Posso te contar um segredo? escrita por LittleDreamer


Capítulo 6
Capítulo Final- A resolução de tudo.


Notas iniciais do capítulo

"Confie e será traído.
Descuide-se e será morto.
Mate antes que te matem."

—Desconhecido



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Acordei ouvindo barulhos de chuva, abri os olhos e não conseguia ver nada, só uma brecha de luz entrava por uma janela pregada com tábuas. Tentei gritar, mas percebi
que estava com algo em volta da minha boca que me impedia de falar. O lugar era vazio, escuro. Eu tentava me mexer mas algo prendia as minhas mãos, meus braços estavam
em volta de algo que parecia uma pilastra que sustentava aquele local. Comecei a ouvir passos cada vez mais perto, e um assobio que me era familiar.
Fechei meus olhos e a única coisa que eu pensava naquele momento era em pedir para Deus que nada acontecesse comigo, meus olhos permaneciam fechados quando senti
aquela presença se ajoelhar na minha frente, eu abri meus olhos e o vi sendo iluminado com a pouca luz que entrava pela janela. Ele sorriu, tirou o pano que cobria a
minha boca e se levantou.
"—Olá Ana, como vai?"
O ódio me subiu a cabeça, eu sentia as lágrimas quentes descerem pelas minhas bochechas
"—Seu infeliz, como você pode? Seu doente, por que está fazendo isso?"
Ele riu, se abaixou e tocou o meu rosto, eu desviei.
"—Eu não pretendo te machucar meu bem, mas devia, já que de todas você é a que mais parece com ela."
O sorriso em seu rosto sumiu, ele se abaixou novamente sentando-se ao meu lado.

"—Pelo visto seu querido amigo Pedro já descobriu tudo, não é?Bom, eu não tinha motivos para machucá-lo até ele se meter entre nós."

"—Como assim "entre nós"?" Eu perguntei, e ele começou a rir

"—Você é boba assim mesmo ou se força pra isso?Ana, meu bem...Todos esses anos da minha vida eu esperei por esse momento. Esperei para tocar o seu rosto, conversar com
você, sentir você." Ele se aproximava cada vez mais e tentava tocar meu rosto, eu desviava.

"—O que você fez com o Pedro? Onde ele está?"

"—Meu bem, você vai mesmo insistir nessa história? Esquece ele. Deixa pra lá, já não importa mais."

Meu coração acelerou e eu voltei a chorar

"—Me solta, o que quer comigo?"

Ele se levantou e começou a andar de um lado para o outro como se estivesse confuso ou indeciso, até que depois de algumas voltas ele parou e me encarou, eu não
conseguia ver o seu rosto na sombra

"—Ana, você sabe quando eu descobri que você era a certa?"

Fiquei em silêncio, olhando para os meus pés tentando parar de chorar.

Vi ele se abaixar na minha frente, ainda me fitando

"—Eu descobri naquele dia em que estávamos sozinhos na minha casa. Você olhou a foto dela e eu reparei que vocês eram estranhamente semelhantes. O nome, o
cabelo...Quase tudo."

Forcei-me a lembrar do acontecimento...A foto que eu havia visto era a da mãe dele, ela realmente se parecia comigo em alguns aspectos. Mas o mais perceptível era o
nome. Dizem que os psicopatas cometem certos atos por motivos de traumas passados, o trauma dele foi perder a mãe. Aquilo fazia mais sentido agora.

"—Você...Por que você sumiu com todas aquelas garotas?Por quê?"

"Porque elas não eram as certas. Elas não eram você e eu tinha que eliminá-las até encontrar a certa. Você é a certa."

Ele era realmente psicótico, mas eu tinha que sair dali. Eu tinha que conseguir dar o meu jeito.

"—Vinícius, olha...Eu sei que você acha que eu sou a tal pessoa "certa", por mais que eu não faça ideia do que você está falando. Você pode por favor me soltar daqui
para conversarmos civilizadamente que nem duas pessoas normais?"

"—Ana, você acha mesmo que eu sou tão bobo a ponto de te soltar daí? Eu sei muito bem que a primeira coisa que você vai fazer é correr, tentar escapar...mas eu já te
aviso, você não vai conseguir. Você não vai fugir assim."

"—Por que eu fugiria, meu bem? Eu sou a certa, como você disse. A pessoa certa não fugiria assim."

Ele se levantou, apoiou seu corpo no meu e eu pude sentir suas mãos soltando as minhas por trás da pilastra. Minhas mãos estavam livres, agora eu poderia continuar meu
plano. Ele me estendeu a mão para que eu levantasse, eu levantei e ele me deu um abraço apertado. Eu nunca senti tanto medo e nojo de abraçar alguém tanto quanto senti
naquele momento, mas se ele conseguiu me enganar, eu também conseguiria enganá-lo. No momento em que ele me abraçava, eu tentava procurar uma porta ou algo parecido.
Vi em meio o escuro, uma porta não muito distante.

"—Ok, Vinícius...Você pode por favor me explicar direito esta história de "a pessoa certa"?"

Ele me soltou e me fitou novamente, ele parecia nervoso.

"—Não é óbvio?Todo esse tempo eu procurei alguém para cuidar, mas elas sempre acharam loucura ou idiotice...Elas não eram fortes o suficiente para isso, mas agora eu
tenho você." Eu forcei um sorriso enquanto ele acariciava meus cabelos. Passei a mão em seu casaco, tentando achar alguma coisa que pudesse usar contra ele...desci até
a sua cintura e pude sentir algo que parecia com uma faca. Como eu tiraria aquilo da cintura dele? Talvez eu tivesse que ir um pouco longe demais para conseguir o que
eu queria. Resolvi então fingir que estava na onda, acariciei seu corpo e comecei a interagir com ele.

"—Já que agora você sabe que eu sou a certa, e estamos aqui sozinhos...Nós podemos aproveitar." Ele sorriu maliciosamente, descendo a mão que estava no meu cabelo até
a minha cintura, enquanto beijava o meu pescoço...Eu passava a mão pelo seu abdômen tentando gravar o lugar onde aquela faca estava.

"—Vamos deitar, eu acho melhor." Eu dei a sugestão para poder concluir o meu plano direito. Ele mordeu os lábios e se deitou enquanto me beijava. Eu me deitei por cima
dele ainda acariciando a parte próxima da faca enquanto ele tentava tirar a minha camisa, porém eu não permitia. Tirei o seu casaco e agora tudo estava ficando mais
fácil. Enquanto o beijava, passava a mão por dentro da sua camisa tentando tirar a faca dali...Mas o cinto não permitia que eu o fizesse, com outra mão eu abria o seu
cinto e aos poucos ficava mais fácil puxar a faca dali...Até que ela enfim saiu. Ele não percebeu, eu continuei beijando-o para que ele não prestasse atenção no que eu
estava prestes a fazer. Continuei tirando o cinto dele com uma mão, enquanto a outra ia em direção a sua perna. Coloquei com força a faca em sua coxa, eu parei de
beijá-lo e o ouvi gritar, sai de cima dele rápido e fui em direção a porta, abri e me deparei com muitas árvores e um céu totalmente escuro e chuvoso. Corri o mais
rápido que pude, com a perna machucada ele não iria tão longe, e eu agora estava armada. Continuei correndo sem parar, imaginando se alguém me encontraria ou se eu
encontraria alguém. Já distante dali, me cansei de correr. Sentei-me encostada em uma árvore enquanto tentava arranjar fôlego. Mesmo assustada, acabei adormecendo ali,
mas acordei ouvindo passos naquela direção. Meu coração acelerou novamente, então eu pude ver a luz de uma lanterna vinda na minha direção...Permaneci em silêncio até
que ouvi o meu nome, era Pedro. Senti-me aliviada quando conseguir ver seu rosto mais próximo.

"—Ana!" Ele dizia correndo para me abraçar, seu corpo estava molhado devido à chuva, mas seu cheiro ainda era o mesmo de sempre.

"—Você está vivo, eu nem consigo acreditar nisso." Ele sorriu, passando a mão pelos meus cabelos molhados...

"—Por que veio sozinho, não vai chamar a polícia?"

"—Eu já chamei, eles chegarão daqui há pouco...Não se preocupe, ok?Nada de ruim vai te acontecer." Ele apagou a lanterna e ficou abraçado comigo por algum tempo, até
que ouvimos passos novamente.

"—Deve ser a polícia..." Ele estava prestes a se levantar quando eu o segurei e fiz um sinal para que ele ficasse quieto.

"—Não é. É ele." Pedro me encarou novamente, e por mais que estivesse tentando ser corajoso, eu sabia que ele estava com tanto medo quanto eu. Os passos estavam cada
vez mais próximos.

"—Ana?Ana?Ana!Não adianta se esconder, meu amor. Eu vou te chamar e vou fazer com você o mesmo que você fez com minha perna, não adianta fugir."

Pedro puxou a faca da minha mão, eu estava prestes a interferir quando ele me sussurrou para ficar quieta. Eu conseguia ver a silhueta de alguém se aproximando, então
vi Pedro se levantando e indo na direção daquela silhueta que era Vinícius.

Pedro o derrubou e os dois começaram a brigar no escuro, eu não sabia o que fazer só queria que aquilo acabasse logo.

"—Fuja, Ana. Por favor."

"—Eu não posso..."

"—Ana, por favor." Eu peguei a lanterna e corri, corri o mais rápido que pude por aquela floresta imensa, chorando sem parar e com medo do que pudesse acontecer. Parei
de correr, estava cansada de tanto fugir. Sentei-me perto de uma árvore e cai no choro novamente. Eu só conseguia me perguntar por que aquilo tudo estava acontecendo,
por que nada dava certo? Continuei chorando por um tempo, e não reparei que a hora já estava passando rápido demais. Ouvi passos rápidos na minha direção, eu sabia de
alguma maneira que era Vinícius e que eu não estava segura. Mas eu também não estava mais com medo.
Eu o vi parar a menos de um metro de mim, ele estava muito irritado com alguma coisa, mas eu também estava.

"—Você realmente acha que vai fugir de mim, Ana?Você não vai, entenda isso!Eu não queria te ferir, mas você está praticamente implorando por isso." Ele começou a se
aproximar de mim, eu andava para trás até que me encostei a uma árvore e ele já estava parado a centímetros do meu corpo. Ele respirou profundamente.

"—Eu consigo sentir o seu medo, Ana. Eu te assusto, não é?Desde o dia em que te conheci eu te assusto."

"—Fale alguma coisa, sua imbecil! Reaja, Reaja!"

Ele colocou a mão no meu pescoço, me enforcando e me deixando sem ar. Eu não sabia se aguentaria, tentei me mexer mas aquilo tudo era em vão.

"—Até que você é bem forte, Ana. Eu realmente não queria te machucar assim, mas é preciso."

Senti sua outra mão indo em direção ao meu pescoço, sua força era muito grande.

Naquele momento muitas coisas se passaram pela minha cabeça, minha família, o Pedro. Tudo. Antes de tudo ficar preto, antes de eu desmaiar, eu consegui ouvir uma voz
bem alto dizendo:

"—Vinícius Eduardo, solte a garota agora. Você está preso!" Ele me soltou no chão e então eu desmaiei.


**

Lá estava eu do mesmo jeito de antes, acordando sem saber onde estava e me sentindo um pouco cansada. Abri meus olhos e vi uma sala branca, sentei-me e vi alguns
balões pendurados no canto daquela sala com dizeres carinhosos e com alguns ursinhos do lado. Era obviamente um hospital, um lugar bem melhor do que o outro em que eu
havia acordado. Olhei para o lado e para o outro e me lembrei do que havia acontecido na outra noite, passei uma mão pelo meu pescoço e reparei que aquilo tudo que
aconteceu era real. Deitei-me novamente e encarei um pouco o teto, ouvi alguém abrir a porta e tentei virar meu pescoço, mas ele ainda doía pra isso.

"—Ana!" Era minha mãe, junto de Clarisse

Sentei-me novamente e abracei bem forte as duas.

"—Graças a Deus você está bem!" Minha mãe dizia

Eu sorri, não acreditava que conseguiria sobreviver depois daquilo tudo. Tudo estava muito bem, mas algo ainda me deixava aflita e ansiosa. Depois de conversarmos
sobre várias coisas, decidi perguntar

"—Mãe, o Pedro também está internado?" Meu coração começou a bater mais forte naquele momento, minha mãe fechou a cara por um segundo e olhou para Clarisse, ela sorriu
para a minha mãe.

"—Na verdade não...Ele estava, mas já saiu. Saiu há alguns dias."

Eu me assustei, quanto tempo havia se passado?

"—Alguns dias?Há quanto tempo eu estou aqui."

"—Oito dias." Clarisse me respondeu, olhando para baixo

"—Quando você desmaiou, você caiu e bateu a cabeça em alguma pedra...Você entrou em coma e acordou só hoje."

"—Mãe, o que aconteceu com o Vinícius e com os avós dele?"

Minha mãe sorriu

"—Ele foi preso e passará por alguns testes para ver se continuará na prisão ou se irá para alguma casa especializada para pessoas com os distúrbios iguais aos deles."

"—Um hospício" Completou Clarisse, minha mãe e eu rimos

"—Claúdia e seu marido tiveram um choque quando descobriram quem o neto é, mas eles preferem que ele seja preso do que continue fazendo essas coisas horríveis. Eles só
não entendem o porquê disso tudo."

Então eu arranjei um tempo para explicar todos os motivos de Vinícius fazer essas coisas, elas se assustaram mas ligaram os pontos.

"—Agora tudo faz um pouco mais de sentido, eu acho. Nós temos que contar isso para a Tia Claúdia." Clarisse estava ansiosa para contar as novidades para Claúdia e seu
marido.

"—Meu bem, eu tenho que ir trabalhar agora. Deixarei Claúdia com Clarisse, mas de noite eu te visitarei, ok?"

"—Tudo bem, mãe. Até mais tarde então."

Ela me deu um beijo na testa, eu a abracei e depois me despedi de Clarisse. Quando elas se foram, aproveitei para me esforçar a levantar e fui ver os balões que haviam
deixado no meu quarto. A maioria era de Pedro e do pessoal do colégio, o que mais me chamou atenção foi um de um ursinho colorido com um bilhete que dizia: "Desculpe
não conseguir impedir que nada acontecesse com você, eu tentei."
Era do Pedro, aquilo me fez sorrir um pouco. Ele realmente tentou, ele fez o máximo e talvez eu não estivesse viva se ele não tivesse tentado me ajudar.

Estava tão concentrada nos balões e nos ursinhos que nem ouvi a porta se abrir, até que senti alguém me abraçar por trás. Era ele, eu me virei e o abracei com força,
de um jeito que nunca tinha abraçado ninguém.

"—Você não faz ideia do quanto eu senti a sua falta, Ana." Ele sussurrava no meu ouvido, acariciando meu cabelo.

Enfim nos soltamos e ele se sentou comigo em minha cama, eu reparei alguns curativos em seu corpo.

"—Vocês tiveram uma luta bem feia, hein?" Eu brinquei, ele sorriu

"—O que eu não faria por você, não é?" Eu sorri e naquele momento eu parei para pensar naquele comentário de Vinícius sobre eu ser a pessoa certa.

"—Pedro, você acredita nisso de existir uma pessoa certa pra qualquer coisa que seja?"

Ele suspirou e abriu um sorriso

"—Acredito. Comecei a acreditar depois de perceber que eu teria morrido por você."

Eu fiquei sem palavras, só conseguia perceber a mão dele que estava em cima da minha e encarar aqueles olhos que eram tampados por uns óculos. Ele chegava cada vez
mais perto, e por fim, eu decidi me deixar levar e o beijei. Talvez dessa vez desse certo tentar apostar em alguém.


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Notas finais do capítulo

Muito obrigada a quem acompanhou e teve paciência para ler haha, esse foi o último ( :[) mas em breve tentarei trazer outra história!



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