A Dama, O Rei e O Cavaleiro escrita por XxSAYURIxX


Capítulo 1
A Dama, O Rei e O Cavaleiro


Notas iniciais do capítulo

Confesso que foi difícil para mim escrever sobre Naruto, depois do final deste (do qual, na minha opinião, só se salvou mesmo é ShikaTema). Porém, também fazia tempo que eu não gostava tanto de uma obra minha como gostei de escrever esta.

Lulyts, é tudo pra você! Espero que você goste! ♥



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Pensei que finalmente teríamos paz. Ledo engano – esperançoso – esse, o meu. Um ou dois anos, no máximo, e já surgia um novo confronto de grandes proporções invadindo nossas vidas. Dessa vez, uma guerra de interesses políticos e territoriais entre a Vila da Folha e a Vila da Nuvem. Guerra; infelizmente é algo que nunca terá fim, tal qual a ambição humana. De fato, que utopia desejar a paz em um mundo como esse.

E lá estava eu, novamente, em campo de batalha. Porém, dessa vez, o fardo que eu carregava era bem mais pesado. Uma responsabilidade diferente. E eu admirei ainda mais meu pai e meu sensei [1] ao me dar conta disso. Me recordo que mesmo em momentos assim, eles sempre mantinham a costumeira calma e confiança. Será que eu era capaz de fazer o mesmo, com os flashes da minha Temari com nosso Shikadai rodeando minha mente e angustiando meu coração? O peso que eu carregava comigo agora era...indescritível.

Eu queria e iria protegê-los nem que isso custasse a minha própria vida; mas também sentia aquela vontade insana de sobreviver, de poder voltar pra junto deles...para a minha família. Será que Kami-sama [2] me concederia essa graça? Quantos pais não tiveram a mesma sorte? O meu não teve...nem Asuma-sensei, nem Inochi-san.

A batalha começou. O medo e a insegurança tomaram posse do meu peito. Foi quando lembrei de já ter sentido aquela sensação...há alguns anos atrás, na época do meu exame chuunin. Um vento forte chacoalhou as copas das árvores e – por um momento – jurei que ela apareceria ali, como daquela vez, para me salvar; me dar aquele sorriso que só ela tinha e me dizer que estava tudo bem. Quantas vezes ela já me salvou, afinal? Acabara de fazer isso mais uma vez.

Sim; Sabaku no Temari era minha mulher. Dentre todos os homens, aquela mulher forte e poderosa me escolheu para ser o pai do seu filho. Eu não posso fraquejar. Ela nunca fraquejaria.

Eu nunca tive o desejo de me tornar mais forte. Sempre considerei isso problemático demais pro meu gosto. Contudo, desde que eu a conhecera, parecia que um propósito se formava dentro de mim, gradualmente. Se sou o que sou hoje – conselheiro pessoal do Hokage e estrategista chefe de Konoha – eu sou por causa dela.

– Agora, Naruto! – esquivando-me e abatendo alguns inimigos pelo caminho consegui chegar ao ponto certo e indiquei a hora do ataque para o Hokage assim que minhas sombras conseguiram alcançar os inimigos. Eles eram muitos! Por sorte, eu conseguira prender um grupo grande.

– Okay!!! – com o rasengan em punho, o Uzumaki acertou em cheio o aglomerado de shinobis, lançando-os para longe.

– Vamos, mais uma vez!

– Pode apostar, Shikamaru!

Aquela técnica era nossa única saída devido à avassaladora desvantagem numérica. Novamente, como em todas as ocasiões desse tipo, aquele Uchiha maldito não estava lá para ajudar em porcaria nenhuma! Sinceramente, não sei como a Ino ainda...

– Vai! – interrompi meu praguejar diante de uma nova situação oportuna. Naruto já se lançava rumo ao novo grupo de capturados quando eu ouvi a voz de Chouji, ao longe.

– Shikamaru! Atrás de você!

Shikusô [3]! O que eu faria agora?! Se eu me virasse, anularia meu jutsu e Naruto com certeza não escaparia de uma morte certa, perfurado pelas katanas do inimigo. Mas...mas se eu não fizesse isso...eu...

“Gomenasai [4], Temari...”. Fechei os olhos em segundos que duraram uma eternidade. Senti a ponta da espada me tocar as costas, perfurando a carne lentamente. Sequer consegui emitir algum som de dor; a que eu sentia no coração superava em muito a do desfalecer do corpo.

Nesse momento, mais do que nunca, eu compreendo as palavras de Asuma-sensei, naquele jogo de shogi [5]. Porém, no meu caso, creio que a vida se assemelhasse mais a um tabuleiro de xadrez. Nesse estratagema, eu era o cavalo. O cavaleiro que protegeria a todo o custo o rei e a dama. Meu Shikadai. Minha Temari. Engraçado imaginar isso num momento como esse...Temari era – de fato – uma princesa. Mas nunca que seria como aquelas dos contos de fada, esperando pelo resgate de um nobre cavaleiro. Me peguei sorrindo. Minha rainha, minha dama.

Dama, eu sou seu cavaleiro em armadura brilhante e eu te amo.

Você fez de mim o que eu sou, e eu sou seu.

Meu amor, há tantas formas com as quais eu queria dizer, eu te amo.

Deixe-me segurá-la em meus braços para sempre e um pouco mais.

Minha visão se esvaía, numa descida decadente ao chão. O impacto de meu corpo no solo levantou uma leve poeira – realçada a cada respiração minha – naquela visão entorpecida. Minha face direita colada ao chão, numa mescla de barro e sangue. O som abafado de gritos, vozes misturadas. Meu corpo pesava. E tudo escureceu. Podia sentir a fina e fria mortalha me envolver aos poucos. Seria esse o abraço da morte?

Aos poucos, uma pequena luz foi tomando conta da minha mente. Um campo florido, na saída de Konoha, próximo aos portões. Aquele lugar...

– Você se gaba demais por causa daquilo. Ah, mulheres são...

– Se qualquer coisa acontecer de novo, nós vamos ajudar. Tá ok, bebê chorão? – se despediu com um singelo e raro sorriso no rosto, como se me dissesse que aquilo não seria um “adeus”, mas apenas um “até logo”; e se virou rumo à Suna, com seus irmãos.

Naquele fim de tarde, no momento em que cruzei meu olhar com o dela pela derradeira vez, eu já sabia. O vento soprou, faceiro, numa melodia harmônica com o tilintar das folhas embaladas pelo mesmo, num ritmo perfeito com as batidas de um coração que acabara de despertar, afoito, de um sono profundo e tranquilo...esse coração...o meu.

Você se foi e me fez um idiota.

Eu estou perdido no seu amor.

E oh, garota, nós fomos feitos um para o outro.

Não acredita na minha canção?

Desde pequeno eu quis entender o meu pai. Por que ele se sujeitava a viver daquele jeito, aos trancos e barrancos? Mulheres eram assustadoras e – deveras – problemáticas. Se tem uma coisa da qual eu tinha certeza é que eu queria distância delas!

– Um dia você vai entender, Shikamaru. Até a mulher mais rude é gentil para com o homem que ela ama. – dizia ele, pra logo depois ser acertado por uma frigideira, com minha mãe reclamando de que ele não lavara a louça.

Por todos esses anos, eu esperei por uma resposta. Uma resposta que me fizesse entender as palavras de meu pai. Cheguei a me questionar se algum dia eu iria encontrá-la. E não é que eu a encontrei? Justo no lugar mais improvável, numa arena de batalha, de um exame chuunin. Em expedientes de trabalho corriqueiros como guia da representante de Suna em Konoha. Com uma mulher ainda mais assustadora e problemática do que minha mãe?!

Aquele laço terno, tenro. Foi sendo formado pouco a pouco, em troca de olhares, troca de sorrisos e confidências. Um sentimento que brotou tão espontâneo; tão natural, como o ciclo dos rios ao desaguarem no mar. Eu fui sendo envolvido sem nem ao menos perceber. Até não conseguir mais viver longe dela.

Lembro-me bem do leve rubor em suas bochechas quando eu lhe propus matrimônio. E quando ela adentrou a cerimônia, ainda mais linda do que o de costume – em meio à multidão – eu me recordo fielmente dos detalhes; eu não conseguia tirar meus olhos dela. A pele refletindo de leve o dourado do sol de Sunagakure, enaltecendo o brilho daqueles cabelos loiros, toda adornada em ouro, vestida de branco. Seus olhos de esmeralda reluziam ainda mais no meio de toda aquela luz, que parecia sair da alma daquela mulher.

Minha vida nunca mais foi a mesma. Descobri o quão mais interessante poderia ser me deitar em um colchão, perdido nos lençóis, no cheiro, nos beijos, nos olhos de Temari. Os corpos suados, se roçando, sinuosos. Ah, como eu amava quando ela se sentava sobre mim, com a mesma majestade que a de uma rainha em seu trono. Aquelas pernas, firmes, macias, presas às laterais da minha cintura. Eu as acariciava como se quisesse devorá-las com as mãos. Minhas noites eram mais sonho e meus sonhos tinham mais cor.

– Já passou das oito da manhã, Shikamaru!!! Levanta logo daí antes que eu te derrube dessa cama!!

A parte “ruim” era acordar com aquele grito amável ecoando pelo quarto. Mas ah, eu já estava acostumado com isso desde criança. Tantos anos sendo acordado pela dona Yoshino...se eu não tinha ficado surdo até agora, eu não ficaria mais.

E então fomos presenteados com nosso pequeno Shikadai. E eu pude vislumbrar mais uma das incríveis facetas de Temari. A de mãe. Uma leoa ainda mais feroz que o de costume. Uma flor ainda mais delicada e bela. Uma suavidade serena como nunca antes pensei poder presenciar.

Acorda...preguiçoso. – ela agora me sussurrava aos pés do ouvido, toda manhã. Com meu filho, ganhei também o privilégio de ouvir o sussurro de Sabaku no Temari. E eu aproveitaria cada segundo para guardar aquele som em minha memória, pois já sabia que aquela regalia não era permanente. Mas eu ainda teria tempo o bastante até Shikadai crescer...

Nossa rotina havia mudado, nossas vidas haviam mudado, de novo. E mais do que nunca eu me sentia vivo! Mais do que algum dia eu pude imaginar, eu desejei estar vivo. Agradecia a Deus todas as noites em que chegava em casa e podia ver o sorriso daqueles dois. Como eu era grato por abraçá-los. Ficar deitado com eles, seja para uma soneca, seja para contar uma nova história a Shikadai, ou durante os cochilos desse, aproveitar para admirar e cuidar da minha mulher.

Dama, por tantos anos eu pensei que nunca te encontraria.

Você chegou em minha vida e me fez completo.

Oh, eternamente, me deixe assistir o seu despertar em cada e toda manhã.

Deixe-me ouvir o seu sussurro suave em meu ouvido.

Em meus olhos, eu não vejo ninguém mais a não ser você.

Não existe outro amor como o nosso amor.

E sim, oh sim, eu vou sempre querer você perto de mim.

Eu te esperei por tanto tempo.

Perdi as contas de quantas horas já fiquei contemplando o semblante plácido de meu filho, adormecido. E quantas vezes, olhando no fundo daqueles olhos verdes tão puros e cândidos, eu temi pelo futuro. Eu era um shinobi. Mas antes de tudo, eu era um pai, um esposo, um homem...um Nara que passou – com o tempo – a enxergar mais do que apenas nuvens, ao observar o céu.

Asuma-sensei...Tou-san [6]...quando chegar a minha hora de reencontrar vocês...será que eu conseguirei ver daí o reflexo dos sorrisos do meu rei e da minha dama estampados nesse azul esverdeado, tal qual eu vejo agora? Do fundo do meu coração, eu queria acreditar que sim.

E essa hora havia chegado. Fechei meus olhos – marejados – na esperança de levar comigo qualquer resquício de lembrança. Qualquer abraço. Qualquer olhar. Qualquer sorriso.

Uma luz intensa se abria diante de mim. Aos poucos meus olhos se acostumaram à claridade. Uma brisa leve acariciou meu rosto. Onde eu estava?

– Shi-Shikamaru!!! Você acordou!! – Temari, aos prantos, segurava a minha mão entre as dela – Ahm...até que enfim, não é?! Até nessas horas você tem que ser o preguiçoso de sempre! – tentava se recompor, enxugando as lágrimas.

– O que...o que aconteceu? – tentei me sentar, mas acabei caindo deitado à posição inicial devido à dor intensa em meu abdômen.

– Você foi atingido durante a luta. Uma espada praticamente te atravessou de um lado ao outro. – me informou dos detalhes, como se falasse de algo trivial como o cardápio do café da manhã.

– Ah...obrigado pela bela descrição... – resmunguei, baixinho.

– Sakura disse que...você tinha poucas chances. Você ficou entre...entre a vida e a morte. – e então parecia que as lágrimas queriam tomar o controle de seus olhos novamente – Seu idiota! Por que não me disse dessa missão?! Pra eu não ir junto?! Queria o quê?! Morrer?! E nem me venha com essa de dizer que quis me proteger! E eu lá sou mulher de ficar me protegendo atrás de um homem?!

– Yare, yare [7]...onde está Shikadai?

– Deixei ele com a Ino.

Sim, tudo realmente se encaixa. Ino e Chouji...meus “irmãos”, os bispos que ajudam a proteger o rei e a dama. Naruto, Gaara e os outros hokages, as torres de alicerce desse reino. E todos os demais, meus amigos, nossas famílias...os peões, guerreiros de valor, dispostos a lutar ao meu lado. Temari, minha rainha. Eu, o rei? Não. Eu, assim como Asuma-sensei, sou apenas um cavalo de guerra. O cavaleiro cuja missão é proteger a dama e seu rei: Shikadai.

– Sabe, Temari...eu queria muito que você soubesse de uma coisa..

– ....?

– Eu sei que o seu lugar não é atrás de mim, muito menos é na minha frente. Do meu lado...é onde eu quero que você esteja. E é por isso mesmo...que eu tenho que te proteger.

– Shika-....

– Eu finalmente percebi. Você é minha dama...se algum dia algo acontecer à esse cavaleiro, será sua a missão de proteger o rei.

Dama, seu amor é o único amor do qual preciso.

E ao meu lado é onde eu quero que você esteja.

Porque, meu amor, tem algo que eu quero que você saiba.

Você é o amor da minha vida; você é minha dama.

– ...você... – eu olhava no fundo dos olhos dela, que tremiam, marejados – Seu imbecil! – deu-me um tapa no peito, me fazendo arfar de dor propositadamente – Não venha querer colocar a responsabilidade toda em cima de mim! Não sou esse tipo de dama. Um cavaleiro meu nunca seria derrotado desse jeito! Eu nunca permitiria! Eu..eu não permito! – me abraçou, recostando sua face lado à minha – Nós vamos sempre lutar juntos pelo rei. Juntos...eu te amo... – sussurrou no meu ouvido, afastando-se para me encarar – E que tipo de rainha seria eu em deixar um cavaleiro meu ser derrotado como um bebê chorão, hein!? – forçou, de leve, uma das mãos no meu ferimento, com o mesmo semblante jocoso de sempre.

Fingi que estava tendo um ataque com aquela “tortura” dela. Ela voltou a ficar chorosa. Fiquei com pena e disse que estava brincando. Daí sim, quase chorei de dor. Ah, como era bom estar de volta. Suspirei, aliviado. Ao menos dessa vez, ao final da partida, todas as peças conseguiram voltar intactas para a caixa.


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Notas finais do capítulo

=GLOSSÁRIO=

[1]Sensei: Professor
[2]Kami-sama: Deus
[3]Shikusô: Droga/Merda
[4]Gomenasai: Me Desculpe
[5]Shogi: Jogo semelhante ao xadrez, típico do Japão.
[6]Tou-san: Pai
[7]Yare, yare: algo como "calma, calma"

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Espero por vocês nos reviews! ♥