Chá da Meia-Noite - Fic Interativa escrita por Elora
Notas iniciais do capítulo
Olá,pessoal!
Desculpa a demora,eu fiquei um pouco enrolada.Mas,eu espero que gostem do capítulo.
Beijos!
As roupas esfarrapadas manchadas amassadas aos meus pés, uma tempestade tímida de cacos de vidros amarelados encoberto no chão imundo de uma esquina qualquer do ginásio, a vodka translúcida traçava córregos pequeninos entre os caos dos estilhaços, o asfalto endurecido, parecia tão confortável para alguém como eu. O sangue coagulado escuro estava deferindo golpes, como um lutador experiente de boxe, me nocauteando com as lembranças, me fazendo lembrar-se do corpo magricelo daquela garota, com cabelos acobreados vivos e olhos amenos. Eu não queria ter feito aquilo.
A brisa percorreu descontente na minha pele exposta, para além do céu nebuloso, o conjunto desajeitado de nuvens cinza pairava sem vida, esperando algo mais atrativo, do que um rapaz incomum repleto de tormentos. A besta aniquiladora serpenteou dentro de mim, contudo não rebelou o meu corpo esta noite. A Lua Nova, era a sua cela. Ainda faltam alguns dias, para a fera reclamar o meu corpo para ti.
Uma moça atravessou o ginásio em passos rápidos, por vezes tropeçando em seus próprios pés, ela parecia perturbada com alguma coisa, as palmas das mãos cobriam o seu rosto ovulado, que era chicoteado por mechas douradas cor de mel desciam até os seus ombros. A sua aura fundida num cinza escurecida meio desbotado, as cenas em seu subconsciente, um labirinto de imagens de diversos ângulos do corpo inerte, com a auréola de cabelo cor de cobre, as transcrições feitas de sangue destacadas sobre dimensões simétricas e um rapaz com uma face submergida num espanto e horror, ao seu lado. Ela descobrira. A morte da garota de olhos nebulosos.
Sai em disparada em sua direção, os meus pés descalços embatiam no chão frígido, as minhas pernas, habituadas a corridas noturnas, seguiam num compasso constante, o corpo fluía ritmado ao encontro da moça desconhecida.
– Aconteceu alguma coisa? – eu perguntei, a poucos metros dela, não queria intimida-la. Eu precisava me aproximar cautelosamente, para assim ter mais acesso às informações sobre os seus pensamentos.
– Nada.
A sua voz melancólica abafada, por suas mãos pequenas sobre a face, preencheu a lacuna entre nós. Os seus olhos amendoados foram como flechas investidas injetadas de soda caustica em mim, o espanto sobrepondo o medo, assim que me fitou com a bermuda caqui em farrapos e o peito nu, tinha muita pele exposta para digerir assim tão facilmente, a primeira vista.
– Eu não vou machucar você.
Eu articulei. Eu caminhei um passo em sua direção, ela recuou com uma expressão acuada estampada nos seus traços delicados.
– Do jeito que você estar, parece que você já machucou alguém – ela disse, num tom áspero.
Desatei uma gargalhada dissimulada.
Bingo.
Eu confesso, eu fiquei desconcertado com suas palavras. Principalmente, quando elas tinham um pouco de veracidade.
– Você é sempre engraçada assim? Ou é o meu charme? – eu insinuei, com a voz zombeteira, o ar oprimido difundido com o meu humor negro entre os meus diálogos, não surtiu efeito algum. Só precisava de um toque, para desmantelar toda a sua tela mental; eu teria acesso a todos os seus pensamentos, sentimentos e emoções. Iria modificar as suas percepções, ela não se lembraria de nada do nosso encontro casual.
– Você é um babaca – ela vociferou, aos prantos. Por um instante, eu percebi que tudo tinha sofrido uma reviravolta inacreditável. Tudo sumiu. A sua aura luminosa evaporou num milésimo de segundo, as figuras macabras do longa-metragem horripilante, as cores opacas acinzentadas, as correntes transversais de sentimentos de pavor e assombro, os fragmentos do rosto de um garoto e os apanhadores de sonhos ensanguentados. Tudo havia desaparecido miraculosamente.
– Quem é você? – eu questionei curioso.
Os seus olhos cor de caramelo fundido em ouro derretido, exprimiam as balas douradas disparadas de seu olhar fatal, o nariz arrebitado retocado de raiva, os lábios escravizado pela linha dura e ofensiva. Ela parecia uma amazona feroz. Uma guerreira. Uma caçadora.
– Você não vai querer saber – ela revelou afogada em sua penosa bravura.
Um sorriso travesso esboçou em minha boca.
A garota desolada e melancólica, de alguns minutos atrás, havia sido convertida por uma armadura impenetrável, com muralhas indestrutíveis com milhares de espessas de proteção, um arsenal dourado acoplado em seus olhos por metal amarelo intenso e uma capa de invisibilidade de suas reflexões e fantasias.
Ela parecia inquebrável.
Movido pela impulsividade tola, diminui a distancia curta entre nossos corpos e alojei a mão em seu braço com força; a corrente elétrica excruciante debelou os meus músculos e ossos, a cacofonia mortífera de ruídos de ossadas sendo trituradas e expandidas, os músculos constituídos de membros humanos sendo supridos por partes dianteiras e traseiras. O ser bestial assumiu as rédeas do controle do meu sistema nervoso, a enchente claustrofóbica de adrenalina camuflada de ferocidade e a dor dissimulada encolhendo a prudência dos meus atos.
– Me solta – ela esbravejou. A voz descompassada e longínqua, presa num universo alternativo entre os lampejos de agonia e ponderação. Senti picadas de alfinetes distribuídas em meus dedos alongados e libertei-me daquela sensação abrindo a mão.
Um rugido impetuoso submerso na ferocidade desprendeu da minha garganta, os olhos aguçados reluziam a verde musgo e a musculatura de homem havia sido transfigurada para um lobo de pelagem marrom dourado. Os sensores de predador despertaram com as badalas descompassadas de ruídos de passos, a presa humana corria em zinguezague entre a pista de acesso a “Floresta da Saudade” e a sua respiração desacertada fatiava como uma lamina o ar congelante.
O vulto desesperado seguia floresta adentro, as bufadas de oxigênio ficavam espessas em contato com a nevoa misteriosa do ambiente, os galhos baixos com pontas afiadas deferiam arranhões em sua pele, o perfume carmim sangrento arrebatava as minhas narinas dilatadas. Os meus uivos ensurdecedores ecoavam na atmosfera, as minhas patas mal atingiam o solo rasteiro e a velocidade exacerbada acariciava os meus pelos castanhos cor de avelã. A noite era uma corrida de campeonato automobilístico e a presa o prêmio principal. Eu ganharia esse prêmio.
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