La Petite Mort escrita por Fernanda Redfield


Capítulo 29
La vie en rose


Notas iniciais do capítulo

Boa tarde!

Provavelmente, devem pensar que é muita cara de pau da minha parte reaparecer depois de tanto tempo... Porém, quero que saibam que fiquei dividida entre trabalho e estudos, de forma que não conseguia tempo para escrever.

As coisas estão mais tranquilas agora e espero que gostem de ter La Petite Mort de volta. Esse é o penúltimo capítulo dessa história e eu indico que escutem "La Vie En Rose" de Edith Piaf para lê-lo, seria bom se lessem a letra para terem noção da importância dele para o capítulo.

No mais, desejo uma boa leitura a todos, nos vemos lá embaixo!



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O casal Granger não tinha chegado a Ottery St. Catchpole, mas, já provocava alterações extremas nas pessoas envolvidas em sua recepção.

Durante a semana, Fleur presenciou o quase esgotamento emocional de Hermione, tentou apoiá-la da melhor forma que podia e mesmo que a morena dissesse que era o bastante, a francesa sentia que podia e devia fazer mais. Dedicou-se a entregar os abraços mais apertados e os beijos mais lânguidos, escutou os desabafos que lhe foram ditos, assim como disse as palavras reconfortantes que Hermione precisava ouvir... Porém, Fleur sentia que fazia pouco.

As duas estavam diante dos limites de suas emoções, a tensão e a preocupação eram palpáveis na rotina do dia e nos sonos despertos à noite. Elas estavam cansadas, física e psicologicamente, mas, não pareciam dispostas a entregar o jogo. Fleur gostava de pensar que tudo que tinham passado até agora as sustentava diante de mais uma provação... Contudo, ela não via a hora de tudo acabar.

O som agudo da quebra do vidro, no andar debaixo, despertou Fleur abruptamente no fatídico dia da chegada da família de Hermione. Ainda atordoada pelo sono, ela olhou para a janela do único quarto do Shell Cotage e suspirou diante da manhã que mal clareara, tateou os lençóis ao seu redor enquanto espreguiçava-se e não se surpreendeu ao constatar que estava sozinha na cama.

Do lado de fora, o sol surpreendia e brilhava em meio às nuvens. A francesa deixou que aquela estranha, mas, bem-vinda luminosidade a despertasse por completo e, assim, levantou-se da cama contra a sua vontade.

No banheiro, ela realizou a sua higiene matinal e, com certa urgência, enrolou-se em um dos robes de seda que trouxera da França. Ela saiu do quarto e seus pés descalços condenaram o frio da madeira que desenhava o chão do chalé, porém, ela continuou o seu percurso. Aos pés da escada, ela pode ouvir os resmungos irritadiços.

O dia mal começara e Hermione já estava inquieta.

Respirando fundo, Fleur abraçou o próprio corpo ao constatar que ali embaixo estava mais frio do que imaginava, ela continuou a caminhar. O vento sussurrava delicadamente contra as janelas do lugar e o dia seria lindo se as suas emoções, em conjunto com as de Hermione, não estivessem tão à flor da pele. A francesa encontrou a morena debruçada sobre a pequena pia da cozinha, respirando fundo e de olhos fechados.

Quão irônico era buscar calmaria sendo que aquele era o dia mais calmo que Ottery St. Catchpole entregava em semanas?

O coração de Fleur reclamou dolorido diante da angústia que a envolvia e se externalizava através dos olhos cerúleos brilhantes. Ela caminhou em silêncio, preservando aquele sofrido silêncio que Hermione procurava. Perto o bastante, deslizou os seus braços pela cintura delgada e apertou-a de encontro ao seu corpo.

De alguma forma, a morena não se sobressaltou como se esperasse por aquele abraço. Hermione deixou as suas costas encontrarem conforto no tórax de Fleur e a francesa, ansiosa, abraçou-a ainda mais. As pequeninas mãos morenas encobriram as mãos pálidas em sua cintura e entrelaçaram-se mesmo naquela posição inusitada. Hermione finalmente ergueu o rosto e os seus cabelos encobriram as feições de Fleur, essa respirou profundamente neles e, beijando o pescoço moreno, sussurrou:

— Bom dia, ma belle... Como foi a sua noite?

— Teria sido melhor se eu tivesse conseguido dormir. — Hermione respondeu aberta, permitindo que Fleur enxergasse além de seu corpo. O pouco tempo juntas não mudava a confiança e compreensão que dividiam, a francesa apreendeu todo o temor que fez a pessoa mais corajosa que conhecia ficar acordada na noite passada. Sem ter uma resposta para a franqueza daquelas palavras, Fleur viu Hermione se mexer entre os seus braços, os olhos castanhos procurando coragem nos seus. A morena sorria triste. — Então, digamos que ainda não é um dia para mim, muito menos, bom...

Pardon por ter adormecido e deixado você sozinha com isso... — Fleur expressou toda sua infelicidade e sua vergonha nas palavras sussurradas e comedidas. Os olhos azuis estavam elétricos e ela tentava, a todo custo, passar o que Hermione precisava neles. Porém, era difícil porque ela temia o que esse dia poderia fazer com a morena... A sua intensa, protetora e poderosa brune.

Era assustador o que pais podiam fazer com os filhos, mesmo quando não falavam com eles.

Hermione inclinou a cabeça para o que ouvira, a fragilidade nos olhos castanhos era desconhecida a Fleur e, vendo-a pela primeira vez, desejou nunca mais enxergá-la. As mãos da morena percorreram os ombros pálidos acanhados, em seguida, deslizaram-se pelos braços até encontrarem, novamente, as mãos francesas. A advogada levou cada uma delas aos lábios, beijando-as, antes de dizer:

— Você é maravilhosa, Mademoiselle Delacour. Não é uma noite de insônia que vai mudar isso para mim.

Bem que diziam que advogados costumavam ser abençoados com o dom da palavra.

Dessa vez, era Hermione quem precisava de Fleur e, ainda assim, a outra conseguia dizer palavras cheias de carinho e adoração para a francesa que mal conseguia sustentar o seu olhar desolado.

Sendo assim, Fleur optou por aquilo que sabia melhor. Se Hermione era boa com palavras, ela era boa com atitudes e, dessa forma, aproximou-se urgente para beijá-la. Mesmo que tivessem dividido um beijo no dia anterior, aquele parecia ser diferente. Era cheio de uma cumplicidade aumentada por mais aquele momento de tensão pelo qual passavam juntas. Fleur aproveitou aquele momento de calmaria enquanto Hermione estava em seus braços, esse era o mundo delas, nos braços uma da outra...

Quando saíssem dali e enfrentassem a realidade, seria muito diferente.

O casal se separou entre suspiros pesados e sôfregos. Hermione procurou os olhos de Fleur e agora, ela parecia ligeiramente mais corajosa do que antes. Ela desviou os olhos quando o medo pareceu querer voltar a habitá-los e estava agachando-se para apanhar os cacos da xícara derrubada quando Fleur a tocou e sussurrou carinhosa:

─ Deixe que cuido disso, chérie.

Hermione parecia não ter forças para resistir, apenas deu um sorriso acanhado enquanto Fleur afagava-lhe a bochecha antes de se afastar e sentar-se à pequena mesa da cozinha do chalé. Fleur dobrou as mangas do robe de seda e se pôs a apanhar os cacos de porcelana, com cuidado. Por sorte, eram pedaços enormes e não demorou muito para que ela finalizasse o seu trabalho, jogando-os no lixo próximo.

Em seguida, a francesa voltou a colocar a chaleira para esquentar a água e separou duas novas xícaras, depois, apanhou dois sachês de camomila na caixa de essências para chá que tinha no armário e, finalmente, virou-se para Hermione. A morena tinha o rosto apoiado em uma das mãos, o cotovelo apoiado no tampão da mesa enquanto observava Fleur, subitamente, essa se sentiu envergonhada e perguntou:

─ O que está olhando?

─ Você. E pensando que, independente do que acontecer hoje, eu não pretendo deixá-la. ─ Hermione respondeu com delicadeza, deixando a expressão cansada transformar-se em obstinação. Fleur a observou com preocupação, curiosa para o que poderia existir por trás daquelas palavras, contudo, não se atreveu a perguntar, sabia que a morena contaria quando fosse a hora. Ainda assim, a francesa sentia-se no direito de dizer algo porque, afinal, Hermione esteve com ela quando mais precisou. Impulsionada pelo amor que tinha no peito e pela necessidade de ajudar, ela aconselhou pacientemente (enquanto o seu sotaque francês se fazia presente pelo nervosismo):

─ Eu sei que não me cabe dizer algo... Mas, você estava do meu lado quando eu me resolvi com a minha família. E eu não teria conseguido sem o seu apoio. Por isso, saiba que eu estarei aqui, independente do que eu ver e escutar.

As palavras de Fleur apaziguaram os sentimentos de Hermione e a fizeram pensar. O silêncio entre elas foi feito de calmaria durante os minutos que durou e só foi interrompido pelo apito da chaleira no fogo. A francesa, então, rompeu o contato visual com a morena e concentrou-se em preparar o chá, colocando a água quente nas xícaras e observando os sachês de chá flutuarem em meio ao vapor aromatizado enquanto temia ter passado dos limites com Hermione.

Ao se virar, Fleur encontrou Hermione de pé, estendendo a mão para uma das xícaras. A francesa a entregou, preocupada, ansiosa pela reação da morena. Porém, o surpreendente beijo em seus lábios mostrou que não era para tanto, Fleur sentiu quando os lábios sobre os seus sorriram e, correspondeu afoita, sem entender o que estava acontecendo.

A morena se afastara dela e voltara a se sentar, tinha um sorriso divertido nos lábios e a observava por cima da xícara enquanto assoprava o chá. As sobrancelhas prateadas de Fleur franziram-se para aquela atitude e Hermione deu de ombros enquanto, apaixonada, dizia:

─ Além de linda, é inteligente e compreensiva. Realmente, eu tirei a sorte grande.

Fleur sentiu o calor iniciar-se em seu peito e subir pela sua pele, através de seu pescoço, antes de chegar ao seu rosto. Ela sabia que corava e teve a certeza disso quando Hermione riu com vontade, a alegria da morena preencheu a cozinha e mesmo envergonhada, a francesa escondeu o sorriso sem jeito ao levar a xícara aos lábios. Aquele rubor era expressivo, ainda mais levando em conta que a chef estava acostumada a ser elogiada, só que, aparentemente, um elogio vindo dela era o seu ponto fraco.

Talvez, porque era algo dito com o coração e não com outras partes do corpo.

Aquela estranha manhã, clara e ensolarada, amanhecera nublada dentro do Shell Cotage, contudo, diante do riso de Hermione, Fleur a sentia aquecer ao seu redor. Dessa forma, ela se viu fazendo planos para aquele dia que parecia inesperado e decidiu preparar um café-da-manhã poderoso, estava prestes a começar a fazê-lo quando escutou a morena movimentar a cadeira as suas costas.

─ Não precisa se incomodar comigo, eu não estou com fome... ─ O pesar era evidente na voz dela e Fleur não ousou duvidar do que ela dissera já que o desconforto, que substituíra o medo, era evidente nos olhos castanhos. Ainda assim, ela não conseguiu disfarçar a preocupação que tomara conta dos olhos cerúleos. Um sorriso de Hermione tentou tranquilizá-la em vão. ─ Eu estou bem e vou ficar bem, independente do que acontecer.

─ Tem certeza? Não quer que eu vá com você...? ─ A intenção era a melhor, mas, o desconforto se fazia presente. A francesa queria ajudar, porém, parte dela temia o que pudesse vir dos pais de Hermione. A outra pareceu enxergar além da boa vontade de suas palavras porque parou toda a sua preparação para sair do chalé e voltando para beijar os lábios franceses, então, sussurrou próxima a eles:

─ Não é necessário. Os meus pais precisam entender que eu estive muito bem sem eles durante todo o tempo em que estavam distantes e que eu não estava bem sozinha... Eles precisam entender que você foi a melhor coisa que me aconteceu quando eles não estavam comigo.

Mais uma vez, o dom das palavras se fazia presente em Hermione e ela voltava a deixar Fleur sem saber o que falar. Mas, daquela vez, a francesa não teve tempo de agir. A morena a deixou sem fala e com um sorriso nos lábios.

 

Hermione atravessou a praça do centro de Ottery St. Catchpole, os olhos castanhos foram imediatamente direcionados para a fachada do La Petite Mort, as cortinas estavam fechadas e não havia qualquer movimentação no interior. De certa forma, essa hora da manhã não era a ideal para se estar acordada naquela cidade charmosa.

Ela caminhava mais devagar do que de costume, como se o seu inconsciente estivesse preparando-a para o que pudesse vir a seguir. Não era como se tivesse medo, esse comportamento estava mais relacionado a sua auto-preservação.

O destino da morena era a entrada da cidade, a mesma pela qual passara mais de uma vez acompanhada por Fleur. Ela não sabia se estava lidando bem com tudo aquilo, mas, procurava se manter o mais racional possível. A razão sempre fora a sua melhor companhia e ela esperava que isso não mudasse agora.

A caminhada foi curta e tranqüila. Na entrada da cidade, ao lado do muro da última casa antes da estrada aberta, existia um ponto de ônibus do tipo coberto e ali Hermione sentou-se, à espera da van de excursão em que os seus pais a encontrariam. Era estranho que o sol estivesse tão disposto naquela manhã, mas, ela o aproveitou mesmo assim. Os frágeis raios solares tocaram o seu rosto e ela fechou os olhos, aproveitando aquele carinho cálido e delicado que, em muito, lembrava-lhe Fleur.

Ela respirou profundamente e olhou para a estrada. No limite do horizonte, os contornos da van começaram a se desenhar debaixo do céu de frágil sol. O som do motor também rompeu o silêncio matinal tranqüilizador. Hermione ficou em pé sem que percebesse, o coração mais acelerado do que antes e as feições endurecidas por todas as emoções negativas nutridas naqueles anos de pouco contato com os pais.

Hermione se sentiria melhor se tivessem pessoas ao redor dela, mas, ela não podia submeter Fleur a isso. Primeiro, precisava saber o que os pais pretendiam com essa vinda e depois, tinha que estar preparada para enfrentá-los. Ela precisava proteger Fleur e não se perdoaria se os pais dissessem algo que pudesse magoar a francesa.

Não que Fleur Delacour fosse uma delicada flor, ela tinha espinhos para se defender... Só que Hermione preferia ter certeza da segurança dela.

Quando a van entrou em Ottery Catchpole e estacionou na calçada oposta, a advogada tinha os punhos fechados e os olhos fixos no veículo. A porta do motorista abriu e ele abriu a dos passageiros, os sons animados dos turistas descendo e admirando aquele pequeno pedacinho do vilarejo junto ao litoral não foi capaz de melhorar o humor de Hermione.

Ela esperou pelos pais da mesma forma que os esperou durante todos os anos depois de se assumir lésbica. Contrariando todos os preparativos emocionais que ela fizera, a ansiedade estava presente e a saudade também começava a falar mais alto. Hermione cruzou os braços junto ao corpo, na esperança de que eles funcionassem como uma barreira física para os seus sentimentos, e esperou.

Primeiro, ela viu a sua mãe. Jane Granger estava exatamente mesma da memória da filha, com os cabelos castanhos rebeldes iguais ao de Hermione, os olhos acinzentados e as maçãs do rosto acentuadas. Normalmente, aquele rosto trazia uma expressão séria só que, naquela manhã, Jane sorria enquanto o marido a ajudava a descer. Edward Granger emagrecera desde o último encontro com a filha, também tinha menos cabelo do que ela se lembrava.

Ainda assim, os pais formavam um belo casal.

Hermione esperou até que eles a encontrassem, afinal, fora ideia de ambos virem até ali onde estava feliz e escondida do resto de Londres. A espera foi de alguns segundos e quando os olhos acinzentados de Jane encontraram os castanhos da filha, ela puxou o braço do marido, fazendo-o olhar para a mesma direção que ela e exclamou animada:

— Hermione!

A atitude mais cômoda para a morena foi atender ao chamado. Os três se encontraram no meio da rua e, surpreendentemente, os pais abraçavam a filha com a qual mal trocaram palavras nos últimos anos. Jane estava apertando a filha junto a si enquanto Edward afagava-lhe os cabelos castanhos parecidos com os seus, um gesto que remetia à infância.

Hermione não conseguia abraçar, totalmente surpreendida com aquela recepção calorosa. O que os pais pensavam que faziam ali? O que eles achavam que poderiam apagar depois de tudo pelo qual passara?

A morena foi salva de uma separação estranha quando um carro buzinou para que eles saíssem da rua. Mesmo assim, ela se sentia incapaz de olhá-los. Os passos dos pais a acompanhavam quando ela tomou o seu rumo na calçada, o silêncio pesava entre eles da mesma forma como pesara em todos os anos passados. Um abraço não mudava tudo, afinal. Após um pigarro encorajador de Edward, Jane perguntou cuidadosa:

— É aqui que você mora agora?

— E importa? Porque já faz alguns meses que Londres deixou de ser a minha primeira casa. — A mágoa não existia e nem poderia ser disfarçada na voz de Hermione, depois que deixou as primeiras gotas de sua tristeza chegaram aos pais, ela finalmente sentiu-se corajosa o bastante para olhá-los. Para a sua nova surpresa, eles tinham expressões feridas em seus rostos. Edward apressou-se para caminhar ao lado dela e, com um sorriso triste, perguntou:

— É por causa da francesa que atendeu ao seu telefone?

Os punhos da advogada voltaram a se fechar, ela sentia um gosto amargo na boca que evidenciava como ela esperava escutar aquele tipo de coisa dos pais, anos antes. Era amargura pura prendendo-se ao seu paladar. Hermione engoliu em seco, ela ainda não sabia como responder a uma pergunta que tanto esperara.

Então, ela parou abruptamente no meio da calçada, virou-se para encarar os pais e encontrou ambos ansiosos pela sua resposta. Existia muito dela que gostaria de entregar tudo que sentia as pessoas que amava, contudo, ela estava machucada. Existiam partes dela que se recusavam a ceder e agarrar-se a elas era muito mais fácil do que dar a segunda chance ao casal. Hermione olhou de um para o outro e com um tom que só usava no tribunal, inquiriu:

— O que vocês realmente querem de mim?

Jane e Edward Granger encararam a filha por algum tempo antes de olharem um para o outro. Hermione viu a conversa cúmplice e silenciosa que eles trataram apenas pelo olhar, o tipo de intimidade que ela, um dia e mesmo tendo ressalvas quanto aos pais, admirava e gostaria de ter com Fleur. Eles sempre seriam exemplo de felicidade no amor, independente do que fizeram com ela.

A falta da resposta provocou inúmeras teorias na cabeça acelerada de Hermione, em todos os casos, ela esperou pelo pior porque, infelizmente, foi o que tivera dos pais nos últimos anos. Entretanto, aquele era um dia de impulsividade e surpresas. Jane se aproximou calmamente, ela apanhou a mão da filha entre as suas e sorriu. Era um sorriso de lágrimas que derrubou as defesas racionais da advogada.

Ela não se lembrava de ter visto a mãe chorar daquela forma. E isso pareceu doer ao mesmo tempo em que curava as suas próprias feridas. Hermione se viu esperando sem temer pela resposta. Jane suspirou e respondeu:

— Não queremos nada de você, querida... Pelo contrário, queremos você de volta em nossas vidas. Estamos aqui para pedir perdão.

A incredulidade inicial no rosto de Hermione desapareceu conforme as palavras da mãe fizeram sentido em sua cabeça. Não havia razão que pudesse lutar contra aquela saudade que, finalmente, rompeu as barreiras que tanto machucavam o coração da morena.

As lágrimas chegaram aos olhos castanhos seguindo o fluxo natural que se iniciara no interior de Hermione, ela chorou na frente dos pais e eles, impedidos pelas suas atitudes pregressas, não souberam como abraçá-la.

Porém, eles trocaram um olhar e, exatamente como aquele entre os pais há pouco, fez sentido. O olhar bastou. Por ora.

# # # # #

A cozinha do La Petite Mort era fria e comum, pequena para um restaurante e aconchegante para um dinner. O local só tomava cor e calor quando havia alguém dentro dele, preparando alimentos, cozinhando texturas e espalhando aromas pelo ar. Contudo, Fleur também gostava quando tudo estava assim... Silencioso e calmo, apenas as superfícies metálicas e porcelanadas, o ar estéril e o ambiente quieto.

No fim das contas, para um chef, a cozinha em que trabalha sempre será um dos locais que mais ama no mundo. Por isso, Fleur caminhara até o local em que amara já que não podia ter quem amava. Ela resistiu à vontade de abrir uma garrafa de viinho àquela hora da manhã, Hermione a mataria se soubesse disso. Fleur estava tentando deixar a sua paixão por vinhos em um patamar saudável.

Antes de entrar, efetivamente, na cozinha, ela vestiu e abotoou o dólmã branco e amarrou os cabelos loiros em um coque frouxo, colocando uma bandana azul sobre os fios. Se ela recordava bem, era a mesma bandava que arrancara da cabeça, furiosa, quando conheceu Hermione. A lembrança trouxe um pouco de calor para o seu peito, tornando o ar frio da cozinha mais morno.

Aos poucos, aquela cozinha deixava de ser um local para pensar e passava a ser um lugar em que era possível amar.

A francesa finalmente entrou na cozinha, deixando as mãos deslizarem nas superfícies familiares. Em seguida, encostou-se junto à mesa de metal em que finalizava os pratos e olhou através da janelinha em que os pedidos eram colocados. As cortinas fechadas do restaurante, do outro lado, repousavam pacificamente de encontro às janelas.

Muita coisa passava pela sua cabeça, desde o estado emocional de Hermione naquele reencontro com os pais até as conseqüências que isso poderia trazer. Era assustador pensar que esse evento poderia iniciar outra tempestade assim como, também, poderia trazer a paz que elas precisavam para continuar em frente.

Não que outra tempestade pudesse afastá-las... Mas, elas estavam bem e mal se recuperaram do que passaram na França antes de passarem por aquilo com os pais de Hermione.  

— Fleur, querida? É você? — A voz estranhamente pacífica de Molly Weasley despertou a francesa para realidade. Ela só teve tempo de ajeitar a postura antes que a senhora ruiva entrasse na cozinha. Fleur era excepcional em dissimular as suas emoções, contudo, sentiu um frio na espinha quando viu a Sra. Weasley semicerrar os olhos para o seu sorriso falho. Bill vinha logo atrás da mãe, acompanhado por Cedric e parecia tão distraído que não percebeu o que se passava com a sua ex-esposa. Fleur pigarreou e respondeu:

Bonjour a todos! Eu resolvi vir mais cedo para abrir o restaurante, devo ter me perdido em meus pensamentos...

— Você está bem? — A preocupação contida na voz de Molly era tão assustadora quanto aquele olhar atento e cuidadoso. Fleur não sabia se, um dia, acostumaria àquela pacificidade que se fazia presente na relação delas atualmente. Era difícil lidar com o carinho quando estava tão acostumada às ironias. A senhora continuou a se aproximar até parar ao lado da francesa, olhando-a exigente por uma resposta verdadeira. Fleur foi poupada disso quando a voz enrouquecida de Bill exclamou animada:

— Claro que ela está bem, mamãe! Por que não estaria? Tudo está dando certo na vida dela!

— E todos nós sabemos que a nossa chef não tem o melhor dos humores pela manhã... — Cedric brincou de forma leve, arrancando sorrisos de todos, inclusive da própria Fleur que sempre se sentia mais leve quando estava com aquele casal. Porém, pelo canto dos olhos, ela viu que Molly não estava satisfeita. A senhora saiu da cozinha bufando levemente, de uma forma que ela vira Bill fazer quando estava descontente com algo.

Fleur apertou as mãos na borda da mesa de metal, tentando canalizar a sua tensão para aquele movimento enquanto continuava a sorrir para a interação entre Bill e Cedric. O seu ex-marido deixou o namorado seguir em frente para trocar de roupa antes de se virar para ela e sorrir apaixonado. Era impossível não retribuir aquilo, era tão verdadeiro e tão recompensador para tudo que passaram...

Ela poderia estar preocupada com quem amava, mas, não podia deixar de ficar feliz pelo seu melhor amigo.

O ruivo arrepiou os cabelos com as mãos, algo estranho para ele que sempre estava penteado e bem arrumado. Talvez, esse fosse o novo Bill. Um que era feliz sem pedir muito e, um que era, essencialmente, livre. O seu ex-marido estava livre como jamais estivera em seu casamento... E isso, de forma alguma, feria o orgulho de Fleur.

No fim, depois de todas as discussões, tribunais e brigas... Valera à pena. Ela faria tudo de novo se fosse para ter aquele sorriso que Bill lhe entregava agora.

Sendo assim, ela não o culpava por não ter percebido a bagunça em que estava, nem por ele ter se esquecido que hoje era o dia em que o casal Granger chegava a Ottery St. Catchpole. Ele não estava sendo descuidado ou egoísta... Bill só estava perdido em uma felicidade que jamais pensara viver.

— Está tudo bem mesmo? — Bill a trouxe de volta para a conversa. Os olhos castanhos dele estavam curiosos, agora. Fleur sorriu para ele, como sempre fora acostumada a sorrir quando tudo desandava ainda na França e estendeu a mão, Bill apanhou a sua e a trouxe para o peito, onde ficava o seu coração. Ele diria algo se não fosse interrompido pela mãe que, de volta à cozinha com os cabelos presos e o avental amarrado à cintura, disse:

— Fleur, você poderia vir me ajudar a abaixar as cadeiras no salão?

— Mamãe, eu e Cedric podemos fazer isso... Fleur estava prestes a me dizer algo. — Bill reclamou com a expressão franzida enquanto a francesa o olhava em pânico, ela não sabia se diria algo, estava assustada com a sensibilidade que aqueles dois Weasley estavam tendo naquela manhã. A Sra. Weasley colocou as mãos na cintura e respirou fundo, depois, tirou um papel de dentro do bolso do avental e disse:

— Na verdade, eu acho que você e Cedric deveriam comprar algumas coisas que estão em falta aqui, são coisas que poderão usar depois. Eu e Fleur podemos ir ajeitando as coisas...

Bill soltou a mão da francesa com cuidado, franzindo a testa intrigado enquanto olhava de uma para outra. Molly mantinha a sua expressão gentil e prestativa enquanto Fleur lutava para manter o sorriso, já que ela estava realmente preocupada em ficar sozinha com a sua ex-sogra. Depois de alguns segundos de silêncio e expectativa, ele pareceu satisfeito com o que viu entre as duas e estendeu a mão para o papel que a mãe lhe entregava. Em seguida, ele olhou especificamente para Fleur ao prometer:

— Voltamos logo.

Os passos dele, acompanhados aos de Cedric, morreram à distância sem que as duas mulheres tivessem trocado uma palavra sequer. O aperto de Fleur nas bordas da mesa de metal se acentuou e ela sentiu que as suas articulações começavam a reclamar de forma dolorosa. Ela abaixou a cabeça e fechou os olhos, esperando pelo que pudesse vir em seguida.

Foi novamente surpreendida quando a mão gorducha e calosa de Molly, com algumas manchas de idade sábias, repousou sobre uma de suas mãos tensas e trêmulas. Segundos depois, essa mão fazia movimentos circulares sobre a sua até que, por fim, Fleur abandonou o aperto e respirou fundo. Naquele silêncio, Molly tirou um peso de suas costas.

Apoline Delacour jamais fora muito física com as filhas e essa atitude de Molly era nova, ao mesmo tempo em que era reconfortante. Fleur não esperava aquilo e mesmo na ausência de palavras, ela já se sentia melhor, o bastante para que pudesse pensar racionalmente sobre aquilo. Contudo, a senhora ruiva ainda não estava satisfeita e, segurando-a desajeitada, puxou-a para longe da mesa de metal e disse tranqüila:

— Vamos para o salão, temos coisas a fazer.

Era como se o toque reconfortador não tivesse ocorrido e como se Molly não tivesse percebido o conflito instalado dentro de Fleur. De certa forma, era respeitoso, porque a francesa não mais se sentia nervosa pelo que poderia acontecer. A Sra. Weasley percebeu algo nela e resolveu agir, sem pedir uma confissão em troca.

As duas realmente fizeram o que foi silenciosamente acordado entre elas, elas abaixavam as cadeiras das mesas e as posicionavam. Portanto, o som era oco da madeira de encontro ao chão entremeado pelas suas respirações. Elas trabalharam sem falar por alguns minutos até que Fleur percebeu que, por mais que as suas emoções não estivessem tão à flor da pele depois da interação sem palavras na cozinha, ela precisava conversar.

Depois de tudo que acontecera com a sua família devido à falta de uma boa conversa, ela aprendera que, às vezes, as palavras poderiam abrandar um fardo que pesava em seu coração.

A francesa parou o que fazia e apoiou-se em uma das cadeiras, respirou fundo e pensou sobre o que estava disposta a fazer. Palavras jamais foram o seu forte e, depois de tudo, ela temia que conversas poderiam piorar uma situação... O que a motivava era que precisava ser alguém para Hermione e se não falasse sobre o que a importunava não se entregaria por completo para apoiá-la. Fleur fechou os olhos por alguns segundos, depois, os abriu e perguntou apreensiva:

— Bill contou a senhora que os pais de Hermione chegam hoje?

— Sim, claro que sim! E eu estou decepcionada com ele por ter se esquecido disso... Você visivelmente precisa de apoio. — Molly respondeu rápida, como se tivesse ansiosa por aquilo. As duas se olharam e a francesa sentiu-se segura ali, era como se aquela conversa não existisse porque seria um segredo entre as duas. A senhora pigarreou, ela estava visivelmente irritada com o filho e inexplicavelmente preocupada com a ex-nora. — Ele também me contou sobre os pais dela... Como está se sentindo, querida?

— Eu realmente não sei... Nervosa, talvez? A verdade é que eu não sei como me sentir. — Fleur impressionou-se com a própria sinceridade, mas, sentiu-se melhor de imediato. Era como se precisasse dizer o que sentia em voz alta para que isso se tornasse real e ela pudesse pensar sobre. Molly a observava atentamente e concordou com a cabeça quando ela falou, ficou em silêncio por breves segundos, pensando sobre o que escutara antes de responder:

— É normal se sentir assim... Da mesma forma que é normal se sentir furiosa pelo que eles fizeram com Hermione e triste, pensando no que pode acontecer com ela longe de você e perto deles. Você pode sentir tudo isso, Fleur...

— E...? — Fleur estava ávida por um entendimento, precisa compreender o que sentia e o que deveria fazer com isso. Molly sorriu para ela, cheia de carinho e compreensão. A mais velha voltou a se aproximar da francesa, guiando-a para uma das cadeiras que abaixaram e sentando-se em outra. Ela voltou a segurar a mão de Fleur e, imediatamente, a mais nova sentiu a onda de calor calma propagando-se pelo seu corpo. A chef também sorriu antes de ouvir a resposta para a sua pergunta:

— Você pode sentir tudo isso, mas, jamais pode deixar de sentir o que a levou para Hermione em primeiro lugar. Vocês se amam e isso não pode mudar. Não pelos pais dela ou por qualquer coisa externa ao relacionamento de vocês. Depois desses anos todos em um casamento, posso lhe dizer que o sentimento que vocês têm dentro e entre vocês importa mais do que qualquer coisa. E se isso perde a importância, significa que deve acabar.           

As palavras de Molly Weasley eram fortes, não como às outras que ela dirigira a Fleur, cheias de ressentimento e fúria, e sim, brandas, cheias de verdade e significado. Eram palavras que batiam tão forte como um soco e que afagavam tão sensíveis quanto um cafuné. Eram palavras que traziam verdade justamente no momento em que a francesa tendenciava a duvidar de tudo.

Por isso, o silêncio foi inevitável entre elas. Contudo, elas trocavam sorrisos verdadeiros dessa vez. Molly pareceu contente com o que fizera, ela deu dois tapinhas carinhosos no joelho de Fleur e caminhou pelo salão, deixando a francesa sozinha com pensamentos mais leves do que os anteriores.

Ela suspirou aliviada e fechou os olhos, o sorriso e os maneirismos de Hermione ocuparam a sua mente, reforçando tudo que Molly dissera. Ela amava demais aquela morena e isso realmente bastava para que enfrentasse o que pudesse vir do passado dela... Afinal, fora exatamente isso que Hermione fizera quando foram para França e somente agora entendia o quanto custara à morena enfrentar tudo aquilo ao seu lado.

O amor, por vezes, tratava-se de ceder e não de dar.

E era isso que faria agora, ela cederia em favor de Hermione. Deixaria que as suas inseguranças ficassem inescutáveis no fundo de sua mente e permitiria que as batidas de seu coração falassem mais alto e mais claramente. O amor podia não bastar, mas, ajudava.

E tal como o destino, no momento de sua completa compreensão, o seu celular tocou, notificando uma mensagem.

Os meus pais querem conhecer você, sugeri que almoçássemos no restaurante... Se isso assustar você, me avise. Amo você.

Curta, sucinta e direta ao ponto. Hermione era assim e Fleur a amava por isso. Então, ela sorriu animada com a ideia de conhecer os pais dela, respondeu que estava tudo bem e que esperava ansiosa para cozinhar para eles. Seria uma batalha, mas, somente mais uma em tantas outras que travava.

Contudo, essa era importante porque travava ao lado de Hermione e estava disposta a sair vitoriosa, custe o que custasse.

 

— Então, quando vamos conhecer a francesa da qual a sua mãe tanto fala? — Edward perguntou interessado, enquanto ele e a esposa seguiam Hermione pela praça, rumo ao restaurante do outro lado. As bochechas morenas coraram em um leve tom róseo, ela colocou as mãos nos bolsos da calça e, olhando para frente, respondeu nervosa:

— Estamos indo conhecê-la e, por favor, não a comprometam... Ela passou por muita coisa nos últimos tempos e não precisa que vocês a envergonhem ou algo do tipo.

 O La Petite Mort estava movimentado, era perceptível mesmo à distância. Pelas retangulares e enormes janelas de vidro na fachada elegante, era possível enxergar o salão ocupado e os garçons indo de um lado para o outro. Bill era percebido apenas pelos seus cabelos ruivos vivos, trabalhando em seu balcão com eficiência e responsabilidade. Cho também podia ser vista, mais cabisbaixa do que o normal e Hermione amargou a ausência de Fleur em sua visão.

Contudo, a morena se sentiu mais tranqüila quando tomou consciência de que toda aquela situação estranha com os pais poderia ser pior, ela não estava plenamente confortável com eles, mas, aquele desconforto já era melhor do que os anos de silêncio. Eles continuaram a caminhar até que Jane pigarreou e comentou estranhamente brincalhona:

— Falando assim, parece que vamos interrogá-la quando a conhecermos.

— Esqueceu o que a senhora fez isso quando ela atendeu o meu celular? — Hermione respondeu irônica, revirando os olhos para a dramatização da mãe. Ela não viu, mas, o pai sorriu deliciado pela interação, atitude que garantiu um soco em seu braço, dado pela mulher. Jane não parecia satisfeita com a resposta da filha e estava decidida a manter uma conversa que não se resumisse a longos silêncios e palavras monossilábicas:

— Eu apenas quis conhecer a nova garota que atendeu o celular da minha filha e fiquei intrigada pelo sotaque dela... De qualquer forma, vamos almoçar com ela?

— Mais ou menos... — Hermione respondeu evasiva quando, enfim, atravessaram a rua e chegaram às portas do La Petite Mort. Os pais avaliaram o restaurante com um ar solene e as suas expressões abrandaram quando o pequeno e charmoso restaurante os satisfez. A morena não pode deixar de sorrir de cabeça baixa, orgulhosa, quando os guiou para dentro do salão.

Naquele dia, a porta permanecia aberta devido ao tempo ameno e tranqüilo. As mesas de madeira estavam cobertas por toalhas azuis e as cadeiras, do mesmo material, dispostas em quatro. A maioria já estava ocupada, principalmente, as próximas às janelas. Hermione reconheceu alguns dos membros da excursão com quem os pais vieram. Era satisfatório ver o restaurante assim, isso garantia o bom humor de Fleur naquele dia que prometia ser tenso às duas.

Bill os viu quando ergueu os olhos de uma das comandas que finalizava. Ele sorriu para Hermione e chamou Cho, antes de deixá-la responsável pelo balcão e apanhar um dos cardápios de Cedric que passava por ele. O ruivo se aproximou da família e educadamente, saudou:

— Sejam bem-vindos ao La Petite Mort. Sou Bill Weasley, responsável pela administração do restaurante e faço questão de atendê-los hoje!

— Você não precisa fazer isso, Bill... — Hermione respondeu tímida, olhando de relance para os pais que estavam absortos no carisma do ruivo. Bill estendeu a mão e tocou o ombro da morena, os olhos dele brilhavam cheios de carinho ao dizer:

— Exatamente. Mas, eu quero e assim será. Eu vou levá-los à mesa e sei que você adoraria sentar-se próxima à cozinha.

O calor encheu as bochechas morenas de cor, Hermione disfarçou ao seguir Bill com os pais confusos em seu encalço. Eles sentaram à mesa mais próxima da cozinha que não era tão próxima assim, já que os garços precisavam de espaço para circular e apanhar os pratos. Assim que se sentaram, Bill estendeu o cardápio.

Hermione nem precisou observar os pais por muito tempo para ver que eles estavam surpresos com a elegância simplista do lugar. Entretanto, ela conhecia o estabelecimento e o cardápio tão minuciosamente quanto conhecia todas as curvas do corpo de Fleur, assim, a morena apenas se sentou e aguardou, batucando os dedos na mesa enquanto os pais olhavam as opções com entusiasmo.

Ainda que tivesse corrido tudo bem naquele começo, a advogada não sabia como proceder dali em diante. Não sabia se deveria manter o mistério quanto à identidade de Fleur ou se deveria ir até a cozinha e fazer a sua presença conhecida para a chef. Bill aparentou observar a sua indecisão e, por isso, continuou:

— A sugestão da chef para hoje são Cogumelos Recheados na entrada e Blanquette de Veau como prato principal servido com batatas e acompanhado por baguete. Ela também sugere um vinho branco macio de sabores marcantes.

— Não somos experts em culinária francesa, mas, estamos impressionados com a chef! — Edward comentou bem humorado, entregando o cardápio para Bill. O ruivo fez uma reverência ao abaixar a cabeça para, em seguida, voltar-se para Hermione e perguntar:       

— Alguma sugestão de vinho, Hermione?

— Uma garrafa de um Branco da Borgonha, região de Mâcon, talvez? — A morena sugeriu insegura, tentando lembrar-se de tudo que aprendera sobre vinhos com Fleur. Contudo, ela lembrou-se mais do sabor do vinho de encontro aos lábios da francesa do que de toda a explicação que veio antes. Hermione chacoalhou a cabeça, sentindo os olhares dos pais sobre si enquanto Bill assentia a cabeça para ela e, piscando brincalhão, dizia:

— Bela escolha.

Depois disso, o ruivo encaminhou o pedido para a cozinha e voltou com o vinho branco em uma garrafa esverdeada, com um rótulo em papel creme e as taças. Ele abriu e serviu as taças. Edward foi o primeiro que provou da sua, seguido pela esposa e, por último, pela filha. Hermione tinha os olhos na cozinha e por breves segundos, seus olhos castanhos apreenderam um relance de azul dentro daquele ambiente.

— Querida? Estamos falando com você... — A voz curiosa de Jane trouxe a filha de volta para a mesa, ela sorriu desconcertada e tomou mais um gole do vinho suave, deliciando-se com as notas no Chardonnay. Essas eram as uvas mais famosas quando se tratava de vinho branco, o que tomavam era leve para harmonizar com o que viria a seguir. Hermione procurava pensar no vinho para não ter que se explicar. — O seu pai quer saber quando passou a conhecer tanto sobre vinhos e eu quero saber como conheceu esse restaurante.

Milhões de respostas, a maioria constituída de mentiras, vieram à mente de Hermione. Ela até teria respondido da melhor forma se as entradas não tivessem chegado nesse momento. Novamente, foi Bill quem trouxe os pedidos e os distribuiu na mesa. A morena olhou confusa para ele e ele continuou a sorrir. Se ele tivesse falado com Fleur, ela não saberia na expressão misteriosa dele. Bill se virou para a mesa e desejou:

Bom appétit, senhor e senhoras.

Tão rápido quanto chegara, Bill se foi sem dar qualquer explicação a Hermione. O cheiro dos cogumelos recheados era maravilhoso, mas, a morena dividia-se entre apreciar a culinária maravilhosa de Fleur e procurar a francesa na movimentada cozinha. Ela precisava de apoio ali, por mais que as coisas estivessem normais, ela precisava de Fleur para que continuassem daquela forma. Edward fechara os olhos para a primeira garfada e Jane até gemera diante do sabor, ela mastigou e engoliu para dizer, deliciada:

— Que comida maravilhosa! 

Hermione sorriu entre as garfadas, era impressionante como aquele dom de Fleur fizera os pais esquecerem as muitas perguntas incômodas que poderiam fazer. Tudo estava bem, mas, estaria melhor se Fleur estivesse ali. A entrada foi consumida e apreciada, os pratos e talheres retirados e eles, terminando a primeira garrafa de vinho, esperaram pela segunda como também esperavam pelo prato principal.

Edward e Jane conversavam e trocavam impressões do restaurante, animados. Essa interação deu tempo para que Hermione observasse o salão à procura de Fleur, notando que ele esvaziava-se à medida que eles comiam. O horário de almoço, provavelmente, passara e eles eram os últimos clientes daquele período.

Bill trouxe a segunda garrafa de vinho, a ausência dos pedidos foi notada. Contudo, atrás dele, Fleur vinha com os três pratos em mãos, equilibrando dois no braço esquerdo. O sorriso de Hermione foi inevitável, ela adorava quando a francesa saía do trabalho, cheirando à lavanda e temperos, um aroma somente dela. Os longos cabelos claros estavam presos e ela usava a bandana do primeiro dia em que se conheceram.

A francesa não olhara para a Hermione, nem mesmo quando chegara à mesa. Ela permanecia concentrada, profissional e determinada a causar a melhor primeira impressão, diferente de quando se conheceram. Era engraçado e a morena sorriu para esse pensamento, ainda sorria quando o prato de Blanquette de Veau acompanhado pelas batatas foi colocado a sua frente. Fleur a serviu primeiro e o perfume de lavanda ficou.

— A sua comida é maravilhosa, senhorita. — Edward comentou deliciado enquanto sorvia-se do cheiro maravilhoso que vinha do guisado branco de carne da mesma cor. Hermione estava acostumada com o que Fleur cozinhava, mas, jamais deixava de se surpreender com o que lhe era servido. Cebola, aipo e cenoura também chamavam a atenção no caldo, contudo, a carne era muito mais atrativa e perfumada. Bill colocou o cesto de baguetes no centro da mesa e Hermione viu Fleur fazer uma leve referência com a cabeça e dizer corada:

Merci beaucoup, monsieur.

Hermione apanhou os talheres ao lado de seu prato e sorriu com a cabeça abaixada, o peito inflando-se de orgulho para aquela pequena e educada interação entre seu pai e a francesa. Ela deu a primeira garfada no guisado, mastigando-o lentamente, apreciando a textura e o tempero que tornavam aquele prato um caminho quase que direto ao paraíso. Ela ergueu os olhos para a mãe que a encarava fixamente, sem ter tocado na própria refeição.

Com as vozes de Edward e Fleur ao fundo, conversando sobre a receita e os ingredientes, Hermione notou, para o seu desespero, que a sua mãe sabia perfeitamente quem Fleur verdadeiramente era. Jane Granger tinha o raciocínio rápido e passara isso à filha. A morena engoliu em seco, as palavras fugindo de seus lábios. Ela realmente não sabia o que fazer.

Mais uma vez, naquele dia, a sua mãe lhe surpreendeu quando sorriu grandemente. O olhar de aprovação destinado à filha foi, então, dirigido a Fleur. A francesa percebeu o olhar, mas, manteve a atenção voltada para Edward. Hermione praticamente sentiu a necessidade da chef em buscar força em seus olhos, estava disposta a entregar-lhe isso, porém, Jane foi mais rápida e, educadamente, perguntou:

— Por que não almoça conosco?

Oh non, dame... Não posso almoçar com os clientes do restaurante. Apenas vim até aqui trazer o prato de vocês... — Fleur estava nervosa, os olhos azuis brilhavam elétricos e ela estudava Jane assim como estudara Astoria. A francesa era dona de muitas qualidades, mas, aquela coragem mediada à observação a tornava uma mulher de respeito. Hermione não conseguia parar de sentir-se orgulhosa assim como também não sabia o que falar. Edward continuava a comer satisfatoriamente. Jane sorriu e sugeriu gentil:

— Nós duas sabemos que não foi isso que a trouxe aqui, querida... Seria um prazer almoçar com a mulher que tanto mudou a minha filha.

Edward engasgou-se diante da fala da mulher, Hermione apressou-se a acudir o pai, juntamente com Cedric e Bill. Eles batiam nas costas do Sr. Granger enquanto Jane e Fleur se olhavam, firmes e analíticas. A morena olhava de uma para outra, esperando o pior como sempre esperara nos últimos anos. Entretanto, Jane continuava sorrindo e as tensões no belo rosto de Fleur se atenuavam. Quando, por fim, as duas só se olhavam e não mais batalhavam, Fleur respirou fundo e disse:

— Se insiste, senhora.

— Por favor, podemos abandonar os vocativos. Pode me chamar de Jane e o meu marido não se importará se chamá-lo de Edward. — A Sra. Granger estava sendo sincera no que dizia, Hermione a conhecia o bastante para perceber isso. Fleur acenou com a cabeça, aceitando aquela gentileza de bom grado.

Jane finalmente provou do guisado e os olhos dela fecharam-se diante do sabor. A morena deliciou-se pela comida e pela a reação da mãe, a sua mão procurou a de Fleur por puro instinto e virou-se, sorrindo, quando sentiu que o seu aperto era retribuído. Fleur aproximou-se e, com coragem, beijou-a na bochecha.

A pele morena corou imediatamente. Hermione suspirou e voltou-se para o seu prato, deixando a mão de Fleur somente quando Bill voltou com o prato da chef e ela foi obrigada a apanhá-lo. Edward parecia recuperado de seu engasgo, ele tomou um gole de sua taça de vinho e perguntou com educação:

— Então, qual o seu nome, senhorita?

— Fleur Isabelle Delacour, monsieur. É bom conhecê-los... Hermione falou muito sobre vocês, recentemente. — A voz da francesa tinha aquela coragem inquieta adquirida na França, os olhos azuis procuraram os castanhos naquele segundo antes de Fleur servir-se. Ela não comia algo elaborado como o Blanquette de Veau e sim, algo genérico e simples, um filé de frango com alguns legumes. Porém, ela não abandonou o vinho e bebia, satisfeita. Jane limpou a boca com o guardanapo e continuou a conversa:

— Peço que tente ignorar tudo que ela possa ter dito, viemos até aqui para tentarmos recuperar tudo o que perdemos... Inclusive, o respeito e o amor de nossa filha.

Hermione não deixava de se surpreender, mesmo que tivesse escutado àquilo e expressões semelhantes desde que os pais chegaram a Ottery St. Catchpole pela manhã. As belas feições de Fleur mudaram da surpresa para a suspeita, uma das sobrancelhas claras estava arqueada, desconfiada. A morena não a condenava porque a própria Fleur tinha o seu histórico de confianças quebradas.

Em silêncio, enquanto Fleur ponderava as palavras de sua mãe, Hermione também pensava sobre. Porém, essa era uma daquelas raras situações em que a morena não conseguia pensar racionalmente a respeito. Por mais que ela ainda sentia os reflexos de todos aqueles anos de silêncio, de todas as conversas inacabadas e de todas as palavras rasas trocadas, ela sentia algo além da mágoa. E, no fundo, ela sabia que não era nada além do amor.

Por mais que tivesse alcançado tudo pelo que sonhara, ela sentia falta dos pais e a volta deles era algo que sempre procurara mesmo que fingisse esquecer-se disso. E depois do que vivenciara ao lado de Fleur na França, a necessidade de ter a sua família de volta era ainda mais forte.

Por isso, era impossível ignorar. Ela precisa perdoar e estava disposta a alcançar essa capacidade, além da raiva e da mágoa.

O aperto em sua mão a trouxe de volta para realidade, mas, foram os olhos azuis cerúleos que a prenderam ao chão. Fleur a observava com cuidado, esperando pela sua resposta e não a forçando fazer algo que não gostaria. Hermione podia ver naquelas íris familiares que a francesa não era tão aberta ao perdão sem receber alguma prova de comprometimento... Mas, a morena não era assim, ela acreditava nas pessoas. O seu relacionamento com Fleur era a prova disso.

Então, Hermione sorriu e Fleur, surpresa, retribuiu. A francesa piscou para ela, charmosa e delicada, antes de se virar para os pais ansiosos. Jane mordia os lábios em preocupação e Fleur, contrariada, disse em tom de aviso:

— Eu espero que esse seja, realmente, o objetivo de vocês aqui...

— Ou...? — Jane aventurou-se em perguntar, lutando contra o sorriso vitorioso que ameaçava destruir a sua postura corajosa. Fleur voltou a arquear a sobrancelha, desconfiada, enquanto Edward e Hermione trocavam olhares inquietos. A Sra. Granger finalmente sorriu satisfeita pelo comportamento protetor da mulher escolhida por sua filha. — Você é muito charmosa, Srta. Delacour.

Os ocupantes da mesa riram, com exceção de Fleur. Hermione teve a impressão de escutar a gargalhada rouca de Bill, vinda da cozinha. Os olhos azuis voltaram-se elétricos para todos antes de pousarem nos castanhos que, agora, estavam amenos e esperançosos. A francesa suspirou e, sorrindo apenas para a sua morena, respondeu:

— Você não imagina o quanto, dame.

O interior de Hermione esquentou e foi a vez dela beijar os lábios finos que conhecia tão bem, ela sorriu de encontro a eles e nem mesmo preocupou-se em observar a reação dos pais pelo canto dos olhos. Tudo o que importava era que Fleur estava ali, do seu lado, disposta a enfrentar quem quer que fosse por ela...

E isso, mesmo diante daquela reaproximação dos seus pais, parecia mais importante do que qualquer outra coisa.

# # # # #

— Eu acho que não comia tão bem assim há tempos... — Edward comentou satisfeito enquanto acariciava a barriga na região do estômago. Ele e a esposa tinham acabado de sair do La Petite Mort, Hermione os observava com uma estranha euforia que, há tempos, não sentia.

A morena respirou fundo, procurando acalmar esse sentimento e concentrar-se no fato de seus pais estarem no povoado e terem aprovado Fleur. Era mais do que esperava quando decidiu acatar o pedido da mãe feito pelo telefone. Era como se todos aqueles anos de silêncio e palavras pouco ditas não existissem.

— Ah claro, muito obrigada, querido... Fico lisonjeada com essa informação. — A voz ofendida de Jane Granger trouxe Hermione para a realidade, ela observou os pais discutirem apenas pelo olhar e foi inevitável não sorrir para aquela interação. Enquanto ela sorria, eles finalmente se resolveram silenciosamente e, agora, Edward ria, provocando a mesma ação na esposa. Então, os dois pararam abruptamente e olharam para a filha.

E, mais uma vez, Hermione se surpreendeu. Era esquisito que fosse responsável pelo bem estar deles naquele dia.

Edward ajeitou a pequena mochila de viagem no ombro e apertou a alça da bolsa da esposa, ele olhou para ela como se pedisse permissão e, parecendo ter conquistado, voltou-se para a filha e sugeriu de forma delicada:

— Se não se importa, Hermione... Nós gostaríamos de ir para um lugar deixar as nossas coisas, nossa expedição só volta a Londres amanhã, no final da tarde.

Não existia um pedido para uma estadia, nem mesmo esperança de que a filha oferecesse isso de espontânea vontade. Isso acabou por machucar o coração de Hermione... Os pais a criaram melhor do que isso e, ela sabia que seria incapaz de deixá-los na rua em um local estranho, ainda mais porque eles vieram atrás dela.

Contudo, o Shell Cotage não era seu e mesmo que fosse, Hermione sabia que não existia espaço para mais duas pessoas nele. O pequeno chalé fora designado para um casal e era assim que deveria ser... Sem contar que Fleur poderia ficar desconfortável tendo os pais distantes de sua parceira debaixo de seu teto.

O casal Granger esperava pacientemente por uma resposta da filha e ela, tendo um objetivo em mente, tomou a frente dos dois. Eles atravessaram a praça em direção à orla litorânea e Hermione sorriu mais leve. Ela olhou por cima do ombro e anunciou:

— Eu conheço o lugar perfeito! Existe uma pousada próxima a praia, aconchegante e bem administrada... Eu fiquei por lá quando cheguei e...!

— Você ficou por lá, querida? — Jane repetiu a resposta da filha, o que fez Hermione virar-se abruptamente para a mais velha. Instintivamente, ela esperou uma repreensão ou uma reprovação que não veio. Pelo contrário, a mãe a olhava com uma expectativa curiosa, até mesmo um sorriso do qual a filha não pode discernir a natureza. A morena manteve os olhos à frente, evitando os pais, em seguida, respondeu evasiva:

— Eu fiquei quando cheguei ao povoado e a dona é uma das minhas atuais clientes. Madame Rosmerta ficará contente em recebê-los mesmo se não tiver bons quartos à disposição.

O silêncio novamente se instalou entre eles, Hermione não se incomodava, por mais que isso sempre trouxesse à tona a época em que a ausência de palavras não era um problema para ela e os pais. Aquele dia mostrava que os anos entre eles os puxavam para trás, por mais que eles dessem mais de um passo para frente.

Parecia inconsertável e a teimosia de Hermione não parecia ser capaz de insistir nisso.

— Bem, filha... Se lá é tão bom assim, por que não continuou hospedada? —Edward insistiu calmamente, acelerando o passo para acompanhar a filha pela travessia da praça, lado a lado. Ela o observou pelo canto dos olhos, incomodada com aquele pai falante com o qual não estava familiarizada. Edward Granger não era conhecido pela sua capacidade de jogar conversa for e a sua filha tinha quase certeza que a mãe estava envolvida naquela mudança de personalidade.

Aqueles pais, tão fora de suas zonas de conforto, tornavam a situação ainda mais complexa. Hermione não reconhecia muito de suas novas atitudes, contudo, permanecia sentindo falta dos dois como sempre. A morena sentia-se cativa da saudade que sentia deles e a fazia amolecer tão rapidamente. Naquele momento, por mais incomodada que tivesse, tudo que ela queria era ser capaz de confiar novamente deles e dizer tudo que eles perderam em todos aqueles anos...

Contudo, assim como uma leoa acuada, ela só conseguia pensar no que deveria fazer para se defender e, especialmente, defender quem amava. Ela não deixaria que eles se aproximassem de si e do que tinha com Fleur até enxergar mais do que uma admiração nos olhos deles... Ela precisava se sentir amada de novo e, especialmente, compreendida. O respeito viria depois, mas, Hermione precisava que eles, pelo menos, tentassem entendê-la.

— Nós já entendemos que você está com Fleur, mas, seria muito bom se você falasse conosco... — A voz da mãe estava suave, mas, Hermione a conhecia o bastante para captar a impaciência nela. Então, decidiu encarar a mãe quando estavam no meio da praça. Ali era um lugar seguro, um aspecto físico que fizera parte de sua história com Fleur. Ela podia procurar forças no que aquele local representava. Diante disso, a morena respirou fundo e, inevitavelmente, um sorriso irônico escapou de seus lábios ao dizer:

— Falar? Tudo o que eu fiz foi falar em todos esses anos... Eu me pergunto se, alguma vez, me escutaram de verdade. Na realidade, eu me pergunto se vocês escutaram tudo o que me disseram na última conversa franca que tivemos!

Hermione se transformava quando estava longe de Fleur.

Edward abaixou a cabeça para as palavras da filha, mas, Jane permaneceu ereta, pronta para batalha. Os olhos dela brilhavam e ela apertava a alça da bolsa que carregava. Quando não foi mais capaz de sustentar o olhar da filha, a mãe olhou ao redor e foi nesse momento que as primeiras lágrimas, tímidas e sofridas, escorreram. Hermione sentiu-se como se a saudade abrisse um buraco em seu coração, mas, esperou. Ela precisava daquilo, seja qual fosse o resultado daquele diálogo.

— Pelo visto, você também não nos escutou nem as nossas palavras e, muito menos, o nosso silêncio. — As palavras saíram trêmulas da boca crispada de Jane Granger, ela voltou a olhar para a filha e Hermione enxergou uma dor imensurável naqueles olhos tão fortes quanto os seus. Jane respirou fundo e o marido saiu de seu transe para sustentá-la. — O nosso problema nunca foi quem você é e sim, com quem você estava... Nenhum pai, por mais homofóbico que seja, gostaria de ver a filha ser engolida por uma pessoa que não se importa com ela.

— Aquela garota Greengrass nunca foi para você, pequena... — Edward completou diante de uma Hermione chocada que não conseguia tirar os olhos da mãe que, agora, chorava sem temer. Jane tremia nos braços do marido e ele a apertava junto de si, como se pudesse reconstruí-la junto ao seu peito. — Ela jamais demonstrou que deixaria de ter o casamento dos sonhos para arriscar contigo. Mas, você disse tudo de uma vez, se assumindo e dizendo que estava com uma mulher disposta a romper um noivado milionário por você... Claro que erramos nisso tudo, mas, você não nos deu tempo para que entendêssemos o que acontecia!

Hermione sentiu o buraco em seu peito arder a culpa que, agora, sentia. Ainda assim, Edward não olhava para filha com reprimenda enquanto Jane parecia sentir-se culpada demais para sustentar qualquer tipo de olhar. A vontade de abraçá-los veio forte, contudo, a teimosia da morena resolveu falar mais alto dessa vez e ela se viu presa ao chão, observando duas das pessoas que mais amava no mundo voltarem para sua vida e procurarem um lugar nela. Ela não sabia onde colocá-los agora, porém, dentro de si, ela já os afastara daquele buraco de saudade, dor e arrependimento.

Jane colheu as lágrimas que derramara e abandonou o aperto protetor do marido, deslocada, ela se aproximou da filha e estendeu a mão, sustentando-a no silêncio entre elas. O som das ondas quebrando na praia era a única coisa audível entre as respirações delas. Hermione fixou o olhar na mão da mãe, aquela que a afagara e a cuidara, que a ensinara e a reprovara... A mão de Jane tinha mais manchas do que ela se lembrava, a ponta dos dedos começara a enrugar... Ainda assim, ela reconhecia aquela mão.

Era a mão de alguém cujos gestos sempre foram feitos de amor.

O buraco, lentamente, se fechou. Hermione se aproximou sem jeito, apanhando a mão da mãe, trêmula. Imediatamente, Edward dedicou o mesmo abraço reconstrutor a ela, apertando-a junto de si. Jane juntou-se a eles, beijando o topo de seus cabelos.

Naquele calor cheio de lágrimas, de respirações misturadas, de perfumes familiares e de carinhos saudosos, o silêncio voltou e, daquela vez, ele não pesou.

Não era um silêncio feito de passado e sim, um feito de esperança e futuro. Hermione fechou os olhos e respirou fundo, o fardo de anos sem aquela parte de sua vida desapareceu de seus ombros. Estes relaxaram e ela, também.

A prova estava ali para ser usada e compreendida.

Ela se entregou às duas pessoas que não julgaram e nem julgariam o que ela era. Ela se entregou aos seus pais da mesma fora que fora entregue quando nascera... Hermione sempre seria uma Granger no nome e agora, fora sentenciado que seria, para sempre, uma Granger de coração e de amor.

 

O horário de almoço do La Petite Mort já terminara há algum tempo, o tempo se encaminhava para o meio da tarde e, ainda assim, Fleur não abandonara a cozinha do restaurante. Por mais que o almoço com os pais de Hermione tivesse sido melhor do que ela esperava, ela ainda sentia a necessidade de fazer mais por eles e pela morena.

Era por isso que ela estava, em uma tarde que poderia aproveitar ao ar livre (ajudando Hermione com os pais, por exemplo), ainda cozinhando. A receita era simples, algo que aprendera com grand-mère quando ainda era jovem e, justamente por essa proximidade com a sua família, Fleur decidira que seria a melhor forma de se aproximar dos membros recentemente conhecidos da família Granger.

A massa feita de claras de ovos, açúcar e farinha de amêndoas já estava pronta, uniforme, macia e brilhante, elegantemente disposta em pequenas porções de alguns centímetros de diâmetro em cima do papel manteiga. Fleur avaliou a aparência e a consistência da massa, satisfazendo-se com a segunda exigência e resmungando diante da primeira já que não possuía corantes naturais para tornar tudo mais bonito.

Contrariando o seu perfeccionismo, quando se tratava da gastronomia, ela levou a forma retangular ao forno de 180 graus. Em seguida, ela virou-se para cozinha à procura de ingredientes com os quais pudesse fazer o recheio de seu Macaron.

Molly não estava errada quando dissera que eles realmente precisavam fazer compras, ainda existiam coisas, além daquelas na lista entregue a Bill e Cedric, que faltavam na despensa do La Petite Mort. Sem alternativa, Fleur voltou ao seu fogão com algumas gramas de chocolate amargo e creme de leite. O recheio também não a agradava, mas, teria que bastar.

E o Sr. e a Sra. Granger não pareciam ser muito exigentes... Ela esperava.

O chocolate derreteu-se na panela quente junto ao fogo, Fleur acrescentou o creme de leite e passou a mexer cuidadosamente, evitando que o ganache se queimasse. Poucos minutos depois, o recheio estava pronto assim como o restante, a superfície brilhava e não havia qualquer aroma queimado no ar.

Mesmo que a aparência não parecesse com os característicos Macarons coloridos que ela lembrava comer na infância, eles cheiravam maravilhosamente bem. Fleur deu o primeiro sorriso dedicado àquele seu atribulado trabalho e passou a rechear e montar as porções.

A chef já tinha percorrido grande parte de sua forma quando escutou os sons relativos à chegada de algumas pessoas ao restaurante. Ela grunhiu impaciente, não podia abandonar aquele preparo agora e estava disposta a perder a elegância e gritar para o salão que o restaurante fechara. Contudo, não foi necessário porque a voz que ouviu era conhecida.

— Meu Deus, que cheiro maravilhoso! — O tom rouco característico de Bill chegou aos seus ouvidos antes da presença dele, contudo, bastaram alguns segundos para que o ruivo chegasse atrapalhado à cozinha, acompanhado de Cedric e Molly. O trio a cercou enquanto ela trabalhava à mesa de finalização dos pratos, — Para quem é isso?

— Que pergunta, querido! É óbvio que é para Hermione! — Molly bronqueou o filho e o cutucou nas costelas para que ele se afastasse, deixando Fleur trabalhar em paz. Cedric já estava longe, entretido em raspar o que restara do ganache na colher que Fleur usara para fazê-lo. A francesa sentia o rubor em suas faces, ainda assim, arrumou seriedade para responder:

— Na realidade, são para os pais dela... Eles saíram daqui sem sobremesa e achei justo preparar algo para a tarde.

— Claro... — Molly concordou com simpatia e aquele sorriso carinhoso com o qual Fleur não estava acostumada. Cedric chamou Bill para ajudá-lo na tarefa de se deliciar com o ganache e agora, eles trocavam sorrisos em seus lábios borrados de chocolate. A Sra. Weasley contemplou o trabalho de Fleur por mais alguns segundos. — Sabe que não precisa agradá-los, não é? Eles gostaram bastante de você e os elogios a sua comida foram soberbos.

Dessa vez, Fleur não tentou esconder o rubor em seu rosto. Ela ergueu a cabeça, desviando a atenção da montagem de seus doces apenas para sorrir grandemente. O sorriso que chegava aos seus olhos e os clareava, tornando-os mais gentis do que eles era acostumados a serem. A tensão em seus movimentos também desapareceu e ela não deixou de se sentir grata àquela senhora que, finalmente, abrandara com ela.

A Sra. Weasley entendeu todo o sentimento que transbordava em Fleur, ela voltou a sorrir de forma maternal e afagou o antebraço dela antes de se virar para os garotos. Ambos a olharam, sentindo-se culpados como crianças com suas bocas lambuzadas de chocolate. Fleur observou a senhora franzir a testa para o casal e colocar as mãos na cintura antes de vociferar:

— Façam alguma coisa! Se eu bem sei, Fleur precisa que encontrem algo em que ela possa colocar os doces para presenteá-los!

Depois de um susto com o tom de voz da mulher, Cedric e Bill saíram aos tropeços da cozinha, provocando risos em Fleur. Ela voltou ao trabalho, concentrando-se nele enquanto sentia Molly circulá-la. Era engraçado como a presença daquela mulher não mais a deixava inquieta, pelo contrário, agora, era reconfortante. Fleur se sentia mais calma sabendo que, se algo saísse do planejado, Molly Weasley podia segurar as pontas para ela, ali.

As duas percorreram um caminho longo e tortuoso para chegarem até ali, contudo, Fleur faria tudo de novo se o resultado fosse o mesmo. Ela não mais afastaria pessoas que gostassem do que ela era e Molly parecia tê-la em um lugar especial no coração.

— Querida, eu gostaria conversar sobre algo com você... — O receio na voz de Molly chamou a atenção de Fleur, ela finalizou o último Macaron e limpou as mãos em seu avental, antes de afastar os utensílios dela e da senhora mais velha. Em seguida, olhou para a mais velha, demonstrando que estava atenta pelo que viesse. Inexplicavelmente, o coração da francesa apertou-se em seu peito diante da possibilidade daquela conversa ser sobre o restaurante. — Bill me contou sobre a sua família e o negócio que eles possuem na França... E eu gostaria de conversar contigo a respeito do nosso futuro aqui.

Mil pensamentos se passaram na cabeça de Fleur naqueles poucos segundos. A expressão da Sra. Weasley permanecia ilegível e ela não sabia o que esperar daquela conversa. O restaurante era seu, por lei, mas, diante do que acontecera desde que voltara da França e fora bem recebida por aquela família, ela sabia que uma dívida emocional ainda existia. Sem entender onde Molly gostaria de chegar, Fleur apenas optou-se em certificar sobre quem falavam:

Pardon, senhora... Mas, fala do “nosso” futuro?

— Sim, eu sei que você não pretende voltar a França agora e que prefere ter algo seu aqui na Inglaterra. O restaurante é seu por direito e eu gostaria que pensasse a respeito... — Aqui, a voz da mais velha falhara. Fleur observou os olhos castanhos brilharem a luz intensa da cozinha. Entre elas, os macarons perfumavam o ambiente e tentavam adocicar a tensão que, abruptamente, se erguera. Fleur viu-se apertando as bordas de seu dólmã, agarrando-se ao tecido como se pudesse agarrar-se ao restaurante. Molly a observava enquanto respirava profundamente. — Eu gostaria que pensasse sobre a possibilidade de uma sociedade. Eu sinto muita falta do dinner e pensei que poderíamos aumentar o La Petite Mort, dividindo-o em um ambiente francês e outro britânico... A única coisa que teríamos em comum seria a cozinha a ser ampliada e as despesas. Os lucros seriam separados assim como os ambientes.

— Mamãe quer construir além daquele muro onde você costumava beber e fumar, Fleur... Eu acho uma boa ideia! — Bill colocou-se entre elas, segurando uma pequena caixa de papel comprida para os macarons. Fleur olhou feio para ele enquanto apanhava a caixa, ela não precisava que Molly soubesse de seus vícios esquecidos, ainda mais diante daquela possibilidade de negócio. Porém, a senhora pareceu ignorar o que o filho dissera e continuou a ansiosa a espera de uma resposta.

Fleur olhou nos olhos escuros da mais velha, procurando qualquer evidência daquela rivalidade que existira entre elas. Mas, tudo que encontrou foi carinho e expectativa. Molly realmente queria aquilo que propunha, não fazia pelo filho. A constatação de que aquela senhora, que tentara agradar por tanto tempo, finalmente queria tê-la por perto foi reconfortadora.

Sem que pudesse evitar, Fleur aproximou-se e circulou o corpo atarracado da senhora em seus longos abraços. Elas se abraçaram fortemente, com Cedric e Bill dando vivas ao fundo. Fleur riu de encontro aos cabelos ruivos tão destoantes dos seus e disse animada:

— Será merveilleux trabalhar com a senhora!

— Eu presumo que isso é um “sim”, querida. — Molly comentou com um sorriso emocionado, sem ter a mínima noção do que a palavra em francês significava. Fleur a apertou por mais alguns segundos antes da senhora se afastar, mantendo-as ligadas pelas mãos que segurava. Molly tinha os olhos brilhando realizados. — Podemos discutir tudo depois, na presença dos nossos advogados. Porém, eu gostaria que comemorássemos! Espero você e Hermione para o nosso almoço amanhã!

A expressão de alegria de Fleur fraquejou por alguns instantes e Bill se aproximou com Cedric. Molly afegava-lhe a mão à espera e o ruivo, compreensivo, perguntou:

— Você tem algo marcado com Hermione e os pais dela?

— Se tiver, desmarque e os traga para casa... — Molly apressou-se em responder antes que Fleur pudesse justificar-se. A francesa sentia-se incomodada por combinar algo assim sem falar com Hermione, ao mesmo tempo, algo lhe dizia que seria bom ter os pais da morena em outro ambiente com outras pessoas... Poderia mostrar a eles quão bem Ottery St. Catchpole fazia a sua filha. Molly apertou as mãos de Fleur, chamando a sua atenção. A senhora sorria conspiratória. — Será bom para vocês e para eles. E eu terei a oportunidade de elogiá-la.

Os olhos de Fleur marejaram, mas, ela sorria. Molly trouxe o seu rosto para perto, beijando-a na bochecha. O coração francês estava prestes a explodir diante de tanto que possuía, a chef olhava para cada uma daquelas três pessoas que esteve prestes a perder mais de uma vez. Ela sabia o que passara para chegar até ali, mas, mesmo assim, parecia que não era merecedora de todo aquele carinho e consideração.

O silêncio entre os quatro era calmo e reconfortante, não exigia que falassem. Por isso, foi nele que Fleur voltou-se a ocupar. E quando estava prestes a embalar os seus macarons, Bill a empurrou com o ombro e perguntou sorridente:

— Gostaria de ajuda?

Oui, Bill... — Fleur também sorria e, juntos, o antigo casal procurou embalar os doces da melhor forma possível. Enquanto isso, Molly lavava os utensílios usados e Cedric os secava.

Os sons de sua respiração junto ao do ex-marido tranqüilizavam Fleur, assim como o ruído da água que escorria na pia de metal e das panelas e travessas que Cedric guardava. Não era a primeira vez que a Inglaterra soava como a sua casa, também não era a primeira vez em que ela se surpreendia com aquele país tão diferente do seu...

E, ainda assim, ela não se cansava das manhãs nubladas britânicas e de seus habitantes tão frios à primeira vista. Ela jamais se cansaria da Inglaterra e de tudo que tinha ali.

Ela estava renovada para enfrentar o que os pais de Hermione pudessem significar e, principalmente, ela não via a hora de chegar em casa e envolver-se nos braços de quem amava.

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A fechadura da porta da frente do Shell Cotage fazia um som distinto quando era aberta, era um ruído alto e abafado que era capaz de chamar atenção entre os sons das ondas quebrando na praia. E foi com esse barulho que Hermione despertou na poltrona em frente à lareira.

Enquanto se situava, ela esfregava os olhos e ajeitava os cabelos. O livro que lia antes de adormecer e que ficara repousado em seu estômago enquanto dormia caíra quando ela se ajeitou e alongou os braços. A morena percebia, agora, que as conversas com os pais a drenaram mais do que ela imaginava. A sua cabeça estava pesada e seus olhos, ardendo.

Hermione chorara como poucas vezes só que as lágrimas derramadas hoje não eram feitas de tristeza e sim, de uma felicidade tão sensível que era capaz de fazê-la chorar.

O característico perfume de lavanda de Fleur chegou ao seu olfato, misturado, naquela tarde, a um aroma doce delicado. Hermione estalou o pescoço, massageando-o diante da dor incômoda instalada ali, na nuca, outra mão juntou-se a sua. Dedos frios desataram os nós em sua musculatura enquanto a respiração quente arrepiava os seus pelos, a morena sorriu para a resposta exagerada de seu corpo que acelerou o seu coração e ofegou a sua respiração. Ainda sorrindo, ela inclinou a cabeça para o beijo de Fleur em seu pescoço, seguido pela voz dela junto ao seu ouvido:

Bonjour, mon amour...

Hermione inclinou-se em direção ao corpo de Fleur, sem dar uma resposta verbal. A francesa contornou a poltrona, sentando na mesinha de centro e deixando um embrulho ao seu lado. A morena alcançou a mão dela e a afagou, as duas se olharam por algum tempo até que Fleur corou e abaixou a cabeça, sorrindo apaixonada. Hermione suspirou realizada por ser a razão daquele sorriso antes de responder:

— Olá, meu amor... Eu senti a sua falta.

— Eu também... — Fleur concordou, aproximando-se e roubando um beijo delicado. Ela manteve-se próxima, sorrindo e embriagando Hermione com aquele cheiro que ela associava ao lar. As mãos da francesa desenharam a sua mandíbula e quando Hermione percebeu, as duas dividiam a mesma poltona, com Fleur em seu colo olhando ao redor. — Eu achei que os seus pais estivessem aqui, até preparei algo para comermos no chá.

Hermione deixou as suas mãos encontrarem as coxas de Fleur e ali fazerem morada, ela não conseguia deixar de se envolver por aqueles olhos azuis que, agora, estavam à procura de respostas. A morena inclinou a cabeça, repousando a testa sobre o ombro de Fleur e sussurrou calmamente:

— Eu os deixei na pousada de Madame Rosmerta, achei que ficaríamos muito apertados aqui...

— Eu não me incomodaria de hospedá-los, poderíamos fazer uma cama aqui, para nós, em frente à lareira. — Fleur comentou inquieta enquanto seus olhos procuravam soluções para um problema que não existia. Hermione sorriu para aquele comportamento apavorado da francesa, o mesmo que encontrou há tanto tempo, quando se conheceram por causa de uma ação jurídica. A morena começou a beijar as superfícies do corpo da outra, tentando distraí-la daqueles pensamentos que não a levariam a lugar algum. — Podemos até pedir para que Bill ceda a casa que eu dividia com ele no povoado, daí, ele e Cedric ficam no chalé e...

— Meu amor, eles já estão satisfeitos e instalados na pousada. Além disso, eu preciso me recuperar antes de encontrá-los de novo. — Hermione completou com gentileza, entrelaçando as suas mãos com as de Fleur de forma que, agora, a francesa era cativa de seus braços. A francesa inclinou-se em direção a ela e os corpos moldaram-se um ao outro, mesmo sem ter uma visão completa dos olhos cerúleos que amava, Hermione inferiu que eles estavam preocupados quando a dona deles sussurrou:

— Está tudo bem entre vocês?

— Sim, foi melhor do que eu esperava e estou satisfeita com isso, por agora. — Hermione respondeu com sinceridade e firmeza, de forma que isso também funcionou para que ela entendesse o que acontecera com os pais mais cedo. Fleur se remexeu em seu colo, arrumando-se de forma que elas conseguissem se olhar. A francesa parecia procurar alguma incerteza no olhar da morena e não a encontrou, a expressão preocupada dissolveu-se nas belas feições e ela disse:

— Eu realmente fico feliz com isso, você não merecia ficar sozinha depois de tudo que fez por mim e pela minha família.

— Eu não estou sozinha, não desde que você apareceu. — A paixão nos olhos castanhos emanava através de suas palavras. Hermione sorria de verdade, sem se segurar em nada que pudesse derrubá-la. Fleur a olhava com admiração, ainda corada e surpresa pelo que a morena era capaz de fazer com ela. — E a situação com os meus pais merece uma comemoração, o que acha de enchermos a banheira e aproveitarmos antes que você tenha que ir para o restaurante?

Fleur riu deliciada e foi abraçada pelos braços fortes e protetores de Hermione. As duas riam e o som ecoava nas paredes de pedra do chalé, por fim, a francesa arqueou uma das sobrancelhas e sussurrou sedutora:

— A minha banheira é muito pequena, vamos acabar molhando todo o banheiro...

— Ótimo, isso indica que teremos que ficar bem juntas para evitar esse problema... — Hermione sugeriu no mesmo tom, apertando a cintura da francesa. Fleur pareceu estudar essa possibilidade antes de levantar abruptamente e correr até o portal da sala. Ali, a francesa parou e com as bochechas ruborizadas e os olhos azuis escurecidos pela paixão, ela disse:

— Eu espero você lá em cima.

Hermione apenas acenou, hipnotizada pela beleza daquela mulher que permitia ser somente sua. Fleur subiu as escadas, o perfume de lavanda sendo distribuído pelo caminho e a morena o seguiu, tragando-o a cada passo.

Seguir Fleur estava tornando-se uma constante e amá-la, uma certeza.

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Notas finais do capítulo

E então, o que acharam?

Foi um capítulo cheio de emoções e que prometeu outras tantas no próximo... Como podem perceber, a história de Fleur e Hermione está fechando um ciclo, assim como a fanfic. Espero que continuem acompanhando para o nosso final.

Beijos, nos vemos na próxima!
(Twitter: @redfieldfer)