Linha ténue escrita por Unnintended


Capítulo 1
Amor e Sangue, Lágrimas e Ódio


Notas iniciais do capítulo

Oi, caramelos. Agradecia qualquer comentário e/ou crítica. Pensem nisso como um presente de natal para mim. De qualquer forma, beijinhos para todos.



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Lá fora chove. As gotas de água batem contra a janela dela com uma fúria inesperada. O brilho próximo e distante das lâmpadas dos edifícios adornava a janela como se adornassem um pinheiro. Era Natal e já nem o seu gato tinha para lhe fazer companhia. Rafael partira há duas semanas. (Ou teriam sido meses?) Levara o cão, os livros, e aquele quadro da paisagem Neozelandesa. Todas as vezes que Sofia passava pela sala esperava ver uma pilha de livros e o maldito quadro. Todas as vezes que fazia chocolate quente esperava que Rafael aparecesse e a beijasse, agradecendo e levando a sua caneca para o estúdio. Ela deixara de abrir a porta daquele maldito cómodo numa vã esperança de o ver - muito concentrado - num desenho ou a escrever. (Ela usava sempre o palavrão alemão que ele lhe ensinara) Ainda a olhar a chuva a fazer desenhos sinuosos no vidro lembra-se que ele amava o Inverno. Rafael parecia ser feito de fogo por dentro - nunca tinha frio - mesmo naqueles dias em ela temia que os seus dedos fossem congelar e cair.

Por vezes nos seus sonhos vê um sorriso rasgado dele, enquanto visitavam a Nova Zelândia. Ou então a expressão de reverência perante o monte de pedras destruídas que era o templo de Atena. Depois desses sonhos Sofia pergunta-se se algum dia ele foi capaz de amar, ou o se o seu coração era só destinado à Fantasia que era a Mitologia e os livros de Tolkien. E aí ela chora, chora porque ela realmente o amava. E adormece embalada pelo seu próprio choro.

Uma vez ela pensa em cortar os pulsos ou abrir a janela e acabar com aquilo de uma vez. Mas Rafael tinha medo da morte e se ela desaparecesse, o artista não teria Musa. Porque ela sabe, sabe que para ele não foi mais do que belos olhos azuis-esverdeados (ele dizia glaucos), nome grego e riso de ninfa. Sempre fora masoquista e seria um pecado acabar com a arte de Rafael - a musa é a inspiração e é sabido que artista sem inspiração não é artista - e arrasta-lo também para a morte (como ele a temia).

Ás vezes ela dá por si a rir como uma louca sem vontade. Na fila do Macdonalds, no emprego, naquele raro encontro com os amigos. E pergunta-se quanto tempo vai demorar até chegar alguém para um hospício, porque ela era louca, louca, louca. (Ouvira dizer que eles tinham belos jardins, jardins para ninfas) Ela sabe que um dia ele vai voltar, com um sorriso rasgado, uma tela numa mão e um pincel na outra. E lhe vai dizer - prometer, jurar - que nunca, mas nunca mais se vai embora. Sofia, louca, ingénua e ninfa, vai acreditar e vai abrir a porta com um sorriso de Musa e vai deixar-se espezinhar por ele. Vezes e vezes sem conta até os dados pararem de girar.


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