O café já estava frio e provavelmente amargo, o colchão já estava fundo em função do peso dos dois corpos que se sobrepunha sobre si, as persianas das janelas não estavam abertas, mas também não estavam fechadas, talvez um meio termo. Por poucas brechas que nela havia dava para ver que o sol se punha e devia ser umas seis da tarde ou talvez sete.

– Eu ainda não acredito que isto está acontecendo.

Diana tira seus olhos que encaravam a cor vermelho alaranjado do pôr-do-sol, e o direciona a Serena, a pequena e frágil garota de cabelos negros e longos deitada em seu colo com o rosto vermelho e repleto de lágrimas ás quais soltara á 3 dias seguidos, os dias que se seguiram após seu término com Gabriel.

– Serena amor, se era pra você ficar assim, então porque você acabou com tudo? – falou acariciando os cabelos da menina que se levantou de um salto imediato e deixou que outras lágrimas saíssem enquanto dizia indignada:

– Di, ele veio me falar de futebol Di, de futebol. – ela socou a cama que por ser macia afundou-lhe a mão. – Eu me arrumei, me preocupei me alegrei imensamente pra quando chegar à merda daquele campo de futebol ele vir me falar que só queria me dizer que havia sido o melhor da liga.

Diana reprimiu uma lágrima, um aperto no coração e a vontade imensa de abraçar Serena, ao olhar para aqueles olhos claros e ver a dor que a melhor amiga sente, dá vontade de matar Gabriel por fazê-la sofrer, matar Serena por sofrer por Gabriel, e se matar por se importar.

– Eu não sei o que te dizer.

Foi tudo que disse extremamente decepcionada por dois fortes motivos: 1) Ela não conseguia ajudar a melhor amiga que estava ali na sua frente sofrendo e chorando e 2) foi quando viu que seria uma grande e fracassada profissional, não sabia lidar com um leve problema emocional quem diria então tratar de pessoas com problemas realmente sérios como depressões e enfins. Aquilo terminou de destruir seu dia.

Para surpresa de Diana, Serena deu um leve sorriso para a amiga e secou as lágrimas que já estavam quase secas no rosto.

– Talvez o melhor seja realmente não dizer nada. Você será uma ótima psicóloga Di. – A amiga agora expressa compreensividade, leveza e orgulho.

– Eu te amo Serena. – ela falou rindo e a amiga lhe socou rindo.

– Pare com essas promessas vazias. – a amiga levantou rindo e secando as últimas lágrimas que descera com uma certa objetividade. Ela vira-se para Diana que ainda está sentada na cama e balança a cabeça rindo. – Como se você acreditasse no amor. – e isso fez as duas gargalharem mais ainda.

~*~

A música estava extremamente alta, o lado exterior da casa extremamente suja, e aquele lugar fedia. Fedia a álcool, xixi e algo que ela não reconhecera de início e nem tinha gosto em descobrir o que era.

– Okay, será que você pode me dizer o que exatamente viemos fazer aqui? – ela olha para Serena que está esplêndida em seu cropped cor de pele com bolinhas grandes e pretas, sua saia vermelha colada e seu salto agulha preto com um laço casual na parte de trás.

– Di você já sabe, o Gabriel está aí, tenho certeza que deve estar com alguma piranha. – revirou os olhos – Vim para mostrar para ele o que ele perdeu ninguém mandou ele não dá valor.

– Entendi. Mas porque EU estou aqui mesmo?

– Você veio me fazer companhia oras. Fala sério Di, esquece os livros pelo menos uma vez e aproveita pelo menos uma festa na sua vida.

– Eu irei aproveitar festas, festas na minha cama.

– Di eu estou falando sério, anda vamos!

Antes que a garota pudesse dizer algo à outra a puxou para dentro da casa que por dentro fedia mais que o lado de fora, estava amontoada de gente, muitos rostos conhecidos por sinal, percebeu a garota, e uma música alta que ela tinha certeza, uma hora estouraria seus tímpanos.

Diana respirou fundo e fechou os olhos. Nunca havia visto tanta bagunça na sua vida! Era copo pra todos os lados, a mesinha de centro do que deveria ser a sala estava jogada em um canto e quebrada, no chão havia de tudo desde bebidas a confete que mais parecia papel picado irregularmente, roupas estavam espalhadas por vários tipos de lugares possíveis.

– Eu acho que estou passando mal.

– Desculpa, esqueci do seu TOC.

– Esquece!

Serena sorriu e saiu entrando na casa carregando Diana pelo braço, a mesma por onde passava tentava colocar algo no lugar, ou pelo menos o que ela achava ser o lugar, não estava dando certo.

– Me dê três tequilas. O que você vai querer Di?

Ela agora que percebera onde estava, parecia um balcão improvisado na divisória entre a cozinha e a sala, uma cozinha americana. Nesse suposto “balcão” havia todo tipo de coisa derramada o que a fez se afastar instintivamente.

– Ir pra casa é uma opção?

– Ah Di, se diverte! – Serena falou isso e tomou suas 3 bebidas, uma atrás da outra. – Agora vou conseguir me divertir! – exclamou e foi direto para a pista de dança, na verdade o centro da sala, sem nem olhar se Diana a seguia ou não

– Sua amiga parece ser fraca pra bebida. – falou o que supôs Diana deveria ser o tal “barmen” que era só mais um dos estudantes de direito da universidade.

– Deve ser. – falou ela o olhando e vendo que ele estava sobre efeito de drogas. Ela respirou fundo, contrariada, e disse já se retirando – Preciso de ar.

A garota teve de se apertar entre um bando de loucos, problemáticos mentais que valiam tanto quanto neandertais por saber o mal que aquilo os iria fazer e mesmo assim o fazia, bem, era assim que a menina classificava adolescentes pelo menos.

Assim que chegou ao que parecia ser o jardim dos fundos da casa viu que ali pelo menos, os projetos de neandertais ainda não haviam destruído. Havia apenas alguns casais se agarrando aqui e ali, mas nada que ela já não tivesse presenciado, contra sua vontade para deixar claro, entre Enzo e suas putinhas.

Ela caminhou até o fim do jardim e sentou-se no chão, pegou seu celular e começou a jogar um joguinho qualquer que poderia livrá-la pelo menos mentalmente daquela bagunça.

– Se a festa está tão chata a ponto de você estar jogando um joguinho de raciocínio porque não volta pra universidade?

– Você está me seguindo? – interroga a garota após o susto que leva.

O garoto senta-se ao lado dela com um pouco de dificuldade por conta da embriagues e olha para o celular dela.

– Você perdeu! – apontou para o celular que dizia em caps lock e em cor verde néon esses mesmos dizeres.

Quando o garoto falou esta frase próximo a ela, a garota percebeu que ele estava bêbado, seu hálito era álcool puro, e suas roupas cheiravam a uma mistura de bebida e uma mistura nojenta de perfumes.

– Já pegou quantas hoje Enzo?

O garoto começou a contar nos dedos e parou no três dizendo:

– Só três. – ele balançava os dedos como uma criança no rosto dela que abaixou sua mão rindo.

A menina leva um susto, seus olhos se arregalam e ela fica sem reação ao perceber que seu detestável colega de quarto a beijara.

– Agora quatro.

A menina de olhos arregalados olha para o rosto do menino e começa a rir levantando-se.

– Você realmente deve estar muito bêbado. – ela limpa sua calça jeans e olha de volta pro garoto que continua sentado olhando para cima, para ela. – Vou seguir seu conselho e vou voltar pra universidade, vê se se cuida garanhão. – dá uma piscadela a ele, dá-lhe as costas e vai embora.