Eyeless One-Shot escrita por Nano Breaker


Capítulo 1
Eyeless - Capítulo único




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Eu estava saindo do colégio com meu melhor amigo, quando lembrei que havia esquecido meu livro de biologia. No dia seguinte teríamos prova.

- Ah... Não acredito!
- O que houve? - Doug se assustou.
- Esqueci meu livro de biologia. Tenho que voltar no colégio.
- Nossa, cara... Que droga. Boa sorte com isso. Afinal, o colégio é um local horrível...
- Pois é... Enfim, preciso ir logo para não me atrasar mais. Nos vemos amanhã, tchau.
Doug era meu melhor amigo desde os seis anos. Nossas mães trabalhavam juntas quando eram mais jovens. Fomos apresentados logo antes de eu entrar para esse colégio e ele me seguir no ano seguinte. Eu entrei no sétimo ano, ele no oitavo e estamos no mesmo colégio até agora, no segundo ano. Pelo menos falta pouco...
Cheguei ao colégio e fui direto para a minha sala pegar o que precisava. Meu armário estava uma bagunça, mas não demorou muito para achar o livro. O mais difícil foi tirar aquele livro de la... Sai sô colégio feliz de ter lembrado disso. Passei por uma casa estranha... Me lembro de passar por elas todos os dias, mas dessa vez ela parecia abandonada ha anos... Não liguei, poderia ser qualquer coisa. Depois que eu me lembrei, o dono havia se mudado, não fazia uma semana. Mas ainda assim, a casa parecia morta.
Não me lembro muito depois de ter chegado em casa, mas sei que dormi assim que cheguei no meu quarto... A primeira coisa que eu ouvi foi:
- Bom dia, apagão - minha mãe me acordou no dia seguinte - Você dormiu sem nem jantar... Deve estar morrendo de fome.
- Estou sim. Posso comer algo ante- fui interrompido.
- Eu ja preparei um sanduíche para você comer enquanto vai para o colégio.
- Obrigado, mãe, você é a melhor!
Eu estava saindo de casa quando algo veio a minha mente.
- Mãe!
- Diga, filho.
- Hoje vou sair com uns amigos, ok?
- Claro, divirtam-se.
- Tchau, até mais tarde.
- Boa aula.
No caminho para o colégio, depois de passar pela casa, encontrei Doug, como de costume. A primeira coisa que eu disse foi:
- Acredita em assombração?
- É claro que não!
- Então eu tenho uma ideia. Que tal ir a uma casa assombrada e investigar?
- Como assim, "assombrada"?
- Bom, tem uma casa no caminho para a minha casa que eu acho que poderíamos visitar.
- Ah... Eu não me incomodo.
- Certo, então vamos depois da aula.
O dia seguiu normalmente. A aula foi chata e exaustiva... Primeiro Geografia, com a professora alta demais que da medo; Depois Biologia, com a professora desengonçada; Inglês com a professora estrangeira; Química com o Professor louco e, por fim, Matemática, a única matéria que valia a pena assistir...

Fiquei ansioso por causa da prova, então não prestei atenção nas aulas anteriores. Quando a professora distribuiu a prova, eu vi todas as seis paginas e entrei em panico... Mas, lendo questão por questão, fiquei feliz que sabia de tudo. Fui o segundo a terminar. Seria o primeiro se o NERD do Eugênio não entregasse dois minutos antes de mim. Não importava, eu estava feliz por ter ido bem. Fiquei mais tranquilo, mas ansioso pela aula de matemática.
Durante o tempo de química, estávamos fazendo prática em dupla quando um menino se distraiu e jogou ácido em cima do par dele. Clássico. Ninguém se feriu, felizmente, e a aula continuou, infelizmente. Eu não aguentava mais esperar pelos números.
A aula de matemática começou e eu me senti aliviado. O professor passou uma questão que demoraria a aula inteira para resolver. Disse que quem acertasse de primeira ganharia um ponto extra na média. Eu não precisava, mas resolvi fazer.
Faltando cinco minutos para o fim da aula, eu terminei o exercício e entreguei ao professor. Eu acertei a rsposta. Não era de se espantar, sempre fui bom aluno.
O dia no colégio até que não foi tão ruim... O ponto extra compensou pelo tempo que esperei. Saí do colégio e esperei Doug do lado de fora.
- Doug! - chamei, quando ele passou pelo portão.
- Ah, você está aí... Desculpa a demora, meu café da manhã não desceu muito bem e eu estava segurando até agora...
- Ahrg, seu nojento, poderia guardar isso para si mesmo!
Nós dois rimos, um do outro.
- E então - Doug falou, cortando minha risada -, onde fica a tal "casa assombrada"?
- Ah, sim, por aqui.
Levei meu amigo até a casa. Ela ainda parecia abandonada há anos.
- E então, vamos entrar?
- Espere, o dono vai reclamar se entrarmos do nada na sua propriedade! - Doug disse, preocupado.
- Não se preocupe, o dono se mudou. Não tem ninguém morando aqui.
- Perfeito! Vamos l... - interrompi.

- Não! Não vamos ainda... Temos que comprar algumas coisas.

- Que tipo de coisas?

- Ah, você sabe... Comida, lanternas, pilhas para as lanternas, água, essas coisas.

- Hum... Só vou se puder comprar Doritos!

- Ué, porque não poderia?

- Porque não tenho dinheiro...

- Ah, não.. Eu não vou pagar nada para você!

- Ah, tudo bem, você pode, muito bem entrar lá sozinho. Não faço muita questão...

Doug sorria. Era uma sorriso maléfico. Ele sempre sorria assim quando queria convencer alguém. E devo assumir, eu estava com um pouco de medo sim... Cedi.

- Argh... Tudo bem, eu pago para você...

- Eba! - Ele comemorou, como uma criança.

- Você é um ser maligno, sabia?

- Quando eu nasci, o demônio disse "Ah, droga... Concorrência..."

Rimos de novo. Ele era meio mal às vezes, mas sabia me fazer sorrir.

Fomos para o supermercado local. Eu gostava de lá, era um lugar calmo, sempre tinha uma música relaxante tocando no fundo, era muito bom. Fomos para a seção de biscoitos. É claro que não íamos levar comida de verdade... Enfim, procuramos pelos melhores. De Doritos até Trakinas. Enchemos uma sacola. Eu estava muito feliz com a aquisição, até lembrar que eu pagaria tudo... e Jonas, em momento algum, tirou o sorriso maléfico do rosto.

Até hoje não sei descrever muito bem aquele sorriso... É uma mistura de sorriso e olhar maléficos, de quando você acaba de convencer alguém ou ganhar uma discussão... Só consigo definir assim... Acho que é o que chamam de Olhar 43, de rabo de olho, ou algo assim...

Quando chegamos ao caixa, encontramos Jonas. Jonas era um menino do colégio. Um aluno novo, transferido há uma semana, mais ou menos. Nenhum de nós sabia quem ele era ou de onde era. Acabamos encontrando-o no mercado... Que grande infelicidade... Era gente boa, apesar de ser meio maluco... Ele gostava de comer a caneta. E não era só a tampa... Bem, ele estava lá, no caixa ao lado. Quando nos viu, se aproximou, esquecendo da fila. Além de maluco ele era meio idiota também... Trazia duas latas de ervilhas e uma de milho, amontoadas, com três batatas enormes em cima. Ele levava tudo nas mãos.

- Darren, Doug, que surpresa, ver vocês por aqui!

- Ahm... - Doug começou - Nem tanto... Moramos aqui perto, então...

- Bem, de qualquer modo, como vão vocês? O que estão fazendo aqui?

Sabe, eu odeio quando encontro alguém no shopping ou no mercado e essa pessoa pergunta "Hey, o que você esta fazendo aqui?" ... A primeira coisa que vem a minha mente é: "Ah, o de sempre, caçando elefantes."

- Ah, o de sem... - Fui interrompido.

- Próximo!!!!

- Ahm... É a nossa vez, nos vemos depois...? - Doug disse, meio incerto.

- Ah, tudo bem, nos vemos depois - Jonas falou, voltando para a sua fila.

Quando tentou entrar na fila, as pessoas simplesmente o ignoraram, como se ele não existisse. Ele foi para o fim da fila.

Compramos muita coisa. Passamos pelo caixa e, do outro lado, Jonas estava segurando suas latas e batatas.

- Olá, quanto tempo, não?

- Como você...? - Perguntei, surpreso com a rapidez.

Jonas apontou para cima. "Caixa para seis produtos ou menos" Estava escrito sobre o caixa do qual ele siau

- Aff... - Doug suspirou.

- Posso ir com vocês?

- Mas você nem sabe onde vamos!!! - retruquei.

- Ah, vocês vão naquela casa louca lá, não?

- Como você??? - Doug e eu gritamos, em coro.

- Segui vocês...

- Idiota... - Murmurei.

- Ahm... O que disse?

- Idiota! - Doug gritou.

- Ah, sim. Achei que não tinha entendido direito.

Doug bateu na própria testa. Jonas sorriu.

- Só fui ao mercado porque sabia que vc ia lá comprar suprimentos. Então fui comprar também. Quero ir junto, posso?

- É claro que nã... - Pus a mão na boca de Doug.

- Sim, pode sim - Eu disse.

Doug me olhou com vontade de me bater. Mostrei a língua. Ele se virou. Ele definitivamente não gostava do Jonas.

- Ta, ta... Esse tonto pode ir com a gente...

- Eba! - Jonas comemorou, como uma criança.

- Nossa, como esse cara é crianção! - Doug murmurou.

- Olha só quem fala... - Sussurrei, rindo.

- O que disse?!

- Nada...

Nós saímos do mercado e nos dirigimos para a casa. Eu com minha sacola de suprimentos, Doug com a dele e Jonas com suas três latas e três batatas.

Eventualmente, conforme seguíamos nosso percurso, Jonas deixava uma ou duas batatas caírem e tínhamos que esperá-lo pegar... Não foi divertido... Irritante, até.

Chegamos no portão da casa e vinhas o cobriam por completo. O portão era de barras, mas não dava para ver o que havia do outro lado, pois as vinhas impediam a visão.

Pulamos a mureta e entramos. Não sabíamos como entrar na casa, não tínhamos as chaves... Ficamos um tempo analisando o jardim. Era enorme...

Havia uma casa de cachorro, com o nome Eye. Hunter em cima e alguns ossos em volta. Provocava uma sensação um tanto quanto assustadora, mas... Precisávamos investigar aquela casa.
Depois de um tempo analisando o jardim, fomos para a frente da porta. Observamos todos os detalhes da entrada, desde a maçaneta esférica, enferrujada e avermelhada, até um risco no chão, que seguia pela parede e atravessava a porta em diagonal, que parecia ter sido feito com uma lâmina enorme.

Quando eu estava analisando a maçaneta, escorei na porta, que simplesmente abriu. Eu, Doug e Jonas entramos, no que a porta fechou imediatamente.

- Isso foi estranho... - Doug falou, assustado.

- E põe estranho nisso! - Jonas falou, com um sorriso.

Jonas parecia inabalável...

- Jonas, porque está sorrindo? - Perguntei.

- Ah, é melhor rir do que chorar, não?

- Chorar?

- Estou morrendo de medo - Gargalhou.

- Estranho... - Doug murmurou. Jonas ignorou.

O comodo imediatamente após a porta de entrada era bem grande. Era muito bonito e parecia bem cuidado para uma semana de abandono. É claro, estava sujo e empoeirado, com algumas teias de aranha monstruosas que se estendiam do teto até o chão. Mas nada parecia velho. Toda a mobília estava lá.

- Isso é estranho... - Doug falou, assustado.

Dejavu...

- E põe... - Interompi.

- Assim não dá!!! Vamos logo com isso, não é hora de ser frangos!

- Certo, certo... - Ambos concordaram.

Não havia nada de peculiar no primeiro cômodo que olhamos. Parecia o Hall de um Hotel. Tirando as teias enormes, estava tudo normal. Havia apenas uma porta além da que usamos para entrar. E estava escancarada.

Depois de atravessarmos a porta, estávamos em uma espécie de sala de estar. Havia um sofá, uma mesa de centro e uma estante de livros. Vazia.

Não havia o que investigar.

O terceiro cômodo estava completamente vazio. A parede tinha alguns buracos, mas nada que pudesse ser investigado... Ignoramos aquele cômodo.

Atá ali, os cômodos estavam normais... Quer dizer, relativamente... Mas o quarto cômodo...

Era um quarto. Um quarto de casal. De início, parecia normal, mas, logo acima da cama, havia um ventilador onde uma corda estava pendurada. Um nó frouxo prendia a ponta da corda no meio dela mesma. Forca. O ventilador estava ligado, então a corda rodava pelo quarto acompanhando o movimento do ventilador.

O fato de haver uma corda de forca no ventilador não era tão impressionante, não havia ninguém lá. Era como se alguém soubesse que entraríamos naquela casa... Eu acho que estava pensando demais...

- Isso é... - Eu não aguentei...

- Se você disser isso mais uma vez, eu te penduro naquela corda!

- Calma, não precisa se irritar... - Jonas se manifestou.

Eu estava perdendo a paciência com eles. Fomos para o cômodo seguinte.

Era outro quarto. Não dava muito bem para entender o que havia lá, estava tudo destruído... Ruínas. Entre os escombros, havia uma coisa brilhante. Uma chave repousava sobre os escombros. Mais uma vez, me senti como se aquilo fosse feito tendo ciência que alguém entraria na casa. Doug pegou a chave e pôs no bolso.

Assim que minha mão tocou a maçaneta do próximo cômodo, ouvi uma voz bem distante e e assustada. "Não..." Tenho certeza que era uma frase completa, mas não ouvi mais nada depois disso.

- Ouviram isso?!

- O que? - Doug perguntou.

- Se foi o som de uma mordida, me desculpem - Jonas falou - Eu estava com fome e essa batata estava dançando na minha frente...

Havia duas batatas agora.

- Não... - Falei, meio decepcionado - Não foi isso.

Abri a porta.

Isso é uma coisa que preciso comentar: A casa parecia gigante por dentro... Mesmo que não fosse tanto por fora. simplesmente enorme, parecia não ter fim. Passamos por alguns outros cômodos e cada um parecia mais destruído e deformado que o anterior. Constantemente eu ouvia as vozes de novo. Sempre perguntando se os dois ouviam. A resposta era sempre a mesma... "Ouvir o que?"

As vozes repetiam as mesmas palavras "Não", "pegar"

Nada parecia fazer sentido. Eram duas palavras soltas. Tentei "Não pegar." Poderia se referir às chaves... Mas ainda assim, algo me dizia que não era só isso...

Depois de atravessar mais cinco cômodos, completamente destruídos, o cômodo seguinte era completamente desagradável...

Havia apenas uma lampada presa no teto, balançando. Iluminando um lado do quarto de cada vez. Quando estava do lado direito, a parede estava manchada de vermelho. E não era tinta... O cheiro era muito forte e desagradável... Do lado esquerdo, Havia uma cadeira. Também suja de vermelho. Nós três sabíamos que aquilo era o sangue de alguém. Prosseguimos para o cômodo seguinte, com as mãos no nariz. E as vozes ainda me incomodavam.

Entramos em uma espécie de cozinha. Mas tudo estava queimado. Como se o cozinheiro que estava fazendo alguma coisa no fogão se distraísse e esbarrasse na panela, ateando fogo em si mesmo e correndo pela cozinho, na esperança de apagar o fogo, mas apenas espalhando-o. E depois o fogão explodisse.

O calor naquela cozinha ainda era intenso. Corri para o cômodo seguinte. Os dois me seguiram. Esse foi o primeiro dos cômodos em que não ouvi as vozes desde que comecei a ouví-las.

O cômodo no qual entramos tinha um enorme buraco no centro. No fundo do buraco era possível ver uma enorme quantidade de caules de bambu costados, em corte diagonal, fazendo pontas. Era muito pequena a área de chão, então atravessamos com cuidado, encostados na pare, contornando o buraco.

Uma das latas de Jonas caiu.

- Meu milho!!!!!!!!

- Ahm... Cara, acho melhor deixar isso para lá... - Falei, segurando-o para que não caísse.

Uma lágrima brotou no canto de seu olho esquerdo.

Contornamos o buraco e atravessamos a porta. Estávamos de volta ao primeiro cômodo, o que se parecia com um Hall de Hotel.

- ...

- Não vai dizer nada, Doug? - Perguntei.

- Mas você disse que...

- Ah, dessa vez eu deixo.

- "Isso foi estranho..." - Ele disse.

Não posso negar. Depois de percorrer vários cômodos com apenas um porta para entrar e uma para sair, estávamos de volta no primeiro. e não havíamos saído da casa. Alguma coisa estava errada.

- "Não... deixe..."

- O que você disse? - Doug perguntou.

- Eu não disse nad... Você também ouviu!!!

- É claro que ouvi...

Pela primeira vez não tinha ouvido sozinho. Jonas disse que não ouviu, mas ignorei naquele momento. Dessa vez o som estava muito mais próximo. Olhei em volta, procurando que poderia ter dito aquilo. Próximo à porta, eu vi uma criança, com a cabeça baixa. Me assustei. Me aproximei dela e dirigi minhas mãos à sua cabeça. Estava bem perto de tocá-la quando levantou a cabeça e mirou no fundo dos meus olhos. Eu fiquei aterrorizado...

A criança tinha os olhos negros como a escuridão... Aquilo me deu calafrios até a alma. Me virei e chamei Doug e Jonas, com a voz tremula. Quando me voltei para a porta de novo, havia uma mão surgindo da parede atrás da criança... A criança começou a falar "Não os deixe pegar..." Mas a mão cobriu sua boca antes que pudesse terminar a frase. Outra mão surgiu e segurou a parte de cima da cabeça. As duas mãos puxaram a criança para dentro da parede. Depois outras muitas mãos foram surgindo e puxando o resto do corpo da criança, que foi adentrando na parede, sumido. Gelei...

Eu ainda estava tremendo quando uma mão repousou sobre meu ombro.

- Acalme-se - disse Jonas - Vai ficar tudo bem.

O tom dele realmente me confortou, mesmo que eu sentisse uma ponta de dúvida em suas palavras. Ele não estava mais segurando as latas e as batatas. As mãos estavam livres. Nesse momento, notei que nem eu nem Doug estávamos com nossas sacolas de comida. Apenas uma das lanternas que compramos estava nos acompanhando durante todo o percurso. E era a de Doug. Eu não lembrava de ter largado a sacola e a minha lanterna... Na verdade, eu não lembrava nem de ter entrado na casa com a sacola...

- Ei! Onde estão nossas comidas?! - Gritei.

- É verdade!!! - Doug se espantou.

- Ah, as sacolas? - Jonas disse, por fim - Eu acho que vocês esqueceram no jardim...

- E NÃO DISSE NADA ATÉ ADGORA?!?! - Me exaltei.

- Não achei que fosse relevante...

- Nós fomos no mercado e te trouxemos para essa droga de casa maluca só porque fomos comprar aquela maldita comida!!! - Eu estava mais agressivo do que nunca...

- Darren, por favor, acalme-se... - Doug tentou.

- "Não... Pegar...!"

- AGORA NÃO!!!!!!!!!! - Estourei.

Tudo estava girando na minha cabeça... Eu via círculos e mais círculos... As vozes estavam me deixando maluco... Algumas imagens de quartos anteriores vinham à minha mente...

Um ventilador girando, levando uma corda, com um cadáver pendurado. Os olhos estavam abertos. Completamente arregalados, mas completamente pretos. O corpo rodava pelo quarto, eventualmente batendo com os pés na cama.

Uma cadeira cheia de sangue... Em um flash de aproximadamente um segundo, eu podia jurar que havia um corpo naquela cadeira... Metade de um corpo, na verdade... A metade de superior estava espalhada na parede do outro lado do quarto...

Uma cozinha queimada, com um corpo queimado... No canto da cozinha... O corpo estava 100% queimado, o que meio que confirmava a minha teoria sobre aquele cômodo. Era impossível descobrir se era um Cozinheiro ou uma cozinheira. Ou qualquer outra pessoa.

No buraco, os bambus estavam cobertos. Havia um corpo empalado em alguns deles. Alguém caiu naquele buraco... O corpo estava de costas para cima, com a cabeça completamente atravessada por um dos bambus.

Todas aquelas imagens me deixaram enjoado... Dor de cabeça, enjoo, náuseas, nojo, desespero... Tudo em um único momento.

Enquanto essas imagens passavam na minha cabeça, as vozes ficaram mais intensas. "Não", "Darren", "Pegar", "Doug", "Círculos", "Deixe", "Saia!"...

Recobrei a consciência levando leves tapas no rosto, de Doug. Num impulso, falei:

- Temos que sair daqui!!!

- Tem uma porta aqui! - Jonas gritou.

A porta que estava ao meu lado quando vi a criança havia sumido...

- Vamos!!! - Gritei.

- Esta trancada! - Disse Doug, enquanto tentava abrí-la.

- A chave! - Jonas lembrou.

As vozes ainda não haviam parado... Estavam cada vez mais intensas...

- Abre essa porta!!!

A porta abriu. Saímos da casa e estávamos no jardim da frente. As vozes cessaram. Doug pôs as mãos nos ouvidos.

- Argh... Vozes chatas...

- Horrível, horrível, horrível! - Concordei.

- Eu não ouvi nada... - Jonas.

- É claro, com batata até os ouvidos - Doug revirou os olhos.

- Ainda acho que tem algo errado com essa casa... - Falei, confuso.

- É claro quem tem!!! - Doug gritou.

- Mas nunca saberemos - Jonas concluiu.

- Como sabe disso? - Eu e Doug, em coro.

- Não sei. Foi apenas um palpit...

Antes que ele pudesse terminar, ouvimos um barulho vindo da porta da casa. Ela rangeu e se abriu. Jonas gritou. Nos viramos para vê-lo, mas ele havia sumido. Eu estava morrendo de medo. Ouvi um som como o de um taco de beisebol batendo na cabeça de alguém. Me virei a tempo de ver Doug estatelado no chão. Saí correndo para o portão e algo me seguia. eu podia sentir... Olhei para trás a só consegui ver Doug sendo arrastado por nada para dentro da casa. Pulei por cima de uma placa. Não havia nada atrás de mim.

Parei e me virei, atento a qualquer coisa. De repente algo surgiu do chão... Não deu tempo de ver o que era, mas parecia humano. Uma de suas mãos agarrou minha cabeça e, com sua força sobrenatural, me tirou do chão. Senti seus dedos em minhas pálpebras... Perdi a consciência por um momento. Recobrei-a a tempo de perceber que fui jogado por cima do muro. Bati em um carro do outro lado da rua e apaguei de novo.

Quando acordei de novo, eu estava deitado. Minha cabeça estava coberta. Ouvi a voz de minha mãe.

- Darren, você está acordado?

- Estou... - Falei, com dificuldade.

- Ai, que bom - Ela se emocionou.

Eu estava no hospital local. Minha mãe me explicou que um senhor me encontrou na rua e me levou para lá. Por sorte, o um dos médicos era amigo da minha mãe. Ligou para ela assim que me reconheceu.

Eles enfaixaram minha cabeça, pois eu havia passado por algumas cirurgias... Disseram que a visão de meu rosto não era agradável... Eu estava quase irreconhecível. Por sorte, quase...

O doutor entrou na sala. Assim que ele pediu para minha mãe sair da sala, perguntei pelos meus amigos.

- Um outro corpo foi encontrado, próximo à porta da casa, em um estado parecido com o seu, mas o menino estava morto...

Minha expressão não podia ser vista por causa das faixas, mas era de profunda tristeza.

- Era um menino loiro... - O médico concluiu.

Doug... Era o Doug.

- Mas, e o Jonas?

- Sinto muito, só encontramos mais um corpo...

O corpo de Jonas, havia sumido...

O médico chamou minha mãe para a sala, para que ele retirasse minha faixa.

Enquanto ele retirava, algumas coisas se passaram pela minha mente... Coisas que me ajudaram a entender algumas situações...

~Doug foi encontrado morto... As vozes me mandavam sair... "Não..." "Saia" "Pegar"... Não fazia sentido, palavras soltas... Jonas não foi encontrado... As vozes diziam nossos nomes... "Doug", "Darren", "Jo..." O nome de Jonas não havia sido dito... Será que isso era sobre quem seria encontrado depois? Ele disse que não ouvia as vozes... Jonas Purith... Quem era ele? De onde ele era...? Por um momento, eu tinha certeza de que a última coisa que eu vi foi aquela placa sobre a qual pulei, onde estava escrito "Família Puri..."~ Meu pensamento foi interrompido pela voz do doutor.

- Prontinho, só mais uma volta.

- Até agora algo me deixa incomodado... - Falei, para minha mãe e para o doutor - Eu lembro de ter ouvido vozes... Se não me engano, as palavras eram: "Não os deixe pegar..." - Fui interrompido pela minha mãe, com voz chorosa após a última volta da faixa.

- Seus olhos!!!

O doutor havia removido a faixa, mas para mim, era como se ainda estivessem lá...


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