Attention escrita por bitte_me


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Attention é uma música do Tokio Hotel, e há trechos dela incluídos no texto.



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E todo pós-show era igual. Animado, extasiado, suado. Bill adentrava o camarim ainda cantarolando trechos da última canção e, tomando posse de uma garrafinha d’água, largava-se no sofá. Segundos depois, vinha Tom. Como um furacão, passava por todos, sem dizer uma palavra sequer, até chegar em seu irmão. Fazia-o levantar novamente e tomava-o em um abraço. O melhor abraço, na opinião de Bill.

Era quando o cheiro próprio de Tom, aquele que só Bill conseguia sentir, ficava mais evidente. Era quando toda a animação e felicidade eram transmitidas e sentidas através do elo de gêmeos. Era quando a nostalgia envolvia-os, e eles conseguiam se sentir em casa. E quando o abraço vinha seguido de um beijo na bochecha – às vezes no pescoço – era melhor ainda. Fazia o sangue de Bill correr mais rápido, o coração bater freneticamente, as pernas bambearem e a respiração falhar. Efeitos que ele sabia que só Tom possuía sobre si.

“Você viu? Foi o melhor show de nossas vidas!” Era a exclamação que se seguia ao abraço. A voz de Tom saia ofegante, arrastada, deslumbrada. Bill só conseguia sorrir em resposta.

“Todas gritando meu nome, loucas para serem pegas.” Ah, a continuação, que Bill sabia que viria. Ela sempre vinha. E era o começo da destruição. “Preciso escolher a sortuda da noite.” Tom completava, suas palavras trazendo o caos. A animação era transformada em cansaço, a felicidade em tristeza e o sorriso em lágrimas.

It's cool when you burn me
I love how you hurt me”

Essa era a rotina pós-show. Tom saia atrás de suas garotas, enquanto bill voltava para o hotel, sozinho. O mais novo dos Kaulitz atirava-se na cama, chorando, e gritando alguns “porquê’s”. Porque Tom sempre tinha que estragar tudo?

“It's not what you said
It's the way you say it”

Ele se desesperava, gritava, soluçava, se culpava e culpava o irmão. Amaldiçoava a vadia que estivesse derretendo nos braços de seu Tom. Lamuriava-se até conseguir pegar no sono.

“It's not what you did
It's the way you do it”

E essa noite não fora diferente. Ingressos esgotados, show lotado, milhares e milhares de pessoas gritando com e por eles. Bill ainda cantarolava a última canção quando adentrou o camarim, foi tomado pelo abraço de Tom , e se sentiu feliz.

Rezou mudamente para que essa felicidade não acabasse, para que – pelo menos por uma noite – o gêmeo preferisse  a ele ao invés daquelas vadias as quais ele sequer lembraria o nome no dia seguinte. Rezou, implorou, suplicou. E tudo foi em vão.

“I'm trying to tell you
I'm dying to show you
Fighting to get you”

E cá estava ele, trancafiado em um quarto escuro, enlouquecendo. Mas hoje era diferente. Estava cansado das mesmas perguntas, e da mesma falta de resposta. Engajou-se em outro ‘porque’, e estava decido a encontrar a solução. Por que Tom possuia tanto efeito sobre si?

Talvez fosse culpa do sangue idêntico que corria em suas veias. Eles eram irmãos, gêmeos. Era um pedacinho de casa que Bill podia arrastar consigo para onde fosse, já que com a agenda lotada, show após show, cidade após cidade, não lhe restava tempo sequer para ligar para Simone.

Talvez fosse carência, dependência. Ele sempre fora extremamente ligado a Tom na infância. E não estava pronto para deixar o irmão ir, seguir um caminho sozinho, sem ele.

Oh no
I'll never let you go
Oh no
I hate that i need you so”

Talvez não...

Bill pôs-se a pensar. Pensou tanto, que a resposta chegou. Na verdade, ela sempre esteve ali, dentro de si. Ele só não a aceitava. As agora era tarde demais.

Bill gritou, negou, mais uma vez, se culpou. As mãos percorreram o corpo, nervosas, e arranharam a pele, rasgaram, tentaram arrancar dali aquele pecado. Bill chorava, se desesperava. Não, não podia ser, não aquilo. As unhas que feriam o rosto faziam com que Bill chorasse lágrimas de sangue. Ele se sentia sujo, violado. Sentia-se a personificação do pecado. E não, ele não podia manchar Tom. Não podia arrastá-lo para o inferno consigo. Ele o amava demais. Demais.

Atordoado, confuso, cansado. Bill analisou tudo a sua volta. Encarou o negro céu pela gigantesca janela. Livre de lua e estrelas, representava bem como estava se sentindo por dentro: vazio. Encarou a movimentada rua lá embaixo. Do décimo andar, onde ele se encontrava, os carros e os pedestres eram pequenos pontinhos, que misturavam-se as luzes da cidade.

As mãos trêmulas abriram a janela, fazendo com que uma forte rajada de vento corresse pelo quarto. O corpo de Bill estremeceu, e um soluço desesperado escapou de seus lábios. Com a visão turva pelas lágrimas, tateou o parapeito, apoiando-se nele. Respirou fundo diversas vezes, limpou os olhos com as costas das mãos e então subiu.

I'm standing in the pain
That's smothering me

 Can't you see
That I'm starving for your love?”

As lágrimas salgadas escorriam por seu rosto machucado, fazendo os arranhões arderem. A água misturava-se com o sangue, e criava uma pequena poça vermelha ao caírem no chão sob si. Bill fechou os olhos, sentindo o vento beijar seu rosto, balançar seus cabelos, secar seus olhos. Mais uma vez, Bill rezou. Mas não para Deus, para Tom. Pediu o perdão do irmão. Desculpou-se por ser tão sujo e imoral, por ter deixado-se corromper pelo pecado. Sussurrou que o amava. E prometeu que nunca o deixaria.

Bill abriu os olhos, focando-os na grande distância que o separava do solo. Aproximadamente 30 metros. Talvez morte instantânea. Segurou-se com mais força no vidro da janela, e foi tomado por um desesperado choro. Gritou mudamente o nome de Tom. Implorou para que o gêmeo fosse lhe salvar. Acreditou piamente que seu amor pudesse salvá-lo.

Bill esperou. Esperou. E esperou.

Até que Tom apareceu, lá embaixo, um alguém em meio a vários ninguéns. Bill sorriu, achando-o idiota. Porque agora era tarde demais. Tom sorria para sua companhia – uma garota qualquer, que Bill ignorou – e o moreno sorriu em resposta, imaginando-se o receptor de tal ato.

Outra rajada do forte vento, o os dreads loiros de Tom remexeram-se sobre seu ombro. Subitamente parara de rir, sua expressão tornando-se séria, quase preocupada. Bill amaldiçoou-se mentalmente por isso. Queria aquele sorriso como última lembrança.

Tom voltou seu rosto para cima, e fixou seu olhar na janela do quarto de Bill. Sua expressão era de choque. Medo, pânico, culpa, tudo pode ser lido naquele olhar. Bill sibilou um “me desculpe” e fechou os olhos, sabendo que, se o encarasse por mais alguns minutos, desistiria. E aquilo era pelo bem de Tom, ele precisava ir adiante.

Ainda com os olhos fechados, Bill sentiu o parapeito que o apoiava sumir sob seus pés. O vento tornou-se mais forte, mais fresco. A adrenalina correu por seu corpo, fazendo uma sensação engraçada assolar seu estômago. Será que essa era a tal liberdade que voar proporcionava?

“Bill, não!” ele escutou, distante. A voz de Tom era quase um sussurro.

E então, o baque. A dormência do corpo fez com que ele não sentisse dor alguma. Sabe quando dizem que sua vida passa como um filme em sua cabeça? Mentira. É só um pesado silêncio, e uma escuridão sem fim. Você só clama pelo perdão, e pede para que seja levado de uma vez para o inferno. Pelo menos Bill pedia.

Seu corpo foi tomado por um calor estranho. Era úmido, viscoso, e escorria por seus membros, molhando-o. Os barulhos ficaram mais fortes, mais nítidos. Eram gritos desesperados, sirenes, choro. Era o som de sua pesada respiração entrecortada. Um grunhido diferente escapou de seus lábios quando ele percebeu que respirar doía. Tentou se mexer, mas sentiu um peso sobre sua mão, em um ato reprovador, um pedido silencioso para que ele não o fizesse. Merda, ele ainda estava vivo.

Lentamente, Bill abriu os olhos, deixando-os serem tomados pelas coloridas luzes que piscavam em algum ritmo desconhecido por ele. O peso em sua mão apertou-a com mais força, e ele focalizou sua vista, assustando-se com o que viu. Tom estava ali, deitado ao seu lado. As mãos unidas, cobertas pelo sangue de Bill – oh, era daí que vinha aquele calor – e os rostos praticamente colados. As respirações misturavam-se, assim como as lágrimas. Tom chorava de um modo que Bill nunca presenciara antes. Era um choro silencioso, mas a dor que escorria daqueles olhos parecia ser insuportável.

“Oi” a voz de Tom nada mais era do que um doloroso sussurro embargado.

Bill concentrou todo o pouco de força que lhe restava para conseguir respondê-lo, mas o máximo que lhe escapou fora um gemido.

“Shhh... Não faz esforço” Tom pediu, acariciando sua mão com o polegar, carinhosa e protetoramente “A ajuda já está a caminho...”

Os olhos de Bill se abriram em espanto ao assimilar tal frase. Ele não queria ajuda. Ele não queria permanecer vivo. Correria o risco de violar Tom, viveria imerso em um pecado para o qual não havia perdão. Culpar-se-ia, lastimaria, auto-flagelaria. Viveria o inferno na terra. E sim, ele preferia morrer a passar por isso.

"And I need attention
Or I'm gonna die”

“Por favor...” a voz de Tom fora um fino lamento “Deixa eles te ajudarem. Não desiste...” a vontade de chorar transformava as palavras em sons embolados. “Eu não posso viver sem você. Eu não posso viver sem você! Eu não posso...” Tom repetia aquelas palavras como um mantra, e colocava nelas a fé de uma prece. Murmurava com tanto afinco que parecia que sua vida dependia daquilo, assim como a de Bill. “Eu te amo. Por favor, fica comigo...” ele sussurrou, em um doloroso tom de súplica.

Bill conheceu ali o verdadeiro significado de arrependimento. Pensou em mais alguns porquês, mas parou ao mesmo instante. Porque pensar havia o trazido até aqui. Será que agindo ele conseguiria a redenção?

“Eu estou aqui com você... Dá-me a vida.” Bill murmurou, a voz fraca, quase irreconhecível.

Tom curvou-se em sua direção, depositando um leve beijo em seus lábios, deixando-se ser tomado pelos tremores e soluções que choro que tanto prendia. Bill fechou os olhos, recusando-se a ver o que ele mesmo havia provocado.

“Vai ficar tudo bem...” conseguiu murmurar, antes de fechar os olhos, negando a si mesmo o que sabia estar por vir.

Sick and tired of needing your affection
I chose to be lonely
Than live without your attention”


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