Faça-me esquecer escrita por alinerocha


Capítulo 12
Capítulo 11




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If all have is time then we'll be alright

It's not much but it's better than nothing

We're running on fumes but we'll make it through the night

It's not love but it's better than dreaming

Oh I'm on fire

There's a burning in my bones and in my eyes

These dreams are taking hold and I need time, time – Fumes – The Eden Project.


Sento em frente aos meus pais e juro que posso ver os pontos de interrogação circulando em cima de suas cabeças. Vejo a angústia em seus olhos.

Sorrio.

Sorrio porque é única coisa que posso fazer para acalma-los, sei que não há nada que eu faça que vá tirar o olhar de medo ou dor, mas por hora, eu posso dar conforto sorrindo. Mostrar aquilo que não é real para as pessoas que eu amo não é a parte mais difícil, o mais difícil é conviver com isso.

Minha mãe vê estrelas quando eu sorrio, mas o que ela veria se soubesse que o sorriso não é verdadeiro?

Durante esses últimos anos aprendi que um sorriso pode ser interpretado de mil e uma maneiras diferentes. Aprendi que sorrir pode ser a melhor forma de chorar.

– Eu tentei limpar minha roupa da melhor maneira possível, mas como vocês podem ver não deu muito certo. – Tento brincar, e recebo um sorriso amarelo de ambos.

Concentro-me então na comida, não preciso levantar meus olhos para saber que eles estão me olhando. Uns minutos depois, os vejo começar a comer também, e o que era antes um almoço em família divertido se tornou monótono e silencioso.

Até os preciosos almoços em família eu estou conseguindo destruir agora, eu penso, com uma vontade imensa de me bater.

Verifico o restaurante procurando por Brian e me surpreendo quando o vejo se sentando à mesa ao lado. Como ele ousa! Tantos outros lugares e ele vêm se sentar justo no que está mais próximo.

Papai limpa a garganta e retomo a atenção para eles, com minhas bochechas quentes.

– Hum, você o conhece? – pergunta.

Olho de um para o outro pensando no que dizer. Passo a mão na testa, claramente nervosa. Céus, o que eu digo agora.

– Ah, sim. – engulo em seco. – Ele é o meu mecânico.

O meu mecânico, Elizabeth? Melhore!

– O mecânico do meu carro, eu quero dizer. – Olho para a comida de novo, sem vontade nenhuma de comer, mas arrumando uma desculpa para não encarar ninguém.

– Oh, ele está almoçando com uma amiga? – Mamãe faz uma pergunta, que eu vou interpretar como retórica. – Por que não os chamamos para se sentar conosco, Liza? – E dessa vez creio que não posso ignorar.

Eu a olho e balanço minha cabeça negativamente.

– Mamãe, não seja rude, eles estão em um momento romântico. Não devemos incomodar. – As palavras queimam ao sair de minha boca.

– Claro que não, filha. Rude vai ser você fingindo que não o conhece. – Diz papai, não me ajudando nem um pouco.

O que dizer agora, droga! Eu só queria ter um dia normal com a minha família.

Apoio-me no encosto da cadeira, os olhando com seriedade.

– Vocês poderiam escutar a sua linda e amada única filha. – digo sorrindo docemente. – Eu só estou fazendo uso da educação que vocês me deram. – Completo com triunfo.

Eles se olham, e eu percebo que não venci ainda.

– Ora, Dave você está escutando isso? – Ela pergunta ao meu pai. – Isso quer dizer que não te educamos direito, pois o mínimo que você deveria fazer era ir cumprimentá-lo!

Merda.

Curvo os ombros em pura derrota. Não há mais nada que eu possa fazer.

– Ok, vocês querem chamar eles, sintam-se a vontade de ir lá. – cruzo os braços. – E só para esclarecer, eu já o cumprimentei com um meio aceno de cabeça.

Infelizmente, eu vejo minha mãe se levantar e caminhar com glória até á mesa deles.

– Eles não vão aceitar. – Eu digo para papai, teimosa.

Assim que eu fecho a minha boca, mamãe chega com Brian e sua velha amiga ao lado. Não tempo nem ao menos tempo de piscar e mamãe já chamou o garçom e pediu mais lugares na mesa e que a comida de Brian fosse posta lá.

– Como estou encantada em conhecer vocês. – Mamãe diz para eles. – Eu acho que pareci um pouco intrometida, mas Elizabeth – Ela aponta para mim. – Minha filha, teimosa, falou que a gente seria rude se interrompessem vocês, pois estavam tendo um momento romântico. – Ela ri, como se o que eu fosse a piada mais engraçada que já escutou. – E ah, esse é meu marido; Dave Moore e eu me chamo Margaret, mas todos me chamam de Maggie.

– É um prazer conhecer vocês também. – Diz Brian. – E foi bom você ter aparecido em nossa mesa, pois como Elizabeth disse. – Ele me olha decididamente. – Não era um momento romântico, Camile e eu somos apenas bons amigos.

Observo Camile, sua velha amiga, atentamente. Ela é bonita, morena, olhos verdes, esbelta e em resumo: o oposto do que sou.

– Oh, mas eu já sabia disso. Eu conheço um momento romântico a distância. – Mamãe fala, me olhando.

Meu pai ri e concorda.

– Disso vocês podem ter certeza, ás vezes eu tenho até medo dessa mulher.

Eu sorrio, diante do amor deles.

Olho para Brian e para sua velha amiga, que está se apresentando nesse exato momento como Camile Harper.

Percebo agora que não há realmente um clima romântico entre eles, e que Brian falou a verdade. Porém, ainda sinto algo que me incomoda ao olhar os dois juntos, pode não existir nada entre eles agora, mas no fundo eu sinto que já existiu.

O garçom interrompe a conversa na mesa – a conversa da qual eu sou a única a não participar – para colocar os pedidos na mesa e assim que vai embora a conversa retorna com tudo. Eu estou como uma telespectadora aqui, ainda muito assustada e com medo de dizer alguma coisa. O que eu posso dizer? Já que meus pais não esperaram que eu apresentasse Brian á eles. E também não quero entrar no meio da conversa de Brian com papai sobre carros e nem ao menos em uma conversa em que Camile (supostamente uma velha amiga de Brian), esteja falando sobre sua viagem até aqui para visitar Brian.

Ugh. Isso é tão estranho.

Concentro-me na comida, que se tornou minha escapatória para tudo, até ouvir o meu nome.

– Me conte como conheceu a Liza, Brian. – Sinto os olhos de mamãe em minha direção e a olho, tentando fazer um contato telepático entre mãe e filha pendido para que ela pare com esse assunto. – Tenho certeza que foi muito mais do que uma simples ida em uma oficina nova.

Dessa vez olho para Brian, mas ele não olha em minha direção.

Oh merda.

– Na verdade foi bem normal. – Ele diz para o meu alívio. – Mas eu fiquei impressionado com a maneira dela de acabar com minha masculinidade.

Papai e mamãe dão risada e Camile olha com os olhos estreitos para Brian.

– Você não me contou essa parte. – Ela diz, me olhando rapidamente e retornando o olhar para ele.

Então eu estava certa.

E agora tudo me diz que o que houve entre eles não foi superado de ambas as partes.

– É como eu disse, não estou querendo acabar com essa pose de bad boy. – Ele sorri e me olha, fazendo com que eu me derreta por dentro. – Isso vai ser um segredo meu e da Elizabeth.

– Eles vão tentar arrancar alguma pista do que houve depois desse almoço, mas não contarei nada. – Olho para meus pais como aviso, sorrindo. – Algumas coisas devem ser levadas para o túmulo conosco.

***

Uma conversa tranquila permanece no grupo e eu participo pouco, interessada mais em observar como Brian criou um laço com meus pais instantaneamente e como Camile olha para ele com um olhar sonhador.

Quando todos já estão satisfeitos e prontos para ir, andamos calmamente paro o estacionamento.

Entrelaço meu braço com o de mamãe e ela afaga minha mão enquanto conversa.

Depois de uma despedida com apertos de mãos para lá e para cá e um abraço que minha mãe deu em Brian, sussurrando algo em seu ouvido, estou quase me virando para ir em direção ao meu carro quando ouço mamãe dizer.

– Falo com todo o meu coração quando digo que fiquei feliz em conhecer vocês, e você Brian. – Ela o olha seriamente. – Não deixe que a Elizabeth te afaste.

E como se não tivesse dito nada demais, sai andando em direção ao carro. Olho para Papai e ele simplesmente dá de ombros, e Brian está com um sorriso triunfante em seus lábios.

Minutos depois vejo o carro dos meus pais passarem á minha frente com uma mãe alegre me jogando beijinhos pela janela.

O que foi que acabou de acontecer? Ainda estou extasiada quando Camile fala comigo.

– Foi um prazer te conhecer, Elizabeth. Brian me falou muito bem de você. – Ela sorri, mas seu sorriso não é entusiasmado. – Espero te encontrar mais vezes.

E com isso, anda em direção ao carro de Brian.

– Você ouviu o que sua mãe disse. – Brian diz, deixando seu sorriso de lado e me olhando esperançoso.

– O que você viu de tão especial em mim, Brian? – Eu o pergunto, o olhando atentamente.

– Você.

– Eu o quê?

Ele suspira e da um passo em minha direção.

– Eu vi o que você esconde por trás dessa mascara, Elizabeth. Ainda tenho muitas perguntas não respondidas, mas aos poucos eu te desvendo cada vez mais.

Fico surpresa com sua resposta, dou um passo para trás e tento recuperar minha voz.

– Eu não quero ser uma vadia, não gosto de jogos e não vou te afastar mais. – Eu digo, engolindo em seco. – Mas você não pode tentar passar por cima do que eu mostro para todos, você não pode me beijar como se quisesse se fundir comigo e você definitivamente não pode perguntar sobre o meu passado.

Eu deixo essas palavras sair e sinto um peso deixando meu corpo.

– Isso quer dizer que você vai ter uma amizade comigo? – Ele me olha genuinamente. – E tudo o que tenho que fazer é olhar apenas para o futuro?

– E se controlar. – Eu completo.

Ele sorri e seu sorriso é tão contagiante que me pego sorrindo também.

– Fechado. – Diz e sai caminhando em direção ao carro triunfante.


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