As coisas mudam escrita por Arisusagi


Capítulo 1
Capítulo Único.


Notas iniciais do capítulo

E outra One-Shot que escrevi enquanto procrastinava meus estudos e meu TadoMaki de muitos capítulos. Eu adoro esses Universos Alternativos de pais e filhos e resolvi escrever um, principalmente depois de ver a imagem que usei de capa (Tadokoro podia estar maior/mais gordo, meh.) Revisei um monte de vezes e acho que ficou bom, sei lá, ainda tenho a sensação de que falta alguma coisa. É isso.



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Makishima não se incomodava com segundas-feiras. Ele nunca entendeu o ódio mortal que muitas pessoas tinham por esse dia da semana. Era só um dia, por que tanta raiva?

Entretanto, aquela era uma segunda-feira particularmente chata. Era fim de ano, e todos da editora estavam completamente loucos com as festividades e toda a propaganda que vinha junto delas, inclusive ele, o editor de uma famosa revista de moda. Naquele dia, Makishima recebera várias ligações, sem falar das reuniões e da papelada gigantesca que fora assinada.

E agora ele estava parado no semáforo, batendo os dedos contra o volante. Ele não ficava cansado assim há muito tempo, sua única vontade era de voltar para casa.

Seu marido estaria o esperando junto com as crianças e com um jantar quentinho e delicioso. Depois de tomar banho e comer, todos iriam se sentar em frente à TV para assistir a um episódio inédito de Love Hime, o anime preferido de Sakamichi. Pensar nisso o deixava menos exausto.

A 15 anos, Makishima nunca se imaginaria casado e pai de dois filhos. Ele sempre teve essa impressão de que se tornaria um grande nome da indústria da moda, solteiro e, principalmente, sem filhos. Essa ideia permaneceu forte, mesmo quando ele e Tadokoro começaram a namorar.

Ele nunca imaginou que fosse durar tanto tempo assim, na verdade, ele não pensava muito sobre o futuro daquele relacionamento. Era melhor deixar as coisas fluírem e não se preocupar.

É claro que ele se assustou com o pedido de casamento. Mesmo depois de quase oito anos de namoro, ele não estava esperando por aquilo. Por sorte, não fora um pedido muito formal, muito menos em público, foi algo sugerido enquanto assistiam ao noticiário, do tipo “Agora, com essa nova lei, a gente pode se casar...”, então Makishima não precisou responder imediatamente.

Depois de quase um mês pensando sobre o assunto, ele decidiu que queria se casar com Tadokoro. Os dois se gostavam bastante, e se entendiam muito bem. Parecia ser uma boa ideia, considerando que estavam juntos há mais de sete anos.

O casamento foi uma festa pequena, apenas para poucos amigos e familiares. A lua de mel foi na Europa, e quem escolheu esse destino foi, obviamente, Makishima.

Cinco anos se passaram muito rápido, com a mesma rotina quase todos os dias. Tadokoro se levantava cedo para abrir a padaria e deixava o café da manhã pronto para Makishima, que só saia para o trabalho algumas horas depois. Eles jantavam juntos e passavam algum tempo assistindo televisão ou conversando sobre um assunto qualquer. Às vezes, saíam para andar de bicicleta nos fins de semana. Era monótono, mas não chegava a ser entediante, e nenhum dos dois parecia se importar.

“Eu queria ter filhos.”

Tadokoro comentou como se não fosse nada demais, em uma noite de terça-feira. Makishima ergueu a cabeça, olhando para o homem deitado ao seu lado.

Filhos? Ele realmente não esperava por aquilo. Ele era péssimo com crianças, e pior, as detestava, mesmo sem ter passado muito tempo perto de uma. E elas ainda tinham medo dele. Não ia dar certo.

No fundo, Makishima sabia que tinha medo de ser um pai tão ausente quanto o seu fora.

Não foi preciso visitar o orfanato duas vezes para que ele mudasse de ideia. Ver todas aquelas crianças sozinhas, esperando por alguém que pudesse leva-las, mexeu com ele. Makishima queria ajuda-las de algum jeito, e a ideia de levar um deles para casa não lhe pareceu tão ruim.

É claro que os pais de Makishima foram fortemente contrários à adoção―eles até se ofereceram para pagar uma barriga de aluguel―, mas ele e Tadokoro estavam decididos a adotar. Depois de quase dois anos de conversas, telefonemas e papeladas, eles adotaram dois meninos.

Os primeiros dias foram difíceis para todos. Eles ainda não estavam acostumados com a nova rotina, principalmente Makishima, que ainda não se sentia muito confortável segurando os bebês, era como se eles fossem se machucar a qualquer momento ou coisa do tipo. Eles pareciam ser tão frágeis! Era estranho pensar que aqueles dois eram seus filhos.

Foi em uma das primeiras noites mal dormidas que a ficha caiu para Makishima. Ele e Tadokoro estavam sentados na cama de solteiro que ficava no quarto dos bebês. Sakamichi estava em seus braços, tomando sua mamadeira tranquilamente, enquanto Shoukichi resmungava e esperneava nos braços do outro pai. Ele tirou a mamadeira vazia da boca do bebê e colocou-a na cômoda ao seu lado. Sakamichi agarrou uma das mechas verdes, apertando-a enquanto caia no sono.

E foi ali que ele percebeu que ele era o pai daqueles dois bebês, e que ele e Tadokoro eram responsáveis por aquelas duas vidas, tão pequenas e tão indefesas, que precisavam ser preparadas para o mundo. Além de dar atenção e cuidar da saúde daqueles dois, eles teriam que ensiná-los a viver.

Makishima colocou Sakamichi no berço, sentindo aquele calor esquisito em seu estômago, quase o mesmo que sentiu no dia do casamento. Era aquela a sensação de ser pai? Ele se sentou ao lado de Tadokoro, atônito, mal reparando nas lágrimas que escorriam pelo seu rosto. Depois daquela noite, Makishima prometeu a si mesmo que faria de tudo para ser um bom pai, e para criar aqueles dois meninos da melhor forma possível.

O sinal ficou verde, e ele voltou sua atenção ao volante. Sua casa não estava muito longe dali, o que lhe dava certo conforto.

Depois de virar em duas esquinas, ele estacionou o carro na garagem, descendo com sua bolsa carteiro amarela terrivelmente pesada. O molho de chaves bateu contra a porta fazendo um ruído desagradável assim que ele a destrancou.

Makishima tirou os sapatos apertados, calçando seus chinelos com um suspiro aliviado. O casaco ficou no gancho atrás da porta, junto de vários outros que estavam ali há algumas semanas.

A bolsa foi deixada no chão do escritório que, aliás, precisava de uma faxina urgentemente. Sakamichi e Shoukichi estavam brincando na sala.

―Maki!― Sakamichi veio recebê-lo com seu sorriso brilhante de sempre. ― Maki! Olha o que o papai trouxe!

Shoukichi veio logo atrás, segurando um gatinho laranja desajeitadamente. Makishima congelou, aquilo era um gato de verdade, dentro que sua casa e que, provavelmente, arruinaria seus móveis?

―Ele achou na rua, o nome dela é Lasanha!― Shoukichi ergueu o bichinho. ― Ela não é fofinha?

―Tadokoro Jin!― ele gritou, assustando os dois meninos, e marchou até a cozinha.

―Ah, você chegou. ― Tadokoro estava na frente do fogão, usando um avental laranja com estampa de ursos e grelhando um peixe. ― Como foi seu dia?

―O que é aquele gato?!

―Bonitinha não é? Alguém deixou numa caixa lá perto da padaria.

―Como você traz um bicho desses pra casa sem nem falar comigo?!― Makishima berrou.

Talvez ele estivesse exagerando.

―Eu tentei te ligar, mas caiu na caixa postal. ― ele desligou o fogão, limpando as mãos em um pano de prato.

―Você pensou no trabalho que esse bicho vai dar? Quem vai limpar a sujeira?

―Os meninos prometeram que iam cuidar dela.

―E os meus móveis?!

―Eu comprei um poste de arranhar, ela não vai encostar neles. ― Tadokoro segurou os ombros dele, falando em tom calmo. ―Yuusuke, você está exagerando.

Makishima soltou um suspiro, escondendo o rosto nas mãos. Ele estava mesmo exagerando.

―Estou cansado. ― Ele o abraçou, encostando a testa em seu ombro.

―Eu sei, desculpa por não ter te avisado. ― Tadokoro beijou os cabelos verdes, passando a mão em suas costas. Ele sabia como era estressante para Makishima lidar com tantas coisas ao mesmo tempo.

―Maki! ― Sakamichi entrou na cozinha com lágrimas correndo pelo rosto. ― Não fica bravo!

Shoukichi parou na porta com um olhar assustado, abraçando a gatinha. Ver Sakamichi chorando fez Makishima se sentir muito mal. Droga, ele não devia ter levantado a voz daquele jeito!

―Não precisa chorar, eu não estou bravo, sho. ― ele se ajoelhou, afagando os cabelos pretos com carinho. ― Vocês vão cuidar dela, não é?

―Sim! Eu vou dar comida e vou limpar e...― ele falou entre soluços, levantando os óculos de armação redonda para secar as lágrimas com a mão.

―Eu vou cuidar dela junto com o Saka-chan!― Shoukichi colocou Lasanha no chão e correu para abraçar seu irmão. ― Deixa ela ficar, Maki!

―Calma, ela pode ficar sim. ― ele abraçou os dois meninos, beijando a testa de cada um.

―É mesmo?― Tadokoro perguntou com um sorriso. Ele sabia que Makishima acabaria cedendo.

―Sim. Mas, se ela chegar perto das minhas cortinas, você já sabe!

É claro que ele não estava muito feliz com o novo bichinho de estimação, mas o cansaço falava mais alto naquele momento, e ele resolveu dar uma chance aos meninos.

Lasanha saiu correndo dali, seguida pelos dois meninos. Makishima bebeu um copo de água calmamente enquanto espiava seu marido pelo canto dos olhos. Fazia um frio tremendo, e ele usava uma camiseta azul de mangas curtas, uma bermuda cinza e um par de meias branquinhas que provavelmente estavam com a sola encardida. Tadokoro tinha essa capacidade de quase nunca sentir frio; ele era mesmo um urso.

Ele tomou um banho quente e demorado, que o fez esquecer de todo o trabalho que teria no dia seguinte. Depois de quase dormir dentro da banheira, ele foi acordado com uma batida na porta e Tadokoro avisando que a comida já estava pronta.

O jantar estava na mesa quando ele chegou, era cavala com legumes cozidos no vapor e missô. Makishima só percebeu que estava morrendo de fome quando se sentou à mesa. Sakamichi comeu muito rápido, ansioso pelo episódio de Love Hime que começaria em meia hora. Shoukichi se recusou a comer seus legumes por “ser forte demais e não precisar deles”, mas acabou comendo-os depois de ter uma conversa com Tadokoro.

Lasanha apareceu depois de passar um tempo escondida, provavelmente atraída pelo cheiro da comida, e se acomodou ao lado da mesa de jantar. Assim que os meninos se levantaram, ela voltou para o seu esconderijo, com medo dos novos donos.

Mesmo com a insistência de seu marido, Makishima cuidou da louça. Sim, ele estava cansado, porém não deixaria de cuidar da casa.

―Maki! Já vai começar!― Sakamichi gritou da sala, enquanto Makishima guardava o último prato limpo.

Ele chegou antes do desenho começar. Shoukichi acomodou-se em seu colo assim que ele sentou, Sakamichi ficou de pé na frente da televisão, cantando a música de abertura.

Foi mais um episódio cheio de lutas, animais falantes, e explosões. Makishima detestava a voz estridente da protagonista, entretanto, ele conseguia aturá-la por vinte e quatro minutos, só para ver Sakamichi feliz daquele jeito. Eram momentos como aquele que faziam seu cansaço valer a pena.

Quando o desenho terminou, já era hora das crianças irem para a cama. Shoukichi e Tadokoro já estavam dormindo.

―Jin ― ele o chamou, cutucando o braço que envolvia seus ombros. ―, acorda, seu urso gordo.

­―Já acabou?― ele bocejou, se espreguiçando.

―Já. Vou levar os meninos para o quarto.

Makishima se levantou com cuidado, colocando os braços de Shoukichi em volta do seu pescoço e seguindo para o andar de cima. Sakamichi veio logo atrás, falando sobre Love Hime com a voz arrastada e coçando os olhos.

O quarto dos meninos tinha duas camas e um armário, além de vários pôsteres de anime colados pelas paredes. Makishima puxou a coberta estampada de tigres que cobria uma das camas, deitando Shoukichi com cuidado.

―Boa noite, Shou-chan. ― ele murmurou, cobrindo-o.

―Ei, vai dormir de óculos?― perguntou Tadokoro enquanto Sakamichi se deitava.

―Eu esqueci. ― Ele os tirou, colocando na cabeceira da cama, ao lado do relógio da Love Hime. ―Boa noite.

―Boa noite, Saka-chan. ― os dois disseram, beijando a testa do menino.

Makishima seguiu para o seu quarto com passos arrastados. Ele se jogou em sua cama, cobrindo os olhos com o braço. Se pudesse dormiria assim, esparramado por cima do cobertor na cama de casal. Amanhã seria um dia ainda mais cansativo, ele teria uma reunião logo cedo com seu chefe e, por mais que odiasse, precisaria ser sociável.

―Deixa um espaço pra mim. ―Tadokoro entrou no quarto, fechando a porta atrás de si.

Makishima rolou para o lado, afundando o rosto em seu travesseiro.

―Onde o gato está?

―Na lavanderia, dormindo dentro de uma caixa de papelão. ― Tadokoro tirou a bermuda que vestia e apagou a luz. ―Eu sabia que você ia gostar dela.

―Eu não gosto dela, só acho que os meninos precisam ter uma noção de responsabilidade.

―Hm, sei. ― Ele puxou a parte do cobertor que estava debaixo de Makishima. ― Você só deixou ela ficar porque o Sakamichi chorou.

Na verdade, aquela era a razão principal. Sakamichi era sempre tão feliz e sorridente, era triste vê-lo chorar. Makishima queria ser um bom pai, mas ele precisava se controlar para não mimar demais os meninos. Na próxima vez, ele seria mais firme com suas decisões.

―Você faria o mesmo se estivesse no meu lugar. ― Ele o chutou de leve. ― Estou morrendo de sono. Boa noite, Tadokorocchi.

Tadokoro o abraçou, puxando-o para perto de si. Makishima encostou a cabeça em seu peito, fechando os olhos e suspirando. Ele precisava de uma longa noite de sono para aguentar o dia seguinte.

―Boa noite, Maki. ―ele murmurou, beijando sua testa.

A 15 anos, Makishima nunca se imaginaria casado e pai de dois filhos. Agora, ele não conseguia se ver sozinho.


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Notas finais do capítulo

"Um dia você vai encontrar alguém e vai querer casar e ter filhos blá blá blá"



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