Cornerstone escrita por Moonlight


Capítulo 1
"No, you can call me her name".


Notas iniciais do capítulo

Olá amiguinhooos!! Nova One shot pra vocês!! Eu sempre quis fazer uma one com essa música, e finalmente consegui. Seu que ela pode não estar muito boa, mas eu me esforçei muito. Além do mais, e minha one mais longa ever. Espero que gostem :D
Ps: é recomendável dar uma olhadinha na música, pra sacarem mais, mas não é obrigado nem nada. http://letras.mus.br/arctic-monkeys/1519271/



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/574836/chapter/1

Katniss?!

Era noite quando eu passei frente à Battleship e jurei que a vi lá. Era Katniss Everdeen, a minha Katniss, e eu a reconheceria de longe: Olhos cinzentos, duros feito diamante, cabelos negros com uma trança de lado, a mesma velha calça jeans surrada.

Me preparei por semanas para encontrar as palavras certas e dizer à ela. Explicar, ou no meu caso, perguntar. Katniss sumiu de uma semana para a outra, e eu realmente não sei se foi por minha culpa. Puxei por cabeça memórias e memórias de tudo o que vivemos juntos, porém nada de mal à Katniss estava em meio às lembranças. Minhas lembranças e katniss nunca, jamais, poderiam ser associadas a algo ruim, de fato.

— O Battleship!! — Gritou Katniss, enquanto segurava minha mão, observando pela fachada transparente do local onde as pessoas se divertiam em jogos de fliperama.

— Sim... Desculpa, eu me perdi. — Eu estava perdido inteiramente nos olhos de Katniss, e na maneira com que seus lábios se moviam enquanto ela provava sorvete de canela, quando abruptamente parou em frente ao velho salão de jogos. — O que tem o Battleship?

— Eu jurava que ele havia fechado! Passei anos da minha infância jogando arco e flecha aqui, e ando há meses procurando por esse lugar. — Katniss não tirou os olhos do local em nenhuma vez durante a sentença. Eles brilhavam, e o sorvete de canela derretia e sujava sua mão.

— Ah sim, — Continuo, olhando para seu sorriso infantil ao redescobrir o Battleship. — Eles reabriram semana retrasada. Depois de anos fazendo campanhas para arrecadar dinheiro e salvar o lugar já morto. — Comentei, sem muita importância.

— Aposto que não consegue acertar alvos tão bem quanto eu. — Ela sorri desafiadora, jogando a casquinha do sorvete de canela numa lixeira próxima a nós.

— Oh, Katniss Everdeen, posso não ser muito bom com arco e flecha, mas você realmente nunca me viu no Martelo de Força. — Sorri. Katniss novamente me puxou pela mão e naquela noite, gastamos duzentos dólares em fichas. Perdemos na maioria dos jogos. Ganhamos nosso primeiro beijo.

Respirei fundo, tentando manter meu coração calmo, secando minhas mãos suadas no jeans, porque eu sei o quanto Katniss odiava minhas mãos. Katniss adorava meus olhos, meus cabelos, e meu sorriso. Katniss adorava a minha cicatriz no ombro esquerdo, e toda a história engraçada de como adquiri essa cicatriz com uns copos de vodca e uma bicicleta na pior noite da minha adolescência.

Entrei no Battleship, e segui na direção dela. Ela estava de costas, comendo algodão doce, sobre a luz vermelha da saída de emergência. Cheguei próximo a ela. Cada vez mais próximo, sentindo o cheiro do que deve ser o seu perfume novo, quase irreconhecível para mim. Ótimo, eu esqueci seu cheiro. O receio de esquecer mais qualquer detalhe de Katniss me fez ter a coragem o suficiente de cutucar seu ombro, a fazendo virar em minha direção.

— Katniss?! — Eu disse.

A garota de trança longa e cabelos negros virou na minha direção. Olhos azuis, como um rio cristalino, claros como o céu.

Não era minha Katniss.

Toda a memória do Battleship, nosso primeiro beijo, e todas as quintas que saíamos do trabalho e vínhamos para cá (ela, com o uniforme do seu escritório de advocacia, e eu, com um pouco de tinta na gravata enquanto revessava entre meus quadros e meu trabalho como arquiteto) foi arruinado.

— Não, Sandra. — Me respondeu a sósia, ainda com o algodão doce na mão.

Sandra sorria de maneira contagiante. Notei bem, com um pouco mais de sensatez, que ela era um pouco menor que Katniss, e um pouco mais magra. Não tinha as curvas da minha ex-noiva, ou ainda noiva. Desculpei-me logo em seguida, a deixando em paz, e ela simpaticamente disse que não tinha problema. Segurou no meu pulso e me ofereceu um pouco de algodão doce, o que me fez sorrir. Katniss faria exatamente a mesma coisa, pensei.

— Qual o seu nome? — Me perguntou.

— Peeta Mellark. — Respondi, ainda meio desapontado. Katniss ainda estava desaparecida. Ainda havia me deixado, e nem todos os sorrisos de Sandra valeria um dela.

— Bom, Peeta Mellark, eu não sei quem é essa Katniss, mas se ela te deu um bolo numa quarta feira a noite em pleno Battleship, ela não merece sua companhia hoje, handsome. — Sandra, como se possível, sorriu ainda mais, e chegou ainda mais perto. Cogitei se era realmente verdade o que ela dizia. Novamente, as memórias atacaram sem permissão prévia.

Katniss nunca foi a melhor das melhores namoradas. Demorou semanas até finalmente se convencer que eu estava mesmo interessado nela. Quando a pedi em namoro (num jantar romântico na Rusty Hook) Katniss quase teve um ataque e correu para o bar do restaurante. Voltou com uma vodka, um "sim" e um "me perdoa pelo susto." Dois anos depois, quando a pedi em casamento, Katniss disse um sim tão firme e imediato que me assustei. Eu achei que ela fosse pirar, brigar comigo, fazer algo do tipo. Eu a abracei tanto naquele dia, como se fosse a ultima vez.

Foi a última vez. No dia seguinte, ela disse que tinha uma reunião no trabalho. No outro, um cliente novo apareceu com um sério problema que a prendeu por horas no escritório. No outro, ela sumiu.

Sandra, a moça do algodão doce na Battleship, se aproximava de mim. Mais e mais. Mas todas as minhas chances se foram quando eu a perguntei:

— Posso te chamar de Katniss?

***

Uma semana depois, fui a Rusty Hook.

O restaurante-bar Rusty Hook era o meu favorito e de Katniss. Íamos para o Rusty em ocasiões especiais (o que fez Katniss desconfiar sobre meu pedido de namoro quanto pôs os pés no local.). Sentei-me no bar, e pedi um Gim, quando olhei para o lado.

Eu posso jurar, que era Katniss Everdeen logo ao lado, aconchegada numa cadeira de vime, bebendo vinho. Katniss bebia vinho quando estava triste. Mais lembranças me mataram: Estávamos no Karaokê do excêntrico restaurante da Parro’ts Beak, quando Katniss canta “Surprises kisses on Rusty Hook”, uma música que ela e sua amiga Johanna Mason, escreveram para nosso aniversário de um ano de namoro. A música por si só era uma piada interna: Como Katniss sabia das surpresas que aguardavam a ambos quando um convidava o outro para um jantar na Rusty, ela sempre me dava um beijo surpresa quando chegava ao restaurante. Nada de “oi”, nem um “boa noite”. Era uma tradição nossa.

Perdi a conta de quantos beijos surpresa já demos na Rusty Hook.

Quando vi Katniss e a taça de vinho, não pensei duas vezes. Ela estava triste, ela estava arrependida. Katniss está na Rusty porque sente falta de todos os momentos que passamos aqui e, se a conheço bem (eu a conheço bem) está envergonhada demais para voltar para a casa. Eu me aproximei para olhar mais de perto, e beijei quem quer que esteja sentada ali.

Novamente, não era Katniss.

Mas a moça, cujo nome eu nunca perguntei, estava perto, me olhou nos olhos e me abraçou terrivelmente forte. A moça na minha frente – a nova Doppelgänger de Katniss – estava claramente arruinada. Exatamente como eu. Perguntei-me se não era o destino, colocando outra mulher no meu caminho para esquecer a aliança de compromisso que eu usava, e que provavelmente não tem mais significado algum. Talvez fosse alguém que precisava de mim. Diferente de Katniss, que sempre foi independente demais, mesmo num relacionamento.

A moça continuou nos meus braços, Até que eu perguntei terrivelmente educado·.

— Por favor, posso chamá-la de Katniss?

Ela afastou-se. E eu, como se possível ainda mais arrasado, entrei no meu carro, liguei e acelerei para o mais longe possível da Rusty. Todas as minhas boas memórias daquele lugar – o pedido de namoro, a notícia que eu ia projetar o novo prédio de sua empresa de advocacia, o inicio do tratamento de Katniss contra os cigarros – todas as lembranças foram destruídas com a moça do vinho. E eu prolonguei meu caminho pra casa. Sim, eu o deixei ir pelo caminho mais longo. Eu senti o velho perfume dela no cinto de segurança, agradecendo a Deus por ainda lembrar do seu cheiro, e guardei meus atalhos para mim mesmo.


***

Era sexta-feira quando eu voltava do trabalho e deixava meu celular tocar pela décima vez seguida, sabendo que era só Finnick Odair me chamando para um maldito Happy Hour, quando não estou muito happy pra comemorar alguma coisa. Mesmo que essa coisa seja a gravidez de sua esposa, Annie Odair. Mandei uma mensagem para Finnick, me desculpando, e segui meu caminho rumo a minha casa, colocar o CD do Arcade Fire pela 5° vez na semana e ouvir todas as músicas favoritas da minha noiva. Para a minha maldição, o sinal se fechou e meu carro ficou parado em frente à Parrot’s Beak, onde eu novamente vi Katniss, sentada no bar, sorrindo e olhando em direção ao palco, como sempre fazia quando eu resolvia cantar “Never Gonna Give you Up” – Era uma apresentação brega e tosca, que fazia Katniss morrer de rir. Hoje em dia, pensando na minha atual situação, essa música me faria chorar.

Não hesitei em pagar um absurdo pelo estacionamento do local. Depois de ver a Katniss do Battleship e a Katniss do vinho da Rusty, eu sabia que não estaria cometendo o mesmo engano pela terceira vez seguida. Eu não estaria enxergando essa mulher que me abandonou sem ao menos dizer pessoalmente para mim em todo o lugar que eu andasse.

Mas era Katniss Everdeen na Parrot’s Beak.

— Eu ouvi dizer que esse lugar é ótimo. — Katniss diz. Ela vestia um sobretudo preto e uma boina e botas marrons. Seu rosto, sem um traço de maquiagem e sua trança bagunçada. Passeávamos pela cidade logo depois de ter visto um filme no cinema local. Passamos em frente ao Parrot’s Beak, aonde vimos Johanna Mason fumando do lado de fora, logo cumprimentando a amiga e lhe oferecendo cigarros. Logo em seguida, Johanna explicou que o Parrot’s tinha karaokê, e que ela era a nova baixista da banda acompanhante.

— Ah, banda ao vivo! Bem melhor do que aqueles velhos DVD’s com instrumentais horríveis. — Suspirou Katniss.

— Os pombinhos deveriam vir aqui e fazer serenata um ao outro qualquer dia. — Disse Johanna, jogando seu cotoco de cigarro no chão. — Eu vou ter o prazer de tocar qualquer música que quiserem.

Katniss e eu íamos todos os meses na Parrot’s, desde então.

Dessa vez, a Katniss real estava em pé próxima ao palco, mas era a mesma Katniss que eu vi sentada no bar e rindo. Vestia o mesmo jeans surrado, jaqueta preta sobre os ombros, uma blusa verde – sua cor favorita – e tinha o braço esquerdo engessado. Então é por isso que você sumiu? Pensei. Você sofreu algum acidente em algum lugar longe de nós, e agora não se lembra mais de mim?

Quando alguém se apresenta da Parrot’s, é de costume deixar os instrumentos altos e a luz baixa. Ideal para qualquer um se sentir um rockstar ou coisa do tipo, para chorar as mágoas de um relacionamento, ou para pedir alguém em casamento.

Eu achei, por dois segundos, que pedir Katniss em casamento enquanto cantava Pictures of You do The Cure em pleno Parrot’s lotado fosse uma boa ideia. Não estava a pressionando, nem a levando em lugares caros, ou a deixando desconfortável. Era um pedido de casamento na Parrot’s Beak! Katniss não poderia recusar, e não o fez.

Pela primeira vez em quase dois meses, eu estava frente a frente com Katniss. Todas as palavras planejadas desde o encontro com a Doppelgänger da Battleship foram descartadas pelo meu cérebro. Tudo o que eu precisava dizer eram as coisas que estavam presas em mim. Eu cheguei cada vez mais perto, segurei pelo seu pulso e falei todas as palavras. Todos os meus sentimentos embolados em um idioma.

— Eu não sei o que aconteceu. — Eu disse. — Eu não sei por que você fugiu dessa vez, como nunca fez antes, como eu sentia que um dia você ia fugir. Eu não sei foi a pressão que eu fiz, ou as mensagens do maldito Hawthorne que eu sei que você recebia. Eu sei que ele sempre te pediu uma segunda chance, e sempre te disse para reavaliar com quem você estava. Agora, eu te peço o mesmo, Katniss. Reavalie com quem você está. Eu estou aqui. Eu te amo. Não vamos nos casar se não quiser, mas me dê a chance de continuar ao seu lado.

Katniss se virou para mim séria. Me olhou com olhos inexpressivos, e com seu braço bom, me puxou pelos pulsos para o bar. Pediu alguma coisa para o barman, que por um milagre ouviu. Eu estava frente a frente com minha Katniss, e não ouvia sua voz. Logo depois, o garçom trouxe sua velha e boa vodka, e um pedaço de papel com uma caneta. Eu ainda me arrastava em lágrimas, esperando estar discreto o suficiente. Katniss olhou para mim, novamente, por muito tempo, e escreveu com seu braço bom.

“Me diga, porque você está tão triste”

Eu a olhei, enquanto ela me confortava fazendo carinho no meu ombro, com seu braço esquerdo.

“Porque você me deixou?”

Katniss olhou confusa para o bilhete. Acho eu, que ela engoliu todas as palavras. Ou ela se esqueceu mesmo de mim, e sabia que encontraria Johanna Mason, sua amiga de infância, aqui nesse lugar. Tudo o que eu achei, todos os meus temores se confirmaram quando ela me devolveu o papel.

“Sinto muito, mas eu não te conheço”.

Meu peito se apertou, e mais lágrimas caíram. Eu segurei o pulso de Katniss, lhe dizendo novamente mais e mais palavras, quando a garota se soltou de mim e chegou mais e mais perto, dizendo “Eu não conheço você”. Foi quando as luzes se acenderam um pouco mais, a banda fez uma pausa, e a Katniss... Não era a Katniss. Eu me desculpei com a garota do braço quebrado, reparando logo em seguida que se eu tivesse notado que ela escrevia com o braço direito, descobriria logo que não era a minha Katniss. A Everdeen é a única pessoa que eu conheço que é canhoto.

— Tudo bem, Loverboy. — Ela respondeu. — Vamos começar de novo. Eu sou Clove. E você?

Diferente da Katniss do algodão doce da Battleship e da Katniss do vinho da Rusty Hook, a Katniss do braço quebrado da Parrot’s Beak era a menos semelhante à Katniss Everdeen. Era mais baixa que a minha noiva, extremamente branca, com olhos escuros. Usava uma boina marrom, e foi daí que meu cérebro me enganou de novo.

— Olá Clove. — Eu comecei a falar, desesperado. — Meu nome é Peeta Mellark. Eu tenho 27 anos, e minha noiva, Katniss Everdeen, desapareceu por conta própria três dias depois de eu a pedir em casamento, deixando apenas um bilhete escrito: “Eu te amo, e ainda quero me casar com você, mas pelo amor de Deus, não me procura agora. Tudo bem?” Não Clove, eu não estou bem. Nem um pouco. Eu estou tão mal que jurei que ela fosse você, e se eu não fosse idiota o suficiente, teria ao menos reconhecido que sua caligrafia não é nem um pouco parecido com a dela, muito menos sua aparência e a dela. Mas ela conseguiu me fazer ficar maluco, e entre estar maluco e sozinho, eu prefiro continuar louco. Então, Clove, por favor, posso te chamar pelo nome dela?

Clove olhou nos meus olhos, ponderando toda a confusão de palavras que eu despejei nela. Logo em seguida, ela pegou o papel, e escreveu nele, mostrando a mim.

“Não, você não pode me chamar pelo nome dela!”

Mirei em Clove, que antes branca, agora está claramente vermelha de raiva. Ela jogou todo seu copo de vodka na minha cara e partiu, me deixando parado feito um idiota, adquirindo toda atenção do bar. Senti braços me puxando para fora do Parrot’s, com uma força bruta quase rude. Pensei ser algum segurança querendo evitar escândalos, quando vi os cabelos castanhos repicados do meu “agressor” e reconheci Johanna Mason.

— Cigarros? — Perguntou, depois de me arrastar para a calçada. Pela primeira vez na vida, aceitei. Tossi algumas vezes antes de me acostumar, mas depois que terminei o primeiro, comecei o segundo sem remorso algum. Johanna aguardou silenciosamente minha tentativa de distração, mas quando começou a falar, não teve dó nem piedade. — Porque você está tentando se matar? E porque aquela garota jogou bebida na sua cara?

— Achei que ela era Katniss. — Respondi.

Johanna silenciou. O que foi estranho. É costume de Johanna te atacar com palavras quando você pisa na bola, exatamente como eu fiz naquele dia. Mas se ela se calou, é porque a coisa está acima de Johanna.

— Onde está ela, Johanna? — Perguntei, sem conseguir segurar as lágrimas de novo, tragando o cigarro pra tentar amenizar alguma coisa. Qualquer coisa.

— Eu não sei. Não trocamos mensagens há dias. Quando você me ligou perguntando pela primeira vez, eu fiz questão de acabar com ela por mensagem de voz, dizendo que se ela estivesse indo atrás de ex-capitão do time de futebol, era pra ela esquecer que tem uma amiga e esquecer que era uma pessoa decente. Depois, ela me retornou...

— Ela retornou? — eu a interrompi. Katniss nunca me retornou desde o bilhete. — O que ela disse.

— Ela disse que não está atrás de ninguém que não seja Katniss Everdeen. Isso é tudo. Ela nem ao menos disse se voltava, ou coisa assim. — Johanna comentou, retirando o cigarro da minha boca e terminando-o por mim. — Nem pense em fazer isso novamente. — Me apontou o cigarro. Depois, jogou-o na calçada, pisando em cima para apaga-lo por completo. — Sinto muito. — Disse para mim, e pela primeira vez na vida, vi um olhar triste em seu rosto, antes de retornar para o bar.

Peguei meu carro no estacionamento e comecei a dirigir sem rumo, e tudo o que estava na minha cabeça dessa noite eram as palavras da Mason. Não exatamente a parte em que Katniss diz que “não procura ninguém que não seja Katniss Everdeen” – mesmo que essa parte me encha de alívio em saber que ela não está nos braços de Gale Hawthorne – mas a parte em que Johanna diz que ela retornou. Ela retornou Johanna. Ela diz para sua melhor amiga com todas as palavras, em voz, quando a mim, somente dirige um bilhete. Se Katniss nunca retornou uma ligação, algum dia, ela vai retornar? Retornar, eu digo, voltar? Ter coragem de me olhar destruído, como estou agora, e me explicar porque me deixou assim? Quando o carro finalmente para num farol, eu resolvo pegar meu celular, discar o numero de discagem rápida e ligar para Katniss novamente, como tenho feito desde que ela se foi.

— Katniss, me diga onde é o seu esconderijo. — Implorei. — Estou preocupado em acabar esquecendo seu rosto. E eu já perguntei pra todo mundo... Estou começando a achar que te imaginei o tempo todo.

Desliguei o celular quando o sinal abriu. E novamente, eu prolonguei meu caminho pra casa, indo pelo caminho mais longo. Eu senti o velho perfume dela no cinto de segurança, dessa vez, rezando para que o cheiro da vodka e do cigarro fosse mais forte, e guardei meus atalhos para mim mesmo. Katniss Everdeen me amou muito, mas me fez sofrer o dobro.

Subitamente, me vi mudando de rota. Virei à segunda curva a minha direita e segui para Cornestone.



***

— E que tal aquela loira? — Perguntou Finnick.

— Sério? — Resmungou Tresh, ainda no seu terno de gerente de marketing. — A ultima loira que você apresentou ao Mellark foi a Glimmer. Você vai repetir o erro, Peeta?

— Deus me livre e guarde. — Respondi, rindo. — Tresh tem razão, chega de loiras por enquanto. É, meus bons amigos, acho que está na hora de tentar uma ruiva...

— Opa, eu conheço uma! — Diz meu amigo Tresh, todo animado. Já posso prever seus pensamentos. — Se chama Annie Cresta, Uma delicinha...

— Hey!! — Resmungou Odair, enquanto virava mais um gole de sua cerveja. — Deixem a Annie em paz. Ela é minha.

— Você não dura um mês com ela, Finnick. — Diz Tresh. — O Peeta merece mais, ele é um bom garoto.

— Vou me casar com a Cresta, aguardem.

Era um bom sábado. Estávamos entusiasmados com toda a novidade de mudanças da empresa, e eu, com meu primeiro projeto de arquitetura aprovado, prestes a ser construído. Não pude conter em mim. Era uma notícia boa demais para ser verdade, e eu achava que nada superaria aquela notícia. Minha noite seria marcada por essa comemoração.

Foi quando nós três ouvimos gritos de comemoração vindos da lateral do bar, e uma morena de braços levantados comemorando algo. Tinha cabelos negros, presos em uma trança lateral, usava um jeans meio velho – que logo depois eu iria descobrir que era seu favorito – e grandes olhos acinzentados. Ainda tinha dois dardos na mão, e no alvo preso à parede, 3 dardos na marca de 100 – ao que parece, um novo recorde era batido. – Então, não me restou mais duvidas que eu esteja completamente errado. Aquela noite no Cornestone me marcaria por outros motivos.

— Eu acho, dessa vez, que vou atrás de uma morena. — Sorri para meus amigos.



Battleship, Rusty Hook, Parrot’s Beak.

Nenhum desses lugares chegou perto de causar a depressão que Cornestone, sem dúvida, me causou. Tudo naquele lugar me atingia, e me machucava. A mesa de sinuca, o velho palco de madeira caindo aos pedaços, os posters de deuses do rock pendurados na parede, as garotas pin ups desenhadas nas mesas, e majestoso retrato de Janis Joplin pendurado atrás do bar, e por fim, o alvo na lateral do bar, com uma pequena lousa pendurado um pouco acima com três nomes escritos, e numeração. No topo deles, o recorde:


Katniss Everdeen, 480 pontos.

Cheguei a pensar se por acaso, eu conseguiria atingir 500 pontos e tirar o nome dela de lá, mas reparei que não posso apagar Katniss desse mundo. Ela era horrível em sinuca, pelos deuses, eu pensava sozinho. Adorava subir no palco e cantar Janis Joplin, mesmo com o velho Haymitch berrando que aqui não era o Parrot’s Beak, e a ameaçando expulsar do seu estabelecimento pela décima vez no mês. Katniss citava cada nome de cada Rockstar em cada pôster, e adorava as pin ups de uma maneira quase obsessiva.

Foi quando virei meu olhar em direção à esquerda, e dessa vez, não vi Katniss Everdeen. De todos os lugares em que uma Doppelgänger da minha amada poderia aparecer, o único que ele não escolheu foi o lugar onde conhecemos o que me faz pensar que talvez eu realmente nunca a conhecesse de verdade. Foi pior, bem pior, a visão que eu tive quando me virei à esquerda, em direção a lateral do bar.

Vi Primrose Everdeen atirando dardos.

A observei por minutos. Quando ela finalmente desistiu, seu telefone tocou, a fazendo passar horas e horas conversando com quem estivesse do outro lado da linha. Esse é sua ultima chance de ser obsessivo, Peeta. Resmunguei comigo mesmo. Se não for Katniss naquele celular, desista.

Segui em direção à irmã mais nova de Katniss. Em aparência, Katniss e Prim eram totalmente diferentes: Prim é loira, com pele mais clara que a irmã mais velha e olhos incrivelmente azuis. Cinco anos mais nova que a irmã, que tem 27 anos, Primrose era um gênio bem sucedido num hospital próximo ao centro. Quando me viu, continuou por uns segundos no celular, antes de desligar.

— Eu queria ver se conseguia acertar 500 pontos e tirar o nome dela daí. — Me confessou. — Mas ai eu reparei que, se eu conseguisse, tudo o que ia acontecer é ver seu nome uma posição a baixo. Não iria retirar ele de lá.

— Era ela no telefone? — Perguntei, direto.

— Não, Peeta. Era minha superior no hospital. Vou fazer turno amanhã. — Respondeu. Primrose e eu continuamos um tempo nos encarando, até eu decidir virar de costas e ir embora. Porém a voz da Prim interrompeu esse processo. — Ela me largou também, sabia?! — Resmungou. — Quando ela me aceitou seu pedido e simplesmente decidiu que se casaria, que deixaria nosso apartamento para morar com você, sem ao menos me perguntar sobre como eu ficaria com isso, eu realmente fiquei magoada. Mas entendi que ela estava seguindo a vida dela. Mas quando ela deixou você pra... Pra sumir, sem nem ao menos deixar um “sinto muito” para mim... Aquilo me matou, Peeta. Parece que ela nem se importa comigo.

Era verdade. Se Katniss retornou a ligação de Johanna, e deixou um bilhete para mim, fez muito menos por Prim. Então, se alguém nesse mundo pode entender o que é ser largado por Katniss Everdeen, esse alguém é Primrose Everdeen. Eu, talvez, chegue perto do que ela está sentindo agora. Mas isso não significa que minha dor seja menos dolorida. Ainda machuca. Ainda incomoda. Ainda mata. Aproximei-me de Prim e a abracei, ciente de que talvez, quem sabe, a uma dor diminuísse em contato com a outra. Nos sentamos no bar e eu contei a ela toda a história das sósias de Battleship, Rusty Hook e Parrot’s Beak, e tentei mostrar o quanto eu estava acabado. Quando eu a vi, ela estava sozinha, então eu achei que talvez ela pudesse entender.

Ela estava perto – Bom, não dava pra chegar mais perto. – Quando ela disse:

— Eu realmente não deveria, mas, sim. Você pode me chamar do que quiser.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Perdoem me pelo final vago, é porque a canção termina exatamente assim, e eu não queria editá-la ou (de verdade mesmo) dar um final alternativo a ela. Não seria justo. A canção cativa exatamente por isso. E também, esse final me dá a chance de fazer um cap com a Katniss inspirado em outra música, ou outra shot fic mostrando a continuação, ou simplesmente deixar o leitor terminar a fic por si próprio. é ótimo, quem sabe?! :D ouçam essa música, é muito boa.

E pra quem não sabe: Segundo lendas germânicas, existe uma criatura chamada doppelgänger, que tem a capacidade de se transformar em um clone perfeito da pessoa, uma cópia idêntica, imitando inclusive características emocionaisEM RESUMO: doppelgänger, é uma palavra alemã que significa algo próximo à "Sósia", sacaram?! :D

Enfim, curtiram? Espero que comentem! :D

(EDITADO 30/12/14) Aqui está a segunda One, continuação dessa, (one shot 2/5) com POV KATNISS!! isso mesmo, finalmente uma resposta dela, hue :3 http://fanfiction.com.br/historia/578850/Old_Yellow_Bricks/ E fiquem ligados no NYAH para novas ones!!)