Faça-me esquecer escrita por alinerocha


Capítulo 6
Capítulo 5




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/574923/chapter/6

It found me to hold me, but I don't like it at all

Won't feed it, won't grow it, it's folded in my stomach

It's not fair

I found love

It made me say that

Get back

You'll never see daylight

If I'm not strong it just might – A Bitter Song – Butterfly Boucher.

Não! Não, não, não.

Estou gritando, estou sufocando, me tirem daqui. Chuto e grito e choro. SOCORRO. Ninguém me escuta, estou invisível, estou perdida.

– Elizabeth... Acorda, sou eu. – escuto longe, mas o medo ainda está aqui... – Calma, sou eu Brian, por favor.

Abro os olhos e meu coração está em uma dança frenética, o ar está parado e eu sinto tanto frio. Estou segurando a camiseta de alguém com meus punhos fechados. Olho para cima desesperada e vejo que Brian está ali, me olhando, pedindo para que eu me acalme.

– Não, de novo não. – continuo murmurando e me agarrando a ele em desespero. – Por favor, por favor. Me salve.

As lágrimas continuam a cair e os soluços estão cada vez mais altos. Brian está murmurando coisas, está me acalmando, me abraçando forte e protegendo. Meu coração se acalma aos poucos, mas as lágrimas continuam, é impossível para-las agora.

O silêncio se instala ao nosso redor e só consigo ouvir os meus soluços e a respiração de Brian. Desaperto sua camiseta, mas continuo agarrada a ela, com medo de soltar e tudo voltar. Ele acaricia meu cabelo, passa às mãos por meus braços.

– Você está tão gelada. – o ouço murmurar, mas continuo presa nas lembranças que estão nítidas como água cristalina.

Eu sinto a dor, como se tivesse acontecendo agora, sinto o aperto no peito, o medo e desespero. Sinto o nojo daquelas mãos encostando-se a mim. Eu sinto tudo.

Minhas mãos parecem pertencer a outro corpo, elas tremem e parecem que nunca mais vão voltar ao normal.

– Foi só um pesadelo. – Brian sussurra em meus cabelos.

Não foi um pesadelo, foi a minha vida. Foi tudo, menos apenas um pesadelo.

Levanto-me devagar, saindo dos braços de Brian, me recusando a escutar a voz, que está sussurrando no funda da minha mente, que eu deveria permanecer ali.

Olho para janela e vejo que parou de chover.

– Hum. – pigarreio, com a voz tremula. – Eu vou pegar minha roupa no quarto.

Não espero por uma resposta da parte dele, vou para o quarto e pego minhas roupas, ainda molhadas e minha bolsa.

– Você não precisa colocar sua roupa, pode ir com a minha.

Olho para cima e o vejo encostado contra o batente da porta. Ele está me olhando com a testa franzida, provavelmente, assustado com o espetáculo que dei. Não o culpo, qualquer um diria que eu preciso de umas consultas com psicólogos depois de me ver nesse estado.

Balanço a cabeça em concordância e coloco minha roupa molhada dentro da bolsa.

Estou clamando para que tudo seja fácil essa manhã, que eu consiga arrumar o carro, que o Brian não faça perguntas e que eu possa ir para casa e me trancar dentro do quarto, pois eu ainda sinto tudo.

– Ainda vai me ajudar com o carro? – pergunto.

Ele da um passo para trás e se vira indo em direção á sala.

– Com certeza. – o ouço dizer.

Respiro fundo e começo a ficar ansiosa para estar em casa. Saio do quarto e o encontro em frente á escada. Sem dizer nada, ele desce e eu vou logo atrás.

Já no andar de baixo, na oficina, eu vou direito para fora e o espero. Eu estou tentando fazer o melhor para me abraçar com os meus braços, estou tentando parar de tremer, tentando controlar a ansiedade de estar no meu apartamento, onde nada vai acontecer comigo.

Ele sai da oficina e me olha intrigado.

– Você está bem? – essa era a última pergunta que eu esperava ouvir.

Concordo com a cabeça, sem forças para responder isso ou mentir.

– Podemos ir agora?

Ele suspira visivelmente frustrado.

– Não está nem um pouco bem. – então, sem mais nenhum comentário se vira e entra na oficina novamente.

Cinco minutos depois está saindo com seu carro de dentro da oficina.

Depois de sair do carro, fechar a porta da oficina e me ajudar a entrar no carro, segue as direções que eu dou. Quando chegamos ao local que meu carro está estacionado, ele sai e eu permaneço sentada no banco macio e confortável de seu carro, enquanto ele verifica o que houve com o meu.

Olho para meus braços e vejo vermelhidão e sangue que causei sem perceber. Acontece na maioria das vezes, como se eu quisesse sair do meu próprio corpo, arrancar minha pele. Há arranhões em ambos os braços, então inchados e alguns estão sangrando. Toda maldita vez eu me torno uma pessoa diferente, ao ponto de não perceber que estou me machucando.

Então quando eu finalmente percebo, fico com a mesma expressão de agora, de espanto e descrença. De inicio não consigo acreditar que causei isso, como se uma parte de minha memória fosse apagada, mas eu faço.

Apenas repire Elizabeth, respire e isso vai passar. Recito repetidamente em minha cabeça.

Brian abre a porta do carro me assustando e eu faço o que posso para cobrir os machucados com minhas mãos.

– Realmente vai precisar de guincho, não posso concerta-lo aqui. – Ele diz, e continua enquanto entra no carro. – Eu posso te deixar em casa, tudo que você precisa fazer é me dar um número para contato para que possa te avisar quando estiver pronto.

Eu evito o seu olhar.

– Se você puder fazer mais esse grande favor por mim. – respiro pesadamente. – Não sabe o quanto sou grata.

Ele concorda, momentaneamente aparentando estar cansado.

Depois de passar o endereço de onde moro, permanecemos em um silêncio que deixaria qualquer um louco. Não falo nada, pois não quero que ele me faça perguntas, não falo nada, pois não sei onde se encontra minha voz. E ele... Provavelmente por me achar louca.

Mantenho-me concentrada no transido o caminho todo, como se eu mesma estivesse dirigindo.

Já em frente do apartamento, eu penso em algo para falar que não soe idiota, mas não consigo encontrar nada.

Com a voz em fiapos digo a única coisa sincera.

– Obrigado por tudo, Brian. – consigo sorrir um pouco. – Você foi o meu herói por uma noite.

Saio do carro, ainda sem olha-lo e antes de fechar a porta, deixo o cartão de contato do meu consultório no banco em que eu estava sentada. Fecho a porta e sigo meu caminho para casa.

Sem olha-lo, porque não aguentaria um olhar de julgamento do meu herói por uma noite.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Faça-me esquecer" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.