La Petite Mort escrita por Fernanda Redfield


Capítulo 19
Épines


Notas iniciais do capítulo

Olá, boa noite!

Antes de qualquer coisa, peço milhões de desculpas pela demora em postar o capítulo novo. Sei que elas em nada adiantarão, mas, espero que compreendam. Esse capítulo foi extremamente difícil de escrever e eu, por vezes, adiei o que deveria ter sido feito antes. Este é um capítulo de preenchimento, que prepara o terreno para o que ocorrerá na França e, também, é um capítulo de suma importância porque, finalmente, traz o segredo do passado de Fleur.

Aliás, o nome desse capítulo é um trocadilho com o nome da Fleur. Já que "Fleur" significa "flor" em francês, esse capítulo, por trazer algo doloroso do passado dela, remete aos espinhos dessa flor...

Espero que gostem! Boa leitura!



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Épines (do francês): significa “espinhos”.

Fleur sentiu seu corpo ser amparado e carregado até o sofá. As mãos de Hermione eram menores do que as dela, assim como tudo nela era pequeno comparado aos seus, porém, naquele momento, a morena se agigantava porque era capaz de dragar a dor da chef e somá-la com a própria. Hermione fosse culpa do álcool que consumira ou da curiosidade de, finalmente, saber da verdade, tremia.

Enquanto a francesa encontrava-se temerosa diante do que ia contar, a morena estava temendo por aquilo que ia ouvir. Ambas sabiam que o que seria dito mudaria, e muito, a dinâmica entre elas. Talvez, até mesmo, terminaria com tudo que elas haviam construído.

— Hermione, pardon... - Fleur balbuciou algumas palavras, mas a morena agitou a cabeça e foi até a cozinha, sem dizer nada. Voltou minutos depois, com um copo de água e entregou ainda calada para a francesa. Fleur o apanhou com as mãos tremendo, Hermione envolveu-as entre as suas e, ainda meio ébria do whisky, sorriu. A francesa abaixou a cabeça envergonhada e tomou um longo gole do líquido, procurando também ritmar sua respiração no mesmo ato.

Hermione a observou em silêncio, deixou que Fleur engolisse a água e esperou que os lábios dela parassem de tremer. Em seguida, a morena massageou as pálpebras fechadas e sussurrou:

— Eu não preciso que você me peça perdão... Eu só quero saber o que aconteceu para você se fechar e me deixar de fora. Falar a verdade é muito mais importante do que as desculpas que você possa me pedir.

As palavras de Hermione eram duras, apesar do tom de voz baixo. E tal dureza atingiu Fleur, em cheio. A francesa, ainda debilitada e nervosa, engoliu mais um gole de água que passou pela sua garganta seca sem produzir alívio algum. Ela continuou olhando para as próprias mãos, tão habilidosas para cozinhar e que, agora, estavam trêmulas e imprestáveis.

Era sempre assim, o passado de Fleur vinha à tona e ela perdia o seu presente, bagunçando o seu futuro.

O peso do que seria dito pairava e assombrava o relacionamento das duas.

De um lado, Hermione e sua bagagem emocional que envolvia, especificamente, os problemas de confiança. A advogada confiara, uma vez, na pessoa errada e pagou o preço com o próprio coração e a própria amargura diante dos relacionamentos. E, do outro, Fleur com seu problema em, simplesmente, confiar. Também confiara na pessoa errada que culminou na descrença de todos aqueles que a amavam...

Aliás, a confiança era um aspecto engraçado e perigoso dentro de um relacionamento. Até que ponto era válido entregar-se, por inteira, como Hermione exigia? Não era certo, como pensava Fleur, manter certos pedaços de sua história, os piores, escondidos daquela que merecia somente o seu melhor?

A única certeza era de que a questão da confiança não exigia um tratamento

Impassível, sem considerações. Não deveria ter a extremidade da exigência que Hermione proclamava, muito menos, a necessidade de esconder-se que Fleur manejava tão bem... Tratando-se de um relacionamento, era preciso que esses dois posicionamentos se equilibrassem.

Portanto, Hermione estava disposta a ouvir até onde Fleur pudesse falar assim como a francesa pretendia dizer até onde pudesse ainda manter Hermione em sua vida... No fundo, não era o egoísmo de Hermione por saber nem a ânsia de Fleur por fugir da verdade, que falavam mais alto. Abaixo de toda a mágoa e de toda a confusão, estava algo muito mais forte e que elas, recentemente, haviam descoberto.

Debaixo de todas aquelas camadas, era o amor quem falava mais alto. Fleur não contava porque amava Hermione, assim como a morena preservara o silêncio da loira porque não queria pressioná-la a ponto de perdê-la. Mesmo com tanta mágoa envolvida, as atitudes de ambas se espelhavam no amor.

Fleur suspirou de forma profunda, sua garganta continuava seca e as palavras certas fugiam a sua mente. Deveria existir uma forma de amenizar aquela verdade do passado, uma forma em que ela pudesse se preservar e, principalmente, preservar Hermione. Fleur fechou e apertou as pálpebras de seus olhos, a dor de cabeça já começara a se manifestar, ela lutou contra a sua vontade de mudar de assunto e, relutante, começou:

— Existe um motivo para eu ter saído da França para nunca mais voltar.

— Eu sei que existe e sei que isso envolvia a sua família, Bill me contou que vocês nunca se deram bem... - Hermione só falou porque pretendia ajudar Fleur a continuar, porém, suas palavras apenas arquearam a sobrancelha loira da francesa e arrancaram um sorrisinho de lado, incomodado e que em nada lembrava os melhores sorrisos dela. Fleur deixou o copo sobre a mesa de centro e colocou-se em pé, a ansiedade exalando por cada poro de seu corpo, os olhos azuis se voltaram para Hermione e eles estavam elétricos, incontroláveis:

— Essa é uma parte da mentira que eu contei e que Bill me ajudou a aprimorá-la... A verdade é que eu sempre me dei muito bem com a minha família, pelo menos, com grande parte dela. Tanto é que, antes de fugir da França, eu estava prestes a estudar na Le Courdon Bleu que é...

— A melhor escola de gastronomia do mundo, eu sei. - Hermione não se conteve e voltou a completar a frase de Fleur, a francesa olhou surpresa para ela e o sorriso mudou de aspecto, ela agora sorria saudosa para o sonho que terminara, há muito tempo. Aquela postura nostálgica ardeu em Hermione, ela não conhecia aquela Fleur sonhadora e, assim que a conheceu, também se apaixonara por ela. E isso tornava toda a verdade ainda pior porque, o que quer que tivesse ocorrido na França, destruía um lado que tornava Fleur ainda mais apaixonante. A francesa voltou a ficar séria e pigarreou, retomando a voz e a coragem:

— Eu era cheia de sonhos e, naturalmente, a herdeira do nosso empreendimento. Eu cresci nas cozinhas da Cuisine Delacour, todos os meus primos cresceram, porém, eu realmente era apaixonada pelo local. Eu e um primo de parentesco distante, mas de convivência próxima.

Fleur se calou ao mencionar o primo, sem lhe nomear. A simples menção aquele homem provocou uma transformação intensa em seu corpo. As mãos tremeram ainda mais e seus lábios se crisparam, sua pele empalideceu e seus olhos, antes elétricos, se entregaram a opacidade. Fleur era o retrato do medo e do terror.

Hermione fechou as mãos em punhos e respirou fundo, o sangue lhe subiu à cabeça porque ela soube, não por palavras, mas somente pelas mudanças em Fleur que aquele primo a ferira de uma forma que justificava todo aquele silêncio. As piores hipóteses passaram por sua mente e todas elas davam razão à raiva quase assassina que sentia por aquele homem de quem sequer sabia o nome.

Fleur respirou fundo e tentou retomar a calma, juntou as mãos e apertou-as uma contra a outra. Depois, passou a mão pela nuca e mexeu em alguns fios loiros. Em seguida, um pouco recomposta, continuou:

— Othon era muito próximo a mim, assim como o seu irmão, três anos mais novo, Phillipe. Nós três nos entendíamos muito bem porque éramos os mais velhos dentre todos os jovens Delacour. Eu era uma boa filha, mas tinha os meus momentos de liberdade com os dois... Eu confiava naqueles dois garotos. Phillipe nunca me deu motivos para duvidar de seu carinho e Othon também não, até o aniversário dele em que completou 19 anos.

Fleur voltou a se calar, novamente, teve que inspirar muito ar. Sentia que estava à beira do choro simplesmente por ter a imagem de Othon presa em sua memória. Os olhos azuis como os seus, o porte alto e elegante, a boca que se rasgava em um sorriso repleto de escárnio e desprezo... Aquela era face era a única coisa que jamais fora capaz de superar. Othon era a lembrança constante e cruel de que ela não era, somente, aquela francesa que fora acolhida pela fria e chuvosa Inglaterra.

Othon era a pior lembrança que tinha de casa.

— Eu tinha 17 anos, Phillipe tinha 16. Como sempre, os Delacour organizaram uma grande festa. Muitos convidados, muita comida, muita bebida... - A voz de Fleur falhou nessa parte, Hermione a observou fechar os olhos e logo, uma tímida lágrima escorreu por sua face, ela a limpou bruscamente e virou-se de costas, escondendo-se de Hermione e encolhendo-se dentro de si mesma. - Eu não deveria ter bebido tanto, eu...

— Pare com isso, por favor! - A voz de Hermione interrompeu o relato de Fleur, a loira virou-se bruscamente para ela, esperando encontrar a desaprovação ou, até mesmo, o nojo. Mas, em vez disso, encontrou a fúria. O tom de voz da morena estava enérgico e os olhos achocolatados queimavam irracionais. Hermione se aproximou a passos rápidos e segurou o rosto de Fleur com ambas as mãos. Aquele toque desesperado fez com que as lágrimas de Fleur, seguras, finalmente, fossem derramadas. A loira chorou silenciosa e tentou abaixar o rosto, envergonhada, mas Hermione a puxou para cima, fazendo-a olhar em seus olhos novamente. - Jamais diga ou pense que foi culpa sua!

A francesa continuou a chorar e a movimentar-se agitada. A reação de Hermione não era esperada por ela, tão acostumada ao abandono e a descrença. Porém, a morena ainda não parecia satisfeita e a puxou para perto, abraçando-a apertado.

Um abraço de quem não somente possuía e sim, de quem também entregava tudo que tinha dentro de si. Fleur sentiu seu corpo trêmulo ser acalentado pela delicadeza dos braços firmes de Hermione, assim como sentiu a força da morena adentrar em sua fraqueza e tentar abolir seus medos e suas lembranças. Tudo em Hermione invocava coragem e integridade, a morena deixou claro por meio de gestos que não havia necessidade de perdão e que seria sua companhia nessa batalha.

Fleur viu que a sua confiança não fora em vão e que, de fato, Hermione estava disposta a enfrentar qualquer coisa por ela. Existia coragem o bastante, na morena, para que as duas vivessem em paz.

— Não importa se você estava bêbada ou se estava fora de si... - Hermione resmungou ainda afoita, ajeitando Fleur em seus braços de forma que pudesse olhar nos olhos dela. Os orbes azuis estavam chorosos, ainda que a francesa lutasse contra as lágrimas, ela tentou virar o rosto, mas Hermione a manteve no lugar. - Você é a dona do seu corpo e de suas escolhas, cabia a ele respeitar.

— Eu sei, mas... É difícil ter que voltar para a França por causa dele quando eu deixei o país porque não podia suportar a ideia de mantê-lo por perto. - Fleur respondeu frágil, agarrando-se ainda mais em Hermione, procurando uma proteção e uma segurança que ela perdera há muitos anos. A morena, novamente, entregou a Fleur tudo que a francesa queria e esperava. Hermione, ainda abraçada à francesa, disse resoluta:

— Você não está voltando por causa dele. Você está voltando porque sua família precisa de você... E dessa vez, você não estará sozinha.

— Você não precisa ir, é o meu passado me assombrando, Hermione... E ele já se interpôs demais entre a gente. - Fleur resmungou contrariada, deslizando através dos braços da morena até estar distante deles. Hermione franziu a testa para a atitude e o tom de voz da francesa antes de se levantar e caminhar lentamente em direção a ela. Os braços morenos envolveram a cintura pálida e os lábios tocaram a região da escápula. Fleur suspirou e Hermione, decidida, disse:

— E dessa vez, você não vai estar sozinha. Eu vou com você.

— Você não precisa e... - Fleur não conseguiu completar a frase porque, ao se virar, seus lábios encontraram os de Hermione. A morena sorriu enquanto a beijava, depois, se afastou e disse:

— Eu quero.

Fleur, tímida, sorriu. Os olhos azuis cerúleos encontraram os olhos castanhos e Fleur enxergou que não era somente aquela viagem que Hermione exigia e sim, tudo que ela poderia dar.

# # # # #

Bill não sabia bem ao certo o que estava fazendo no Shell Cotage. Porém, Fleur ligara na noite anterior e pedira para que ele a encontrasse naquele local, o ruivo até tentou questionar o motivo da volta tão rápida para Ottery St. Catchpole, mas não teve tempo.

Porém, mais do que melhor amigo de Fleur Delacour, Bill também já fora seu marido. Os anos que passaram juntos o fizeram observar e, principalmente, notar certos nuances que denunciavam o emocional da francesa e Bill somente precisou escutar o tom agitado e rápido na voz de Fleur para saber que ela estava aflita.

Por isso, não era mistério nenhum que ele também estivesse aflito. Sua mente pensava as piores opções e ele até mesmo cogitara que Hermione a tivesse abandonado... Rapidamente, o ruivo agitou a cabeça quando essa hipótese bateu em sua compreensão.

Daria o benefício da dúvida, Hermione não lhe dera motivos para duvidar dela e nem todo londrino era como Harry Potter.

Bill sentou-se nos degraus de pedras do chalé após remover os grãos de areia da praia com as mãos, ventava furiosamente e ele já batia os dentes de frio. O ruivo abaixou a cabeça e procurou se esquentar até que escutou passos triturando a areia, ergueu a cabeça, pronto para sorrir para a sua melhor amiga... Mas, seus olhos encontraram Harry Potter. Bill franziu a testa e semicerrou os olhos, Harry caminhava sozinho e assim que o reconheceu, abaixou a cabeça, envergonhado.

O ruivo decidiu que não seria o primeiro a abaixar a guardar, ainda mais depois do que Harry acabou fazendo em relação a Gina. Ele podia ser o melhor amigo de Hermione, mas Bill tinha que ser o irmão mais velho, ainda mais se tratando do coração partido de sua irmã. Quando, enfim, os dois estavam próximos o bastante, Harry pigarreou e cumprimentou desconcertado: 

— Boa tarde, William.

— Boa tarde, Potter. - Bill respondeu de forma educada, mas sua testa franzida e seus olhos cerrados deixavam evidente a postura defensiva do ruivo em relação ao moreno. Harry brincou com as chaves do Shell Cotage em sua mão direita, evitava olhar para Bill porque sabia que ele estava certo em assumir aquele tipo de comportamento.

Harry deixara se levar pela sua raiva e pela frustração diante do comportamento de Gina, claro que nenhum desses motivos justificava a imaturidade de suas ações seguintes, mas estas eram as únicas explicações que ele possuía. Harry não era muito suscetível à razão, diferentemente de Hermione, ele usava muito de seus sentimentos para tomar atitudes... E, tratando-se da atual situação com Gina, seus sentimentos o deixaram na mão.

O moreno passou por Bill ao caminho da porta, o ruivo apenas se encolheu no degrau de pedra, deixando claro que não ia sair dali porque ele precisava passar. Harry suspirou profundamente, ele não conseguia nem sequer questionar o comportamento de Bill porque sabia que ele estava certo. Em vez disso, o moreno parou em frente à porta e perguntou:

— O que faz aqui?

— Fleur me ligou ontem à noite e disse que estava voltando à cidade, ela também disse que precisava conversar comigo e pediu para eu vir ao chalé. Então, aqui eu estou. - Bill respondeu frio, sequer dando-se ao trabalho de olhar para Harry enquanto falava, o moreno teve que aprumar os ouvidos porque o vento castigava o espaço entre eles e tornava o som da voz de Bill em um mero sussurro. Harry compreendeu as palavras e franziu a testa, em seguida, disse desconfiado:      

— Isso é engraçado, Hermione disse o mesmo para mim.

Bill ignorou o comentário de Harry e focou o seu olhar à frente, distinguiu dois corpos caminhando extremamente juntos em meio aos ventos litorâneos frios e furiosos. O ruivo não pode deixar de sorrir quando observou quão próximos os corpos estavam e de como eles pareciam confortáveis com aquela proximidade, Bill levantou-se e, batendo na calça para remover os grãos de areia, disse:

— Bem, vamos ter que perguntar às duas.

Harry voltou a descer os degraus e parou ao lado de Bill, em uma distância segura. Os dois observaram pacientemente até que, finalmente, as duas mulheres chegaram próximas a ele. Fleur soltou a mão de Hermione e avançou a passos decididos para Bill que a engolfou em um abraço apertado e cheio de sorrisos. Hermione olhava apaixonadamente para a francesa e desviou os olhos dela, brevemente, para cumprimentar Harry com um aceno da cabeça.

Harry percebeu os discretos nuances na personalidade de Hermione, aqueles dias em que ficara fora a mudaram, discreta e, ainda assim, intensamente.

Fleur afastou-se de Bill e beijou-lhe as duas bochechas do rapaz, em seguida, ela voltou para perto de Hermione e agarrou o braço da morena com as duas mãos. Fleur olhou para Hermione pelo canto dos olhos e as duas sorriram, imersas em seu próprio mundo. Harry deixou que o próprio sorriso mudasse sua expressão e Fleur, sorrindo, murmurou:

— Olá, Mousieur Potter.

— Acho que não precisamos de tanta formalidade, Fleur. - Harry respondeu risonho, provocando risadas na própria francesa que, instintivamente, escondeu o rosto próximo à Hermione. A morena adiantou-se para apertar, respeitosamente, a mão de Bill e os quatro caminharam para dentro do chalé enquanto rangiam os dentes de frio.

Dentro da casa, inundados pelo calor vindo do aquecimento, os quatro retiraram os pesados casacos. Harry deixou que os convidados - que já conheciam a casa por completo - se acomodassem, e foi à cozinha. Ainda era de manhã, mas ele saiu de lá com quatro garrafas de cerveja. Voltou à sala e encontrou Hermione sentada na poltrona, com Fleur acomodada no braço da mesma. Bill estava em pé próximo a janela. Hermione e Bill aceitaram a cerveja, Fleur agitou a cabeça e Harry deixou a que restara sobre a mesinha de centro.

Fleur olhava um pouco incomodada para Hermione, a morena reclamara todo o trajeto da ressaca que tivera pela quantidade de uísque consumida na noite anterior antes do reencontro das duas e, agora, bebia de novo. Hermione deu de ombros para a expressão fechada de Fleur e a loira, revirando os olhos, começou a acariciar os cabelos castanhos, instintivamente. Bill sorriu para a interação das duas e Harry corou pela proximidade do casal, foi o ruivo quem pigarreou e perguntou:

— Devemos brindar por algo?

Hermione bebia sua cerveja, mas suas bochechas coraram diante das palavras de Bill. Fleur, já acostumada com o humor brincalhão do ex marido, riu roucamente acompanhada por Harry. A francesa olhou de forma apaixonada para Hermione e murmurou mais séria:

— Eu queria que tivéssemos tempo para brindar.

— Sempre há tempo para um brinde, Fleur. - Bill comentou desconfiado, mas com o sorriso ainda iluminando sua face. Claro que ele sabia que algo estava errado com Fleur, ele soube assim que escutou o tom de voz dela através da linha telefônica, mas Bill não era do tipo que deixava de ver o lado bom das coisas na menor dificuldade. Por isso, ele ainda tiraria algo bom dali antes de ser bombardeado por mais obstáculos. O ruivo estendeu a garrafa de cerveja restante para Fleur que a apanhou com uma careta, afinal, ela odiava cerveja. - Tenho o prazer de anunciar que, oficialmente, você não tem por que perder o sono com minha mãe ou com Gina. As duas tiraram o processo contra você da justiça, agora... Só falta o fim do processo do divórcio para que você volte a ser uma Delacour pura.

Hermione riu de forma surpresa para as palavras de Bill enquanto Harry batia palmas, satisfeito. Entretanto, a maior interessada em toda aquela situação parecia estar em estado de choque. Fleur piscou os olhos azuis mais de uma vez antes de, novamente, irromper em um abraço efusivo, jogando-se nos braços de Bill.

A morena observou a forma como a risada rouca de Bill misturava-se ao choro risonho de Fleur. Discretamente, seu rosto assumiu uma expressão de pura adoração porque, naquele momento, ela percebeu que Fleur Delacour era uma das pessoas mais bonitas, por dentro e por fora, que ela já conhecera. A francesa precisava de pouco para ser feliz, ainda que tivesse passado por muito... Ela, de fato, sabia como viver e Hermione desejou somente ser capaz de manter aquela mesma energia nela.

Ainda abraçando Fleur, Bill a apertou de encontro ao seu corpo e disse:

— Porém, capaz de você arrumar outra briga se não for jantar com a minha mãe. Ela quer conhecer você.

— Infelizmente, nós não teremos tempo para isso... Esse compromisso vai ter que ficar para a nossa volta, chérie. - Fleur respondeu chateada, brindando sua cerveja com a de Bill e olhando por cima dos ombros para Hermione. Os olhos azuis cerúleos buscavam uma segurança presente somente nos olhos castanhos. Hermione sorriu encorajando-a e Harry parou com as palmas, confuso. - Eu terei que voltar a França amanhã.

— Eu não vou te deixar voltar para França, você sabe o que lhe espera lá! - Bill estava surpreso com o que Fleur dissera, mas não ficaria estático a vendo ir de encontro ao seu passado turbulento. O ruivo casara sabendo tudo que Fleur passara na terra natal e, depois que o casamento tornou-se um contrato de amizade, ele passou a ajudá-la a lidar com isso até que ela estivesse, praticamente, recuperada. Bill olhou para Hermione, em busca de apoio e a morena, prontamente, colocou-se em pé e caminhou até Fleur, entrelaçando os dedos de suas mãos enquanto dizia segura de si:

— Ela não vai estar sozinha, eu irei com ela e farei o possível e até mesmo o impossível para protegê-la.

— Hermione, e o nosso escritório? Precisamos voltar a Londres! - Harry estava tão chocado quanto Bill. De forma egoísta, ele sugeriu uma volta as suas rotinas porque poderia se afastar de toda aquela bagunça emocional que a sua estadia em Ottery St. Catchpole se tornara. Hermione franziu as sobrancelhas para a sugestão absurda do melhor amigo, Fleur virou-se preocupada para a morena e estava prestes a dizer algo quando Hermione a interrompeu e respondeu:

— Eu não tenho casos em aberto em Londres, Harry... Você deve voltar porque, a essa altura, seus prazos estão estourando. Fleur precisa de mim e eu irei com ela, sempre.

Fleur chocou-se pela segunda vez desde o início daquela conversa, ela não esperava que Hermione tivesse desenvolvido aquele tipo de devoção a ela. A francesa apertou a mão de Hermione que envolvia a sua e abaixou a cabeça, sorrindo discretamente para seus pés.

Bill cruzou os braços na altura do peito e sorriu para a atitude de Hermione, depois daquela declaração, ele não duvidava da natureza dos sentimentos da morena. Se ela fora capaz de dizer aquilo, significava que sabia o que a aguardava na França e que protegeria Fleur, independente da natureza da ameaça. O ruivo caminhou até Fleur e apertou o ombro da francesa, carinhosamente, em seguida, finalizou sua cerveja e disse:

— Bem, eu tenho que conversar com o pessoal do dinner e decidir o que faremos com essas improváveis férias de Fleur.

— Eu vou te acompanhar até a orla, eu e Hermione já tínhamos combinado o que faríamos e creio que partiremos amanhã para Londres e, depois, para França. - Fleur anunciou calmamente, antes de se aproximar de Hermione e segurar-lhe o rosto. A morena rompeu a distância entre elas e beijou-a nos lábios, em seguida, sorriu e sussurrou:

— Nos vemos mais tarde.

Fleur corou e sorriu grande antes de ser praticamente arrastada por Bill para fora do chalé. Harry e Hermione ficaram sozinhos, a morena finalizou sua cerveja em um gole só e voltou os olhos curiosos para o amigo. Harry abaixou os olhos, envergonhado de sua atitude egoísta e chateado pela sensação de incapacidade que tomava seu corpo.

Harry Potter, naquele instante, sob a observação severa da amiga, envergonhara-se de suas atitudes em relação a Gina e a Cho. Claro que ele poderia culpar a bebida e, até mesmo, a influência dos irmãos da ruiva, mas, na essência, ele sabia que era o único responsável pela confusão em que se metera.

Cho estava, no mínimo, gostando de sua companhia enquanto ele estava apaixonado (como sempre estivera) por Gina Weasley.

Harry deixou o corpo escorregar no sofá abandonado por Fleur e Bill, o moreno fechou os olhos e suspirou. Escutou os passos de Hermione pela sala e percebeu quando ela parou, em pé, a sua frente. Ele ergueu os olhos e Hermione, de braços cruzados, perguntou severa:

— O que aconteceu para você querer voltar para Londres, Potter?

Harry pensava nas respostas mais improváveis quando os dois escutaram batidas na porta do chalé. O moreno, procurando fugir do interrogatório da melhor amiga, levantou-se rapidamente e correu para a porta. Ele a abriu bruscamente e seus olhos encontraram, justamente, quem ele mais pensava.

Gina Weasley franziu as sobrancelhas para ele, mas não demonstrou qualquer sinal de ressentimento e, muito menos, conhecimento. A ruiva o olhava como se ele fosse um completo desconhecido e aquela atitude fez Harry suspirar enquanto algo, dentro dele, se remexia dolorosamente. Gina olhou discretamente por cima do ombro de Harry e perguntou fria:

— Bill Weasley e Fleur Delacour estão aqui?

— Eles acabaram de sair, Gina. - Hermione respondeu neutra, não demonstrando qualquer sinal de ressentimento pela discussão que presenciara entre a ruiva e Fleur na festa da cidade. Gina, contrariando todas as expectativas da dupla de amigos, surgiu para a morena. Hermione franziu as sobrancelhas e a ruiva disse:

— Ah, sim... Vou tentar alcançá-los pela orla, muito obrigada, Hermione.

Sem dizer nada mais, a ruiva deu às costas e desceu os degraus de pedra aos pulos, os cabelos ruivos chicotearam o vento intenso e Harry a observou até que sua silhueta se tornasse pequena aos seus olhos. Em seguida, o moreno suspirou e fechou a porta, voltando a sala e terminando sua cerveja. Hermione o observava e ela, impaciente, vociferou:

— Pode ir me falando o que aconteceu entre você e a ruiva.

Harry engoliu em seco e seus olhos, mais uma vez, desencontraram os da amiga.

# # # # #

Fleur e Bill caminhavam em silêncio, mas a ausência de palavras ainda transmitia muita coisa entre eles. O ruivo dava quatro passos e esbarrava no ombro da francesa, desequilibrando-a para, depois, os dois rirem abertamente. Entre eles, nunca existira pesos e fardos, nem mesmo quando Bill finalmente assumiu quem era e o medo que circundava essa verdade.

Os dois podiam não ser almas gêmeas no aspecto romântico, porém, estavam bem próximos a isso no quesito fraterno.

A compreensão e a cumplicidade faziam-se presentes no silêncio que compartilhavam. Antes de Bill, Fleur duvidava da compreensão das outras pessoas, principalmente, depois que a família a abandonara quando ela precisara fugir. Agora, a simples ideia de enfrentar seus medos do passado, sem ele, a amedrontava. Era certo que ela tinha Hermione, mas Bill era tão importante e vital como a morena passara a ser em sua vida.

Fleur precisava dos dois porque, de certa forma, enxergava segurança e familiaridade neles. Era irônico, visto que reencontrara sua mãe e sua irmã há poucos dias e delas, não esperava nada. Enquanto que, tratando-se de Bill e Hermione, ela sabia que poderia ter tudo.

— Hermione sabe o que enfrentarão lá na França? - Bill perguntou cuidadoso, deixando de trombar nos ombros da francesa e passando a envolver o corpo dela junto ao seu. Fleur encostou-se ao lado do corpo de Bill, aconchegando-se no calor que ele emanava e respirou fundo, acenando com a cabeça. O próprio Bill suspirou e continuou a caminhar, praticamente alçando a loira consigo. - Não quer que eu vá junto?

— Não, Bill... Você precisa ficar aqui e resolver tudo com a sua família, na verdade, precisa reaproximar-se e levar Cedric. Eu jamais me perdoaria se você desperdiçasse essa chance indo, mais uma vez, atrás de mim. Eles precisam de você e eu tenho Hermione. - Fleur respondeu insegura porque, de fato, a ideia de não ter Bill ao seu lado em mais uma batalha era assustadora. Mas, ela colocava toda a sua fé em Hermione e depositava todas as suas esperanças nela. De olhos fechados, Fleur deixava o corpo cair e esperava que Hermione a apanhasse. Bill fez uma careta pensativa e coçou o queixo com a mão esquerda, depois, pigarreou e perguntou:

— E você acha que ela vai agüentar tudo que envolve a sua família?

— E você duvida dela? - Fleur devolveu a pergunta, de forma desafiadora, como se questionasse os motivos que o levavam àquele julgamento. Bill arregalou os olhos, surpreso com a defensiva de Fleur em relação à morena que, no início, tanto a tirara do sério.

Bill não temia que algo desse errado entre elas, mas estava surpreso da rapidez como aquela relação se iniciara e, por fim, crescera. O ruivo jamais imaginara que fosse ver Fleur, tão independente e segura, ceder e, principalmente, se entregar a alguém. Ele não duvidara de Hermione porque vira, no chalé, que ela estava disposta a entregar qualquer coisa para ter a felicidade de Fleur.

De certa forma, Bill sentiu ciúmes... Ele jamais pode fazer Fleur feliz e desafiadora como Hermione a fazia. Hermione, de fato, dava tudo que ele não pudera dar e ainda que se sentisse aliviado, ele não podia deixar de amargurar aquela sentença... Bill sentia como se tivesse entregado pouco quando Fleur lhe deu muito, de certa forma, ele não a agradecera da melhor forma.

Fleur tinha os punhos fechados aos lados do corpo, ela se desvencilhara dos braços de Bill e o olhava com os orbes azuis eletrificados. Ele parecia uma predadora diante de sua presa, ela devoraria Bill se ele dissesse as palavras erradas. Entretanto, nenhum dos dois falou. Mas, ambos escutaram o masserar dos passos na areia próxima a eles, Fleur não se virou, mas os olhos castanhos de Bill cintilaram reconhecimento antes de uma voz tímida se fazer presente:

— Atrapalho alguma coisa?

Fleur virou-se em direção a voz, sabendo quem e como encontraria.

Contudo, seus olhos não encontraram o desafio nem o escárnio. A figura ruiva que a observava tinha uma expressão leve e olhos apaziguadores a observarem-na, Gina Weasley caminhava lentamente até eles e, quando os alcançou, sorriu de forma envergonhada antes de voltar a falar:

— Procurei os dois por toda a parte, mamãe quer que jantem lá em casa nessa noite.

— Claro, diga a ela que iremos, Gina... - Bill respondeu de forma automática, obrigando-se a dar um sorriso gentil à irmã. A caçula pareceu genuinamente feliz para a resposta que obtivera, Fleur, entretanto, pigarreou e, totalmente desconcertada pelo convite e pela atitude de Gina, respondeu:

Pardon, Bill... Mas, eu não poderei ir. Combinei de passar a noite com Hermione no Chalé, temos que voltar muito cedo para Londres. E esse jantar é para família...

— E é exatamente por isso que estamos lhe convidando, Delacour. - Gina grunhiu a resposta de forma impaciente, obrigando Fleur a olhar para ela. O azul entrou em conflito com o castanho e nenhum tom parecia querer se rebaixar ao outro. Bill olhou de uma para a outra, a tensão tão palpável quanto os grãos de areia sob seus pés. Porém, Gina abriu um sorriso satisfeito quando viu os olhos azuis semicerrarem-se. - Você ainda está casada com Bill e não é como se eu e mamãe ainda te odiássemos depois de tudo que você fez pelo bobão covarde ali atrás.

Bill remexeu-se desconfortável diante das palavras da irmã mais nova e Fleur saiu da defensiva para, enfim, assumir a postura chocada. Gina não deixou de rir do choque da loira e a própria francesa pegou-se sorrindo para a sua reação e para as palavras da ruiva. Bill escutou quando as risadas de ambas colidiram-se e aquele som fez com que ele mesmo sorrisse de lado, ainda que tivesse se ofendido para as palavras da irmã.

Fleur, sem saber muito como interagir, fez o caminho contrário ao qual ia com Bill. Dessa forma, ela aproximou-se de Gina que olhou ansiosa para ela. A francesa a cumprimentou com um beijo em cada bochecha e sorriu, visivelmente satisfeita para os rumos tomados na relação conturbada delas, Gina corou levemente e Fleur piscou-lhe, dizendo:

— Eu realmente agradeço o convite, Gina. Mas, isso não é um adeus. Eu tenho que ir a um local antes de voltar para cá, para a minha casa... Portanto, vamos deixar isso para a minha volta, oui? Au revoir, Gina... Mande minhas desculpas e meus agradecimentos a Molly.

Fleur, então, acenou para Bill e retomou o caminho do Shell Cotage. Gina a observou caminhar para longe antes de virar-se risonha para o irmão e exclamar:

— Ela não me engana, eu tenho certeza que enxerguei lágrimas naqueles olhos felinos!

Bill roucamente da irmã antes de caminhar até ela e a puxar para junto de si. O ruivo percebeu que sua irmã caçula aninhou-se em seus braços da mesma forma que Fleur se encontrara. Silenciosamente, ele estabeleceu que ambas, de certa forma, eram suas irmãs... Uma tinha o seu sangue e a outra, a sua alma e ele sentia-se sortudo por ter as duas em sua vida.

Fleur escutou a risada de Bill e virou-se para observar o que acontecia. De longe, ouviu Gina dizer algo sobre os seus olhos e percebeu que eles estavam embaçados pelas lágrimas que sufocara. Quando, finalmente, se encontrara, a França lhe chamava de volta para que ela, mais uma vez, se perdesse.

Doeu enxergar Bill caminhando de forma separada dela, mas Fleur sabia que, para onde ia, alguém também a esperava. Por isso, a francesa caminhou devagar rumo ao seu destino.

Fleur caminhou em direção aos braços de Hermione.

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Notas finais do capítulo

E aí? O segredo de Fleur era o que vocês esperavam?
Creio que todos estão ansiosos, na verdade, gananciosos para conhecerem Othon... Certo? :X

Prometo não demorar para postar dessa vez, no mais, leiam e comentem!

Nos vemos na próxima, beijos!