On This Winter's Night escrita por Mile Mieko Chan


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Yeey, pessoal! Aqui está nosso especial de Natal desse ano e como sempre, ou quase sempre, extrapolei com o prazo (passaram 42 minutos...). Desculpem-me. Bem, a fanfiction é SasuSaku, InoSai, NaruHina, espero que gostem! (E para quem achou a cena NaruHina inacabada, aguardem o especial de fim de ano, que sai no próximo dia 30 de dezembro. Vai ser exclusivo desse casal.)Boa leitura! Deixem comentários e favoritos! Eu gosto muito deles!! ~Me deixam feliz. s2

Nota: Acho que o capítulo ficou um pouco com cara de episódio filler, peço desculpas aos que não gostam. Se quiserem, comentem sobre isso também.



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Encarava triste os ramos da cerejeira ornamental em sua janela. Permanecera viva e ilustre até os últimos dias, quando fungos a atacaram devido à umidade excessiva do inverno. Deixou que a jovem planta repousasse por algum tempo sob os fracos raios de sol, ocultos por nuvens claras após a rápida queda de neve noturna, mantendo certa esperança.

Ainda estava de pijama; sonolenta, abria a vidraça da cozinha, preparando uma xícara de leite quente. A porta a chamou.

—Ãhn... Naruto... – bocejou – É cedo, aconteceu alguma coisa?

— Parece cansada, Sakura-chan...

— Você acha? Bem, de qualquer jeito, não dormi bem à noite... Entre, por favor – deu-lhe passagem, esfregando os olhos levemente.

O loiro adentrou a casa impecavelmente organizada; observava o local, como se procurasse pelas palavras que gostaria de dizer.

— Err... Sakura-chan...

— Sim? – sua voz vinha da cozinha, de onde surgiu logo depois com duas xícaras fumegantes em mãos.

— É que o Natal tá chegando e...

— E...? – entregou-lhe uma porção da bebida e aconchegou-se no sofá.

— Eu chamei a Hinata pra sair... – um rubor violento tomou-lhe o rosto.

— Mas isso é ótimo! – contentou-se – O que há de tão mau nisso? – bebericou com calma.

— É que, na verdade, eu não a chamei para ir a algum lugar...

— Então onde... – foi interrompida.

— Minha casa... – deu um sorriso amarelo, fazendo-a engasgar.

— COMO ASSIM?!!

— Ah, qual é, Sakura-chan... Eu não ia levar a Hinata pro Ichiraku de novo, né?

— Ai, Naruto! A única diferença é que ao invés de comer macarrão num lugar decente, vocês vão estar no meio de uma pilha de lixo!

— Assim você me magoa, não precisava ser tão honesta assim... *snif snif*

— Bem... – suspirou, contendo uma explosão raivosa – Eu não tenho nada pra fazer mesmo...

— AAH!! OBRIGADO, OBRIGADO, OBRIGADO!! Sakura-chan, você é incrível!!

— E você é um sem jeito... – dizia em meio ao abraço desengonçado recebido inclusive pela caneca quente, quase vazia, que avermelhava sua pele clara.

— Mas e então? – disse quando finalmente liberta – Quando vai ser?

— Amanhã já é véspera de Natal. Os Hyuuga vão se reunir hoje à noite por causa de uns compromissos de família...

— Ah, é mesmo! O Neji e a Tenten estavam planejando uma viajem para amanhã.

— Nunca pensei que aquele cara pudesse gostar de alguém. Se liga, ele é quase pior que o Sasuke!

— É, - riu-se – tem razão...

— Bom, Sakura, eu tenho que ir agora – falava com um sorriso radiante – Preciso cuidar de umas plantas ainda hoje. E obrigado mais uma vez pela ajuda!

— Claro! Ahn... Por falar em plantas, será que poderia levar isto lá para baixo?

— Quer que eu jogue a cerejeira fora? Você gosta tanto dela...

— Está morrendo, não vai fazer diferença... – falava sem atenção, enquanto mantinha a mente ocupada com certos assuntos.

— Hum... Tudo bem. Até logo, Sakura-chan! – despediu-se com um abraço e deixou o cômodo apartamento.

O tilintar da tranca. A forma como suas costas deslizavam pela porta até que encontrasse o chão. Fechava-se, de cabeça baixa, encolhida ao carpete claro e pensando em quem não tinha tempo para pensar. Não percebera que o relógio já marcava as dez da manhã.

Apressou-se em tomar um banho e vestir-se para ir até o Correio de Konoha, que funcionaria apenas até o meio-dia. Após algum tempo de caminhada, as ruas ainda com um trânsito considerável de pessoas, passando pelas praças mais que decoradas devido a celebrações natalinas, conseguira chegar a tempo.

Enviou uma carta a seus pais, que residiam numa localidade mais distante, como de costume, e ainda, ao jovem Koi Ishikawa. Tinham se tornado muito próximos devido ao período que passou como um de seus pacientes no hospital. Voltara recentemente à Vila da Grama com a família para visitar seus avós. “Muito especial”, era como costumava defini-lo, dono de uma força de vontade inspiradora.

~*~

A pressa cobrou-lhe descanso. Decidiu por ir até as termas da vila, não porque precisasse de um banho, mas pelo ar agradável que se sentia sobre a ponte que cortava o rio em frente ao estabelecimento. Konoha inteira era assim. É um dos prazeres de se viver em um local arborizado.

Relaxou, sussurrando uma melodia branda, vendo as águas correrem e levarem com elas as organicidades que das margens se desprendiam. Os passos estalados na madeira levaram seus olhos de encontro ao moreno que passava.

— Sasuke-kun... – encarava-o surpresa por vê-lo fora de casa, despreocupado com qualquer festividade. Apresentava um olhar sereno, sem a expressão dura de sempre.

— Parece que quer dizer alguma coisa... – comentou sem demonstrar interesse, segundos depois.

— Não, é que... – fitou o chão, corriqueiramente sem jeito – Todos estão ocupados planejando algo para amanhã... É estranho ver alguém por aqui, as lojas estão fechadas – enfatizou o trecho vazio onde estavam.

— Pelo visto não sou o único a não ter o que fazer.

— Err... – olhou em volta o local onde estava sentada, a brisa diminuíra e realmente parecia uma tola apaixonada, pensando em nada, num lugar incomum para se estar em vésperas de feriado. Levantou-se, um pouco desequilibrada, desfazendo as dobras do simples vestido branco e apanhando sua bolsa de tecido escuro ao lado.

— Se procura por descanso, é um bom lugar, mas não há tantas correntes a essa hora do dia – examinava a paisagem, com as mãos nos bolsos.

Não se sentia muito útil estando ali. “Dificilmente ele falaria mais alguma coisa...”, portanto, resolveu voltar para casa.

— Bem... Até logo, Sasuke-kun... – distanciou-se após uma última olhada recíproca em seu rosto, com certa pressa, pelo caminho de madeira.

— Sakura – dirigiu-lhe palavras instantes depois. Virou-se – Vai fazer alguma coisa amanhã à noite? – indagou sem mudar de expressão, deixando-a mais que confusa com a pergunta, mas não desmerecendo resposta.

— Bem, eu... Eu não faço ideia. Provavelmente passarei a noite em casa...

— Hum... Tudo bem. Melhor ir, deve ter seus afazeres.

— V... – quase perguntou o que pensava, porém o giro súbito e o ato de ir embora a deixaram com um ar de constrangimento, seguindo o mesmo gesto, indo para lados opostos.

~*~

Largou a bolsa num canto da sala, livrando-se dos pequenos saltos e do vestido para trocá-los por roupas mais leves. A casa estava organizada, era verdade, mas controlar a poeira trazida do lado de fora não era algo a seu alcance.

À medida que limpava, aproveitava para mudar os móveis de lugar. No geral, uma mudança sempre caía bem. Afastou o sofá da janela deixando-o à meia-penumbra no centro da sala. O tapete ficaria atrás dele e ao seu lado uma mesinha envernizada e vazia, pois era onde deveria ficar sua pequena amante de pétalas cor-de-rosa.

Perpendicularmente ao canapé, deixou sua poltrona macia e idosamente confortável, próxima à qual estava um abajur alto e com estampas orientais em sua parte tecidual. Repousos para vestes de chuva e quadros nas paredes e estava tudo do modo como queria, exceto pela empoeirada e velha caixa vermelha embaixo da escada.

— Como pude esquecer? – repreendeu-se em voz alta.

Um natal sem pinheiros soava um pouco incomum. Passou mais certo tempo dispondo todos os adornos da árvore ao lado da vidraça aberta, que já refletia as primeiras estrelas noturnas, terminando com todo o trabalho perto das seis.

Apanhou restos de arroz e peixe seco na geladeira. Não sentia tanta fome. Deixou a televisão ligada enquanto pendurava fios com pequenas luzes amarelas no corrimão e em trilhas superiores das paredes.

“Uma nova nevasca se aproxima”, dizia a climatologista, “sendo ou não precedida de precipitações moderadas...”.

— Não quero apostar na segunda parte... – comentou, descendo as escadas enquanto ouvia – O único casaco que tenho ainda está tentando secar lá fora... – pensava no tempo instável das últimas semanas, logo em Kohona, onde frentes frias não eram muito comuns.

Uma notícia sobre os envios feitos nas últimas vinte horas: todos seriam imediatamente entregues em um dia útil, para qualquer destino em um limite determinado de milhas. Ficou feliz em saber que enviara as cartas certas, às pessoas certas, que chegariam ao prazo certo. Ao menos naquele ano não teria que mandar um pedido de desculpas um mês depois por não terem recebido a tempo.

Desligou a TV e partiu para o rádio ao fundo do cômodo. Músicas agradáveis eram exibidas junto a programas especiais de final de ano. Começou a remexer em sua bolsa a fim de guardar seus pertences quando encontrou algo inesperado. A caixa cúbica azul-marinho envolta por uma fita aveludada e vermelha: há quanto guardava aquilo? Tinha receio de dar-lhe algo tão simples e que provavelmente não usaria. Colocou-a sobre a diminuta mesa, sentou-se em sua poltrona, ouvindo a melodia que tomava conta do ambiente de maneira singular.

Não percebeu o dia chegar. Não havia como perceber, porque a tal “profecia climatológica” se concretizou. O céu estava escuro como se o relógio houvesse parado às quatro da manhã e uma forte chuva se apoderou de todo o cenário externo.

Uma poça se formava abaixo da janela, esquecida aberta na transição temporal, sobre o tapete e os móveis da cozinha.

— Ah, droga... – xingou-se mentalmente, fechando-a e procurando por um pano para enxugar a madeira clara e úmida. Deu mais uma olhada para fora – E eles chamam isso de precipitação moderada? – ironizou. Olhava agora para o relógio. Havia parado mesmo. Tirara o celular do bolso, duas e quarenta e três da tarde! “Gostaria de conseguir dormir assim durante a semana...”, pensava incrédula enquanto corria contra o próprio desastre para chegar à casa de Naruto na hora marcada.

~*~

— Quem é... Ah, Sakura-chan! – cumprimentou ao abrir a porta.

— Ufa! Pensei que nunca iria chegar. A chuva lá fora está terrível! – Retirava o casaco mais que molhado e pendurava-o em um suporte de madeira ao lado da porta. Sabia que poderia tê-lo levado para dentro de casa, assim já estaria seco. Mas como não estava seco do lado de fora, qual o sentido de vestir roupas secas?

— Você está ensopada... Toma! – jogou-lhe uma toalha de rosto.

— Obrigada... – retirou o excesso de água dos braços – E então? Por onde começa... – ficou sem palavras ao tentar descrever mentalmente o que via. A casa dele era uma calamidade lastimosa e desgraçada, bem pior do que tinha imaginado. Demoraria mais do que o previsto.

— Hum? O que foi? Qual o problema?

— Err... A gente tem mesmo que limpar a casa toda? É que eu acho melhor eu não precisar emendar e passar a noite aqui...

— Ah, que é isso! Você vai ver que a gente vai terminar num instante!! – falava entusiasmado.

— Bem, assim espero... Vamos começar! – animou-se – E acho que já sei por onde... – olhava para a porta aberta de sua sala de treinamento, de onde um pergaminho desenrolou-se e caiu de cima da mesa.

Adentrou o local. Havia pergaminhos abertos e espalhados por todo o lugar. Era incrível como ele conseguia se concentrar no meio de tanta bagunça. Começou enrolando-os um a um, ao passo que também observava o ambiente como um todo. Cartazes como os de “Treinar! Treinar! Treinar todos os dias! Trenar o máximo possível!” eram colados em quase todas as paredes. Decidiu por não mudar tal característica. Persistência era uma das melhores qualidades de Naruto, e nem mesmo seu senso de organização deveria intervir nisso.

Alguns longos minutos mais tarde todos os pergaminhos estavam empilhados novamente sobre uma estante baixa, com duas prateleiras. Era uma coleção de itens informacionais muito interessante, apesar dos muitos usos terem-na deixado levemente surrada. No geral, 60% da desordem do aposento já tinham sido removidos. Os 40% restantes deviam-se aos inúmeros potes de lámen instantâneo jogados pelos lados; só não seria pior recolher todos eles pelo fato de Naruto nunca deixar uma gota sequer de molho ao terminar de comer, o que evitaria maiores problemas com o assoalho.

Finalmente saíra do pequeno quarto. Não via o loiro pelo restante sem divisórias da casa. Deveria estar limpando o banheiro ou...

— MAS O QUE PENSA QUE ESTÁ FAZENDO?! – deu-lhe um cascudo, envergonhada por vê-lo apenas de toalha saindo do local onde ficava sua banheira.

— AI, AI, AI!! O que você está fazendo?! Não posso nem tomar banho? – colocava as mãos na cabeça, sentindo o latejar de dor.

— Você não limpou nada até agora, IDIOTA!! – virou-se para se livrar da imagem que tinha – Eu aqui, como louca, tentando decifrar todas as maneiras possíveis de acabar com essa bagunça e você aí, numa boa!! Já passam das três e meia! Nem sonhando você conseguiria terminar tudo isso em três horas e... – parou com o sermão quando o viu sair, após entrar novamente, do cômodo azulejado já vestido, com calças razoavelmente folgadas e um casaco laranja escuro de mangas arregaçadas.

— Sakura-chan... – falava num tom agora sério – Nunca pensei que fosse dizer isso, mas estou com medo... – desviava de seu olhar, pensativo – Eu mal falava com a Hina-chan antes e de repente me veio essa ideia de...

— Não... Não, não! Não me diga que vai desistir depois de tanto! Você não é assim! – reprovava as palavras sem encorajamento do amigo abatido – Hinata não se importaria se encontrasse sua casa do jeito que está tampouco se estivesse como a minha. Olha, ela... Ela te ama, não consegue esconder isso nem dela mesma! Por que tem medo... Se o que ela mais quer é estar com você? – fez soar o óbvio, que apenas ele insistia em não perceber.

Pareceu pensar na gentil retórica. Aos poucos um sorriso tímido começara a se formar em seu rosto, iluminado por um ponto de vista que antes temia tomar como seu.

— É, você tem toda razão! – e o sorriso de sempre se fez.

— Mas não se anime ainda – também sorridente – Temos que terminar isso aqui, não é?

— Claro, mas... Quanto aos banheiros...

— Você já está bem grandinho pra lidar com a própria sujeira, e daqui consigo ver os baldes e tudo o que precisa então... – mirou em direção ao local – CAI FORA E NÃO ME VEM COM ISSO! *aura negra circundando-a*

— Err... Ãhnn... C-Como quiser! É pra já! – correu para evitar mais uma surra.

Muitas coisas da sala de treinamento estavam espalhadas pela casa. Mandou-as para o local adequado saindo de lá com não menos que dezoito potes de macarrão instantâneo [N/E: Fora os que não conseguiu encontrar...]. Colocou-os dentro de uma bolsa de lixo enorme, junto com os milhares que encontrara num compartimento ao lado da pia, proporcional ao tamanho de uma banheira. “A coleta seletiva deve ter um cesto a mais pra ele...”.

Recolheu outras mochilas num canto próximo à geladeira. Arrastou-se com isso até a entrada, calçando-se.

— Naruto! – chamou-o.

— Sim? – respondeu em meio ao barulho da torneira aberta.

— Vou levar o seu lixo pra fora. Arrume sua cama e lave a louça...

— Assim você até parece minha mãe, Sakura-chan... *comicamente chateado* Mas pode deixar, não vou demorar aqui.

— Se eu fosse sua mãe, com todo respeito, isso não estaria como está!! – repreendeu, amedrontando-o – Vê se apressa aí, não temos todo o tempo do mundo! – disse rapidamente após fechar a porta.

Levou toda aquela “bagagem” que cheirava a missô até o térreo. A quantidade era tanta que só em carrega-la por poucos metros e umas curtas escadas a fizeram lembrar a última maratona a qual participara. “Aquela vez foi mais fácil...”, suspirava em boas lembranças.

— Ele vai morrer se continuar se alimentando assim... – reclamou, ofegando levemente ao jogar tudo por cima de uma lata metálica e velha.

— Falando sozinha, Sakura? – a voz de Ino interrompeu suas reprovações.

— Ino? O que faz por aqui? E... Pra que tantas flores?

— É melhor que eu explique logo... Estava indo para sua casa, elas são pra você.

— Mas... Quem foi que... – ocorreu-lhe o improvável.

— Ninguém pediu que eu entregasse, só não consegui vende-las a tempo e morreriam se eu deixasse na loja, então resolvi dar para alguém que soubesse tirar proveito delas – entregava-lhe o embrulho, com um sorriso desfeito quando a garota a sua frente parecia esperar por outra resposta. Segundos depois, pela reação súbita emergindo de um rosto triste, julgaria ter sido apenas uma impressão.

— Bem, por outro lado... – sorriu agradecida – Acabo de ter uma ideia...

~*~

Voltava ao piso onde estava anteriormente. O loiro que terminava de retirar os pratos da pia estranhou a presença extra ao ver a porta se abrir.

— Sakura-ch... Ino? Err... Pra que essas...

— Eu tive a mesma reação. Relaxe, eu convidei pra ela te dar mais uma ajuda – dirigiu-se à janela dos fundos para abri-la.

— Vocês são mesmo indelicados! Chamam alguém para sair e mal se importam em receber a garota com um agrado ao menos... – repousava as flores sobre a mesa.

— Hey! Eu não sou tão desleixado assim! – protestou – Eu mesmo cozinhei ontem à noite!

— E o que vai fazer, macarrão? – tomou a liberdade de abrir a geladeira – M-Mas o que...? Só tem leite aqui dentro!

— Está por trás das caixas, Ino... – advertia a kunoichi enquanto ajudava Naruto à por ordem no que deveria ser o seu quarto.

— Hum... Sofisticado... – admirava a travessa de peixes exóticos na prateleira – Mas a que horas ela virá?

— Às seis... – dizia ao apanhar alguns livros – Se bem que falei com ela hoje pela manhã e...

— E...? – questionou após algum tempo em silêncio – Naruto... Naruto? Hey, o que houve com você, que cara é essa? – indagou Sakura ao ver o pânico apoderar-se dele.

— É que... Já são quase cinco horas e... Acabo de lembrar que meu fogão queimou ontem à noite... – sorria estupidamente, prevendo uma confusão recém-chegada.

— Como você pode esquecer um “detalhezinho” desses?! Como vamos resolver isso agora? – tomava as preocupações do idiota à sua frente.

— Ora, é só encontrar uma labareda e trazer até aqui... [Ino]

— Até parece que é fácil assim... – jogava um pano de limpeza num canto qualquer, acabando com o maior dos problemas (a bagunça) para conseguir outro quase em proporção igual.

— E até parece que você se esquece dos amigos que tem, não é, Testa de Marquise? – ironizou.

— Para de implicar! Do que está falando? – encarava-a confusa, temendo pela resposta.

~*~

— Não acredito que estamos fazendo isso... – esperava de braços cruzados, ao lado de Ino e logo atrás de Naruto, com um prato de peixes em mãos.

— Vê se não reclama! É a única opção que temos, já que os vizinhos muito elegantes do senhor aqui resolveram cair fora da cidade para festejar no mesmo dia do ano...

— Na verdade, tinha a senhorinha do 604, mas é melhor deixar pra lá...

— O que você aprontou? Não me diga que...

— Eu quase atropelei o gatinho dela de novo... *choro* Mas a culpa não é minha! Ela que gosta de gatos tão negros quanto à própria alma!!

— Hum, sei... – Ino já enfurecida pela demora – Parece que não tem ninguém em casa, não é mesmo? – tentava escutar algum ruído apoiando a orelha à porta.

— Procurando alguma coisa? – perguntou de súbito o irmão mais velho aparecendo por trás dos três. Quase petrificados pela figura séria, devolveram simultaneamente o olhar. Não parecia um bom dia para perturbá-lo.

— Err... – Naruto se pronunciou – Nós gostaríamos de falar com o Sasuke...

— Ele não está no momento, quer deixar recado? – continuava com o tom recatado.

— Ah, qual é?! Se ele tivesse um problema com o treinamento ele viria me procurar que nem daquela vez no País das Ondas!! Quando eu tenho um problema ele não pode nem se dar ao luxo de pôr aquela cara lisa fora de casa? Quem ele pensa que...

— Não me parece algo relativo a treinamento – foi direto.

— Tudo bem, tudo bem... Olha, Itachi-san, só queremos resolver um problema com esse desastre de pessoa – apontava para Naruto - e irmos para nossas casas como se nada tivesse acontecido – adiantou-se Ino, resumindo o máximo que pôde.

— A julgar pelo cheiro de peixe, o seu micro-ondas deve estar com problemas, certo?

— Err... Bem, mas como você... – Naruto não teve tempo de terminar a frase. Não era preciso depois de ter sido chamuscado por um dos poderes mais comuns dos Uchiha, apesar de que este fora suficiente para afastar as ditas preocupações antes mencionadas.

— Acho que não passou do ponto... – conferiu uma beirada do papel alumínio sobre o recipiente de vidro que queimava as mãos do loiro.

— Uhull... Nada mal... – checavam Ino e Sakura com rapidez – Acho que só nos resta agradecer, não é mesmo?

— Sem problemas, só não nos perturbem mais... Tenham um feliz Natal... – abriu e fechou a porta atrás de si ao passar, deixando um grupo de gente meio perplexa do lado de fora.

— HEEEY!!! DESDE QUANDO VOCÊ TEM O SINISMO DO KAKASHI-SENSEI, HEIN?!! – a voz revoltada seguia – Olha o que você fez com meu cabelo! Por acaso é louco? Volta aqui e eu... AAAu!! – recebera com desgosto o golpe de Sakura.

— Escuta só... – sussurrava, puxando-o pela orelha – É melhor você ficar calado, porque hoje não é um bom dia pra pegar briga com os Uchiha, ele já te fez um favor e duvido que o Sasuke te deixe menos parecido com uma tocha humana do que está agora! Podemos dar o fora antes que algo pior aconteça? Idiota!!

— Err... Acho que tem razão... *choro*.

~*~

— Bom... Pelo menos a gente teve sorte em encontrar um deles por lá... – dizia com olhos confusos, tentando lembrar o caminho pelo qual tinham vindo.

— É por aqui, Ino – Naruto indicava a rota oposta.

— Na verdade... Acho que ambos estavam lá – comentou Sakura, que apresentava-se distante desde que saíram da porta dos Uchiha.

— E por que ele mentiria pra gente?

— Ah! Tá na cara que aquele metidão só queria pôr medo! Se o Sasuke estivesse mesmo lá teria saído só pra reclamar do barulho!

— Mas algo te fez pensar que os dois estavam lá, certo? - ignorava os xingamentos desordenados de Naruto, ao questionar – O que foi?

— É que o Itachi disse “não nos perturbem mais”. Se estivesse de fato sozinho não teria feito menção ao Sasuke, não acha?

— Vai ver que ele se confundiu – o loiro, ainda com as mãos queimando, abria desconfortavelmente a porta, colocando o objeto vítreo sobre a mesa no centro da cozinha – Ao menos pra alguma coisa ele serve... – contentou-se – Agora é só parar de bancar a detetive e esperar a Hinata chegar...

— Vê se arruma esse cabelo antes, - apontava Ino – ainda têm umas fagulhas aí... *risos*

— Onde está a minha bolsa? Espero que não tenha guardado em qualquer lugar por engano...

— Você deixou em cima da cama antes do Naruto surtar por causa do fogão... – voltou a gargalhar enquanto assistia ao ninja tentando endireitar os cabelos.

Tendo em mãos o objeto procurado, encontrou mais do que esperava. Por baixo da cama, Sakura avistou uma pequena armação de madeira, em tanto familiar. No momento encarava aquela fotografia, tempos brilhantes de infância; jamais imaginaria que chegariam onde estavam agora, com tamanha maturidade e evolução, em todos os aspectos. Por segundos, fitou o ser de azul em um dos cantos da moldura. Aquele sentimento nutria-se incessantemente por anos.

— Sakura!

— Pra quê gritar, Ino porca? – reclamou desconcertada, colocando o porta-retratos numa prateleira – O que houve?

— A Hinata está à porta! Precisamos sair daqui sem que ela nos veja!

— Por que a Hinata se importaria com isso? Ela é gente boa e...

— Porque VOCÊ a convidou! Mesmo que sejamos conhecidas dela é embaraçoso sermos vistas aqui e agora! – repreendeu, machucando-o com o indicador.

— Tudo bem, Ino, mas o tempo que você perde explicando é suficiente para fazer alguma coisa... – Sakura saía pela janela – Boa sorte com a Hinata! – sorriu e desapareceu, indo para o andar logo abaixo. Ino a seguiu.

— Vê se fecha a janela, Torradinha-san! – advertiu antes de passar por cima do parapeito e deixa-lo superficialmente irritado.

~*~*~

Entrou sem fazer cerimônia, buscando por algo frio que pudesse beber.

— Quem era? – perguntou o caçula deitado no sofá com um livro em mãos.

— Aquele seu amigo. Era... Naruto, certo?

— Hunf, tanto faz... Ele estava sozinho?

— Trazia duas garotas com ele. Uma cheirava a flores, a outra a missô... – riu levemente.

— Fala da Sakura? – tirou os olhos da leitura.

— Ah, essa é a que toma banho com molho de macarrão? Que gosto estranho o seu para mulheres... Aliás, missô é bom! – riu-se novamente, mais alto.

— Olha como fala! E... Ela não gosta tanto disso quanto o Naruto. Devem estar o ajudando a limpar a casa... – voltou ao livro – E que sede miserável está sentindo?

— É que faz tempo que não uso aquele jutsu... Inevitavelmente, está fazendo calor.

— Se já não for ressaca... Estamos a graus negativos lá fora – virou a página, analisando uma imagem.

— Não bebo a esse ponto, você sabe disso.

— Sei... Vai sair hoje à noite, nem me conte.

— Antes mesmo que eu diga? Você é bom, Sasuke-chan! – sorriu.

— Não me trate como criança! Já falamos sobre isso! – levantou-se num tom ainda pacífico.

— Está indo para o seu quarto? Não quer saber quem me acompanhará esta noite? – provocava, colocando o copo vítreo sobre a pia.

— Quem se importa? – deu atenção mínima.

— Sua amiga Karin se importa...

— Ah, não acredito... – saía do quarto vestindo um casaco – Está se gabando pela sua queda por gente louca? – o sarcasmo tomava conta de sua expressão sorridente.

— E você por garotas “insuportáveis”... – observava-o enquanto ia em direção à porta, parando, prestes a abri-la – Algum problema?

— Por que não os deixou entrar?

— Não queria incendiar a casa, se bem me entende...

— E? – esperava por uma explicação menos vaga.

— E... Não é legal ver seu irmãozinho ficar sem jeito diante da namorada antes do Natal... – ouviu a porta fechar-se com força. Viu graça no jeito como aquele sentimento mexia com um coração tão jovem e antes sombrio, como os orbes do corpo que o carregava.

~*~

— Será que vai dar tudo certo?

— Não me preocupo... O Naruto pode ser idiota, mas sabe lidar com os sentimentos dele.

— Se você diz... Hey, Sakura, vai receber alguém em casa hoje à noite?

— Não. Não me ocorreu convidar alguém...

— Ah, pensei que você poderia chamar o...

— Não fale sobre isso, por favor – permaneceu de cabeça erguida, porém com um olhar melancólico, baixo.

— Hum... Tudo bem, me desculpe...

— Não precisa disso, só... Fale sobre você! – surpreendeu-a, alegrando-se por um motivo.

— Err, mas o que quer saber?

— Sabe do que estou falando, o Sai te pediu em namoro, o que disse pra ele?

— Bem, eu... – sua face ruborizou – Eu o convidei para jantar conosco hoje... Meus pais devem gostar dele.

— Fico muito feliz por você! – sorriu docilmente – Espero que dê tudo certo!

— Eu também, mas... Sakura, você não pode mais esconder isso! Ele já saiu e voltou à vila inúmeras vezes, é imprevisível. Nunca vai saber se...

— Não diga pra mim o óbvio, Ino. Estou incerta... Desconheço como devo agir quando estou perto dele.

— E ele sabe como? - gerou um momento cauteloso quanto ao que a amiga iria responder. Nunca pensou que poderia ser correspondida. Ou se ele teria coragem de admitir isso.

“Vai fazer alguma coisa amanhã à noite?”

Sem que percebesse, chegara à sua casa. Ino seguiu com pressa.

— Sai já deve estar me esperando... – falava enquanto corria em meio ao cenário branco. Ao longe... – Sakura! – fê-la encarar-lhe – Ao menos tente! – sorriu, sem perder a velocidade em seus passos.

Devolveu o gesto e quando a companheira desapareceu, adentrou o simples prédio, subindo a escadaria frontal.

~*~*~

De fato, lá estava ele. Com roupas mais recatadas e com um riso alegre, verdadeiro, adornando os traços bem feitos de sua face pálida. Já era noite.

— Sai... – ofegava devido à secura do ar e a precipitação que a pontualidade exigia – Desculpe a demora, eu tive que deixar a Sakura em cas...

— Shhh... – repousava o indicador de sua luva rasgada sobre seus lábios – Não é preciso se explicar, eu já esperei muito mais por uma resposta – foi direto, tomando-lhe a mão – Agora vamos? Seus pais devem estar aguardando nossa chegada.

— Sai – desvencilhou-se do toque que a puxava para a entrada logo à frente.

— O que foi, querida? – sentiu-se abusando da intimidade. Aquela palavra não era comum em seu dicionário— Algo que queira me dizer? – voltou-se a fim de olha-la mais de perto.

— Eu... – encarava seus pés aflitos, em meio à neve, aquecida pelas notas quentes que modificavam o tom de seu rosto.

— Fale – encorajou, sem desviar a atenção dela.

E-Eu sei que não sou tudo o que você desenhou... No papel há menos barulho... Menos defeitos ou emoção...

Há muito mais do que se pode imaginar em um pedaço de papel...— removeu uma mecha loira que encobria sua expressão tímida para que repousasse sobre sua orelha. Ela não era capaz de mirar seu rosto sem a ajuda das mãos que o sustentavam – Se algum dia eu escrever a história de nossas vidas, a primeira página é sua. A segunda também... E a terceira. E a quarta – sorriu, deixando que o sentimentalismo roubasse uma lágrima. Não sua.

— Eu amo você – falava numa felicidade boba de quem se apaixona sem motivo.

— É como se eu não soubesse... – retrucou, recebendo um exemplo também incomum para aquilo que disse. Foi estranho para quem não costumava sentir. Foi um presente; sem querer, foi o que mais queria. E, aos poucos, permitiu-se invadir pelo calor de um beijo.

~*~

Foge da mentira que disse que ficaria em casa, mas o espaço era insuficiente para tudo o que sentia.

O vento fraco e gélido balançava gentilmente seu vestido, que passava dos joelhos entrando em contato com as botas de cano alto. Uma tiara branca, de acordo com a singela rosa que se prendia ao decote, expunha seu rosto ao frio que passava sem admirar a beleza rósea de seus cabelos.

Chegara a uma pequenina praça, com mesas de ferro fundido, pintadas de branco, não bastasse a neve como estação fora de época. Amantes e grupos de amigos, todos ocupados demais para retirar da multidão falante a jovem sentada à mesa do centro, dentre tantas mesas, estavam presentes. Foi sem dar atenção aos ruídos e luzes que ficou a observar os montes que se formavam sobre a plataforma redonda, como para compor uma paisagem microscópica, feita dos flocos que caíam.

Era louca mesmo... A ausência de algo que aquecesse seus ombros e pescoço a fez entrar em inércia, suficiente para que cerrasse os olhos e derretesse a brancura com o pouco calor de um corpo frágil de mulher.

Ocorreu que pronunciara seu nome mais de uma vez. Despertou com uma exalação vista a olho nu. Ergueu-se devagar, tentando entender porque as luzes ao redor refletiam-na sozinha. Ou quase.

— Sakura – repetiu. Por que continuava sonhando? – Disse que estaria em casa, o que faz aqui?

Não houve resposta. Via os contornos de si sobre a mesa, respaldados por um relevo frio e ralo, quase desaparecendo. Inspirou abrindo mais a boca em busca de uma parcela menos seca de ar e se dando conta de que mais parecia uma estátua. Levantou-se ouvindo estalos que o tempo, parada, trouxe aos seus ossos. Fraquejou e caiu.

— Não está em condições de andar – amparou sua queda – Segure-se em mim.

Obedeceu mecanicamente, com as mãos tremelicando sobre sua camiseta de linho claro. Rápida, impediu que seu casaco deslizasse pelos ombros.

— Não. N-Não é necessário... – abraçou-se, ainda sem acreditar que a imagem de um sonho poderia se materializar tão facilmente. Vivamente.

— Irritante... Realmente insuportável... – falava como se estivesse sozinho, sem se importar com o incômodo que tais acusações lhe causavam – Estava dormindo no meio da neve e ainda por cima com pouca roupa... O que tem na cabeça?

— Até parece que eu estou nua – incomodou-se a princípio.

— Para o tempo aqui fora – envolveu-a com suas vestes pesadas – qualquer coisa que não esteja coberta de lã está – carregava a criatura imóvel em seus braços para o lugar de onde não deveria ter saído.

— Sasuke-kun... – finalmente fitou o semblante tranquilamente sério – P-Por que está fazendo isso?

— Não quero ter de explicar...

A frieza tirou de ambos a voz. Por um tempo só caminhava, sem deixar de notar a distância que a moça tentava manter, contrária à proximidade entre os dois. Alcançou seu destino, colocando-a no chão, ao passo que esta procurava por suas chaves.

— Sei que já escureceu, mas... Se quiser entrar...

— Por que o nervosismo?

— Desde quando é metido a adivinhar o que os outros sentem? Nem parece você! – voltou a ficar sem jeito. Diante da falta de ação ou resposta, liberou o caminho e impôs um pedido – Entre.

~*~

— Peço desculpas se algo não o agrada. Sabendo que viria, eu teria pegado mais pesado com a faxina ontem à noite... – pendurava o casaco azul-marinho ao lado da porta.

Esperou que ela se acomodasse. De pé, parado bem ao centro da sala, examinava-a ligar um pequeno aquecedor e retirar as botas longas, não o suficiente para aquecê-la o tanto que gostaria. Apenas esperava.

— Hum, o quê? – buscava descobrir o que o havia chamado atenção.

— Ainda não respondeu o que fazia num lugar como aquele... Está tarde, não vê?

— Por que todos estão dados a fazer perguntas hoje?! – tornou-se impaciente – É como se fosse relevante! – voltou a concentrar-se na frieza de seus pés.

Defrontou-a por mais alguns instantes. A expressão dela mudou ao assistir a ele sentar-se sobre o encosto do sofá, com as meias ao assento. Continuava com os olhos fixos.

— O que mais terei que fazer... – suspirou um pouco envergonhado – Para você entender o sentido de “conversa civilizada”?

— Não é muito civilizado sentar no sofá dos outros assim – rebateu. – Mas não posso dizer que não tentou... – conformou-se, acompanhando-o – E então... Sobre o que quer falar?

— Vá em frente enquanto adivinho por onde quero começar... – silenciou rápido, querendo ouvir a sua voz.

— Bem... Você esteve fora por um longo tempo...

— Não vamos falar sobre isso, já estou de volta, afinal – contornava alguns detalhes do jeans escuro que usava.

As palavras de Ino ecoaram em uma lembrança recente. “Ao menos tente!”. Silêncio. E por um período, mais.

— Hum... Por que resolveu aparecer tão de repente? – tentava impor um rumo às perguntas que fazia.

— Eu disse que voltaria – fitou-a – Eu disse... A você – esforçou-se para continuar focalizando seu rosto sem se desviar, porém ela o fez.

— Eu não sei se sou eu quem merece esse tipo de promessa... Eu já te atrapalhei muito – sentia uma inferioridade antiga, própria da presença dele.

— Que tolice! Você sempre foi um membro importante da equipe sete... – aborreceu-se sem mais encará-la, quebrando um silêncio trivial antes mesmo que começasse – Deveria se dar mais valor, é uma ninja excepcional... – enrubesceu imperceptivelmente.

— Não se humilhe assim – sorriu cabisbaixa, trazendo-lhe uma expressão de dúvida. - Não precisa falar coisas que não diria... Já me impressiona você ter vindo. Acho que é suficiente.

— Eu nunca disse algo porque era o que você queria ouvir, e isso não mudou em nada... Irritante!

— Você parece tão satisfeito dizendo isso que... – terminou a fala com um leve grito.

Encontravam-se sobre o tapete que lhes amparou a queda por trás do sofá, desmontável e necessitando de ajustes de encaixe. Ignorou a situação embaraçosa por um tempo, sendo inacreditável o que via: Sasuke Uchiha prendendo o riso e rindo ruidosamente depois. Deixou-se contagiar pelo estado incomum de euforia. Os tempos fora o mudaram bastante pelo visto, mas ainda não compreendia uma coisa.

— Algum motivo especial para ter ido me procurar? – inquiriu ao se controlar.

— É preocupante não te encontrar fazendo o que você diz que vai fazer... Disse que estaria em casa quando a encontrei ontem– apresentava um olhar singelo.

— Mas eu jamais imaginaria que era para encontra-lo aqui. Podia ter avisado...

— Ia estragar a surpresa – falava convencido.

— Você é Sasuke Uchiha, – encarou-o – não é assim que surpreende as pessoas.

— Sou um ser humano, às vezes é bom agir como tal... – riu do que lhe passou pela cabeça.

— Hum, inacreditável – finalmente sentou-se sentindo suas costas doerem. – Desculpe pelo sofá, eu deveria ter percebido que estava assim – pressionava a escápula, tentando diminuir o desconforto.

— Poderia ter sido um penhasco, está tudo bem – ajudou-a a levantar.

— Ainda lembra-se disso? – estranhou.

— Como não...? Sem você estaria morto ou seriamente dependente – admitiu. – Eu disse que você é importante... – confirmou sua teoria, desajeitando-a.

— Bem, eu só... – assustou-se com o ruído abrupto na porta translúcida. – O que foi isso? – analisou de longe.

— Deve ser o seu sino de vento... – seguiu seus passos em direção à varanda.

— Não tenho nenhum sino de vento – replicou, desconfiada.

— Agora tem – tomou a frente e abriu a porta corrediça revelando mais uma inesperada gentileza.

Sobre um suporte vítreo balançava uma dupla-hélice de conchas, as quais envolviam delicados cordões floridos, em rosa e roxo, que conjuntamente terminavam em estruturas calcárias espiraladas. Logo abaixo do arcabouço naturalmente musical, repousava um vaso de cerâmica, já gasto e que já conhecia.

— Eu... Eu não acredito! – engasgava nas palavras como se não fossem suficientes para expor o que pretendia – Como foi que você... – ria à toa, em completo êxtase – Ela está perfeita! Nem parece que estava morrendo ontem pela manhã! – tomou o recipiente em seus braços.

— O Naruto é um imbecil, mas admito que em termos de jardinagem eu não ganharia dele tão facilmente...

— Deveria ter tratado dela com mais atenção, estive tão ocupada... E esse sino é maravilhoso! Não precisava se incomodar... – encantava-se mais à medida que olhava o objeto na área escura, refletindo apenas a iluminação da rua enquanto o vento soprava, girando-o.

— É melhor que entre, ainda está frio – conduzia-a para dentro da casa.

— Quando colocou essas coisas aqui?

— Você não estava em casa, se eu ia procurar por alguém, seria menos incômodo ir de mãos vazias, e... Deveria colocar grades nessa varanda.

— Ah, desculpe! É que é muito normal alguém entrar na minha casa sem ser pela porta! – ironizou.

— Pois é bom ir se acostumando... – fez com que o pudor se lançasse em seu rosto outra vez, parando-a em meio ao caminho, enquanto algo lento começou a tocar.

Sua respiração falhava. Era exatamente o que esperava, e era por isso que era tão estranho. Repousou a velha amiga rósea sobre a mesa de sempre e avistou a caixa azul. Estava receosa. O moreno percebeu seu olhar de insatisfação.

— Incômodo?

— Não! Estou bem... – disfarçava – Só não sei como deveria agradecer por isso – gesticulava em direção às flores.

— Uma dança é suficiente? – estava com as mãos nos bolsos, vestindo uma expressão normal, como se não fosse nada comprometedor. A sensação mentia tão bem quanto podia imaginar.

Passou a mão pelos cabelos, não sabendo onde esconder a cara. Como se reage a isso mesmo? Talvez devesse dançar. Mas como sem olhar para ele ou sem pensar que um sonho como aquele poderia durar além de uma noite? Um problema estorvador. Ele era mais simples, porém. Veio e tomou a sua mão, levando-a para o lado oposto da sala longa.

Sabia o que estava fazendo, ela apenas o acompanhava. Por um tempo foi assim até que decidiu pôr um tanto mais para fora de si. Lembrou-se: ele queria conversar.

Sempre que ouço esta música, lembro-me dos primeiros dias...

­— Também pensei que durariam por mais alguns anos... – pareceu ler o que tinha em mente.

— E você estragou tudo – zombou com uma sílaba de riso, apoiando a testa em seu peito, ainda de acordo com o ritmo pausado que tocava.

— E você me faz sentir culpa. Mais do que gostaria – devolveu em provocações verdadeiras.

— O tempo é traiçoeiro – afastou-se para vê-lo – Por que ainda nos sentimos assim?

— Talvez por ser o motivo pelo qual tenhamos que consertar nossos erros... – pareceu pensar. – Talvez... – seu rosto tornava-se extraordinariamente vermelho e sem jeito, aos poucos, visivelmente – Talvez eu não consiga lhe dizer tudo o que eu sinto. Tente perceber mesmo assim. Ou...— tomava posse de seus punhos delicadamente, envolvendo-os com as mãos nervosas – Tenha paciência de me ensinar— mudava de sincronia entre suas mãos e seu rosto, parando ao enxergar o último.

— Sasuke-kun... – a dor que sentia era dilacerante. Tinha a necessidade de tê-lo por perto, e quando o tinha, sentia vontade de protegê-lo. Queria unir-se a ele da forma mais singela e desesperada; derramar-lhe o peso de todas as palavras não ditas, de toda a distância pronunciada e os momentos perdidos, de uma só vez.

E foi um contato nada simples, contra qualquer força de repulsão que ainda persistisse entre ambos (mas ainda assim foi um contato), prolongado, pouco a pouco domado, tornando-se a singular prova que lhes faltava. Não havia mais dúvidas a serem postas sobre a mesa. Era como se o jogo acabasse para dar início à nova fase, pois um empate acabara de se concretizar.

— Não quero dizer mais coisas óbvias esta noite – separou-se dela, respirando sem esforço.

— Eu também não... – concordou sendo suspensa no ar por uma figura incomumente sorridente, que colocou-a no colo sobre a velha poltrona como se aspirasse ao retorno de sua infância. Ninguém falaria sobre amor àquela noite.

Em meio à tamanha exaltação, a gravura azul e quadrada novamente. Saiu de onde estava almejando de uma vez por todas livrar-se daquele atraso.

— Hey... – já pensava em segui-la – O que é isto? – sua visão era ocupada pelo chamativo acabamento em veludo vermelho sobre o caixote que era estendido em sua frente.

— Não sei por que comprei isso... Não acho que vá usar, mas não me passou pela cabeça que voltaria antes que eu pensasse em algo mais criativo... HEY!! – reclamou, quando o pacote já estava aberto e a gravata já se entrosava por baixo do colarinho branco.

— Acho que estou bem – analisava o presente em seda negra. – Por que eu não usaria?

— Você é formal a esse ponto? – ouviu de novo a melodia de seus altos risos.

— Posso me acostumar com a ideia – suspirou sorrindo. – Ah, não...

— Algo errado?

— Hum... É que tem algo que preciso contar...

~*~

— Uma missão?! Quem solicita uma missão em plena época natalina? – comentou indignada. – Tem certeza que não pode ficar? – entristeceu com a notícia.

— Por mim não teria problema, mas Itachi disse que era urgente. Temos que partir pela manhã... Quanto aos contratantes, são apenas pessoas que gostam de roubar o tempo dos outros. Ou o contrário... – fitavam o teto branco, procurando por razões que evitassem a separação por dias descompassados.

O tempo não roubou sua beleza— sorria usando as unhas para alinhar uma costura solta de seu casaco.

— Pelo menos ainda não... – virou-se de lado, apoiando-se no braço esquerdo – Você fica bem vestida assim – referia-se às vestes que utilizava ao dormir, de um verde que combinava com seus olhos. – Deveria usar isso sempre.

— Nem sonhe em me ver trabalhando com isso! – atingiu-o com o cotovelo, fazendo-o rir.

— Preciso ir – acariciava o rosto jovem.

— É melhor partimos juntos...

— Desde que não vá a lugar algum, é melhor, sim – discordou, abaixando-se para beija-la duas vezes mais.

— Quando estará de volta? – enlaçava seus braços sobre os ombros dele.

— Antes do que imagina – tocou-lhe a testa com os lábios. – Boa noite.

— Boa sorte – sussurrou, retribuindo o gesto.

— Não me espere acordada, está bem? – brincou, acomodando-a sob as cobertas de lã.

— Sem coisas óbvias, Sasuke-kun... – vislumbrou seu sorriso uma última vez antes que seus olhos se fechassem.

~*~

Era mais uma manhã branca e fria. A noite fora suficiente para se acostumar com o tilintar fino do sino de conchas em frente à porta, ecoando por quase todos os cômodos e acordando-a, assustada com as lembranças que tinha em mente no quarto branco e ligeiramente desordenado por ser um quarto. Desceu as escadas.

O bilhete deixado por entre os ramos da cerejeira negava algo onírico.

“O amor que é trazido com as flores quase sempre morre com elas.”

O sino lhe chamou atenção após ler a única frase no pedaço de folha, com um balançar violento da brisa diurna. Caminhou até ele. O trecho que encaixava com as bordas do recado anterior escondia-se por debaixo de uma rosa plástica, rutilante e vermelha.

“Não preciso dizer que te amo.”

Fim


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Notas finais do capítulo

Tenham um Natal maravilhoso!! Vejo vocês no especial do dia 30! Continuem acompanhando minhas histórias e recomendem, se possível.

Aqui está o link do Panorama da fic, que eu sempre faço, vocês sabem: http://japan11kawaii.blogspot.com.br/2014/12/on-this-winters-night-fanfiction.html

Kissus, jaa ne. s2

—-- ATUALIZAÇÃO DEZEMBRO DE 2016 ---

Venho eu, espírito das montanhas, para vos anunciar que (a danada da história que ia ser publicada há 2 anos...) a autora finalmente postou o especial que ela tinha prometido! Muitas coisas problemáticas aconteceram e foram tempos sombrios e complicados sobre os quais ninguém prefere comentar... Espero que gostem desse breve especial! Estarei trabalhando para melhorar meu simples e amador trabalho em 2017! Tenham todos um excelente final de ano!!

O link se encontra abaixo: https://fanfiction.com.br/historia/719938/Um_Anjo_Muito_Especial/

Peace ☮

Mieko.



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