A Blue Christmas escrita por Luna


Capítulo 1
Oneshot




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O pequeno Scorpius, já devidamente arrumado por Astoria, observava a neve caindo do lado de fora da mansão onde morava. Não sabia por que tinha que ir a essa tal festa de Natal do Ministério da Magia. Não lhe importava que as pessoas de lá fossem boas com sua mãe. Ou que fosse a chance de seu pai se mostrar uma pessoa melhor.

De que adiantava aquilo, se Scorpius sabia que ficaria lá sozinho assim que chegasse?

Ele não gostava de sair de casa. Nunca gostara de ir para lugar algum que não fosse a casa dos avós Malfoy ou Greengrass. Ou então a casa da tia Daphne, mesmo que lá não tivesse crianças.

Scorpius não entendia por que não tinha amiguinhos. E se sentia frustrado por isso. Ele tentava ser educado, paciente e atencioso, como Astoria sempre lhe recomendava. Mas quando conhecia outras crianças, tudo que elas sabiam fazer era lhe virar as costas assim que sabiam que ele era um Malfoy.

Aulas de violão, de música, de natação... todas acabavam do mesmo jeito. E Scorpius implorara a Astoria que o tirasse daqueles lugares. Com muito custo, ela cedeu as vontades do pequeno, convencida por Draco.

O único que dava alguma atenção a Scorpius era Bob, o elfo que Draco contratara para fazer companhia ao filho e brincar com o loirinho quando ele e Astoria estivessem no serviço.

E o Natal, a tal época mágica a que todos se referiam, não era exatamente assim. Pelo menos, não para Scorpius. Ele sempre ganhava inúmeros presentes, mas isso não lhe importava. A única coisa que ele desejava, todo Natal, era que tivesse amiguinhos. Já era o sétimo ano seguido que desejava a mesma coisa. Mas nunca era atendido.

Com certeza, naquele Natal as coisas não seriam diferentes.

- Vamos, meu anjo? – chamou Astoria, abrindo a porta do quarto de Scorpius.

- Vamos, mamãe. – disse ele, aproximando-se da bela e sorridente mãe, sempre muito carinhosa. Não conseguia dizer “não” a ela.

Astoria se aproximou do filho e lhe vestiu um sobretudo preto por cima da roupa. Em seguida, segurou a pequena mãozinha dele, caminhando em direção às escadas.

- Mamãe, temos mesmo que ir? – perguntou Scorpius, sem conseguir refrear a pergunta.

- Scorpius, a mamãe já explicou que é perigoso você ficar em casa sozinho. Hoje é o dia de folga dos elfos. – disse Astoria, pacientemente.

- Mas eu vou acabar ficando sozinho, enquanto você e o papai conversam coisas de adultos com outros adultos. – comentou, fazendo uma careta.

Astoria sorriu tristemente. Odiava que o filho, tão pequeno, tivesse que passar por aquilo. Ser rotulado por algo que não fizera. Ser julgado por coisas que o pai tinha feito antes mesmo que o garoto nascesse. E, como consequência, nunca ter conseguido ter nenhum amiguinho da sua idade.

- Não vai, não, filho. – assegurou-lhe a mulher, observando-o com atenção. – O Ministro disse que lá onde vai ser a festa vai ter um lugar só para as crianças.

- Elas não vão querer brincar comigo. – falou Scorpius, imediatamente.

- Você não precisa falar seu sobrenome se não perguntarem. – sugeriu Astoria. – Mas pense positivo, meu amor. É Natal. As pessoas são mais generosas nessa época do ano.

Scorpius ficou em silêncio enquanto terminavam de descer as escadas. Realmente, as pessoas agiam diferente no Natal.

Mas não com ele.

- Todos prontos? – perguntou Draco, levantando-se do sofá ao escutar o barulho dos saltos de Astoria na escada.

- Com certeza. – respondeu a mulher, aproximando-se do marido.

- E você, Scorpius? Tudo certinho? – quis saber Draco, fitando o menino com cuidado.

- Tudo. – respondeu, encarando os sapatos, nervoso. Não quero ir para essa festa.

Juntos, os três saíram da mansão e, dos jardins, aparataram em frente a um salão de festas, que ficava em um longínquo povoado bruxo.

Draco entregou os convites ao bruxo que estava em frente às grandes portas duplas que davam acesso ao salão. O bruxo conferiu a autenticidade dos papéis com um aceno de varinha e autorizou a entrada dos Malfoy, indicando onde ficava o salão das crianças.

Primeiro, Draco localizou onde ficava a mesa em que ele e Astoria se sentariam. Em seguida, depois de mostrá-la a Scorpius e recomendar ao filho que voltasse para a mesa se precisasse de qualquer coisa, Astoria o levou até o pequeno salão.

- Comporte-se, anjinho. E chame a mamãe ou o papai se precisar de qualquer coisa. – disse ela, dando um beijo na bochecha do filho e saindo, deixando-o na porta.

Cauteloso, Scorpius entrou no tal salão infantil. Havia uma enorme cama elástica a um canto, uma imensa piscina de bolinhas, alguns brinquedos infláveis, uma mesa cheia de guloseimas e várias mesinhas a um canto.

Uma mocinha chamada Marley – Scorpius se orgulhou de ter conseguido ler o nome dela no crachá que usava – sorriu-lhe e desejou que fosse bem-vindo. Ela mostrou ao menino as guloseimas e os brinquedos que havia ali.

Ainda havia poucas crianças brincando, espalhadas pelos brinquedos infláveis. Como elas nem ergueram os olhos quando Scorpius entrou, ele optou por ficar sentado a uma das mesinhas, onde havia pergaminhos, penas e tintas coloridas. Iria desenhar. Desse modo, não precisaria se apresentar para ninguém, tampouco aturar olhares de desprezo. Não quis nem mesmo tirar o sobretudo que Astoria lhe vestira. Não havia necessidade. E ele se sentia meio que protegido com o sobretudo.

Depois de algum tempo, uma trupe bastante barulhenta apareceu, chamando a atenção do loirinho, que levantou os olhos do pergaminho para ver quem eram. Na frente, havia um menino ruivo, uma menina ruiva, menor, e um garotinho também ruivo, que parecia ter a mesma idade desta, que corriam, destrambelhados, em direção à cama elástica maior.

- Eu vou chegar primeiro, pirralhos! – dizia o menino maior.

Atrás deles, vinham uma outra garota ruiva, de vestido azul, e um menino de cabelos pretos espetados.

- Eu já falei para o James que ele tem que se comportar. – dizia a garota – A tia Ginny vai brigar com ele se souber a bagunça que ele anda fazendo. Não é só chegar aqui correndo e ir direto para a cama elástica.

- O James não tem jeito, mesmo. – disse o menino de cabelos pretos, observando o tal James subir na cama elástica, acompanhado dos meninos menores.

- E o Hugo e a Lily entraram na pilha dele, Al! – comentou a menina, parecendo chocada.

- Vem pular também, Al, Rosita! – chamou o James.

O garoto que chamavam de “Al” deu de ombros e subiu também.

- Até você, Al? Vai ajudar esses três aí a fazer bagunça? – falou a menina, parecendo lamentar.

- Não seja chata, priminha. – disse James, descendo da cama elástica. – Vem pular também. – dizia, puxando a prima pelo braço.

- Eu não quero ir, James. – respondeu, emburrada, cruzando os braços.

- Qual é, priminha? É divertido. E a gente, se pular, nem fica correndo por aí e fazendo bagunça. Vem.

- Não quero, eu já disse. – retrucou a garota.

- Se não vier por bem, vai vir por mal. – falou James, ameaçadoramente, puxando a menina pelos dois braços, com força.

Scorpius nem percebeu que tinha se esquecido do desenho que fazia e que estava os observando. Depois de algum tempo, James conseguiu, finalmente, fazer a ruiva subir na cama elástica também. Ainda segurando as mãos dela, começou a pular, obrigando-a a pular junto com ele. Ela sorriu, involuntariamente. No instante seguinte, já estava junto com os outros, gargalhando e pulando sozinha.

Scorpius pensava apenas que queria ter amiguinhos que pudessem ser daquele jeito com ele. Para se divertirem juntos. Brincarem. Darem gargalhadas. Ele daria tudo para estar ali com aquelas cinco crianças. Mas tinha medo de ser rejeitado, como diversas outras vezes. Por isso, preferia ficar quieto onde estava.

Voltou ao desenho, as sonoras gargalhadas da menina ruiva de vestido azul enchendo os ouvidos dele. Minutos depois, ouviu o garoto que se chamava James gritar: “PISCINA DE BOLINHAS!”. Scorpius ergueu os olhos do desenho novamente.

James e os dois meninos menores correram e pularam dentro da maior piscina de bolinhas que havia ali. Al e a garota ruiva maior foram atrás, cautelosos.

- Vocês não vão fazer bagunça, não é? – quis saber ela.

- Se eles fizerem bagunça, a gente vai embora, Ro. – disse Al, entrando na piscina também.

Sem dizer nada, a menina entrou atrás dele. No minuto seguinte, as crianças menores começaram uma guerra de bolinhas, o que fez várias bolinhas voarem por toda a sala de brinquedos.

- Vocês disseram que não iam fazer bagunça! – disse a ruiva, irritada, saindo de dentro da piscina.

- Volta aqui, priminha! – chamou James.

- Não. Eu vou juntar essas bolinhas, porque depois vocês não juntam, né? A tia Ginny e a mamãe falaram que era sem bagunça, James, e parece que ninguém escutou – dizia ela, catando as bolinhas espalhadas no chão, uma a uma.

- Vamos jogar mais bolinhas, então, já que a Rose vai pegar tudo! – disse o ruivo menor, jogando mais bolinhas para fora da piscina.

- Para, Hugo, não é justo com a Rose. – disse Al.

Rose. Era esse o nome da garota ruiva maior. O nome de uma flor.

Combinava com ela o nome, pensou Scorpius, fitando o desenho que fazia dele mesmo e dos pais. Rose ficaria bem com eles.

Uma bolinha quicou e foi parar em cima do desenho de Scorpius, ainda inacabado. Era azul-escuro. Ele a segurou nas mãos.

- Desculpa. – o menino ergueu os olhos. Era ela, Rose, conversando com ele. – Você pode me devolver a bolinha, por favor?

Scorpius olhou para Rose e de Rose para a bolinha. Os olhos dela eram exatamente da mesma cor da bolinha. Azul-escuro. Ele nunca vira ninguém que tivesse os olhos daquela cor. Era, também, a mesma cor do vestido de lã que ela usava.

- Claro que sim. – respondeu Scorpius, erguendo a bolinha. Rose lhe sorriu. Um sorriso bonito. E pegou a bolinha de volta.

- Obrigada. – ela saiu de perto dele e colocou a bolinha junto às outras que tinha juntado em um canto e, aos poucos, foi despejando-as na piscina.

Scorpius voltou ao desenho. Parecia que agora os outros meninos iam parar de jogar bolinhas para cima, a esmo. E Rose com certeza iria voltar para a companhia deles. O que o loiro não esperava era o que viria a seguir.

- Você não quer vir brincar com a gente? James e Hugo prometeram que não vão fazer bagunça mais. – ele ergueu os olhos cinzentos. Rose estava ao lado da mesinha, fitando-o com curiosidade. Ele não a tinha visto se aproximar.

Scorpius ficou tão surpreso com a pergunta que não soube o que responder.

- Você está me chamando para brincar com vocês? – repetiu, abismado. Rose era a primeira criança que era legal com ele.

- Estou, sim. – confirmou ela, parecendo confusa.

- É claro que eu quero! – disse Scorpius, feliz, levantando-se da cadeira.

- Rosita, você não precisa chamar esse garoto esquisito que te devolveu a bolinha para brincar com a gente só porque ele te devolveu a bolinha. – disse James, de dentro da piscina.

Scorpius sentiu o coração despencar uns três metros. Tinha sido bobo de achar que as coisas pudessem ser diferentes, mas não. Era tudo sempre a mesma coisa. Sempre rejeitado. Se não fosse pelo sobrenome, era por ser “diferente”. Ou “esquisito”, como James acabara de apontar.

- Pode ir. – falou Scorpius para Rose, amargurado. – Eu não vou mais. – disse, simplesmente, sem querer indispô-la contra o menino que parecia ser primo dela.

- Por que não? – falou Rose, surpresa. – Você não é esquisito.

Scorpius tinha, de fato, afeiçoado-se àquela garotinha ruiva de olhos azuis. E agora, acabava de se afeiçoar ainda mais. Mas ele não brincaria com quem o desprezava. No caso, James. E de ser desprezado ele entendia muito bem.

Tampouco queria que a Rose deixasse de brincar por causa dele.

- Não quero brincar mais. – falou Scorpius, simplesmente.

O que ele não sabia era que Rose tinha sensibilidade além do esperado para uma menina de sete anos. E, definitivamente, não esperava o que veio a seguir:

- James, se ele não brincar, eu também não brinco. – falou Rose, voltando-se para o primo. Scorpius se sentiu, por um momento, querido. Os outros meninos, de dentro da piscina, observavam os três com atenção. – Peça desculpas a ele. Tia Ginny já disse a você que não devemos chamar as outras pessoas com apelidos feios.

- Então você não vai brincar, priminha. – falou James, seriamente. – Esse garoto é esquisito, mesmo, não vou pedir desculpas.

- Eu não brinco. E eu vou contar tudo para o tio Harry e para a tia Ginny, você vai ver. – falou Rose, saindo da salinha de brinquedos, batendo os pés, sem olhar para trás.

Surpreso com o que tinha acabado de presenciar, Scorpius pegou o desenho de cima da mesa, ainda inacabado, e saiu da sala da brinquedos em direção à mesa onde sabia que os pais estavam, na esperança de ver Rose novamente. Talvez os pais dele conhecessem os pais dela. Quem sabe ela não passava um dia na Mansão dos Malfoy, se os pais dela deixassem?

- Oi, querido, já se cansou dos brinquedos? – perguntou Astoria, vendo o menino se aproximar.

- Mamãe, acho que eu tenho uma amiguinha. – contou ele, sorridente, entregando o desenho à mãe.

- Como ela se chama, Scorpius? – perguntou Draco, curioso. Ele acabava de sentar à mesa novamente.

- Rose. É o nome de uma flor, não é, papai?

- É sim, rapazinho. E o nome dela é Rose de quê? – quis saber o homem.

- Não sei. Apenas Rose. – respondeu, encolhendo os ombros.

O assunto acabou aí porque alguns casais que trabalhavam com Astoria se sentaram à mesa também, dando início “às conversas de adultos”.

Scorpius passou o resto da noite tentando encontrar Rose no salão com mesinhas e na sala de brinquedos. Ele ia ora em um lugar, ora em outro.

No salão com mesinha havia muita gente – o menino não sabia que no Ministério da Magia havia tantos funcionários! Além do mais, eram adultos altos e ficava difícil enxergar qualquer coisa, principalmente porque havia muitos deles em pé, conversando ou dançando.

Na sala de brinquedos, Rose não apareceu mais. Ao fim da festa, Marley contou a Scorpius que a menina voltou lá acompanhada dos pais de James, que o carregaram e o proibiram de continuar brincando por ter sido mal-educado. Depois disso, Rose e os outros meninos saíram de lá e não voltaram mais.

Um pouco frustrado, Scorpius voltou para casa com Draco e Astoria. Queria tanto ter visto Rose só mais uma vezinha!

Depois de vestir o pijama e escovar os dentes, Scorpius se deitou para dormir. Draco lhe desejou boa noite e Astoria também. Ela deu um beijo terno na testa do filho e ajeitou as cobertas dele.

- Dorme com os anjos, pequeno. – disse a mulher, saindo do quarto e apagando as velas. – Feliz Natal.

Na escuridão, Scorpius olhou para os enfeites de Natal brilhantes que adornavam a janela. Pensou em Rose e sorriu.

Finalmente, ele começava a ter algo minimamente parecido com um “Feliz Natal”. Um Natal azul, talvez.


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Notas finais do capítulo

Bom, galera, espero que tenham gostado. E que comentem, favoritem, recomendem... em breve, espero voltar a postar a história principal. :D
E lembrem-se de dar uma passadinha em "Deixe a neve cair" (http://fanfiction.com.br/historia/570896/Deixe_a_Neve_Cair/)!



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