Preces de Braun escrita por hwon keith


Capítulo 1
Rogando na pista do traídor


Notas iniciais do capítulo

Eu até tentei impor um tom mais agressivo e escuro, como das minhas outras fics. Mas fazer o que.



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Tédio crescente inundava a exasperação. De costume, ambos sentimentos reinavam no ambiente de patética calma. Não só como o quarto fétido daquelas certas coisas contra mofo, mas também do mundo onde não existia magia nem nada interessante.

Esse mundo é o nosso. Do qual você respira e expira de modo manual neste exato instante. Ops.

Ignore o meu ridículo ato do qual você já deve ter encontrado diversas vezes. O assunto agora é sério – não para você, é óbvio, mas para o que estou relatando. É clichê, blablabla, porém é o que temos. Veludo gasto, cartas não mais macias, clientes que ainda cham que tarô tem algo mistico. Mereço. Bem, a realidade. O normal e comum. Mergulhando fora da ficção da qual nunca verá na sua pacata vida, ansiando por mudança e pressupondo que estará pronto quando esta ocorrer. Aham.

Terminando como sermão, porque ninguém tem saco pra essa merda, pateticamente continuarei narrando algo que eu preferia me afogar do que fazer. Mas, desde quando todos temos livre arbítrio?

Sim, voltando, a moça de cabelos rosas meio desbotados bocejou e retirou do forno uma fornada (oh) de biscoitos. Ou cookies. O caralho a quatro, se preferir. Jogou o pano do qual segurou a forma para muito longe. Não tinha paciência. Os biscoitos demorariam minutos para remotamente poderem ser degustados e o amigo mais irritante que tinha a amabilidade de aguentar ligaria para reclamar. Sempre.

Ela ocupava o gigantesco tempo livre de preguiça com leitura do futuro, presente e isso aí. Runas, tarô, leitura das folhas de chá, das mãos, numerologia. Gostava mais da quiromancia, a quarta. Sabia pegar os fios desatados no véu de pensamentos que subiam. Acertava em cheio, sem aquela besteira de jogar três “adivinhações” que qualquer babaca cairia. “Oh, vejo que você vai perder dinheiro em algo que depois perceberá inútil”, tipo. O que todo santo humano normal faria.

Ta, chega. A ligação veio quando a mulher permanecia deitada no sofá. Jogou-se contra o aparelho preto. A voz tão reconhecivelmente familiar subiu num comentário sarcástico.

Claro. Gabriel com aquela porra de olhar gordo feriu um ser nada a ver com a história na busca. Era tão óbvio. Ele encarava, um tropeçava. Ele observava, o outro derrubava. Ele apenas visualizava, um morria. Se não fosse maldição que mulher poderia ter jogado sem perceber, deveria ser um dom gigantescamente filho da puta.

– Noka – ele chamou, a voz entediada. Podia até imaginar o nome dela com letra minúscula, como ele colocava no chat – Quero te dar uns tapas.

Noka suspirou.

– Por que – perguntou, sem entonação.

– Porque tu não tá prestando atenção – e desligou.

Ela suspirou novamente e mais alto. Pegou um cardigã cinza maravilhoso, o vestiu e saiu da casa. Gah era um cu as vezes, mas Noka gostava suficientemente dele para salvá-lo. Mas não o suficiente para impedir de dar uns chutes merecidos, vale lembrar.

-

Seu irmão também baixo mas loiro já estava lá. Nick mantinha uma expressão tão vazia de tédio quanto Gabriel. O loiro tinha algo dentro de si que despertava quando via o outro. Uma vontade louca e insubstituível de brigar e chamá-lo de gordo orelhudo. Mas Gabriel cagava e andava pra isso.

Sorrindo no ponto de doer, Noka saltitou para os dois. Ela não podia descrever o quanto vê-los no ponto de se baterem deixava-a contente.

– O que foi que tu estragou agora? - jogou no amigo, que era de um modo absurdamente odioso mais alto. Considerando a necessidade de ele dar na cara dela sempre com isso.

– Um lobisomem – respondeu, a prepotência pintando nas pontas da fala – Não, não era o Clei.

Nick revirou os olhos.

– E ele deu no pé – continuou o garoto moreno que na verdade não era gordo. Não tanto assim – Quando eu ia atrás veio outro cara puxar briga. Do bando.

Como Gabriel parecia satisfeito com o diálogo, Nick continuou de mau gosto.

– Gah – pôs no apelido que a irmã costumava usar uma nota de nojo suprimido – Como sempre CONSEGUIU – elevou a voz como o drama – fuder com tudo. Deve ter olhado pro homem e rogado algo. Mereço. O cara desmaiou, caiu e bateu a cabeça e enfim. O lobisomem sumiu e tamo aqui e daqui a pouco a polícia chega.

Noka assumiu uma postura prática.

– Vamos vazar então – declamou, puxando cada braço de um e andando para longe – Tenho cookies pra comer e não dinheiro pra pagar fiança desnecessária. E TU – reclamou, com raiva, virando-se para sua esquerda onde o amigo alto parecia descontraído – Controla esse poder aí, puta que pariu.

Noka tropeçou e caiu. Enquanto Nick passou do espanto para a riso, a irmã levantou naquele ódio feminino ativado instantaneamente e começou a despejar tapas em Gabriel, do qual esse sustentava um sorriso de arrogância.

-

Salvos, Nick e Gah comiam os biscoitos. Noka encarava o amigo numa carranca de mágoa, do qual mais um pouquinho e ele até poderia se sentir mal. Ou não.

Ela tinha arranhado de algum modo fantástico a pele sobre a clavícula na queda. O local ardia pelo contato com o concreto pontudo e o sentimento de pegar um facão na cozinha e enfiar no baço de Gabriel era forte demais para ser deixado de lado.

Não que ele se importasse. Porque ele não o fazia.

– Então – ela retomou a fala, após o sexto biscoito engolido – Se o lobisomem fugiu mesmo, ele deve ter estraçalhado o outro. Cleitin como líder do bando local deve saber de algo. Se for alguém do grupo, ele vai ser um porre.

Os dois concordaram mecanicamente, provavelmente nem escutando direito. O fantasma que restava da paciência da mulher estava se esgotando, e ela sabia que caso esse sumisse os dois iam ficar irritados semanas pelo espancamento que ela daria neles.

– Foda-se – Noka levantou-se e os dois garotos olharam o sorriso venenoso que surgiu nos lábios dela, assim como a frieza nos olhos – Se não vão me escutar podem divertir-se no papo com a lobisoma.

Saiu do local antes que Nick pudesse argumentar. Gabriel soube que havia realmente irritado e o irmão entendeu que estava sozinho com o bolota.

-

Sem a percepção de perigo antes que esse pudesse sequer ser imaginado, os dois sabiam que estariam fudidos em poucos minutos. Estava um breu e as lanternas não tinham as pilhas trocadas fazia certos milênios, então iriam apagar em pouco. O espeto de prata estava só na posse de um deles, e a dupla horrível que formavam permanecia silenciosa, porque nenhum queria ouvir a voz do outro.

Por alguma sorte milagrosa, o lobisomem que procuravam pulou no hall da entrada da casa. Do lado dessa, eles espreitaram e esperaram. Ele farejou o cheiro deles e correu na direção. Gabriel recebeu-o com uma espetada na cara e o lobisomem gritou de dor quando retrocedeu e um retângulo avermelhado queimava na sua pele.

Desmaiando-o com o golpe de uma meia recheada de ferro, Nick engasgou com um pouco de falta de ar. Teve que levantar os pés do criminoso enquanto sua dupla arrastava pela frente, em seguida.

Dolorosas horas depois, com os braços doloridos, jogou-se no sofá e arquejou. Seu corpo estava coberto de suor. O lobisomem jazia deitado no carpete empoeirado e Gabriel tentava em vão retirar Noka do quarto, porque pelo menos ela deveria interrogar o acusado.

– Vai se fuder – sibilou a mulher, a voz abafada.

– Noka – ele suspirou.

Houve um instante de silêncio. A porta se abriu com violência.

– Quando isso terminar – ela ditou lentamente, o tom acusatório – Tu vai me fazer o favor de não me aparecer por um tempo.

– Ok.

Noka desceu as escadas e parou na frente do desmaiado. Retirou o ainda cardigã e pegou algumas certas coisas de uma caixa protegida com senha. Enquanto o amigo olhava ainda da escada, e o irmão do sofá, ela arrumou o ritual e em segundos o lobisomem delatou todo o plano que basicamente constituía em socar todo mundo que ele não gostasse da cara.

A adolescente pôs em pé e voltou para o quarto. Nick estava muito cansado até para zoar da cara de Gabriel, porém pareceu juntar uma força e sorriu um “dumbo”, enquanto o outro colocava o homem na traseira da caminhonete, despedia-se num aceno breve e iria depois contar para Cleitin que um parceiro dele planejava tirá-lo do poder.

Terminando o dia de bosta num mundo onde havia mesmo magia, que na verdade é o nosso, desculpe, as coisas não eram tão mais legais do que no sem.


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