois daquela arvore um barulho chama atenção para trás. Silver desceu do carvalho em um salto, nem parecia que minutos atrás tinha os dois ombros deslocados.

Você me chamou de Silv...

– Silv...? Ah, é... Um apelido. Só um apelido mesmo.

– Por que você me chama assim?– disse em um tom baixo.

– Ah não, não.– balançou as mãos - É só um apelido mesmo, de seu nome e, se quiser eu não te chamo mais.

– Não... Eu gosto.

Gold fingiu não ver as bochechas de o ruivo corar. Ele não sabia que Silver não estava acostumado com apelidos, Silver para ele era uma pessoa totalmente o oposto que foi criado e como era. Seus mundos eram completamente diferentes.

...

Flocos de neve começaram a cai lentamente do céu, o frio sempre foi uma data marcante para Silver. Era a estação que nascera. O céu cinza combinava com seus olhos e nome. Uma cor fria, mas Silver não era apenas uma cor, era um metal precioso, tão precioso como era ouro, Gold.

Ele não queria ficar sozinho, ele não estava formando isso. Por que ele sentia-se tão bem e tão mal na presença de Gold?

Depois daquilo, resolveram caminhar pela floresta, escolheram uma arvore que dava para escalar e ficaram os dois sentados no galho de arvore, dessa vez cada um sentado no seu.

Silver desabafou, disse tudo sem abreviações ou metáforas. Foi a “primeira” longa conversa que os dois já tiveram. Do resto do ano que passou, várias coisas aconteceram. Encontros de desencontros, momentos que tiveram que cooperar juntos. E tambem fora criado longe de diversão, apegos e apelidos. Até mesmo depois de sair das mãos de Máscara do Gelo, o ruivo se viu obrigado a obedecer aos planos de Lance para alcançar seus ideais de vingança.
Silver mais falava e Gold mais ouvia, sempre tentando não responder com um “entendo” ou “sei como é isso” e até mesmo frases clichês demais para se responder.

Gold ouvia tudo que Silver dizia, até mesmo não compreendendo certos assuntos, mas viu que a maneira o qual foi criado e aprendeu desde cedo a obedecer a ordens era assustador. Nunca pensaria que ele e Blue tivessem passar por isso.

Diferente do ruivo, Gold cresceu com sua mãe e com a presença de vários Pokémons ao seu redor, tinha amigos e colegas e sempre era o melhor na escola.

Melhor voltarmos. Os olhos prateados subiram para observar entre as arvores o céu que se tingia de cinza grafite.

– Sim! Você vem?

– Se era isso que você tanto queria esse tempo todo...

– Também.

Os dois desceram da arvore e Gold disse.

– Ei, também tem outra coisa que... É... - Parou olhando o ruivo nos pés

– O que foi?– Olhou para sua calça e sapatos, nada de anormal.

– É isso aqui.

Gold retirou de seu bolso um pedaço de pano preto velho e queimado numa parte. Silver reconheceu na hora.

– É a minha luva...–retirou sua mão do bolso, ganhara essa mania desde que perdeu o outro par no primeiro encontro dos dois.

Eu tive uma ajudinha de Arcanine para te farejar, já que você não estava em nenhum canto da cidade... Desde aquele dia ela ainda tem o seu cheiro.

– Incrível...

– Eu acho que esta na hora de devolver ao verdadeiro dono.– ele estende a mão para Silver pegar, o seu impulso era de puxar a luva de volta, mas se conteve entregando-a ao ruivo.

Analisando de perto, ela tinha a maior parte das costas da mão queimadas, as pontas dos dedos estavam raladas e uma delas furadas, mas em seu interior ainda estava intacto o nome "SILVER" bordado. Era uma coisa pessoal, ter todas as suas coisas com o seu nome nelas.

– Foi assim que eu soube de seu nome. - comentou.

– Aquele dia no laboratório, bela maneira de se conhecer.

– É– riu.

Silver tentou usar a luva, mas ela não servia de muita coisa. Guardou-a no bolso.

– Temos que voltar logo, logo logo escurece e aqui pode ficar perigoso.

– Sim! Ah Silver. Você até poderia fazer uma coisa antes?

– Fale

– Er... É que.

– Fala.

– Você poderia... É...

– Gold! - disse se irritando.

– Tá, tá... Ta bom. Você poderia cantar a música?

Hã?

– Cantar ela, poxa.

– Eu...– O ruivo corou, muito. Gold sempre inventava coisas

– Canta ela Silv. Quero ouvir.

– Nem pensar.

– Eu juro que não vou rir, e não vou fazer nada.

– Vamos Gold, está escurecendo.

– Ah por favooor. Só rapidinho, eu quero ouvir.

Um longo suspiro seguido por um não foi dado por Silver.

– Eu prometo que não vou te pedir mais nada.

– Ta, ta... Se você rir eu não canto mais.

– Prometido!

Demorou um tempo para o moreno convence-lo a cantar, estava muito envergonhado de cantar assim diretamente para Gold. Quando tentava começar a cantar a cara de Gold o desconcentrava.

Mas uma hora ou outra teria que sair, desde o inicio.

“Muito tempo passou e o fulgor da lareira, na memória ficou disso eu sempre me lembro...”

Por que abaixara a cabeça antes de terminar? Ainda faltava um trecho que só ele conhecia. Era a primeira vez que cantava essa música para uma pessoa, sempre era a Blue que cantava para ele mesmo usando máscara, e agora cantava para Gold.

Dessa vez foi diferente, a pausa para ultima parte levou alguns instantes. Um sentimento apareceu em seu peito e no meio do rosto. O que seria? Acabara de compartilhar sua vida com Gold e agora cantava para ele. Esse sentimento e essas lágrimas que umedeciam seus cílios.

“E a canção de alguém... Foi no mês de dezembro...”.

Levantou a cabeça e continuou de olhos fechados, por alguma razão as lágrimas não caíram.

Incrível... – Disse de boca aberta. O ruivo apenas corou – É magnifica, você sabe o nome dela?

– Não.

– Nem da onde vem essa música? Ela é perfeita!

– Não, a Blue cantava para mim desde que eu era pequeno.

Foram-se momentos em silencio. Silver discretamente enxugou as lágrimas na mão com a luva.

Vamos logo, se ficar muito tarde vai ser ruim para a gente.

– É, e frio também. Não sei se Mantaro vai querer voar com esse frio.

– Howchkrow também, não sei se ele irá gostar.

– Vamos indo então! Quando chegar na casa da Dayse quero comer um delicioso e suculento peru de natal. – Disse enlambuzando os lábios imaginando o sabor da comida, Gold olhou que Silver ficou um pouco receoso. – O que foi?

– Não sei se quero ir para lá...

– Por causa da Blue? – não houve respostas por parte do ruivo – Vamos lá, aposto que você irá gostar.

–...

– Vamos.

Gold estendeu a mão esquerda para o ruivo, precisou o mesmo olhar a mão e os olhos dourados para retirar sua mão que não tinha a luva do bolso e segurar a do moreno.

– Blue não se esqueceu de você, seu boboca. Ela que me chamou para te procurar.

– Então porque ela mesma não veio me procurar?

– Por que ela estava muito... Ocupada. E não é o que você está pensando.

– E no que eu estaria pensando?

– Que era por causa do Green, mané.

– Hm...

– E eu me esqueci de uma coisa. – Piscou, depois de um tempo Silver pergunta.

– O que?

– Que hoje é o seu aniversário.

Silver travou. Quase se esqueceu de que hoje era a data de seu aniversário. Foram 12 anos sem comemorar ou se importar com festa ou cerimônia.
Apenas Blue sabia que hoje era o dia de seu nascimento. E se Gold sabia disso ela...

Vamos logo, ta escurecendo.

Silver esboçou um sorriso terno e apertou a mão dada de volta.

Nesse ano não ficará sozinho.

Nesse ano não passará essa data só.

E nesse ano, não será como os anteriores.

Nesse dia não irá cantar sozinho.

Nesse caminho não voltará de mão no bolso.

Nesse dia não...

Nesse momento agradeceu por Gold ser tão teimoso, mas não disse em voz alta.

Agora terá a certeza que pela segunda vez não ficará sozinho. Não enquanto Gold o perturbar.

E no final, seus amigos aprenderam que Gold é péssimo em guardar segredos. Estragou a festa surpresa de aniversário de Silver.


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Notas finais do capítulo

Silveeeeeeeer ♥ Meu amorzinho. Presentinho de aniversário para o meu personagem favorito.
Sim, a música que ele canta é de Anastácia, música bonita para caramba.
Eai, gostou da fic? Favorite ou deixe um review. ♥



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