Avatar: A Lenda de Thembi - Livro 1: Esperança escrita por MattFonseca


Capítulo 2
Capítulo 1: A neblina que antecede a alvorada




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04:49 A.M, ALGUM LUGAR NO MAR MEDITERRÂNEO.

O barco deslizava pela água com suavidade, mas em um ritmo rápido para um de seu porte. Talvez fosse trabalho de Tano, o homem que estava na proa do barco. Realizava movimentos suaves e bem definidos, tais como seus musculos, que se sobressaíam à pele morena e molhada de suor. Usava somente um short, apesar do frio que fazia, amarrado por uma curta corda. Deve ser por ficar horas controlando o mar, pensou Tupac, tem uma hora em que se consegue ignorar o frio.

Tupac também estava na proa, mas a uma distância respeitável do outro homem, que começara a esticar os dois braços para frente, unidos como uma lâmina, e os abria, impulsionando o barco mais e mais para frente. Incomodado com a demora, o homem saiu de seu transe e começou a caminhar pelo barco. O chão de madeira rangia a cada passo, a pequena cabine se abria na primeira porta à esquerda, e também a única. Lá dentro, estavam Akilah e Thembi, que pratica o seu inglês.

– Água. - Disse Akilah, em sua voz límpida e calma.

– Acuá. - Tentou Thembi, em uma visível falha de pronúncia.Como Tupac, Akilah e Tano haviam saído de Madagascar antes de Thembi, eles já mantinham uma boa prática no inglês, porém não perfeita. Olhando em volta, o líder viu que as camas improvisadas no chão já estavam arrumadas, os cobertores bem dobrados e os travesseiros em uma pilha mais ao canto. A cabine não devia ter mais do que quatro metros quadrados.

Arrancado de seus pensamentos pela risada de Akilah, o homem piscou em sua direção, notando suas semelhanças. Ela tinha os mesmos olhos amendoados, a cor de sua pele era mais clara que a de Tupac, mas ainda sim era morena, com seus longos cabelos negros e bem penteados que faziam inveja em muitas mulheres. Ele se pegou sorrindo e logo desfez o gesto, olhando agora para o menino Avatar. A cabeça raspada, a mesma pele escura, os olhos da cor de um avelã claro, eles poderiam ser confundidos por irmãos, se não fosse pelos olhos. Os do homem parado à porta e da jovial mulher sentado à sua frente, eram negros, penetrantes e hipnotizadores. Mas não bastava ser bonito ou ter olhos da cor que fosse. Para Tupac, um Avatar precisava ser sábio, decisivo e poderoso. Ser necessário, se mostrar presente, manter o equilíbrio, e isso, aquele Avatar não fazia. No entanto, viria a fazer, Tupac gostaria de ser conhecido em sua tribo como aquele que ajudou a restaurar o equilíbrio, trazer glória e honra à sua família. Seria conhecido como Tupac, o Grande. Porém isso estava longe de acontecer, não tinha um plano cem por cento confiável de que qualquer coisa daria certo, nem ao menos sabia se conseguiriam chegar vivos ao litoral da Europa. Estava há dois dias viajando, partiram de Túnis, na Tunísia, às pressas, na tentativa de fugir dos Caçadores, felizmente conseguiram, mas não sabiam o que poderia acontecer aos que tinha encobrido a fuga.

Deixou esses pensamentos de lado e caminhou de volta à proa, pronto para perguntar quanto tempo levaria até chegar em terra firme. Até que ele próprio avistou. O Porto de Valência se abriu à, no mínimo, quatro quilômetros de distância, e o grande farol iluminava além disso. Se aproximando de Tano, este falou em sua grave e cansada voz do dialeto zulu.

– Chegaremos ao Porto, nessa velocidade, em no mínimo 30 minutos.

– Excelente, erga uma forte neblina ao nosso redor, e a extenda por mais alguns metros, para que não desconfiem. - Respondeu, também em seu grave idioma.

Tano parou seus movimentos, passou a mão na testa encharcada de suor e jogou todo o fluido no piso de madeira. Ele abriu as palmas das mãos, esticou os braços, enrigeceu os dedos e, aos poucos, foi erguendo as mãos, levantando uma grande quantidade de água do mar mediterrâneo. Com os braços acima de sua cabeça, ele bateu as duas palmas, transformando a água em um vapor denso, que dificultou a visão até mesmo deles para o Porto.

– Não se preocupe. - Assegurou Tano - Eu consigo saber onde estamos e quando estaremos perto do Porto o suficiente para desembarcar.

Então, ele pediu espaço, e voltou a jogar um braço de cada vez para frente, e voltar puxando, como um movimento de remo, para impulsionar o barco. Em algumas horas, interrompia o movimento e movimentava as mãos à sua frente, como se mexesse uma caldeira, para manter a densa neblina que os cobria.

Dando um meio sorriso, o outro homem se virou e rumou para à cabine.

– Estamos nos aproximando do Porto de Valência, fiquem em silêncio absoluto e preparados, não sabemos quando qualquer coisa pode dar errado.

Os dois dentro da cabine acenaram com a cabeça afirmativamente e se encostaram na parede, em silêncio. Voltando para a proa, o sujeito aguardou, sempre alerta.

De repente, Tano parou, levantou os braços e fechou os punhos, como se estivesse pegando uma guia invisível de um cavalo selvagem, e o barco parou abruptamente. Tupac colocou um pé na frente para não cair, fazendo um grande barulho na madeira. Tano olhou para trás, os olhos arregalados com o som, achando que poderia levantar alguma suspeita. O homem voltou a se concentrar em suas ondas, batendo-as no Porto com mais força, para encobrir o som dos outros três, que já estavam saltando do barco e indo para o chão de pedra de Valência.

Em terra firme, o Dobrador de água criou uma série de ondas, que viraram o barco, quebrando-o na parede de pedra que formava o Porto. Um grito ecoou do posto de vigia mais próximo, outro respondeu no Farol e o barulho de pessoas correndo para ver o que havia acontecido alertou a todos.

– Muito barulho, vamos embora! Aumente a neblina! - Exclamou Tupac, que guiou o grupo até uma rua pequena com casas de dois andares e muitas varandas. Tano, ficando mais para trás, encobriu o grupo e alargou a névoa, até que todos desapareceram na esquina.

Ao longe, o sol se erguia atrás da montanha, e na sua chegada, a neblina se foi.


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