Corona Radiata escrita por Skarmory


Capítulo 2
Half a world away


Notas iniciais do capítulo

Obrigada por estar lendo a fanfic, comentários são muito bem-vindos e eu trato meus leitores muitíssimo bem, desde que eles saiam das profundezas :(
Agradecimento especial ao meu personal "você consegue fazer um capítulo melhor".



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/574865/chapter/2

— Depois você me ajuda com a lição de inglês, Matt?

— Se não der hoje, amanhã eu te ajudo, Chris.

— E como é que eu vou saber?

É verdade.

— Fique com o walkie-talkie na janela!

Abro o portão, mas a porta da frente está fechada, então eu bato.

— Mãe, sou eu!

Mamãe abre a porta, e ela está com a mesma cara do dia em que papai morreu.

E tem uma mulher com cara de árabe na sala.

— Olá Matthew — diz ela, com um inglês puxado pro russo.

É, definitivamente árabe.

— Filho — diz mamãe — Você poderia ficar no seu quarto ouvindo música ou usar o piano de seu pai até que eu termine de conversar com Pardis?

— Mas a senhora não tem nenhuma amiga chamada TARDIS.

Ela começa a rir.

— Não é a nave do Doutor. É PArdis. Com P.

— Tudo bem.

Vou pro quarto e começo a tocar qualquer coisa.

_________❄_________

Alguém dá as batidas secretas na porta.

— Mamãe?

— Filho, precisamos conversar.

Estranho. Ela nunca me chama de filho, só sai berrando meu nome completo. Papai usava Novafala e mamãe se refere a mim carinhosamente quando algo dá merda.

Abro a porta do quarto e mamãe está com cara de choro. Nós dois descemos as escadas e nos sentamos na mesa da cozinha, um de frente para o outro.

— Você sabia que o dinheiro que o seu pai nos deixou estava para acabar.

— Eu sei, mas isso não é motivo suficiente pra esse tom de conversa, e nesse lugar ainda por cima.

Ela respira fundo.

— Você acreditava nas histórias dos Bellamy, principalmente do seu avô?

— Eu era pequeno, não lembro bem.

Ela sorri e começa a contar:

— Há muito, muito tempo atrás, existia um ancestral nosso chamado Alexander Brian Bellamy. A Grã-Bretanha era aliada de um distrito russo comandado pela amante de um czar. Como nossos governantes sabiam como era o exército russo, mandaram só a ralé do exército pra lá. E o Alexander era o menos imprestável da ralé. Como ele era um bom estrategista, nomearam ele general enquanto estivesse lá. Todos, inclusive ele, foram para lá sabendo que morreriam. Mas o czar mandou só a ralé pra guerra também, porque na época aquele território não trazia vantagens pra Rússia. Então, sob comando do Alexander, a Inglaterra e o exército de Anastásia Ingrays venceram os russos, e a independência do Reino de Ingrays foi declarada. Como Anastásia morreu no meio da batalha, a filha dela com nome de estrela foi nomeada rainha. E quando o Alexander estava pra voltar pra Inglaterra, a irmã da nova rainha pediu pra ir com ele. Os dois se apaixonaram e deram continuidade aos Bellamy.

Essa história daria um puta livro bom.

— Qual o nome delas?

— A que casou com o Alexander se chamava Kátia, e eu não lembro o nome da rainha. Ela tinha dois nomes de estrela; um dos nomes da Spica e Betel alguma coisa.

— Arista Betelgeuse — afirmo.

Caralho, que nome lindo.

— Isso mesmo — diz mamãe, sorrindo. — Em Ingrays existem muitas pinturas do Alexander e da Kátia, mas aqui não há nenhuma.

— Qual é a da TARDIS?

Ela ri.

— Ela trabalha para a rainha de Ingrays.

— Legal.

— O que ela veio fazer aqui não é nada legal. Como estamos falidos, ela veio em nome da rainha pra nos oferecer moradia em Corona Radiata.

— Assim, de graça?

— Não. Você vai ter que casar com a futura rainha. Não sobrou ninguém com sangue Ingrays dentre os países amigos deles, então eles estão desesperados, porque a rainha só teve um filho homem, e lá não podem existir reis, só rainhas. O país ficou aliviado depois que o príncipe Bória e a princesa Chelsea tiveram uma filha, mas voltaram a ficar desesperados quando viram que não tinha ninguém pra casar com ela. Eles estão dispostos a qualquer coisa para que você se case com ela.

É muita coisa pra digerir em muito pouco tempo.

— Mas eu só tenho doze anos.

— E ela só tem seis.

— QUE DOENTES! QUERENDO QUE UMA MENINA DE SEIS ANOS SE CASE POR OBRIGAÇÃO! EU NÃO VOU CASAR COM UMA MENINA DE SEIS ANOS!

— Vocês não vão casar agora. A rainha não é tão maluca. Ela quer que você vá lá pra conhecê-la. Seria melhor se vocês fossem amigos. De acordo com Pardis, a biblioteca do Castelo de Pedra é enorme.

— Eu tenho outra opção?

— Nos mudarmos para Leeds e fugirmos da Pardis pelo resto da vida.

Até me casar por obrigação parece mais agradável do que ir para Leeds.

Uma biblioteca enorme, deve ter um piano bom, me mudar de escola...

Parece agradável se eu esquecer o casamento.

Me levanto da mesa e volto para meu quarto correndo. Olho pra porta, que tem uma frase do Orwell escrita.

“Ortodoxia é inconsciência”

(Imaginação do Matthew)

Uma mulher loura, alta e esguia, vestindo um macacão azul, me entrega numa bandeja uma xícara de Café Victory e uma tigela com ração de chocolate.

— Matthew — diz ela com voz de locutora de rádio — Não esqueça que nós precisamos fazer Nosso Dever Para Com O Reino hoje à noite.

(Fim da imaginação do Matthew)

Winston Smith, agora eu sei como você se sente.

Entro no quarto e pego meu walkie-talkie.

— Rouxinol chamando Canário; responda, Canário! Câmbio.

— Você vai fazer minha lição de inglês? Câmbio.

— É uma emergência nível Karen Carpenter, câmbio.

— Quem morreu? Câmbio.

— Meu livre arbítrio. Câmbio.

— Não sei o que é livre arbítrio. Câmbio.

Como ele é burro.

— Eu vou me mudar. Câmbio.

— Pra onde? Câmbio.

— Corona Radiata. Câmbio.

— Que diabos é isso? Câmbio.

— Fica em Ingrays, câmbio.

— Que fica aonde? Câmbio,

— Do lado da Rússia. Câmbio.

— HAHAHAHAHA, VAI PRA UNIÃO SOVIÉTICA!

Desligo o walkie-talkie. Não estou a fim de explicar para o projeto de boçal que Ingrays não é parte da URSS.

Eu ainda devo ter um livro que vovô me deu que falava sobre Ingrays. Procuro por ele e voilà. Ingrays Para Leigos.

Eu não lembrava que na capa desse livro tinha um dinossauro azul como o meu. Olho pra etiqueta do Sr. Meebles.

“REZNIK versão 200 Anos de Ingrays. Feito em Corona Radiata pela Cortini”

Então o senhor sabia de tudo, vovô.

Desço com o Sr. Meebles. Mamãe está no telefone.

— Vou pra casa do vovô, até o jantar!

Pego minha bicicleta e saio correndo até a casa do vovô, com uma mão no guidão e a outra segurando o Sr. Meebles.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!