Phantom Limb One-Shot escrita por Nano Breaker


Capítulo 1
Phantom Limb




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Seis meses se passaram desde o acidente. Lembro-me, porque Elizabeth estava me ajudando a assinar o meu nome no cartão de aniversário de nossa filha, Jenny.
Lentamente, ela guiou a minha mão, me ajudando a criar uma assinatura legível, em vez de os rabiscos de uma criança no jardim de infância, o melhor que eu era capaz de fazer, com tão pouca prática.

Parece que quando se perde um membro, é bem provável que seja o dominante. Para mim, foi o direito. Estava aprendendo a ser canhoto.

Eu estava concentrado na minha escrita, tentando não fazer Elizabeth ter muito trabalho, quando eu senti algo estranho... Eu não tinha notado a “sensação fantasma” do meu cotovelo apoiado na mesa, ao meu lado, a essa altura, eu tinha quase me acostumado com isso, embora a dor, às vezes, ainda me fizesse acordar.

Da primeira vez que eu senti isso, o médico disse que era normal... Os pacientes que têm um membro amputado têm essa tendência de sentir como se o membro ainda estivesse lá. Existe um termo para isso: Phantom Limb, ou membro fantasma.

Foi breve, mas o suficiente para me assustar e fazer minha mão, ainda segurando a caneta, saltar e transformar o meu nome em rabiscos, apesar dos esforços de minha esposa.

Ele era leve, mas frio. Muito frio. Não como gelo, mas como a sensação de um corte profundo, quando o interior de uma parte do corpo de repente é exposto aos elementos externos que eles nunca deveriam conhecer.

Quando Elizabeth perguntou, eu dei de ombros, dizendo-lhe que era uma dor inesperada na mão que eu estava convencido de que estava bem fechada, mesmo que ela não existisse. No momento, eu quase acreditei que era o que tinha acontecido.

Acordei quando o senti pela segunda vez. Eu estava dormindo, com o braço apoiado sobre minha barriga e meu braço fantasma pendurado para fora da cama. Quando eu senti pela primeira vez, eu achei que minha mão estava dormente, dando uma sensação de formigamento, leves alfinetadas, que eu havia sentido algumas vezes, antes do acidente.

Quando tentei abrir e fechar a mão, eu acordei, lembrando que eu não tinha uma mão para abrir, mas a sensação de frio permaneceu. Desta vez, ela ficou um tempo, e eu podia sentir nitidamente o toque de dedos na minha pele.

Tentei balançar minha mão, mas não consegui. Eu me empurrei para baixo com a mão esquerda e rolei sobre minhas costas, mas o sentimento permaneceu, ainda bem nítido, e eu me perguntava há quanto tempo essa mão invisível estava me segurando.

Eu acordei minha esposa, explicando, mas ela estava convencida de que era apenas uma parte do processo. Ela me segurou e falou comigo, confortando-me com sua voz suave, até que, um por um, os dedos me soltaram, levando o frio embora. Sentir aquilo me lembrou do acidente.

Estava chovendo intensamente e uma neblina havia se formado. Elizabeth estava dirigindo. Quando um caminhão se aproximou do carro, na tentativa de desviar, escorregamos Elizabeth tentou de tudo para controlá-lo, mas ele parecia ter vontade própria. Eu agarrei o volante, girando o carro até que ele parou. Em seguida, o caminhão bateu nós. Meu braço havia sido decepado no momento do impacto, mas minha esposa e filha estavam bem. Sentir o sangue escapando é horrível, você gela até os ossos, e isso era exatamente o que eu estava sentindo, enquanto ainda estava consciente.

Essa sensação me perturbou durante meses, sem motivo. Os médicos disseram que era apenas o membro fantasma, que era de se esperar. Ninguém entendia que algo estava errado.

Às vezes, a sensação durava dias. E aqueles eram os dias em que eu sabia que teria que ficar na cama, vendo TV, tentando não me concentrar na mão em volta do meu pulso, tentando não pensar na coisa que estava me segurando. Às vezes, a mão me soltava, apenas para me agarrar com mais força depois, como se a mão, que não existia, estivesse dolorida de ficar segurando a minha mão, que também já não existia...

Um dia, essa sensação simplesmente parou. Durante um mês, mais ou menos, nada aconteceu. Eu tinha vivido com uma entidade desconhecida ao meu lado todos os dias, desde o acidente. Finalmente eu estava livre.

Eu, Elizabeth e Jenny fizemos tudo o que pudemos durante esse mês. Fomos em todos os lugares, desde o Grand Canyon até a Disney World. Eu já não lembrava mais havia sido a última vez que pudemos passar um tempo em família. Nós apreciamos cada momento que tivemos, gratos por ter sofrido apenas uma pequena perda.

Nós abrimos o Café novamente e minha esposa estava fazendo o que amava de novo. Minha filha e eu estávamos no café. Era hora de fechar. Jenny e eu nos sentamos em uma mesa do lado de fora, enquanto Elizabeth fechava o registro, falando sobre o baile do ensino médio que estava por vir. Minha esposa se juntou a nós e trancou as portas. "Quer vir comigo?" ela perguntou, batendo com pacote de dinheiro na mão que seria depositado no banco do outro lado da rua.

Jenny deu um pulo, ansiosa, esperando conseguir pegar um doce do pote que ficava no balcão da recepção do banco. "Eu vou ligando o carro", disse eu, tirando minhas chaves do bolso. Minha esposa balançou a cabeça, concordando, e me acompanhou até o carro, me beijando no rosto pela janela depois que entrei.

Subi a janela do carro e Elizabeth deu um beijo no vidro, por fora. Retribui, fazendo-o por dentro. O vidro tinha um gosto horrível por dentro e devia ter um pior por fora, por que minha esposa cuspiu no chão logo após se afastar da janela.

Dirigiram-se na direção contrária a mão da rua.

Virei-me para acompanhá-las pelo espelho, quando percebi que um caminhão fora de controle estava indo na direção de minhas esposa e filha. Eu gritei o nome delas e abri a porta do carro. A porta do caminhão se abriu, após o impacto contra a parede do café. Não havia ninguém ao volante. Ainda assim, eu ouvia passos indo em minha direção.

De repente, a mão que não existia e já havia me deixado em paz me puxou para trás, para o lado oposto do caminhão, me segurando no lugar enquanto eu chutava e gritava. Outra mão inexistente foi ao meu rosto, cobrindo meu nariz e minha boca, me impedindo de gritar. O beijo desagradável no vidro da janela foi o último que eu recebi, e a mão nunca mais me soltou.


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