Se o Amor é uma Ilusão, Deixe-me Ser Iludida escrita por snow Steps


Capítulo 33
Capítulo 32


Notas iniciais do capítulo

Perdoem-me pela demora, estou bastante atarefada com monografia e estágio...
Mas então meninas, finalmente chegamos aos... finalmentes! Hahahaha.
Tudo o que tenho a dizer é um imenso agradecimento por toda a trajetória que percorremos juntas até aqui, e todo o carinho de vocês jamais será esquecido. Espero ter o prazer de revê-las em outras fics, seria uma grande honra.
Aí vai o último cap da louca vida de Eleonora Silva e Santos.



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Acordo lentamente de um sono profundo e letárgico, enxergando um manto de branquidão ao meu redor. Pisco os olhos, estes doloridos, e devagar percebo que na verdade todo o meu corpo está intensamente sensível. Meu coração dispara ao constatar que estou numa cama de hospital, e um soro está injetado na veia de minha mão. Coloco a outra mão livre sobre a testa, e deparo com uma faixa que a cobre. Um grande arranhão está presente no meu braço.

Para minha alegria em meio tantas dúvidas e medos, vejo mamãe assistindo um reality show numa televisão pequenina, de costas para mim. Tento pronunciar seu nome, mas apenas projeto um som rouco. Porém, isto já é o suficiente para chamar a atenção dela, cujas feições se convertem em espanto e maravilha.

_ Ah! Graças a Deus! – Ela corre até meu leito, e descansa um beijo demorado sobre o topo da minha cabeça.

_ Mãe... o que...

_ Acalme-se, meu bem. Está tudo sobre controle. Você está ótima, e logo voltará para casa. – Ela afirma, abraçando-me com força.

_ Mas... o que... houve...

_ Seu colega dormiu no volante e perdeu o controle do carro, que bateu em outro na direção oposta. Mas nosso Deus bondoso fez com que tudo desse certo no final.

De repente, as imagens me vieram como um flash. O jantar. Minha primeira vez. O carro saindo da garagem. O capotamento. O sangue na minha cabeça.

Marco.

Tomas.

_ Onde... onde eles estão? – Pergunto num gemido, erguendo-me do encosto da cama relutantemente.

_ Quem querida?

_ Marco e Tom... onde... estão...

_ Eles estão bem, agora descanse... – Mamãe responde, segurando-me na cama para que eu possa deitar novamente. Contudo não me convenço com suas palavras pouco firmes. – Você esteve dois dias em coma, Eleonora. Entende a gravidade disso?

_ Eu estou… legal. Onde… onde eles estão? – Persisto, sentindo cada articulação minha reclamar à medida que me movo.

_ Estão aqui no hospital, bem pertinho de você... por favor meu amor, acalma-se.

_ Eu não vou... me acalmar... enquanto não vê-los... – Continuo a insistir, colocando minhas pernas para fora da cama. Quando meus pés tocam o chão, sinto a dor de mil ossos se quebrando. Contorço-me de desconforto, contudo faço de tudo para que mamãe não note.

_ Eleonora, volte já para cama! – Ela ordena, com expressão autoritária.

_ Mãe... eu preciso vê-los... eu preciso saber que... o que estava perfeito continuará... sendo perfeito – Imploro, enchendo meus olhos d’água.

Penso por um momento nas terríveis hipóteses que podem acontecer: um mundo sem Marco, ou pior, um mundo sem Tomas. Lembro de como estávamos felizes naquela noite, de como eu finalmente havia encontrado alguém para mim e ao mesmo tempo um amigo para me apoiar. Não. O destino não pode ser cruel o suficiente para acabar com uma felicidade que mal começou. Não. Aquele momento deveria perdurar uma vida inteira, e não somente uma única noite.

É por isso que preciso vê-los e revelar a veracidade dos fatos o mais breve possível. Não posso aguentar a incerteza entre duas realidades completamente opostas.

_ Por favor, mamãe... por favor... – Agora as lágrimas deslizam até meu queixo, pingando sobre a bata do hospital que visto.

A expressão autoritária lentamente se converge num semblante de condolência, terminando num suspiro dramático. Mamãe contorna a cama e me abraça pelos ombros, pegando o carrinho de soro.

_ Vamos devagar querida, tudo bem?

Caminhando com passos tão curtos que são capazes de me fazer tropeçar nos próprios pés, atravesso o corredor movimentado do hospital de paredes verdes pálidas e portas espaçadas que dão para os quartos individuais. Mamãe indica uma delas e diz:

_ Aqui fica o seu amigo italiano. – Ela avisa, e eu faço que sim com a cabeça.

Antes de girar a maçaneta, preparo-me psicologicamente para o que está por trás daquela porta. Talvez um Marco desacordado, vivendo às custas de um milhão de aparelhos apitando. Ou então se recuperando de uma cirurgia complicada, ainda sob risco de vida. Respiro fundo e ponho a mão na maçaneta, e assim assimilo como estou trêmula. A porta abre num rangido, revelando um quarto sóbrio de janelas altas e excessivamente azul claro. No centro jaz a cama de leito, e ao lado desta um rapaz que veste um suntuoso paletó risca de giz se mantém de pé.

_ Marco? – Pergunto com temor.

Entre os lençóis e travesseiros, vislumbro dois olhos verde-oliva que me fitam com surpresa.

_ Nora! – Marco exclama, com a voz ainda enfraquecida e baixa.

Um alívio imensurável me invade, preenchendo-me feito uma poderosa anestesia que me faz esquecer de todas as dores corporais. Ele está aqui. Vivo. E bem.

Minha vontade é de correr, mas o peso do carrinho de soro me puxa para trás. Dessa forma, ando com meus passos curtinhos e rápidos até a armação de ferro da cama, esticando o braço para tocar a mão dele. Aparentemente a situação de Marco é pior que a minha: uma perna está engessada, várias faixas circundam seu torso e um imenso curativo atravessa sua bochecha direita.

_ Pelo visto alguém teve mais sorte do que eu – Ele insinua, com um sorriso cansado. – Três costelas fraturadas, um deslocamento de ombro, uma perna quebrada e esta belezinha aqui para deixar de recordação – Ele enumera, indicando o corte na face. – Mas não tem problema, o Guguzinho adora uma marca de guerra – Marco diz marotamente, olhando de esguelha para o rapaz de paletó.

Pela primeira vez presto atenção nele, e assimilo as informações concluindo que aquele deveria ser o tão secreto namorado de Marco. Augusto possui feições sérias que lhe provém um charme incomum, evidenciado pelo elegante estilo que tem.

_ O que posso fazer, se você adora colecionar estas marcas? – Augusto retorque, num arquejo. – Finalmente irei conhece-la, é um prazer – Ele estende a mão formalmente para mim, mas então faço um gesto mostrando que a minha está impossibilitada devido ao soro. – Ah, desculpe-me.

_ Sem problema... o prazer é todo meu...

_ Infelizmente não pudemos nos apresentar numa circunstância mais agradável. Precisei pegar dois aviões e três escalas para chegar até aqui, sabia disso Lorenzo?

_ Nós somos capazes de mover montanhas pelo amor, ou então comer sanduíche de classe econômica num voo – Debocha Marco.

_ Eu juro que já tentei parar de gostar de você, Lorenzo – Desdenha o namorado, aproximando-se do italiano e lhe dando um beijo na testa.

_ Nora, chega mais. – Pede Marco, com um sotaque carioca que ainda lhe cai engraçado.

Obedeço e fico ao seu lado na cama, de forma que apenas alguns centímetros distanciam nossos rostos.

_ Eu não tenho como pedir perdão pelo erro incorrigível que cometi. Portanto, sinto que estou endividado eternamente com você. Quer dizer, comprometi a vida da garota que tanto me ajudou! Ah, sou realmente um babaca.

_ Eu que o diga. – Sussurra Augusto.

_ Estou no meio de um discurso comovente, certo? – Ele retruca para o rapaz. – Voltando ao assunto, tenho uma dívida enorme a pagar para você. Então desde já me comprometo a pagar todo o seu atendimento e internação aqui no hospital, e o novo carro que ganharei do seguro será totalmente seu.

Minha boca balbucia várias palavras incompreensíveis, até entender por completo o que ele está oferecendo.

_ Marco... definitivamente não é necessário...

_ É sim, e você sabe. A única forma que tenho como pagar é através de bens materiais, então aceite Nora, por favor. Você sabe muito bem que não posso arcar com peso na consciência por muito tempo, sou imaturo demais para isso. Então se amanhã eu vier a lhe oferecer minha casa, terá que aceitá-la também.

_ Marco, o que você está falando é... surreal.

_ Já estou disposto a pagar um milhão de indenização para o motorista que eu bati. Acredite, dar-lhe um carro é apenas o começo do meu pagamento.

_ Saber que está bem já é o grande pagamento que pode me oferecer – Digo, pasmada com a oferta que ele está me propondo.

_ Eu te falei que ela era um docinho – Marco murmura para Augusto, que concorda com a cabeça. – Nora, a minha proposta não se baseia somente em lhe cobrir os danos. Alguém precisa substituir o lugar de Marco Lorenzo Vittorelli na faculdade Santa Maria de Mattias.

Franzo o cenho, confusa.

_ Como assim?

_ Eu irei voltar para a Itália. Augusto me deu um ultimato: ou as praias, ou ele.

_ Por que sempre me coloca como o vilão da história? – Objeta Augusto.

_ O.k., o.k. Augusto não tem a ver com a minha decisão, embora tenha me apoiado. Resolvi voltar para a Itália pois meu pai está quase descobrindo que eu prefiro meninos do que meninas, e você não imaginaria quantos problemas surgiriam caso ele viesse a constatar. E além do mais, estou dando muita dor de cabeça para ele aqui. O pobre acredita que seja efeito dos raios solares da América Latina.

Abaixo o olhar, entristecida. Nossa, Marco irá embora? Por um instante uma raiva me percorre, por ele não cogitar nem um segundo no sofrimento que sua partida gerará. Principalmente em mim. Em poucos meses ele se tornou o meu amigo gay mais problemático que já poderia ter, mas ao mesmo tempo me proporcionou várias experiências únicas que me renderam bastante recordações. Mas este é Marco Lorenzo Vittorelli: volátil, livre e imprevisível. De nada adianta eu querer cortar suas asas, se ele nunca aterrissou.

_ Vou sentir sua falta – Declaro, dando-lhe um abraço doloroso para ambas as partes.

_ Eu também, Nora. Eu também. Mas não fique triste. Agora você terá um príncipe para protege-la, muito melhor do que eu seria.

_ Se ele ainda... – Não consigo completar a frase, fazendo com que a preocupação acelere meu coração.

_ Ainda não o visitou?

_ Não...

_ Então vá! Ande, ande! O seu amor lhe espera! – Marco exclama, risonho.

Sorrio de volta, e lanço um último olhar para ele.

_ E pensar que você já foi o maior problema da minha vida.

Marco esboça um sorriso de canto, comovido.

_ E você a minha grande solução.

O quarto de Tomas se situa no final do corredor, e mamãe me ajuda a andar até lá. Não consigo conter as lágrimas que persistem em molhar minha face por saber que não verei Marco tão cedo. Ou talvez nunca mais.

Não, eu não posso cogitar o nunca. Prefiro pensar que não colocamos um ponto final ali, apenas uma reticência. Eu ainda haveria de saber sobre o futuro do meu príncipe libertino. Uma enfermeira sai com o carrinho de café da manhã do quarto, deixando a porta aberta para mim. Mamãe faz sinal para que eu entre, mas ainda me mantenho presa ao chão.

Respiro fundo.

Tudo dará certo, digo a mim mesma.

Entro no quarto e sinto o frescor do ar-condicionado me envolver, sendo recebida pelo sol que desponta através das persianas brancas. No canto, a cama de hospital está virada para as janelas, e um belo inglês de cabelos ondulados e loiros está deitado sobre ela.

Sorrio.

Aproximo-me mais, e o barulho do carrinho de soro o desperta. Seu rosto angelical se vira para mim, e nosso olhar se conecta por longos segundos inquebráveis.

_ Noura...

Neste instante, não há carrinho ou machucados que me façam resistir de correr até ele. Debruço-me sobre seus braços, e ele me envolve com vontade. Sinto seu coração palpitar perto do meu ouvido, e nunca me senti tão agradecida em toda a vida.

_Tomas...

_ Estamos bem, my dear. Estamos bem.

_ Eu tive tanto medo de perder você!

_ Você não faz ideia do quanto eu também tive... mas agora estamos aqui juntos, e não deixarei que nada, absolutamente nada, nos separe. Eu posso parecer um louco, mas eu quero desde já casar com você, ter filhos e te amar até a morte! – Ele declara, fazendo com que a felicidade ao me ver deixe seus olhos marejados.

Nos beijamos profundamente, e este gesto é o meu sim para todos os seus planos.

Talvez eu tenha ganhado um novo maior problema. Sim, ele continua tendo nome e sobrenome autênticos, dois olhos, um nariz e uma boca perfeitos e um cavalheirismo europeu imbatível. E que agora, não sou mais uma idiota por esperar algo dele. Eu sei que ele é o homem da minha vida, e que teremos dois filhinhos de olhos azuis chamados James e Jeremy.

E caso todos esses planos sejam uma mera ilusão, eu não me importo mais.

Porque caso o amor seja uma ilusão, então deixe-me ser iludida.


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Notas finais do capítulo

Caso estejam interessadas em outras fics de romance minhas, segue o link:
Você aceita ser meu único amigo?
https://fanfiction.com.br/historia/644943/Voce_aceita_ser_meu_unico_amigo/
(história que promete muito romance e cenas fofas!).
O Outono é a Cor dos seus Olhos
https://fanfiction.com.br/historia/627229/O_Outono_e_a_Cor_dos_seus_Olhos/
(é um romance mais profundo, e também com trechos bastante comoventes!).
Novamente, será um imenso prazer revê-las. Um beijo no coração, meninas.