Crônicas de GangWolfin escrita por Coelho Samurai


Capítulo 2
O Que Me Diz?




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Ao leste, bem abaixo da Torre protegida do Gáladihn, está uma pequena aldeia de Homens, muito pacífica, o dia está ensolarado e é uma bela manhã para o comércio. Gado, peças de roupas, comida, armas, bebidas importadas das outras regiões, produtos diversos, e tudo vai bem na loja de produtos orgânicos de Jedediah O´Frey, um senhor de setenta e três anos que carrega consigo mais histórias e boas lembranças do que rugas no rosto, e com certeza está feliz por finalmente ter se aposentado da vida perigosa que levava antes de mudar para o Leste. No interior de sua loja, um garoto observa os potes de ervas e fungos, o menino de cabelos escuros e rosto sujo de poeira tenta alcançar um pote.

– Não vai querer essas plantas em cima de você. – Disse uma voz cansada que vinha de detrás do balcão, surge um homem bem velho, com uma longa barba cinzenta. –Vai ficar com coceiras o resto do mês. Acredite em mim, já passei por coisas assim. – O garoto rapidamente abaixa as mãos e se vira para o homem.

– Sr. O´Frey, me perdoe, eu me perdi da minha mãe, e a sua loja é a única que eu conheço por perto. Posso ficar aqui até minha mãe voltar? – O garoto estava assustado, mas se mantinha firme, embora fizesse cara de choro.

– Mas é claro, deixe-me resolver o seu problema. – Jedediah vira de costas e anda em direção ao balcão, e mexendo atrás do grande bloco de madeira trabalhada ele tira um longo cajado feito de carvalho. Ele ergue o cajado até quase encostar-se ao teto da loja, e sussurrando alguma coisa que o garoto não entendia, ele bate o objeto no chão com calma. Segundos depois uma mulher de meia idade e muito mal vestida entra pela porta.

– MÃE! – Disse o menino, que corria em direção à mulher.

– Oh, Maria, que bom que recebeu o meu chamado, fiquei preocupado que não encontraria o lugar. – Disse o velho mago.

– Jedediah, muito obrigado. Peter vive correndo de um lado para o outro. Já não é a primeira vez que ele se perde. – Disse a mulher, segurando o filho pelas mãos.

– Imagine só, Maria. Não há pelo o quê agradecer. – Disse Jedediah, guardando o cajado.

– Muito obrigada mesmo, estamos indo. – A mulher e o filho se retiram. Mas a porta não chega a fechar.

– Não é sempre que um soldado quer comprar produtos para poções, principalmente quando se trata do grande General Ernest Florestom. – Disse Jedediah.

– Sua habilidade de percepção ainda me surpreende, Jed.

– O que lhe trás aqui?

– Creio que nós dois sabemos por que, Jed. Os Magos falaram com você, estou certo?

– Sim, eles me falaram, sobre Mstlavy e seus filhos e também sobre o grande Mal que está vindo, mas ainda não me respondeu. – O General caminha calmamente sobre o piso de pedra e palha, analisando os produtos da loja iluminada por velas aromatizantes.

– Eu fui enviado, um amigo seu aceitou uma missão para tentar deter esse mal terrível. Um amigo seu que não tem mais nada a perder, nada a defender, nada a provar.

– Johann.

– Ele me pediu para vir falar com você. Pediu que eu o recrutasse.

– Onde ele está? Por que ele não veio?

– Foi recrutar os outros. Então. O que me diz, Jed?

Jedediah começou a olhar ao seu redor, sua loja, toda a vida que estava construindo ali, seria deixada para trás mais uma vez, para mais uma aventura estúpida e mortal.

– Eu tenho uma vida aqui, General. Comecei do zero; Cinco anos. CINCO ANOS e Johann nem ao menos escreveu pra mim, ou pra qualquer outro, e devo ajuda-lo agora?

– Não depende só de você, Jed. Depende de toda GangWolfin. – Jed fica em silêncio e abaixa a cabeça. – Se o perigo que Raksfaar sentiu for real, se as trevas estiverem vindo para cá, iremos todos arder nas chamas. É isso que quer? É assim que quer acabar sua vida? Sofrendo e sendo feito escravo ou pior? Vendo todos ao seu redor sofrendo e morrendo. É isso que você quer, Jed?

Jedediah soube que estava errado em nem ao menos tentar ajudar, toda a sua loja, todas as boas pessoas que conhecia estariam na ruína. Nada teria valido a pena, toda a vida que ele tentou construir teria sido em vão.

– Eu estou nessa. – Ele disse com convicção, se virando para pegar o cajado. – Me apenas alguns segundos para eu pegar minhas coisas.

– Leve o tempo que for necessário. – Disse o General.

O Oeste, onde se predomina uma longa cadeia montanhosa, ainda maior do que ao Sul, não existem planícies, e os altos morros e serras são usados como moradia para criaturas que foram consideradas repugnantes, repulsivas ou violentes demais para continuarem se envolvendo com outras raças mais pacíficas. Foram exiladas. É o caso dos Dragões, dos Trolls, e principalmente dos Lobisomens, as únicas criaturas realmente inteligentes, ou quase. No alto das grandes muralhas naturais de pedra, onde cada mísera fagulha ecoa por toda a costa ao tocar o chão, um Coelho gigante salta sobre as montanhas, quieto como um espírito, rápido como um vulto. Johann tinha mais de dois metros, pesava mais de cem quilos, e tinha seu corpo felpudo coberto por cicatrizes e ferimentos, todos achavam incrível ele se movimentar de forma tão rápida e silenciosa mesmo usando aquela armadura enorme. Na verdade, o fato de ser um mamífero gigante que luta mais de sessenta estilos de artes marciais já e um bom motivo para todos o acharem incrível. Johann pretende chegar ao topo da cadeia de montanhas, onde tentará fazer uma aliança com seu maior inimigo: Kohrus, o Lobisomen. O lobo tinha quase um metro e noventa de altura, era pouco nutrido, mas não era fraco, muito pelo contrário. Ele usava uma máscara feita de couro de ovelhas e lutava com um bastão Bô, feito de madeira, e pequenos detalhes em aço.

Após longas horas de viagem, Johann aterrissa com leveza no topo de uma montanha, olhando para a entrada de uma caverna, já era noite e começava a nevar. De dentro da casa de pedra, ele escutava um alto som de gritaria e festança, um maravilhoso cheiro de pernil ao fogo entrava por suas narinas, que até então já haviam sido esmurradas tantas vezes que o Coelho se sentia bem ao saber que podia sentir cheiros. Ele calmamente adentra a caverna, onde pode ver a claridade do fogo que o guia, com certa repulsão. Fogo sempre foi uma das maiores fobias de Johann, quase metade de seu corpo já havia sido queimado em batalhas várias vezes, realmente, o fogo era algo que Johann não gostava de chegar perto. Caminhando pelos salões naturais de pedra, ele observa pequenos roedores fugindo para dentro de suas pequenas tocas, até que chega à uma entrada que dava para um grande salão no interior da caverna, iluminado por tochas e com muita música e festa, ao centro, um trono de madeira da qual Kohrus estava sentado, usando uma coroa feita com galhos e ossos. Johann olhava cuidadosamente para o Lobo, cheio de si e cheio de poder, os Lobos saudavam sua realeza com taças de vinho e hidro mel. “Os Lobisomens estão bem mais inteligentes” Pensou Johann consigo mesmo. Ele desce as escadas e tenta não prestar atenção aos olhares tortos dos outros lobos, quando um violinista percebeu a presença do Coelho e parou de tocar, os outros músicos o seguiram, e em questão de um segundo, todos paravam de pular e gritar e olhavam diretamente para Johann. Ele respira fundo.

– Kohrus! – Grita ele – Peço humildemente a sua permissão para adentrar em sua festa.

Kohrus estava com os olhos vermelhos de raiva, e bufava como um touro, se levantando do trono.

– Como VOCÊ ousa entrar em minha casa? Seu Coelho sujo! – Disse Kohrus, enquanto descia as escadarias do trono e observava Johann fazer uma reverência.

– Eu venho em paz, Kohrus, venho lhe pedir um favor.

– Um favor? Ouse vir até pedir minha ajuda? Onde está com a cabeça, Coelho? – Ele desce as escadas e chega à frente de Johann.

– As quatro torres previram o fim de GangWolfin, temo que essa seja nossa última conversa. Mstlavy vai retornar, e trata o inferno com ele, e desta vez não teremos escapatória.

– Nós teremos, Coelho. Nós, os LOBOS! – Ele grita e olha ao seu redor, todos os lobos começam a uivar com os braços erguidos, e após um sinal de Kohrus, todos se aquietam. – Somos mais fortes que tudo isso.

– Tenho certeza que são.

– O que você quer Coelho? Veio nos avisar desse “mal terrível”? – Ele diz com sarcasmo.

– Vim pedir sua ajuda, fui recrutado pelo General Florestom para tentar deter Mstlavy, creio que não haja muito que explicar, só fazer. Nos encontraremos ao Norte, na Torre de Tong-Hur. E eu preciso de você.

– De mim? – Ele gargalha – Por que diabos o grande Coelho Samurai precisaria de Kohrus, o Rei dos Lobisomens?

– Por que por mais que tenhamos nosso passado obscuro, você ainda é um dos melhores lutadores que eu já vi, temos cicatrizes uns dos outros em nossas carnes. Temos um laço infinito Kohrus. Eu e você.

– Eu não devo nada a você, nem a ninguém.

– Não depende de mim, depende de toda GangWolfin, quer ser lembrado como o covarde rei que virou as costas para o combate? O Rei que abriu mão de salvar sua terra em prol da própria ambição?

Kohrus parou de bufar, e por um simples segundo analisou a situação que se encontrava, finalmente teria a chance de mostrar a Johann que ele era capaz de ser até mesmo melhor que ele. Quando um lobo não fundo gritou.

– Vamos pra cima dele, meu Rei. – Houve um alvoroço, todos os lobos se agitaram, colocando as garras e dentes amostra.

– NÃO! –Gritou Kohrus, e todo o alvoroço sumiu. – Vocês não podem com ele. Não conheço ninguém que possa. – O Coelho agradeceu o comentário com um aceno com a cabeça. – Eu irei. – O salão fica em silêncio. – Não serei covarde, defenderei a todos como puder... Mas isso não muda nada.

– Eu entendo. E se vai comigo, temos que partir imediatamente. – Kohrus respira fundo.

– É de costume dos lobos não sair para caçar ou lutar sem comer, se importa se partirmos mais tarde? Estou faminto, e aquele pernil vai esfriar.

– Claro, mas não mais que duas horas.

– Aceito. E pode se juntar a nós, se assim quiser. – Johann olhava todos os lobos olhando para ele com raiva.

– Obrigado, mas acho que vou esperar lá fora, vou meditar.

– Você sempre preferiu ficar sozinho, não é mesmo Johann?

O Coelho ouvia as duras palavras de Kohrus, mas tinha uma resposta pronta para esse tipo de argumento.

– Meditar não é buscar a solidão, Kohrus. É buscar a paz interior. Quem está sozinho nunca encontrará a paz. – E assim disse o Coelho, refazendo o caminho de volta até a saída da caverna, onde estava frio e já nevando, mas ele pouco se importava, o silêncio garantia sua meditação e sua meditação garantia que se sentisse aquecido por dentro e por fora.


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