Surrender escrita por Maryse Ashryver, Leah Walsh


Capítulo 8
A cidade que nunca dorme


Notas iniciais do capítulo

Oi, gente! Esse capítulo vai ser grande porque eu não ia aguentar separá-lo em dois. Eu me empolguei MUITO escrevendo ele. Espero que vocês se empolguem lendo também!



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Apesar da situação em que me encontro, não consigo conter a empolgação por estar em Manhattan pela primeira vez. Já são quase onze horas da noite e as ruas continuam movimentadas. Em Carmel, isso nunca aconteceria. Enquanto dirige, Daniel tagarela com Thomas, que está sentado no banco do carona, aparentando estar com os pensamentos longe. Quando nossos olhares se encontram pelo retrovisor, ele dá um sorriso sem graça, como se tivesse sido pego no flagra.

Passamos pela Times Square, um dos pontos turísticos mais populares de Nova York. Posso garantir que pareço uma criança, colando o nariz no vidro da janela para admirar a vista. É tudo ainda mais bonito e surreal do que nos filmes. A quantidade de pessoas também é surpreendente: além dos nativos, há centenas de turistas tirando fotos, o que faz tudo parecer um formigueiro. Porém, isso não tira a beleza do lugar, que tem várias luzes e telões nos prédios, com as mais diversas lojas.

Depois de alguns metros passados da famosa escadaria vermelha, o carro para.

– Por que paramos? – pergunto, confusa.

– Vamos ficar aqui – diz Thomas apontando para a direita e abrindo a porta.

Apresso-me para alcançá-lo, junto com Dan, em direção ao hotel. Entramos no saguão e ele vai direto até o balcão da recepção. Daniel se aproxima de mim.

– E aí, curtindo muito a Grande Maçã?

– É uma cidade belíssima... Sempre quis vir aqui – digo, sorrindo.

– Eu também. Tive alguns dias para explorar, enquanto eu esperava Tommy. É uma lugar bem mais badalado e divertido que York. A propósito, me pergunto como você não enlouqueceu ainda. Tommy não é uma pessoa fácil de conviver – ele diz.

Como não sei se ele está brincando ou não, decido abordar outra questão.

– Então... De onde você e o Thomas se conhecem? – pergunto.

– Nós trabalhamos juntos às vezes – ele sorri.

– Ah, claro – digo com sarcasmo – Você é da Ordem. Protege o mundo também, imagino.

– Exatamente – fala, seus olhos encontrando os meus. Depois de um tempo, continua – Você tem os olhos do seu pai.

Essa observação me pega de surpresa. É a primeira informação que tenho do meu pai. Quando decido perguntar mais sobre ele, Thomas aparece.

– Vamos, consegui um quarto ótimo para nós. Você pode se lavar antes de sairmos, se quiser – e então percebendo que interrompeu algo, prossegue – Sobre o que vocês estavam falando? – ele lança um olhar torto para o amigo.

– Nada demais. Só estava falando para Diana sobre a vez em que protegemos o planeta de uma invasão alienígena – Dan diz, me fazendo rir.

– Ah, claro. De repente, somos os Vingadores – Thomas revira os olhos e me conduz até o hall dos elevadores, deixando Dan, que se acomoda em um dos sofás do saguão, para trás.

Não falo mais nada em relação ao comentário de Daniel. Sinto que não é um assunto que deva ser explorado no momento.

*****

O som dos carros passando nos envolve como se estivéssemos em uma sinfonia. Estamos na calçada da Catedral de São Patrício, que fica em frente ao famoso Rockfeller Center, na quinta avenida. Eu me sinto bem mais leve depois do banho relaxante que tomei, no banheiro da luxuosa suíte em que eu e Thomas ficamos.

– O horário de visitação da catedral não já acabou? Podemos nos meter em problemas? – questiono.

– Não se preocupe com isso – Thomas me tranquiliza.

– Somos, tipo, clientes VIPs – Dan complementa.

Quando eles batem na porta, ela se abre e entramos rapidamente. Lá dentro, um idoso com covinhas sorri para nós.

– Achei que vocês não viriam mais – ele estende a mão para cada um de nós. Ao cumprimentá-lo, noto sua vestimenta. Ele é um padre.

– Diana, esse é o padre Damien. Padre, essa é Diana Döbereiner – Dan nos apresenta.

– Oh, a famosa herdeira Döbereiner.

– Geller. Meu nome é Diana Geller – corrijo.

Posso estar soando mal-educada, mas não vou abdicar o nome da família que me criou. Elizabeth Döbereiner pode ter feito muitas coisas para me salvar, e sou muito grata por isso. Mas Anthony e Jessica Geller são as pessoas que cuidaram de mim. E como pai é quem cria... Bem, Damien não parece ter ficado ofendido com minha correção.

– É um prazer conhecê-la então, senhorita Geller – ele solta minha mão, curvando a cabeça um pouco, como que em sinal de reverência.

– Também é um prazer conhecê-lo, senhor – digo, dando um sorriso para disfarçar a expressão confusa que vem se formando em me rosto desde que ele falou da história sobre "famosa herdeira". Thomas claramente me deve explicações.

Assim que o padre dá as costas com intuito de nos guiar para sei lá onde temos que ir, viro-me para Thomas.

– Você vai me explicar umas coisas hoje, nem adianta me enrolar.

Como ele não fala nada, ficamos nos encarando por um momento.

– Vocês vão vir ou estão planejando ficar aí a noite toda? – Daniel chama.

Com isso, seguimos em silêncio. Antes de chegar ao altar, viramos à direita e adentramos em um corredor. Somos guiados até um pequeno recinto de paredes brancas cheio de imagens de santos que parece ser uma sala paroquial. Nele tem um armário e uma cômoda de madeira, uma TV pequena, uma mesa e algumas cadeiras. Os rapazes se acomodam nas cadeiras de frente para o padre, que se sentou em sua cadeira do outro lado da mesa oposta à porta. Já eu fico mais afastada, em uma cadeira colada a parede junto a porta. Dan pigarreia

– Então... – ele começa.

– A encomenda de vocês já está pronta – o padre fala sem enrolações, vasculhando uma gaveta que não consigo ver.

Tenho uma sensação estranha quanto a essa "encomenda". Ele retira um envelope e o coloca na mesa, empurrando em nossa direção.

– Como o pedido foi meio em cima da hora... – ele começa.

– Tenho certeza que tudo está nos trinques. Você é um dos melhores do ramo – Thomas interrompe, abrindo o envelope e revelando passaportes falsos.

Eu me engasgo, sem querer acreditar no que estou vendo.

– Isso é documentação falsa... Você é um padre criminoso! Isso é errado de tantas maneiras diferentes! – exclamo.

– Perdão. Eu a ofendi em algum aspecto religioso? – ele pergunta.

– Não. Não, tudo bem. Eu não tenho religião – apresso-me em dizer, e é verdade. Meus pais nunca se importaram em dar a mim e a David educação religiosa, já que defendiam a ideia de que cada um de nós pode escolher sua própria crença. – É só que é meio chocante ver um padre falsário.

O padre dá de ombros.

– É por uma causa nobre. Além do mais, a Igreja dá apoio à Ordem. Seus serviços são apreciados, no final das contas. E você não está exatamente numa posição para julgar o que é errado depois do que aconteceu há algumas semanas, pelo que eu soube... – ele exibe um sorriso forçado.

Sei que ele está falando sobre o incidente com Josh, e meu rosto fica quente de constrangimento.

– Você sabe que ela não teve culpa, Damien. É algo que atualmente está fora de controle – Thomas vem em minha defesa e o padre faz uma careta. Isso me faz ficar grata a ele.

Daniel retira do bolso uma pilha de notas de cem dólares.

– Espero que seja suficiente – ele diz.

– Sim, isso está ótimo – Damien resmunga – De qualquer forma, espero que tudo isso valha a pena, que dê tudo certo. Já que não seria nada agradável se Viktor colocasse as mão na senhorita Geller. Deus sabe bem que ele é bem inconsequente.

Eu me recosto na cadeira, frustrada. Até esse senhor aparenta saber mais da minha vida do que eu, o que é desgastante. Isso e as outras muitas coisas bizarras que estão acontecendo.

A exaustão me bate em cheio. Os três engatam em uma conversa sobre alguns membros da Ordem. Como fico boiando, o cansaço vai ganhando mais força aos poucos e logo me rendo ao sono. Depois de um tempo, Thomas me acorda e, ainda bastante sonolenta, sou guiada – ou melhor, quase carregada – para fora da Catedral.

*****

Quando acordo, sinto-me renascida. Não me sinto tão descansada desde muito tempo. Olho em direção à cama de Thomas, mas ela está vazia e me pergunto se ele consegue dormir alguma hora. Sento-me, esfregando os olhos, e sinto o cheiro de café, que está vindo de uma mesinha próxima à cama. Meu estômago ronca em protesto, e eu decido fazer o que ele manda. O café da manhã do hotel é bem vasto, de modo que me empanturro de comida. Depois de um tempo, escuto a porta do banheiro se abrir e vejo um Thomas vestido apenas de jeans e com uma toalha no pescoço sair dele. Seu cabelo está úmido e desgrenhado, seu rosto mais corado. Ele parece estar bem... confortável. Tento evitar olhar, sem sucesso, para seu corpo musculoso. Percebendo meus olhares, ele dá um sorriso de tirar o fôlego e veste uma camisa. Franzo a testa. Ah, mas que droga!

– Bom dia – ele fala – A princesa dormiu bem?

Reviro os olhos, mas não consigo evitar de sorrir. Meu humor está bem melhor, e a visão de um Thomas mais casual ajuda muito.

– Sim. Eu já até tomei café da manhã... Espero que não se importe.

– Tudo bem, eu também já comi o meu há algum tempo. Tive que dar uma saída para resolver algumas coisas na recepção.

– Hum... certo. Então, ontem eu meio que estava sonâmbula, então não lembro de muita coisa... Onde está o Dan? Pensei que ia ficar conosco.

– Percebi. Achei que ia ter que te carregar no meu colo do carro até aqui. E não, Daniel dormiu em outro canto. Ele já é bem grandinho.

Eu bufo. Odeio ser tratada como uma criança.

– E eu não sou?

– É diferente. Sou responsável por você, não posso deixá-la dormir em qualquer cafofo. Elizabeth me mataria – ele afirma – Ah, e temos o dia livre. O que gostaria de fazer? Suponho que nunca tenha visitado a cidade que nunca dorme.

– Não, nunca estive aqui antes.

– Ótimo. Tem várias coisas para se fazer – ele diz, com uma animação que nunca tinha visto nele antes. – E já que você dormiu bastante essa noite acho que vai aguentar uma tour à la Thomas. Apesar de que como não temos tempo de visitar muitos lugares, vou selecionar os melhores programas – depois que ele diz isso, olho para o relógio e vejo que já passam das 10h da manhã.

– Você realmente gosta daqui – observo.

– Sim, eu já morei por um tempo aqui... Tenho várias lembranças boas desse período – diz, com um sorriso nostálgico – E já está na hora de a gente fazer algo além de fugir. Precisamos de uma folga, afinal. Além do que, tenho certeza que estamos a salvo desse lado do país.

Com isso, eu me visto rapidamente e então saímos pelas ruas.

– Eu não vou ser reconhecida? – pergunto.

– Seu caso não teve muita repercussão por aqui. E você está comigo, eles não terão olhos para você.

– Ha-ha. Você é sempre humilde assim?

– Só nas segundas – ele diz, e eu balanço a cabeça.

Atingimos a Times Square, que está mais vazia em relação a ontem à noite.

– Sabe, me dói ver você com esses trapos – ele diz, de repente.

Olho para minhas roupas: uma blusa branca, jeans, o casaco dele que eu havia pego emprestado e tênis. Praticamente isso tinha virado meu uniforme.

– Vamos, iremos dar um jeito nisso – ele diz, me guiando pela calçada.

Thomas me empurra para a primeira loja de roupas que vê – a Forever 21. Essa loja me faz lembrar das vezes em que saí com Chelsea para fazer compras. E do quão irritante eu sempre achei ter que ficar esperando minha amiga provar milhares de roupas, enquanto tudo que eu precisava para comprar era o meu tamanho. Isso faz com que minha animação diminua um pouco, mas não deixo transparecer para não acabar com o bom humor de Thomas também.

Começo a vagar pela loja, procurando algo legal, e, sem notar, me separo de Thomas. De verdade, esse lugar tem roupa para caramba. São mais de quatro andares só de produtos. Mas, mesmo assim, tudo que consigo escolher são duas blusas, uma calça e uma jaqueta. Não tenho muito senso de moda, e Chelsea não estava aqui para me ajudar.

– Você só escolheu isso?! – sou surpreendida pela voz de Thomas atrás de mim. Quando me viro, vejo que ele tem uma pilha de roupas nos braços – Pelo amor de Deus, deixe essas coisas aí e vamos provar estas aqui – ele tira as roupas da minha mão e as coloca em uma prateleira próxima, me guiando então em direção aos provadores.

– Espera, eu nem sei o que você escolheu... – digo, parando de andar.

– Não precisa, eu tenho bom gosto. Ou melhor, um melhor que o seu.

– Ei, não precisa esculachar! Eu me visto bem, só não como uma Barbie. E como você sabe tanto de moda, afinal? Você é gay? – quando pergunto isso, ele cai na gargalhada.

– Gay? Essa é nova! Não, Diana, não sou gay. Tenho uma irmã mais nova, e eu que era arrastado para fazer compras com ela.

– Então tá, se você diz... – digo pegando as roupas e indo para o provador, ainda em dúvida acerca de sua sexualidade.

Por mais incrível que pareça, todas as roupas que ele escolheu ficaram ótimas. E olha que foram tantas roupas que eu tive que fazer mais de uma viagem ao provador para poder provar todas. Quando termino tudo e só saio do provador com apenas algumas roupas nas mãos, Thomas pergunta se todas as outras que ele tinha me dado ficaram boas, e eu digo que sim. Com essa deixa, ele volta até lá e pega o resto que eu tinha deixado com a garota que controla a entrada e saída dos provadores.

– Thomas, a gente não vai levar tudo isso. A conta vai sair astronômica – digo, tentando pegar as roupas dele.

– Claro que vamos. Se eu chegar na Inglaterra com você parecendo uma mendiga, sua mãe vai achar que eu andei te maltratando. Então isso tudo vai, não adianta reclamar – ele vai em direção ao corredor de sapatos e pega dois pares de sapatilhas e um par de tênis chiques, seguindo para o caixa logo depois.

Passamos ainda em mais algumas lojas, sempre com ele decidindo o que eu devo comprar. Devo salientar que, em todas as lojas, as vendedoras ficam dando em cima dele, que apenas as ignora. Não sei o porquê, mas o fato de ele ser indiferente à presença delas me agrada. Não que eu gostasse dele. Nada disso. Até porque eu ainda suspeito que ele seja gay. Afinal, que tipo de cara hetero iria me ajudar a comprar lingeries e maquiagem? Também compramos uma mala para poder jogar minhas recém adquiridas tralhas. Deixamos nossas coisas no hotel e aproveito para usar alguma das roupas novas. Escolho um vestidinho florido de alcinhas, sapatilhas e coloco um pouco de rímel. Tento fazer um penteado com tranças que eu havia visto em uma revista, para que quando eu solte os cabelos, eles estejam com ondas naturais e o volume controlado

Thomas pareceu gostar, já que quando saio do banheiro, ele me examina da cabeça aos pés e balança a cabeça em aprovação.

Nós almoçamos no que ele afirmou ser o restaurante com o melhor hambúrguer do mundo: o Shake Shack. E tenho que concordar com ele, a comida é divina. Depois que comemos, vamos até o Metropolitan Museum of Art, que me deixa maravilhada. Sempre quis vir aqui. Pela décima vez hoje, desejo estar com minha câmera, para registrar esse momento maravilhoso. Minha emoção é ainda maior quando finalmente chego na parte onde ficam as pinturas de Vincent Van Gogh, o meu pintor favorito de todos os tempos. Pode-se dizer que eu fico quase em transe, quando me aproximo o máximo possível de suas telas. Como o museu é muito grande e não temos muito tempo, só vamos até as partes que achamos mais importantes.

Durante todo o tempo em que estamos no museu, Thomas me observa e segue sem falar nada. Em certos momentos, ele parece tão absorto em seus pensamentos ao fitar os quadros, que eu tenho que chamá-lo mais de uma vez para que possamos prosseguir. Ao sairmos do MET, vamos andando até o Central Park e decido tentar começar uma conversa, lembrando de algumas dúvidas que brotaram em minha mente na noite anterior.

– Thomas, quando é que vamos para Inglaterra? – pergunto, tirando-o de seus pensamentos.

– Ah, amanhã de tarde – ele diz, me deixando em choque.

– Mas... Já?

– Aham, já. Por que o choque? Pensei que já tivéssemos falado sobre isso – fala, enquanto tento medir os efeitos dessa viagem na minha vida.

Meu Deus, vou conhecer minha mãe biológica. Será que eu realmente quero conhecê-la? Porque apesar de tudo, Jessica Geller é a mulher que eu sempre considerarei como minha mãe. Ainda assim, não deixo de me perguntar sobre o que Elizabeth Döbereiner espera de mim. Será que...

– Terra chamando! – Thomas agita a mão na frente do meu rosto. – Diana, você está aí?

– Ah, oi. Desculpe, eu só estava pensando sobre...

– Como vai ser conhecer sua mãe?

– É, era isso mesmo que estava pensando. O que você acha? Será que ela vai gostar de mim? – pergunto, quando atravessamos na rua e entramos no Central Park.

– Se tem uma coisa que eu não tenho dúvidas é que Elizabeth te ama muito. E, independente do que ela espera de você, saiba que você é uma pessoa incrível. Vai superar qualquer expectativa dela – estamos em um caminho em meio a árvores. Quando ele diz isso, ele para e me vira para que eu o encare – Para falar a verdade, você superou e muito as expectativas que eu tinha em relação a você.

– Como assim? – pergunto curiosa, indo para mais perto dele.

– Bem, eu esperava uma pentelha mimada e muito fresca. Naquele dia da festa quando eu te vi, você estava muito linda – eu coro bastante quando ele diz isso, me afogando nas profundezas dos seus olhos azuis – Mas eu jurava que você era uma daquelas garotas sem amor próprio que são bastante atiradas. Me desculpe se isso te ofende, mas foi o que eu erroneamente pensei. Na hora em que você saiu com seu namorado, eu imaginei que... É, você sabe. Quando eu e os dois tapados te seguimos, vimos o que ele estava tentando fazer... Argh! – ele faz uma cara de nojo e raiva, mas logo continua – Tentei ir te ajudar, mas Benjamin me segurou, alegando que você daria um jeito naquilo. Foi então que tudo aconteceu.

Não consigo falar nada, mas isso não importa, porque ele continua falando:

– Quando estava presa naquela casa, você foi tão forte e não se rendeu às loucuras daqueles idiotas, mantendo sua personalidade. Também não ficou se fazendo de coitada... Muito pelo contrário! Você se preocupou com aquela monstro, Josh, e com seu irmão. Sua força me encantou – no momento em que diz isso, ele se aproxima de mim, colocando sua mão em meu rosto – Espero você também não se ofenda com isso.

Franzo o cenho, confusa com suas palavras. Mas não tenho a oportunidade de perguntar o motivo que me levaria a ficar ofendida, já que, em poucos segundos, seus lábios macios alcançam os meus.

Sinto como se todo o meu corpo fosse explodir, de tão forte que é essa sensação maravilhosa que se manifesta dentro de mim. Nunca tinha sentido isso antes. Definitivamente ele não é gay. E definitivamente eu gosto dele. Coloco meus braços ao redor do seu pescoço, trazendo-o mais para perto possível de mim, e retribuo o beijo. Nossos corpos se encaixam perfeitamente, e é como se o mundo à minha volta deixasse de existir. Não há mais nenhum nova-iorquino fazendo caminhada, andando de bicicleta ou passeando com seu cachorro. Tudo se resume a Thomas.

Logo que nos separamos, a única coisa que consigo fazer é dar um sorriso sem fôlego, assim como ele.

– Não vai bater em mim, vai? – ele pergunta, aumentando seu sorriso, o que só me faz ficar mais derretida.

– Acho que não. Ou você curte o estilo sado-masoquista, Anastasia Steele? – digo e ele dá uma gargalhada.

– Não, essa eu passo – ele diz, me dando mais um beijo nos lábios e alguns beijinhos em meu pescoço. Tenho que me segurar para não derreter aqui no meio desse parque.

Passeamos de mãos dadas pelo parque, conversando por todo o caminho sobre o que vemos, sem entrar em assuntos preocupantes. Como se fôssemos só mais um casal normal em um passeio, sempre sorrindo quando nossos olhares se encontram. Vamos até pontos importantes do Central Park, sendo o meu favorito a estátua que fizeram para Balto, o cachorro que salvou as crianças de sua cidade de uma epidemia de difteria. Vamos também para o memorial que fizeram para John Lennon. David teria adorado, já que é louco pelos Beatles. Passamos pelo zoológico do parque, onde vemos os leões marinhos fazendo suas palhaçadas. Ficamos por lá até ele fechar, e depois procuramos um lugar para jantar.

Depois que conseguimos um táxi, Thomas escolhe o Cafe Boulud, que ele alega ser um dos melhores da cidade. Chegando lá, descobri que a culinária é francesa. Depois que o garçom nos guia até nossa mesa, Thomas arrasta uma cadeira para que eu me sente.

Mademoiselle – ele diz, com uma reverência que me faz rir.

Eu o deixo escolher meu prato, já que estivera aqui antes. Eu peço uma Coca, mas ele pede vinho.

– Pensei que já tivesse superado a história do alcoolismo – murmuro.

– Um dia não pode ser bom se não tiver um vinho no meio – ele afirma, no momento em que nossos pratos chegam.

A comida realmente é deliciosa, e acabo com ela num instante. Thomas não tira os olhos de mim em nenhum momento, o que me deixa sem graça. Como sempre, ele paga a conta, e fico tentando esconder o fato de que ser bancada me incomoda bastante. Mas digo para mim mesma que vou reembolsá-lo no futuro. É uma mania que peguei do meu pai, não gosto de ficar devendo a ninguém.

Pegamos mais um táxi até um porto, onde um barco cheio de pessoas nos espera.

– Quando foi que você arrumou ingressos para isso? Pensei que tivéssemos que comprá-los com antecedência – digo, porque tinha sido exatamente o que Chelsea havia contado para mim sobre esse passeio noturno.

– Eu já disse. Tenho os meus contatos – responde, me guiando para dentro do barco.

Uma música agitada pulsava pelo local, e eu podia ver várias pessoas dançando na pista de dança, algumas muito alegres por causa da bebida. Vamos até o último andar, que tem uma parte descoberta e eu tremo um pouco.

– Aqui – Thomas diz, retirando sua jaqueta e a colocando em meus ombros, me dando um beijinho rápido logo depois.

O barco começa a andar e ficamos em sua proa, observando as luzes dessa cidade maravilhosa que, de certa forma, me proporcionou momentos bem felizes. Passamos por baixo da ainda movimentada Ponte do Brooklyn, contornando a Estátua da Liberdade logo em seguida. Thomas fez questão de discorrer sobre a história de ambos. Perceptivelmente, ele adorava saber de tudo isso, então escuto atentamente a tudo que ele tem a dizer, sem falar nada. Até que noto que música agitada para, dando lugar a uma bem lenta.

– Pode conceder-me esta dança? – Thomas indaga.

– Mas é claro, monsieur – digo, aceitando sua mão estendida. – Só tem um detalhe: eu não sei dançar.

– Sem problema. Eu te ajudo. Aliás, eu danço bem o suficiente por nós dois – ele diz sorrindo.

– Sempre humilde – sorrio.

Seus braços envolvem minha cintura, puxando-me para mais perto de seu corpo. Envolvo meus braços em seu pescoço e ele nos conduz lentamente. Um passo para cá, um passo para lá... A nossa sintonia é tamanha, que podíamos ser apenas um só. Deito minha cabeça em seu peito e olho as estrelas. Elas nunca estiveram tão brilhantes.

*****

Entramos no lobby do hotel, que estava bem calmo. Thomas disse que era porque as pessoas ficavam até bem tarde nas ruas. No elevador, um silêncio constrangedor paira entre nós. Eu iria mesmo dormir no mesmo quarto que meu namorado? Logo que penso nisso, me censuro. O que deu em mim? Só porque cedemos à tentação, não significa que somos namorados, certo? Era absurda demais a ideia de ter passado um tempão enrolando Josh, sem querer nada sério, só para aparecer Thomas e querer namorá-lo de primeira. Além disso, a ideia de dormir no mesmo quarto não devia me incomodar. Não fizemos isso algumas vezes antes? Eu não deveria me preocupar, certo?

Quando entramos no quarto, eu estava quase me convencendo que tudo ia dar certo, quando Thomas se vira para mim e me puxa para si, pressionando os lábios nos meus. Eu gostaria de dizer que me afastei dele, alegando que tínhamos que ir com calma. Ou então ter dito que o trabalho dele era me proteger, e não trocar saliva comigo. Mas não faço nada disso. Na verdade, eu retribuo o beijo, e sabe de uma coisa? Não me arrependo de nada. Uma onda de calor preenche meu corpo, e fico ansiando por mais. Aparentemente ele também fica, já que seu beijo passa de doce para selvagem. Passo minhas mão pelo seus cabelos negros e os puxo um pouco, fazendo ele emitir um ruído que presumo ser de aprovação. Ele se afasta um pouco e nos guia até sua cama, me deitando gentilmente nela. Quando se deita, inclina-se sobre mim e eu tiro sua camisa, expondo seu corpo musculoso que só me fazia arder mais ainda de desejo. Faço uma trilha de beijos em seu pescoço, subindo até sua boca.

– Diana, eu... – ele começa, tentando se desvencilhar.

– Shhhh – reclamo, enlaçando seu quadril com minhas pernas e o puxando para mim novamente. Eu não queria parar. Por que ele não apenas deixa rolar? Ele bem que poderia ceder.

E é exatamente isso que ele faz. Nossas bocas se encontram novamente, e suas mãos exploram meu corpo, parando nas alcinhas do meu vestido. Ele hesita, como se pedindo permissão. Eu apenas o beijo mais intensamente, e ele entende que pode prosseguir, abaixando então as alças e puxando o vestido. Quando me dou conta, estava só de calcinha e sutiã. Isso é novo pra mim, já que Josh e eu não chegamos a passar da fase das mãos bobas. Eu não me sentia confortável em fazer essas coisas com ele. Mas com Thomas, a coisa era diferente. De repente, todas as encanações que eu podia ter com o meu corpo não importavam mais.

Estávamos completamente entrelaçados, suas mãos prestes a abaixar a alça do meu sutiã quando a porta se abre repentinamente, fazendo-me sair de baixo de Thomas e me cobrir com o lençol rapidamente. Era Dan.

– O que você está fazendo aqui? – Thomas pergunta, de uma forma nada delicada.

Daniel coloca as mãos pro alto, como se estivesse se rendendo.

– Eu só passei aqui para perguntar se vocês topavam fazer algo, uma despedida antes de ir para a chatice de York – ele diz, e seus olhos encontram os meus – Mas pelo jeito vejo que vocês já estão ocupados, fazendo sua própria despedida – depois que ele fala isso com um sorriso malicioso no rosto, fico roxa de vergonha.

Ai. Meu. Deus. Isso não estava acontecendo. Não podia. Isso tem que ser um pesadelo! Argh! Daniel deve estar pensando horrores a meu respeito. Minha mãe, feminista do jeito que é, diria que eu não deveria ligar para o que os outros caras pensam de mim. Que eu deveria ser feliz, e não me sentir na obrigação de agradar homem algum. Mas nessa situação, é impossível para mim não ligar.

– Agora você viu que estamos ocupados. Tchau, Danny – Thomas dá de ombros, levantando-se e começando a empurrar Dan para fora do quarto, sem nenhum pingo de vergonha.

– Na verdade, Tommy, eu queria falar com você um instante – Daniel diz, virando para parar Thomas onde estavam, na porta do quarto. Enquanto tudo que consigo fazer é continuar deitada com um lençol me cobrindo, ainda em choque com tudo que aconteceu agora.

Thomas suspira, hesitando por um momento, olha para mim como se dissesse “me desculpe” e veste sua camisa. Os dois saem para o corredor, fechando a porta atrás de si. Coloco um travesseiro em meu rosto e dou um grunhido. Mas que droga! Por que essas coisas só acontecem comigo?


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Notas finais do capítulo

Bem, é isso. Espero que tenham gostado tanto quanto eu gostei. Obrigada por lerem, e não se esqueçam de dar a opinião de vocês. ;D



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