Silver Snow ESPECIAL DE NATAL DO TAP vol.2 escrita por Matheus Henrique Martins
Notas iniciais do capítulo
Do Capitulo 1 até o 22, o Especial de Natal inteiro em si será narrado pelo personagem Fernando Matos
- Eu só vou dizer uma vez... – Anna esta andando na nossa frente, segurando uma prancheta na mão e nos olhando por trás dos óculos. – Tentem não voltar dessa missão de mãos vazias, entenderam bocós?
Respiro fundo e tento não bocejar na frente de Anna, nossa chefa. Ela esta falando com um tom sério demais e tenho que reconhecer que às vezes ela é uma boa atriz. Esta colocando tanto drama em uma situação tão simples.
Qual é, esta é só mais uma missão, o que poderia ter de diferente das outras dessa vez?
Pelo canto do olho vejo Andressa revirar os olhos e pressiono meus lábios com firmeza para não rir. Do nosso trio, Eduardo é o único que esta olhando seriamente para ela, prestando atenção em tudo o que ela diz. Talvez prestando atenção demais.
- Claro que entendemos, Anna – Andressa sorri ironicamente para ela. – Mas com ‘não voltar de mãos vazias’, você quer que voltemos com a cabeça da Bruxa?
Anna suspira em resposta e Andressa não se contem ao dar uma risada de deboche.
A missão é simples. Temos que matar uma Bruxa. Não seria muito fácil realizar essa tarefa se fossemos caçadores que usam apenas armas. Mas não somos.
Tanto eu, como Andressa e Eduardo nascemos com habilidades extras que nos tornam os melhores caçadores do The Alphas Pack, em La Iglesia.
Andressa é filha de um casal dos cinco mais antigos caçadores do clã, por isso luta tão bem. Tem a habilidade de se tornar invisível, mas não a desperdiça o tempo todo em missões fracas.
Eduardo não é nascido daqui e foi encontrado por Anna aos doze anos. Por ter uma habilidade tão boa que chega a ser invejada (a de manipular os quatro elementos) sempre achei que ele seria difícil de se encaixar aqui. Mas hoje ele é um dos mais admirados e respeitados membros do nosso clã.
E faz parte do nosso Pack. É o nosso líder, mas não nosso dono.
E entre eles tem eu. Sou um dos muitos órfãos deixados para trás aqui em La Iglesia e a maior parte da minha infância foi assim. Nunca tive uma figura paterna para olhar por mim, sempre foi eu por mim. Nosso Pack é unido, mas somos responsáveis por nossos atos. Eu sou responsável por meus próprios atos. A única coisa boa em mim, que não sei dizer se é um dom ou uma maldição, é que todas as noites eu me transformo em um animal.
Quando pequeno, nunca consegui controlar a forma do animal que eu queria. Porém hoje, agora sou capaz e compreendo que só preciso visualizar a forma do animal mentalmente segundos antes da transmutação acontecer.
- Vocês garotos deveriam tomar cuidado – Anna me arranca de meus devaneios. – Não é apenas de uma Bruxa que se trata.
- Como assim? – Eduardo questiona. – Tem alguma informação que deixou de nos contar?
Anna assenti lentamente e estala os dedos ruidosamente. Não demora muito para Layane entrar em sua sala com uma pasta na mão esquerda. Ela a entrega a Anna e se recosta na janela, afagando um cacho ruivo de seu cabelo.
- O nome da Bruxa é Denise Lawren – ela abre um arquivo com uma foto de uma mulher de cabelo castanho e olhos verdes. – Ela faz parte do clã Fiorelli, que se encontrava em Salem oitenta anos antes da grande caça as Bruxas.
- O nome dela é Denise? – Andressa bufa. – Com um nome desses, eu preferia ser atirada na fogueira.
- Andressa – o tom de Eduardo é duro. – Foca no assunto, por favor.
Ela o encara e cruza os braços, fingindo que não se importa, mas não demoro a ver uma centelha de magoa em seu olhar.
- Continuando – Anna limpa a garganta. – Denise tem 22 anos e é uma Bruxa experiente com habilidades impressionantes – o olhar dela fica frio. – Porém, as usa de forma muito errática.
Sinto uma brisa congelante entrar pela janela e cruzo os braços para me aquecer.
- O que ela fez? – pergunto.
- Queimou a casa com duas irmãs e os pais dentro – ela diz de uma vez. – Depois enfeitiçou a cidade toda para pensarem que foi um acidente e que ela morreu também.
- Deixe-me adivinhar – Eduardo riu sem humor. – Ela fugiu e trocou de nome?
Anna apenas sorri de orelha a orelha. Layane a cutuca e ela se ajeita.
- Ah, sim – ela parece ter ficado distraída por um segundo. – Foi exatamente isso que ela fez.
- Perfeita aberração – Andressa murmura. – Qual é o próximo passo dessa Vadia Sociopata?
- Acreditamos que ela pulou para uma cidadezinha esquecida do Arizona – Layane responde.
- Que cidadezinha? – pergunto.
- Vallywood – ela me olha nos olhos ao responder.
O nome faz meus braços eriçarem e eu não sei exatamente por quê. Encaro Layane de volta, mas ela desvia o olhar rapidamente, sabendo disfarçar como ninguém.
- O que ela quer por lá? – Eduardo pergunta em um tom um pouco alto demais.
Anna dá de ombros.
- Não sei exatamente – ela confessa. – Mas conforme estamos investigando, tem um grande rastro de magia por toda a beira da cidade. Desconfiamos que ela esteja tramando algo tão grande como dá ultima vez.
- Uma Bruxa perversa e completamente sociopata – dou um sorriso e junto minhas mãos, estralando meus dedos. – Mal posso esperar para pegarmos a estrada.
- Não tão rápido, mocinho – Anna bate na mesa, impaciente.
- O que? – dou uma olhadela rápida para ela. – Qual o problema? Por que não podemos ir logo de uma vez?
Anna suspira e troca um olhar com Layane. Esta, por sua vez, faz que sim com a cabeça e levanta o queixo em resposta.
- Você prometeu, Anna – ela sussurra.
- Do que ela esta falando? – Eduardo pergunta.
A Chefa nos olha de volta, parecendo muito pouco confortável.
- Layane acha que dou muitas missões a vocês...
- Layane tem certeza – ela cita a si mesma em terceira pessoa.
Anna revira os olhos.
- Layane tem certeza – ela sibila. – Que estou dando muitas missões a vocês três. E ignorando o resto dos Packs que tem por aqui.
Não demora muito para que reagimos a isso. Eduardo faz um barulho dentro da garganta e Andressa solta um palavrão baixinho, cutucando o chão de madeira com sua bota.
Eu trinco os dentes audivelmente.
- Ah, jura?
Layane me fuzila com os olhos.
- Gente, não comecem – Anna recompõe a postura. – É só uma sugestão.
- Sugestão, sei – Andressa caçoa. – Por que ao invés de ficar dando pitaco, Layane, por que você simplesmente não fica quieta no seu lugar?
- Andressa Bertoni – o tom de Anna aumenta gradativamente. – Não faça com que eu perca o pouco de respeito que tenho pela filha de um dos antigos caçadores!
- Então não fique do lado daqueles invejosos!
- Eles não são invejosos – Layane defende.
- Ah, não mesmo não é? – Andressa bufa. – Não vou nem falar da Julia e do quanto àquela garota é totalmente falsa!
- Andressa...
- Ela esta certa – Eduardo se interpõe. – E ainda tem aquele Tomi, ridículo, que se acha o tal.
Não fico surpreso ao ver que Eduardo perdeu a paciência. Ele e Tomi não se odeiam apenas porque o primeiro de nome é o mesmo que o dele. Mas por terem vindo do mesmo lugar.
- É, essa novatos são irritantes – comento.
- Eles não são novatos – Anna retruca. – Estão aqui a dois anos, quando recomeçamos o programa de procura por outros caçadores.
- É, e chegamos muito antes disso – Andressa suspira. – Eu inclusive sempre estive aqui.
- Isso não importa – Anna cruza os braços. – O que importa é que nós precisamos que os boatos de que damos preferencia ao trio para dura – ela nos fuzila com o olhar. – Sejam completamente calados.
- Mas é a verdade – solto uma risada involuntária. – Você nos dá preferencia.
Anna me encara com desdém e Layane atrás dela bate o pé um pouco impaciente.
- Temos que dissipar os boatos, - Anna volta a falar. – Por isso tomamos uma decisão.
- Tomaram? – Eduardo questiona e olha de uma para outra. – Vão nos tirar da missão?
- Claro que não! – ela guincha, mas decide se acalmar. – Mas vou fazer uma pequena alteração – ela sorri de leve.
- Alteração? – questiono. – Que tipo de alteração?
Ela parece prestes a nos dizer, mas então ajeita seus óculos e olha algo atrás de nós. Nos viramos ao mesmo tempo e estamos encarando um garoto muito familiar de cabelo loiro.
- E aí, pessoal – Felipe sorri lascivamente. – Pequena Alteração se apresentando aqui.
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