Faça-me esquecer escrita por alinerocha


Capítulo 3
Capítulo 2




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This could be the end

'Cause I ain't got a home

Kings of leon – The End

Ouço o rangido da porta, mas não me importo em levantar a cabeça. Já estou derrotada, e daqui a poucos minutos vou ser mandada para fora e então serei uma derrotada na chuva e sem ter para onde ir.

Os soluços continuam vindo, mas o choro já está cessando. Enxugo meus olhos da melhor maneira possível, como se fosse mudar alguma coisa.

– Do que você precisa? – Ele diz. Ele, aquele homem incrivelmente lindo, que me assustou e era a única esperança que eu me permiti ter.

– De uma vida nova. – digo, em um sussurro.

– Aqui, por enquanto, só consertamos carros. Vidas novas é um projeto que estou tentando fornecer em um futuro próximo.

Dou risada, entre soluços, rio da maneira simples, como se não tivesse acabado de chorar. Abaixo minhas mãos e levanto o rosto. O estranho está ali, me olhando, com um sorriso nos lábios e o corpo relaxado na cadeira.

– Oh, então, por favor, pegue o meu número e me ligue quando essa oficina começar a fornecer esses serviços. Vou ser a primeira da fila.

– Você não acha que uma vida nova dá muito trabalho? – Ele pergunta. Ainda calmo, sorrindo e relaxado. Ah, como a vida deve ser boa para ele.

– Não, acho que ela nos liberta. – Ele inclina a cabeça pensativo e eu me sito desconfortável, com esse olhar que tenta me desvendar.

Lembrando-se do motivo pelo qual vim parar aqui e pelo motivo que por ter que voltar, levanto-me soltando um longo suspiro, encarando o que estar por vir.

– Obrigado por me deixar usar seu telefone. – dou a volta na mesa e saio da sala. Ele vem atrás de mim, não mais sorrindo. – E por me acolher por uns minutos.

Ele franze a testa e olha para fora, para a chuva que continua caindo.

– Você não vai mais precisar de ajuda para o seu carro?

– Sim, mas não há nada que você possa fazer agora, como disse. E também não há nada que eu possa fazer além de voltar para o carro e esperar a chuva passar e voltar amanhã.

– Sabe o que acho? – Ele pergunta, sem me dar a chance de responder. – Que você bateu a cabeça em algum lugar enquanto andava por essas ruas escuras.

– Isso certamente não seria novidade, mas não aconteceu.

Ele caminha até a porta da oficina e abaixa a porta. Meu coração para.

– Não vou deixar você sair nessa chuva e voltar para estrada correndo perigo. – Ele me olha, e se assusta com minha expressão. – Não se assuste, por favor. Não vou fazer nada com você.

– Que bom. – murmuro, tentando me recuperar do surto.

“Não vou fazer nada que você não queira.” O sussurro passa por meus pensamentos, em meio a uma enxurrada de lembranças. Aperto minhas mão fechadas e forço minhas unhas em minha carne. Não ligo para a dor, só quero uma distração para que minha mente tenha que pensar em outras coisas e não se lembrar de nada.

– Você pode ficar aqui até a hora que você quiser, mas não vai sair nessa chuva.

– Eu já entendi, papai. – Concordo e zombo da maneira que ele está falando.

Ele ri da maneira mais rouca e linda que eu já ouvi alguém rindo.

– Vamos.

Ele aponta para uma escada e vai em direção á ela.

– Para onde vai? – Pergunto, intrigada.

– Minha casa. – Ele responde, já com o pé na escada para subi-lá.

Eu balanço a cabeça e dou um passo para trás.

– Eu prefiro ficar aqui.

Ele continua lá, não dá nenhum indicio de que não vai subir as escadas.

– Por favor? – Ele está suplicando com seus olhos, e eu desejo que ele não faça isso. – Eu não sou um pervertido, não vou me aproveitar de você. Se quisesse fazer, já teria feito.

Coloco a mão dentro da bolsa e me certifico de que o spray de pimenta está lá, mais uma vez.

– Tudo bem. – Concordo, e o sigo pelas escadas, pois não há nada mais que eu possa fazer. Estou cansada dessa frase em minha vida.

O andar de cima é grande, assim como a oficina, mas não há graxa e óleo em lugar nenhum. Tudo limpo e em seu perfeito estado, há uma sala que é adjacente com a cozinha e um corredor que deve levar aos quartos.

Brian joga a chave em cima da mesa de centro, que se encontra no meio da sala, entre os sofás e a Tv e caminha até o corredor.

Eu fico encolhida no canto, ainda perto da escada.

Mesmo sendo uma casa simples, a beleza nela me encanta. Vejo a personalidade do dono estampada nela, moveis pretos e cinzas e quadros em cada parede. O que mostra força e delicadeza ao mesmo tempo.

Penso em meu apartamento e vejo que nele não há nada que mostre um pouco do que eu sou. Ele foi decorado por minha amiga, Kat, e se alguém que a conhece entrar nele, vai saber disto. Pois nela há toda a alegria que não existe em mim.

– Você deve estar com frio. – Brian me puxa para fora de meus pensamentos.

Ele estica a mão em minha direção e nela ele segura uma toalha e uma muda de roupas masculina.

Olho para a roupa intrigada e pego a toalha, apenas.

– Obrigado, pela toalha. – Eu começo a secar meus braços e roupas da melhor maneira que posso. – Mas não posso aceitar suas roupas, isso séria abusar da sua boa vontade.

Ele continua com a mão estendia e com um sorriso no rosto. Qual é o problema com esse cara? Ele está sorrindo para mim ou rindo de mim?

Tudo bem que o sorriso dele é lindo, e se ele parar eu seria capaz de pedir para que ele voltasse a sorrir de novo.

– Hoje a minha boa vontade quer ser abusada, pegue as roupas, por favor.

Eu pego as roupas bufando e um pouco mais agressiva do que pretendia.

– Existe alguma pessoa que não faça o que você pede quando faz essa expressão de cachorro sem dono e pede por favor? – deixo escapar, sinto meu rosto queimar no mesmo instante. – Oh, céus, estou mesmo abusando da sua boa vontade. Desculpe.

– Não se desculpe. – Ele diz, e anda em direção ao corredor. – Você prefere se trocar ai ou no quarto? Eu não me importo se escolher a primeira opção.

Balanço a cabeça em negação e o sigo. Ele abre a segunda porta e aponta para que eu entre.

– Eu vou tomar banho, caso você precise de alguma coisa, vá em frente e o faça.

Eu olho ao redor do quarto, que só tem uma cama e um pequeno guarda roupa.

– Por que você confia em mim? Eu quero dizer, eu sou mulher, mas poderia te roubar facilmente assim.

Ele franze a testa, e uma dobrinha se forma entre suas sobrancelhas. Tão malditamente fofo.

– Você não vai me assaltar. Seu olhar me diz que correria de uma pequena mosca, você parece ter medo até das pequenas coisas da vida.

Ok, Mr. Charme, isso foi rude. Bato a porta do quarto em sua cara e me encosto á ela.

A melhor e maior montanha russa do mundo ficariam com inveja do que são os altos e baixos na minha vida.


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