O Peregrino escrita por Deusa Nariko


Capítulo 29
Capítulo XXIX


Notas iniciais do capítulo

Vigésimo nono capítulo dedicado à The Green Eyes e à Daniela Carvalho pelas lindas recomendações! Espero que gostem! *-*
...
Boa leitura!



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O Peregrino

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Capítulo XXIX

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Taki no Kuni (País da Cachoeira), dias atuais.

Estudei com atenção o campo de batalha ao meu redor e estudei o posicionamento tanto de Sakura, alguns metros à minha frente, quanto de Kazuhiko, bem diante de mim, e de Ichiro, perante ela, ainda mais distante; estudei-os como se estudasse um tabuleiro e cada peça disposta.

Cada passo meu agora deveria ser previamente planejado e executado com cautela. Por isso, mudei meu Sharingan para o seu nível mais elevado e meu Rinnegan respondeu no meu olho esquerdo. O Chidori ainda corria pela lâmina da minha espada, chiando suavemente no meu punho direito.

Kazuhiko estava atento a cada gesto meu, acompanhava cada decair dos meus ombros, cada remexer dos meus pés, plantados no telhado daquele edifício. O sol estava a pino, ardia sobre a minha cabeça; calor emanava das paredes de concreto na forma de vapor.

Meu oponente manejou sabiamente sua espada, trocando-a de mão. Heh, um ambidestro como eu?, perguntei-me. Sentia que descobriria isso em breve e, de fato, estava certo.

No intervalo de uma respiração, Kazuhiko partiu para cima de mim, movendo-se tão depressa como não havia se movido até então. Seus pés mal tocaram as telhas, quase flutuando ao atravessar o espaço que nos separava e erguer sua espada contra mim.

Respondi sua investida ao levantar a minha também: o entrechoque das lâminas causou uma sucessão de tinidos estridentes e criou uma chuva de fagulhas iridescentes. O vento na lâmina dele digladiava com o relâmpago que corria na minha, equiparando-as em força.

Eu avancei e recuei, defendendo-me de cada ataque, contra-atacando sempre que ele abria uma brecha em sua defesa. Era difícil admitir isso, mas estávamos empatados em velocidade e técnica. E eu precisava terminar com isso o mais depressa possível.

Num momento breve de distração — eu não podia evitar —, voltei meus olhos para Sakura, que já havia se movido também e agora desviava de uma série de obstáculos que Ichiro criara, saltando de telhado em telhado no intuito de abordá-lo por um dos flancos.

Saber que ela havia ativado seu jutsu de regeneração me inquietava: Sakura tendia a se tornar mais descuidada quando usava essa técnica. Observei-a se mover e quebrar uma parede de rocha que ele criou para tentar atrasá-la com apenas um punho, despedaçando-a, e então voltei a me concentrar na minha própria batalha...

...Só para desviar no último momento da espada de Kazuhiko que veio na minha direção silvando. Movi meus pés habilmente e evitei seu ataque por um tris — que passou a centímetros do meu rosto —, tomando impulso com o meu corpo para me impelir para a esquerda.

Então girei sobre os meus pés novamente e ergui minha Kusanagi para rebater outro golpe, recomeçando nossa luta. Entre um entrechocar e outro, Kazuhiko sorriu vitorioso para mim:

— Será melhor que não se distraia, Uchiha! Não pretendo pegar leve como da última vez! — recomendou-me com seriedade e eu cerrei os dentes em resposta,rechaçando outro ataque seu.

De fato, ele estava mais rápido do que da outra vez em que nos enfrentamos e meu ombro direito, onde seu jutsu me cortara mais cedo, latejava fracamente, incomodando-me sempre que eu tentava executar um movimento mais arriscado.

De repente, nós dois nos afastamos ao mesmo tempo, saltando para longe um do outro. Kazuhiko pousou no telhado de um prédio oposto onde eu aterrisei. Ele cravou sua lâmina entre as telhas de barro e realizou alguns selos com pressa. Das palmas de suas mãos, uma grande quantidade de chakra fluiu:

Fūton: Kami Oroshi! — declamou no momento em que um grande vórtice de vento tomou forma, eclodindo de suas mãos.

Ele o direcionou para mim e o imenso funil de vento gravitou sob o seu comando, espiralando rajadas tão fortes e cortantes quanto mil navalhas. Dobrei meus joelhos a fim de ganhar impulso e saltei por cima do gigantesco redemoinho, tão alto quanto possível.

Manejei meu corpo em pleno ar, girando-o numa sucessão de rodopios e atirei-lhe minha espada. O torvelinho evadido chocou-se contra um edifício, cerca de cinco, seis metros adiante e explodiu estrondosamente numa ventania ininterrupta que arranhou o concreto.

Kazuhiko desviou de minha espada — que se cravou diagonalmente — ao jogar seu corpo sobre o telhado, rolando com agilidade sobre as telhas, que estrepidaram sob o seu peso. Pousei logo em seguida e a alguns metros dele e fiz os meus próprios selos: o Chidori estalou na minha mão e eu me voltei para Kazuhiko, focando-o bem com o meu Rinnegan.

Ativei meu jutsu Amenotejikara e senti a mudança abrupta de ambiente, no momento em que troquei de lugar, teleportando-me num piscar de olhos para onde ele estava. Kazuhiko cerrou os dentes, pego de surpreso pela minha técnica, e eu ergui meu punho que continha o Chidori, mirando-o no seu peito.

Sua velocidade e raciocínio rápido me surpreenderam a seguir: Kazuhiko evitou meu golpe com agilidade, jogando seu corpo para o lado oposto ao meu golpe,evadindo-o e deslizando para fora do meu alcance. Estabilizei meu próprio corpo enquanto o jutsu no meu punho se desmanchava, apagando-se.

Kazuhiko moveu-se num piscar de olhos então, usando uma técnica de cintilação corporal mesclada às suas rajadas de vento para voltar ao lugar onde sua espada continuava cravada, próximo à minha Kusanagi abandonada.

Para a minha surpresa, ele recuperou a ambas e, com um movimento do seu braço, atirou minha espada para mim, lançando-a para o alto; minha Kusanagi girou várias vezes no ar antes que eu estendesse meu braço e a agarrasse pelo seu cabo, recuperando-a. Kazuhiko sorriu para mim e enxugou com o punho livre uma gota de suor que escorria pelo seu rosto.

Então, estávamos de volta ao início. Zanguei-me porque aquela luta estava demorando mais do que eu havia previsto, não só isso: ele estava mais forte do que antes, mais veloz e isso me incomodava — a ideia de ele haver se segurado em nossa primeira luta me incomodava. Qual seria a verdadeira extensão do seu poder?

Resolvi dispesar esses pensamentos e voltei a me focar no meu único objetivo. Cerrei os dentes e afastei ambos os meus pés, sustentando minha espada verticalmente com ambas as mãos diante do corpo e foi nesse momento que senti o estrondo poderoso impactar o telhado sob mim, estremecendo-o. Sakura!, foi meu primeiro e mais urgente pensamento quando tanto ela quanto Ichiro surgiram no meu campo de visão.

A nordeste; ambos estavam vários metros acima do aglomerado de telhados: ele havia formado selos com as mãos para criar imensas colunas de rocha amalgamada que brotavam dos telhados e das paredes dos edifícios, destruindo tudo no seu caminho, e ela havia sido atingida por uma delas em cheio e despencava em queda livre agora. Descuidada, como eu havia previsto.

Mais que depressa, enviei chakra para o meu olho direito e um braço do meu Susano’o tomou forma em questão de segundos, cintilando sob uma aura arroxeada. Saltei para cima e para frente antes que Kazuhiko pudesse me impedir e movi meu braço; o braço gigante do meu jutsu copiou-me. Estendi a palma para cima e segurei Sakura, amparando sua queda.

Em seguida, pousei em cima de um telhado que ainda não havia sido atingido pelas técnicas de Ichiro, alguns metros adiante, com Sakura sã e salva. Abaixei o braço, afrouxando o aperto dos meus dedos, e ela deslizou para o telhado, apoiada sobre um único joelho; resfolegava ruidosamente e os selos negros espelhados ao longo do seu corpo ainda regeneravam cada milímetro de tecido, osso ou órgão danificado.

— Você está bem? — perguntei no momento em que ela se pôs de pé.

— Não se preocupe comigo, Sasuke-kun; posso continuar — abanou a cabeça com vigor e eu desfiz meu jutsu, retrocedendo o braço gigante que havia formado para ampará-la.

Voltei-me para nossos oponentes, agora lado a lado e apertei meus dedos no cabo de minha espada; tínhamos de terminar aquela luta e depressa. Além disso, eu estava consciente de limitar a destruição àquela parte evacuada da vila e isso implicava que usar os meus os jutsus mais letais e destrutivos estava terminantemente fora de questão. Eu não queria causar danos permanentes à Takigakure, mas apenas minhas técnicas básicas não estavam surtindo o efeito imediato do qual eu precisava.

A não ser...

— Precisamos levar essa batalha para fora da vila — murmurei de repente para Sakura, que compreendeu, franzindo o cenho, e assentiu.

— Uma mudança de cenário? Eu entendi, Sasuke-kun — sussurrou-me e então ajeitou as luvas, cerrando os punhos com determinação.

Uma mudança abrupta de cenário poderia tanto vir a se tornar uma vantagem quanto uma desvantagem para nós, mas eu estava apostando na vitória, caso tivesse mais liberdade para usar minhas técnicas e não sentisse a necessidade de me segurar para reduzir o alcance da destruição da batalha.

Takigakure estava rodeada por florestas densas e cerradas. Se conseguíssemos atrair Ichiro e Kazuhiko para uma dessas áreas arborizadas, então eu poderia reverter o campo de batalha ao meu favor e obter vantagem sobre as técnicas de ambos. Vi a oportunidade perfeita para colocar meu plano em prática assim que Ichiro formou seus selos:

— Sakura, agora! — comuniquei-a no momento em que o chakra dele adensou-se, efervescente.

Yōton: Yōkai no jutsu!

Da sua boca, uma grande quantidade de lava foi espelida, cobrindo todo o espaço acima das nossas cabeças e a onda de lava gravitou até nós rápido demais.

Sakura e eu escapamos seguindo em direções opostas. Eu saltei do telhado por um lado e ela o fez pelo outro. Assim que aterrisei nas ruas desertas, virei-me para seguir na direção contrária, usando toda a minha velocidade para alcançá-la no fim da rua, batendo os solados das minhas sandálias nas lajotas brancas aquecidas pelo sol.

Fui interceptado, entretanto, antes que pudesse me reunir com Sakura. Kazuhiko bloqueou meu caminho num piscar de olhos, pousando adiante e rapidamente se empertigando, de espada em riste. Consternado, apertei meu ritmo, avançando na direção dele com destemor. Ele interpretou mal meu gesto e se mexeu também, ecoando meus movimentos.

Tão rápidos quanto possível, nos preparamos para o choque de nossas espadas e foi nesse momento que eu revelei minha verdadeira estratégia oculta: eu sabia que não havia outra forma de passar por ele sem confrontá-lo e alcançar Sakura a tempo, portanto, fiz o que foi necessário.

Erguendo minha espada até o rosto e recuando meu braço, arremessei-a através dele. A lâmina raspou seu ombro direito sem provocar dano com um tinido; Kazuhiko havia desviado sem dificuldade, mas, quando ele se voltou para mim, eu pus meu plano em prática. Concentrei o chakra necessário no meu Rinnegan e o foquei na minha Kusanagi, fincada entre as lajotas vários metros adiante.

Assim que minha técnica foi ativada, no instante em que alcancei o limite de distância, meu corpo se teleportou para onde antes minha espada estivera; uma corrente de vento suave passou pelo meu corpo, o único indício real de que eu havia, de fato, me movido.

Ouvi seu arfar de surpresa e de indignação enquanto o deixava para trás, me pondo em movimento novamente. Deixei minha Kusanagi para trás, com um lembrente mental de recuperá-la mais tarde. Segui adiante à toda velocidade e me reuni com Sakura no fim da rua, ao dobrar a esquina; Ichiro estava de novo no encalço dela, mas vinha pelos telhados, movendo-se um tanto mais lento devido ao seu tamanho.

— Para onde agora?! — ela me perguntou esbaforida enquanto corríamos pelas ruas estreitas.

Vasculhei o entorno com meu Sharingan até encontrar uma saída daquele labirinto, então me virei para ela:

— Me segue!

Virei à esquerda, apertando o passo, mas nem tanto; não queria que a distância entre nós e Ichiro e Kazuhiko fosse ampla demais ao ponto de fazê-los desconfiar do meu plano. Assim, guiei-os pela vila até um campo imenso, uma área gramada e livre das construções. Minha intenção, inicialmente, era alcançar a floresta, mas fomos abordados por Kazuhiko antes que conseguíssemos; a velocidade dele estava se tornando espantosa.

Tanto Sakura quanto eu nos detivemos e nos preparamos enquanto ele fazia seus selos. Quando acabou, uma grande quantidade de chakra havia sido reunida:

Fūton: Kamikaze!

O vento se agitou ao nosso redor, soprando no gramado seco e convergindo na direção de Kazuhiko até formar incríveis e imensos ciclones; contei pelo menos quatro deles se formando a partir da sua base, no solo, e rodopiando ciclicamente sobre o seu próprio eixo em forma de funil.

Katon: Hibashiri! — A voz poderosa de Ichiro trovejou no campo de batalha quando ele anunciou sua técnica, e eu o notei então, recém-chegado, atrás de mim e de Sakura.

Seu chakra fez emergir do gramado um círculo de fogo que emboscou tanto a mim quanto a Sakura, ardendo sobre a grama em labaredas intensas e desiguais. Cerrei os dentes ao perceber seus intentos e a armadilha na qual havíamos caído.

— Sasuke-kun! — Sakura gritou meu nome no momento em que os ciclones de Kazuhiko seguiram na nossa direção, movendo-se a seu bel-prazer.

O mais impressionante, entretanto, aconteceu no momento em que os ciclones tocaram as labaredas que queimavam sobre a grama; o fogo subiu a partir dos funis e transformou-os em ciclones de fogo, tão reluzentes quanto fatais. E foi então que eles convergiram, todos os quatro, simultaneamente, até nós.

— Cuidado — adverti Sakura e me preparei para saltar para longe do percurso de um dos ciclones de fogo, que destruía tudo em seu caminho.

Sakura agiu antes, entretanto. Surpreendendo-me, ela se posicionou bem diante de mim e tocou o solo com um punho carregado de chakra, despedaçando-o, mas controlando sua força para que não danificasse completamente o terreno. Em seguida, ela enfiou o mesmo punho por baixo de uma grande rocha que havia se sobressaído do chão desnivelado e, com um brado furioso, ergueu-a alguns bons metros, posicionando-a num ângulo de mais ou menos quarenta e cinco graus e formando uma barreira com ela, uma barreira entre nós e os ciclones.

O primeiro deles se chocou contra a parede de rocha improvisada num turbilhão de chamas dançantes que iluminaram todo o campo de batalha com um milhão de centelhas; Sakura e eu nos agachamos para nos protegermos da onda de impacto que se sucedeu. Frente à frente, travamos nossos olhares para discutir nossa estratégia. Sem dizer-lhe uma única palavra, ergui dois dos meus dedos e ela assentiu.

Nós saltamos em direções opostas em seguida. Sakura pousou vários metros adiante, na trajetória de outro dos ciclones de fogo. Vi-a tomar fôlego e, sem esperar mais — enquanto o redemoinho de chamas se acercava rapidamente —, saltou para cima e para frente e descarregou seu punho no solo assim que voltou a tocá-lo, num golpe tão poderoso que reverberou por todo o terreno, criando rachaduras imensas que desnivelaram o chão.

Em seguida, ela apoiou ambas as mãos em cada uma das extremidades da maior rachadura que seu soco criou e, abaixando-se, forçou os braços em cada uma das bordas a fim de alargá-la, fincando seus pés no solo. Podia sentir, mesmo do ponto onde a observava, a distensão dos músculos dos seus braços ao forçarem a terra a se apartar. Mesmo com sua força sobre-humana, era um feito e tanto.

Ouvia seu brado de determinação conforme a terra, estremecendo sob os seus pés, cedia pouco a pouco e o veio central daquela teia de rachaduras se alargava, criando uma fenda de mais ou menos três braças de comprimento; no fim, o que importava era sua profundidade e Sakura sabia disso.

Rochas segmentadas e terra eram rapidamente engolidas pela fenda que seus braços abriam e, bem a tempo, a fissura se alastrou até o ciclone de fogo, desestabilizando-o. Empregando ainda mais poder, Sakura forçou a brecha a se alargar ainda mais e, por fim, a terra cedeu sob a sua vontade e abriu-se com um estrondo numa vala com a largura e a fundura certa, engolindo o ciclone de fogo, que se desfez num último rodopio de chamas brilhantes e alaranjadas antes que despencasse na vala que ela criou.

Sakura curvou-se sobre o próprio corpo então, apoiando os braços trêmulos pelo esforço nas coxas nuas, para recuperar o fôlego. Isso deixava os outros dois para mim; perfeito. Olhei bem para os dois ciclones de fogo restantes, gigantescas colunas de vento envoltas em fogo.

Sorri arrogante e preparei o chakra necessário em ambos os meus olhos. Primeiro, a aura violeta do meu Susano’o me cobriu, em seguida o torso da figura humanóide tomou forma, revestido por sua armadura de Tengu. Avancei pelo campo de batalha, correndo na direção de ambos os ciclones cujas trajetórias não demoraram a se intercalar.

O terceiro braço do meu Susano’o se adiantou à minha frente, estendido com sua palma voltada para cima, nela uma pérola negra chamejante cintilava. Apenas um elemento combatia uma técnica que mesclava fogo e vento, e, bem, eu tinha a carta certa na minha manga nesse caso.

Enton: Yasaka no Magatama! — murmurei assim que me coloquei entre os dois ciclones, virando meu corpo (e meu Susano’o) assim que os projéteis de fogo negro foram atirados em ambas as colunas simultaneamente.

Meu Amaterasu subiu através de ambos os funis e cobriu-os com seu negrume e seu calor incomparável, consumindo até mesmo o fogo alaranjado da técnica de Ichiro e também todo o ar quente que circulava dentro dos ciclones. Eles se dispersaram num piscar de olhos, numa chuva de pequeninas chamas negras que caíram sobre a grama seca de inverno.

Usei meu olho direito para controlá-las e impedir que se alastrassem num incêndio e logo a seguir os anéis de fogo brilhante que nos prendiam se desfizeram. Ichiro e Kazuhiko estavam lado a lado, em meio à tênue fumaça acre que se elevava do campo de batalha.

— Enfim, um pequeno vislumbre do Amaterasu! — Ichiro comemorou a aparição de minha técnica com um sorriso maníaco. — Eu sempre quis ver esse jutsu em ação! As chamas que carregam consigo o calor do sol, de fato impressionante.

— Não há nada de impressionante na técnica que lhe ceifará a vida — murmurei friamente para o homem e ele me respondeu com um sorriso arrogante.

— Heh, estou ansioso para vê-lo tentar.

Sakura retornou para o meu lado nesse instante e encarou-os com determinação. A batalha não havia terminado e eu suspeitava que estava prestes a se tornar ainda mais séria. Fato que se confirmou na próxima fala de Ichiro:

— Chega de pegar leve com eles, Kazuhiko!

— Eu estava esperando que você dissesse isso — seu parceiro ecoou com evidente entusiasmo.

Posicionei-me o mais perto possível de Sakura, que já havia voltado à sua típica posição defensiva e aguardava como eu, suspeitosamente, o próximo movimento de ambos.

Sem mais delongas, Ichiro levou as mãos até o seu manto escarlate e o descartou, revelando a couraça que protegia seu peito, uma espécie de armadura. Kazuhiko fez o mesmo, acredito que para ter mais liberdade durante a movimentação.

— Não abaixe a guarda — disse à Sakura, que assentiu.

— Eu sei, Sasuke-kun.

No entanto, eu fiz o primeiro movimento. Foquei meu olho esquerdo em ambos, fechando o direito por reflexo.

Minhas chamas negras do Amaterasu, contudo, explodiram numa parede de rocha amalgamada que Ichiro construiu em apenas alguns milésimos de segundos. Tão rápido assim?!, cerrei meus dentes, impressionado com a velocidade com a qual ele combinou duas naturezas de chakra e formou selos. Ninguém poderia ser capaz de fazer isso, supostamente, não na velocidade necessária para evitar meu Amaterasu.

Ichiro e Kazuhiko ressurgiram de detrás da parede que queimava, de lados opostos, e se dividiram no campo de batalha ao correrem na nossa direção,convergindo suas trajetórias assim que se aproximaram o bastante.

Sakura e eu também reagimos; fui à frente, formando uma lâmina de Chidori Eisō para substituir minha Kusanagi ausente. Ela chiou na minha mão esquerda, tão brilhante quanto a cauda de um relâmpago. Preparei-me para colidir com Ichiro, já que Kazuhiko havia desaparecido do meu campo de visão, e ergui minha lâmina cintilante, segurando-a entre as duas mãos.

Pouco antes de coligirmos, entretanto, deslizei de lado sobre o gramado, manuseando a espada em minhas mãos, e girei meu corpo, mirando-o bem no peito de Ichiro. Mas ele esquivou no último instante, evitando-a por um triz. Foi nesse momento que aproveitei uma brecha para tentar chutá-lo; ergui minha perna direita e dobrei meu joelho, plantando meu pé com força no seu queixo assim que ele intentou se endireitar.

Eu não desperdicei a oportunidade e investi de lâmina em riste, perfurando seu peito com ela. No entanto, caí numa armadilha assim que o corpo dele se desintegrou numa pilha de rochas aos meus pés. Um Bushin!, concluí com exasperação correndo meu Sharingan pelos arredores a fim de encontrá-lo.

Meu Rinnegan salvou-me então; Ichiro surgiu pela minha retaguarda, de punho cerrado e erguido. Seus olhos faiscaram quando cruzaram com os meus. Foi nesse momento que foquei meu Rinnegan num ponto às suas costas e usei minha técnica Amenotejikara para escapar.

Em um instante, eu havia trocado de lugar e os papeis haviam se invertido: agora ele era um alvo fácil e desprotegido para mim, e eu não desperdicei a oportunidade. Com minha lâmina desfeita, estiquei meus dedos para que o Chidori corresse livremente pelo meu braço até o meu punho e apontei esse mesmo punho para as suas costas, mas, mais uma vez, ele me surpreendeu com a velocidade com que moldou e combinou duas naturezas distintas de chakra: terra e fogo.

Outra vez, sua parede de rocha amalgamada bloqueou meu ataque, protegendo suas costas, e meu punho acabou colidindo contra ela numa explosão luminescente, despedaçando um parte dela. Foi o bastante para ele fugir do meu ataque e se distanciar de mim a fim de reavaliar sua estratégia.

A poucos metros de nós, Sakura lutava contra Kazuhiko num corpo a corpo desfavorável para ela, que não conseguia acompanhar a velocidade impressionante dele, embora resistisse e se defendesse bem da maior parte dos golpes dele. Mesmo sem ter dōjutsu algum lhe auxiliando, sua capacidade de saber ler os movimentos do adversário para determinar as trajetórias dos ataques era extraordinária e certamente fruto do treinamento com a Hokage.

Em um movimento inesperado, entretanto, Kazuhiko se afastou com um salto, rodopiando seu corpo em pleno ar, e apenas meu Sharingan poderia ter detectado o chakra que se acumulou nos seus pulmões:

Fūton: Shinkūka! — ele murmurou um pouco antes que sua boca soprasse uma poderosa rajada de vento cortante e explosiva que se expandiu para toda a área em torno dela.

— Sakura! — gritei seu nome e movi-me um passo no intuito de alcançá-la, mas Ichiro saltou e bloqueou meu caminho.

As lâminas de ar comprimido se agitaram todas contra Sakura, ferindo-a em diversas partes do corpo com lacerações profundas; seu sangue respingou sobre a grama numa sucessão de borrifos desiguais enquanto seus braços, pernas e até mesmo torso eram cortados sem piedade.

Entretanto, ela não fez nenhuma tentativa para se proteger ou para desviar de qualquer uma delas, agüentando cada ferimento com um silêncio que me agoniava. Eu sabia que sua resistência contra a dor era outra característica adquirida após anos de treinamento e batalhas, mas nunca havia imaginado a sua real extensão.

No mesmo compasso em que era ferida, seu jutsu de regeneração fechava cada uma das lacerações sem que ela sequer vacilasse. Kazuhiko pousou alguns metros adiante, apoiando uma mão no chão ao deslizar sobre o gramado e Sakura o perseguiu então, incansável, recuando um punho na altura do rosto assim que se preparou para abordá-lo.

Seus ferimentos estavam todos curados em um piscar de olhos e seu punho carregado de chakra não vacilou quando ela saltou por cima de Kazuhiko, escolhendo uma abordagem aérea para ampliar o alcance e o dano de sua força. Acuado por perceber que seu ataque não a havia detido, vi Kazuhiko evadir do golpe de Sakura por um triz com uma série de cambalhotas, desestabilizando ao pousar no último segundo devido ao impacto do soco de Sakura.

Quanto à Sakura... Bem, ela colidiu com o chão e o esmigalhou, como esperado dela.

Ela podia se virar sem mim, é claro que eu sabia disso. Mas isso não apagava o fato de que eu me sentia desconfortável ao vê-la se deixar ser ferida desse modo, mesmo que no fim ela se curasse de cada um dos ferimentos que lhe eram infligidos (sem sequer precisar fazer selos de mão).

— Esqueça-a, Uchiha! — Ichiro murmurou para mim. — Você é meu oponente agora! E é melhor que se concentre na nossa luta.

— O que o faz pensar que não estou focado o bastante? — devolvi-lhe com frieza e ele franziu a boca, descontente, mas eu não parei: — Eu sei o que verdadeiramente pretendem, sei a respeito do golpe de estado e sei que tentarão assassinar o Lorde Feudal na primeira oportunidade.

— E daí? — ele abriu um sorriso altivo. — Você realmente acredita que está nos mostrando todo o seu verdadeiro potencial nesse momento? Acredita que me vencerá se contendo dessa forma? Quem está subestimando quem, Uchiha Sasuke?

— Não seja tão arrogante — adverti-o com um sentimento de ultraje ardendo no meu orgulho. — E não ouse me insultar, seria a única coisa que você faria, eu garanto.

Ichiro pareceu fazer pouco caso do meu tom intimidante ou ele realmente tinha um motivo para superestimar a si próprio. Fiquei preocupado que a segunda opção fosse mais do que uma mera especulação minha. Descontente, franzi o cenho e levei minha mão até o fecho do meu manto, abrindo-o.

Numa coisa ele estava certo: chega de me conter, se eles desejavam testemunhar a verdadeira extensão do meu poder... Bem, eu não os negaria.

Ao descartar meu manto, para ter mais liberdade durante a movimentação, formei mais uma vez uma lâmina de Chidori Eisō no meu punho esquerdo. Depois que Sakura usou seu ninjutsu na minha prótese, eu me sentia bem mais à vontade para usá-la. O desconforto havia desaparecido e meus canais de chakra operavam quase como se aquele braço fosse realmente meu.

— Quer conhecer a verdadeira extensão do poder de um Uchiha? — tentei-o com altivez. — Do meu poder?! — elevei meu tom de voz e investi contra ele, correndo com minha lâmina brilhando entre as minhas mãos.

Ichiro abriu-me um sorriso cheio de dentes e aprovou minha atitude:

— Sim! — rugiu ao fazer alguns selos e moldar seu chakra numa velocidade espantosa mais uma vez.

O chakra explodiu na boca de Ichiro na forma de uma imensa bola de rocha derretida:

Yōton: Kagandan!

Sua boca escancarada cuspiu a bola de rocha fundida diretamente para mim. Sem receios, ampliei minha velocidade, indo na direção do imenso projétil e então ergui meu braço que portava a lâmina, abaixando meu corpo na mesma proporção. Num último momento, foquei a lâmina de Chidori com meu olho esquerdo e cobri-a com as chamas do Amaterasu.

Foi com ela que cortei o projétil de Ichiro ao meio, um corte limpo e perfeito de baixo para cima que divisou a imensa bala de rocha fundida, separando-a para que meu corpo passasse através dela sem dificuldade. Continuei a avançar até Ichiro e, valendo-me do meu Rinnegan mais uma vez, usei o Amenotejikara para me mover até o seu corpo.

Segurei minha lâmina de Chidori com ambas as mãos e a empunhei totalmente na horizontal; uma brisa suave perpassou através do meu corpo e minha espada de Chidori envolta no fogo negro do Amaterasu atravessou o peito de Ichiro numa única investida.

Ele abriu a boca num arfar silencioso e me olhou nos olhos quando murmurei a próxima palavra:

— Acabou.

E, então, depois de um segundo haver se passado, um único segundo silencioso e expectante, Ichiro fez a última coisa que eu esperava que fizesse.

Ele atirou a cabeça para trás e riu.

⊱❊⊰

Ho no Kuni (País do Fogo), três anos antes.

Quando o meu veredicto foi anunciado alegremente por Kakashi, eu confesso que senti um alívio tão grande como há semanas não havia sentido.

Talvez, desde a minha batalha com Naruto no Vale do Fim, quando percebi que havia esperança para mim e quando Sakura me perdoou pelos meus erros, eu não tivesse voltado a sentir aquela chama suave ardendo no meu peito... Esperança.

— Por unanimidade — dizia o Hokage atual de Konoha com brandura —, ficou acordado que o réu, Uchiha Sasuke de Konohagakure no Sato, será inocentado de todas as acusações anteriormente mencionadas. O réu não só terá direito à liberdade, como também o direito de ser reintegrado à sua vila natal como Shinobi em exercício, podendo assim voltar a ser encarregado de missões que beneficiem o País do Fogo e os seus demais países aliados.

Ao término, quando levantou os olhos do pergaminho que segurava para me encarar, Kakashi acrescentou um tom mais baixo:

— Parabéns, Sasuke. — E seu sorriso não poderia ser escondido, mesmo com aquela máscara idiota no caminho.

O rebuliço, entretanto, que a leitura do meu veredicto causou, não poderia ser esquecido. Os demais Kages, sentados à tribuna, estavam silenciosos e apáticos, entretanto. E quando olhei Gaara, ele abriu um sorriso pequeno para mim e assentiu. Num estalo, lembrei-me de algo.

Os meus olhos já não estão mais fechados, eu queria lhe dizer em voz alta, mas acredito que ele tenha me entendido.

Quando um Shinobi se aproximou de mim para retirar o dispositivo do meu pulso que restringia o meu chakra, eu suspirei de alívio.

Naruto e Sakura me abordaram então, demandando a minha completa atenção. Primeiro foi Naruto, que me ofereceu um sorriso caloroso, ele praticamente tremia de entusiasmo num estado evidente de esfuzia e alívio.

— Eu te disse que conseguiríamos te inocentar, Sasuke!

— É, você disse, dobe — concordei com um meio sorriso e em seguida fomos ambos puxados abruptamente pela gola das nossas blusas por Sakura, que tremia entre soluços.

Ela passou cada um dos seus braços ao redor de mim e de Naruto e nos apertou em um abraço quase sufocante. Fiquei preocupado, mas só até notar que havia me equivocado: seus tremores não eram devido a soluços, mas sim devido ao seu riso contagiante.

— Nós conseguimos! Conseguimos, Naruto, Sasuke-kun... Nós conseguimos! — repetia sem cessar e Naruto concordou, juntando-se a ela com uma gargalhada espontânea.

Concordei com aqueles dois com um típico resmungo enquanto eles riam e continuavam a me sacudir com os tremores dos seus ombros. Nós estávamos juntos outra vez, havíamos superado mais um obstáculo. E parecia que nada seria capaz de abalar a felicidade dos meus companheiros agora — ou a minha própria.

Ora, admito que até mesmo eu estava sendo contagiado pela alegria de ambos; meu coração estava leve como uma pluma e a minha alma se sentia esperançosa como havia muito não era capaz de se sentir.

— Precisamos comemorar, Sasuke-teme, Sakura-chan! — declarou Naruto subitamente ao se afastar tanto de mim quanto de Sakura. — E isso pede uma visita ao Ichiraku, ‘ttebayo!

— Certo, Naruto, você venceu — Sakura anuiu com um sorriso delicado e Naruto disparou para convidar o Kakashi para nos acompanhar.

Sakura e eu nos entreolhamos e assentimos um para o outro antes de seguirmos na direção de Naruto e de Kakashi, lado a lado.


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Notas finais do capítulo

E estamos mais um capítulo perto do fim! Não tenho certeza se a ação termina no próximo ou se durará mais dois capítulos ou mais um capítulo e meio, vai depender da minha imaginação.
...
Amanhã O Peregrino completa 1 aninho :v E a one-shot especial com a perspectiva da Rainha já está postada! Eis o link:
https://fanfiction.com.br/historia/664919/AMissao/
Deem uma passadinha lá e comentem! ;)
...
Fantasminhas, a Fanfic está se aproximando do fim, manifestem-se agora ou se calem para sempre e.e 492 leitores nos acompanhamentos e eu conheço pouquíssimos leitores, pode isso? D:
...
No próximo capítulo, as coisas ficam feias :v Mas depois será só amorzinho, prometo, tá? HUAHUAHUAHUA
Fuuuuui assistir a Supergirl agora! ;*
Até o próximo!
...
P.S: sobre a suposta novidade amanhã de Naruto, dependendo do que for já adianto: NÃO. ESTOU. INTERESSADA :v
Deixeeeeem Naruto acabar, por favor! Ç_Ç



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