Várias aulas se passam até que chega a hora do almoço. Os alunos saem em disparada pelos corredores em direção à cantina. Eu simplesmente espero a manada passar e então vou. Ao chegar à cantina, faço o meu prato e, como eu imaginava, todos cobrem os lugares disponíveis novamente. Reagan acena para mim lá do banco perto da fonte e eu caminho até lá, passando pelas mesas que eu identifico como: da fanfarra, dos geeks, das cheerleader e por fim, a dos jogadores de basquete. Alguém põe o pé na minha frente e eu tropeço, jogando a minha bandeja para cima e a mesma cai bem na cabeça daquela cheerleader que estava me encarando mais cedo. Xiii... Ferrou.

Seus olhos arregalados parecem pular para fora, ela está completamente suja de lasanha e suco. Ela olha em volta e seus olhos param em mim. Se um olhar matasse, eu aposto que só restaria pó de mim. Todos se calam. Ela vem na minha direção, vagarosamente. Eu não consigo me mexer. Ela chega na minha frente e abre um sorriso!? Como assim?! Ela estende a mão para mim e eu a aceito. Ela me ajuda a levantar.

Amber: Me desculpa, eu, eu tropecei e...

Garota: Tudo bem, tudo bem. Acontece. Não é o fim do mundo.

Ela sorri gentilmente.

Garota: E eu tenho certeza que você não caiu sozinha.

Ela encara um dos jogadores na mesa.

Garota: Ah, eu sou a Deborah. Deborah Duncan. Mas as minhas amigas me chamam de Debbie.

Amber: O meu nome é Amber. Amber Rose Thomas.

Deborah: Você é a garota da fonte, não é?

Amber: Pois é...

Deborah: Não deixe de me avisar se esses jogadores idiotas te incomodarem de novo, tá?

Amber: Tá, obrigada. E me desculpe, de novo. Eu vou tomar mais cuidado...

Finalmente, aula de dança. Eu adoro dança, me lembra do Hayden... Os meninos saem metade para o treino da fanfarra e a outra metade para o treino de basquete. Metade de nós meninas vamos para a aula de dança e a outra metade para aulas variadas.

Ao chegar ao vestiário, vestimos roupas confortáveis para a aula (conforme foi requerido ao se inscrever para a aula de dança). Eu visto uma blusa vermelha de alcinha que vai quase até o umbigo e uma legging preta com cruzes douradas que vai até o calcanhar. Prendo o cabelo em um rabo-de-cavalo. Assim que terminamos, saímos e os meninos entram (só tem um vestiário na escola, então, dividimos. O mesmo acontece na hora da ducha).

Nós entramos na sala 27. As paredes são beges e uma delas é coberta por um espelho que se estende pela mesma. O chão de madeira é coberto por linóleo em um tom entre salmão e pêssego. No canto da sala, ao lado da porta, tem uma pequena mesa de madeira com um toca som branco e preto. Ao lado da mesa de madeira, de frente para o espelho, fica uma barra (corrimão usado geralmente no ballet) em um tom pastel de amarelo. O professor está ao lado da porta, encostado na parede. Ele é alto e magro, mas não excessivamente. Ele é dono de olhos castanhos escuros e cabelos castanhos penteados para trás com gel.

Professor: Não, não, não, não, não! Sem sapatos no linóleo.

Garota: O que é isso?

Professor: Linóleo é esse tapete de plástico salmão que cobre o piso. Não pode usar sapato na sala, suja o linóleo. Anda, anda, anda. Tirem os sapatos. Deixem-os do lado de fora.

Nós tiramos os sapatos e os deixamos da lado de fora, como requerido. Depois voltamos a adentrar a sala.

Professor: Bom dia, meninas. Eu sou o seu professor de dança. O meu nome é James Brown.

Todas: Bom dia, professor Brown.

Professor Brown: Antes de começarmos, eu vou explicar como as coisas funcionam aqui. Nós não vamos focar em um estilo de dança. Vamos variar. Uma modalidade por mês. As modalidades serão sorteadas. Os temas das apresentações de verão e inverno serão escolhidos por votação. Perguntas?

Uma menina levanta a mão.

Professor Brown: Sim?

Menina: Qual vai ser o estilo de dança desse mês?

Ele abre um largo sorriso de orelha a orelha e então se vira, pega a sua mochila preta da Nike e de lá, ele tira um pote de vidro que parece até um aquário cheio de pedacinhos de papel. Ele coloca a mão no pote e pega um pedacinho lá no fundo. Ele o abre e lê.

Professor Brown: Tecido acrobático. Para quem não sabe, o tecido acrobático é uma modalidade aérea circense, também denominada dança aérea, dança acrobática, tecido aéreo ou tecido circense.

Amber: Eu sempre quis fazer isso.

Cochicho para a Reagan.

Menina: Então essa é aquela dança da cortina?

Professor Brown: É.

Professor Brown: Comecem a se alongar enquanto eu vou buscar as “cortinas”.

Ele sai. Começamos a nos alongar. Aquela menina de cabelos escuros (Deborah) olha para mim, sorri e acena. Ela está sentada no chão. Ela usa um collant preto, polainas pretas, meias pretas e uma blusa cinza caída em um ombro.

Eu aceno de volta e sorrio. Volto a minha atenção ao alongamento.

Acabo de perceber que o professor já voltou e já está pendurando o último par de “cortinas” (é um par para cada uma e outro para o professor).

Reagan e eu nos sentamos.

Ele termina. A esse ponto, todas já terminaram de se alongar. Ele nos mostra como subir nas “cortinas” e nós tentamos em seguida. Depois de muitas quedas, acabamos pegando o jeito. Ele nos ensina os passos básicos e nós tentamos e aprendemos a maioria. O sinal toca, indicando o final da aula. Hora da ducha.

Todas saímos da sala e vamos em direção ao vestiário. Penduro a minha roupa na frente no boxe que eu vou usar e espero na fila. Que ótimo, sou uma das últimas, vou pegar água fria. O tempo passa e as filas vão diminuindo até que só restam duas garotas na minha frente. Reagan se despede de mim e então sai. Nós temos uma hora para todas terminarem o banho e então os meninos entram e nós voltamos para as aulas. Dessa uma hora restam 30 minutos, diz uma garota da fila ao lado.

O tempo passa e as únicas que restam aqui no vestiário são: Deborah, duas de suas amigas, e outras três meninas que acabam de entrar cada uma em um boxe. Finalmente chega a minha vez. Eu entro no boxe, penduro a roupa que estou usando na frente do boxe e ligo o chuveiro. A água está mais fria do que eu imaginava. Tomo um banho rápido e desligo o chuveiro. Pego a minha toalha que está pendurada no boxe e me enxugo. Estico a minha mão para fora, procurando a minha roupa. Como pode? Eu a deixei aqui. Aonde está? Eu abro a porta do boxe e percebo que sou a única no vestiário. Vasculho todo o lugar, mas não acho a minha roupa. Abro a minha bolsa e pego o celular. Ligo para a Reagan. Depois de alguns toques ela atende.

Reagan: Alo? Amber?

Amber: Oi, Re. Eu preciso da sua ajuda.

Reagan: O que foi? A aula vai começar daqui cinco minutos.

Amber: A minha roupa sumiu. Tudo. A molhada, a da dança e a dos achados e perdidos também. Não restou nem sutiã e calcinha. Só sobrou os sapatos.

Reagan: Xiii... O que eu posso fazer?

Amber: ME ARRUMA UMA ROUPA. Eu não posso sair pelada. E anda logo, os meninos chegam daqui a pouco.

Reagan: Ok, ok. Eu posso te emprestar o meu top da aula de dança e a minha calça jeans e eu uso o meu short, a minha blusa e o meu sweater.

Amber: Tá, mas vem logo.

Reagan: Ok, tchau.

Amber: Tchau.

Ela desliga. Eu fico andando de um lado para o outro até que ouço vozes de meninos. CARAMBA, FERROU. Eu pego a minha mochila, os meus sapatos e vou para o último boxe enrolada na toalha. Entro e tranco. Reagan, chega logo.

Garoto: Cara, realmente foi uma boa ideia nós sairmos mais cedo para sermos os primeiros a tomar banho.

Outro Garoto: É. Eu te falei que eu sou um gênio.

Garoto: Anda logo, antes que eles cheguem.

Ouço passos se aproximando e cruzo os dedos para que nenhum estrupício tente abrir essa porta. Os passos param na minha frente. FERROU, FERROU, FERROU! Um dos estrupícios tenta abrir a porta.

Garoto: Cara, essa porta ta trancada.

FERROU, FERROU, FERROU!

Outro Garoto: Talvez tenha emperrado, tenta de novo.

Ele tenta abrir novamente.

Garoto: Não é isso. Está trancada mesmo.

Outro Garoto: Fracote, deixa eu tentar.

Ele tenta abrir e não consegue. Tenta de novo, novamente sem sucesso.

FERROU!

Outro Garoto: Tá trancada mesmo. As garotas devem ter trancado e saído por cima para enganar a gente.

Garoto: Ou, tem uma garota aí dentro.

Outro Garoto: Mas o chuveiro ta desligado... Por que teria alguma garota aí?

Garoto: Para espiar os garotos tomando banho.

Outro Garoto: Mas não dá pra ver nada daí de dentro, imbecil.

Garoto: Tá então deixa eu entrar e descobrir.

FERROU, FERROU. REAGAN, APARECE!

Garoto: Me dá uma mão, cara.

Ele começa a subir pela porta do boxe. Já posso ver a sua mão apoiada no topo. Ele sobe mais um pouco e me vê. Ele arregala os olhos azuis.

Garoto: O que você tá fazendo aí?

Ele fala baixo.

Amber: To pagando um micasso. Levaram as minhas roupas e eu to esperando a minha amiga vir trazer.

Ele ri baixinho.

Garoto: É um micasso mesmo. Mas eu vou te ajudar.

Amber: Obrigada.

Ele desce.

Garoto: Vai logo tomar o seu banho, não tem ninguém. Só deixaram a porta trancada.

Outro Garoto: Ah, poxa. Por um minuto eu achei que a gente acharia uma mina pelada aí dentro.

Garoto: Só em sonho, mesmo.

Outro Garoto: Tá bom, eu fico com o primeiro boxe.

Ouço o chuveiro ser ligado.

Garoto: Destranca a porta.

Eu destranco.

Ele tira a camisa e me entrega. É a camisa vermelha do time de basquete. Eu a visto e a camisa vai quase até o meio da coxa.

Amber: Obrigada. Não conta pra ninguém, por favor.

Garoto: Ok, pode confiar.

Finalmente presto atenção no garoto que salvou a minha pele. Ele tem cabelos negros quase azulados molhados e seus olhos são azuis claros.

Reagan: A CAVALARIA CHE...

Outro Garoto: Chegou tarde, garota. Agora é a vez dos caras.

Nós saímos do vestiário.

Amber: Eu não sei o seu nome...

Eu cochicho.

Garoto: É porque eu não falei.

Ele abre um sorriso.