Tatame escrita por PaolaPS
Notas iniciais do capítulo
LorenaVLB, obrigada pela recomendação, de verdade. Foi ela que me ajudou a continuar esse capítulo.
Três
As semanas se passaram levando alguns meses consigo. Tempo o suficiente para que o nariz quebrado de Pedro se curasse completamente, e para que a raiva de Karina diminuísse - mas não o suficiente.
Naqueles meses ela havia conversando com a irmã apenas o necessário, acordando mais cedo e evitando ficar em casa quando ela também estava. Bianca ensaiou várias tentativas de reaproximação, mas todas foram falhas.
Pedro estava na mesma: ele tentou se explicar diversas vezes, através de músicas, cartas, mensagens, e-mails, e tudo o que fosse possível, mas Karina estava irredutível. Apesar de ter namorado com o garoto por meses, ela não conseguia acreditar que aquilo fora real pra ele.
A verdade é que a lutadora sempre foi muito insegura, e isso nem o tempo conseguiu mudar. E naquele dia, por mais que fosse uma data especial, tudo parecia estar como sempre.
Bianca chegou na academia no seu horário padrão, encontrando a irmã já no ringue, lutando com Cobra. As habilidades de luta da loira haviam se desenvolvido e muito, graças a dedicação extrema dela. Com tudo o que havia acontecido, Gael decidiu ceder e apoiar a filha mais nova na luta, já que no momento, era a única coisa que a fazia feliz.
Karina passou a treinar duramente, sempre aumentando o nível de dificuldade dos exercícios. Em pouco tempo ela já era capaz de suportar um treino longo com Zé e Marcão, passando a se exercitar com Wallace, até chegar nos melhores da casa.
O maior orgulho da esquentadinha era poder enfrentar os lutadores que possuíam o kruang preto, e tanto o Duca, quanto o Cobreloa, eram ótimos parceiros, sendo que o último estava se mostrando um grande amigo.
–Você não está saltando alto o suficiente, Karina. Desse jeito a sua joelhada não vai atingir o seu adversário. -Cobra instruía. -Faz cem joelhadas frontais saltadas, alternando as pernas.
–Porra, cem? -Ela resmungou.
–Se você continuar com o “mimimi”, vão ser duzentas. -O rapaz ameaçou.
–Nossa, é só meu pai sair que você e o Duca se sentem os reis da academia, né?! -Ela provocou. -Você é o rei da manhã e ele o rei da tarde.
–Eu estou escutando um “mimimi”, Karina?
–Chato. -Ela resmungou. -Vamos começar.
Bianca cumprimentou os alunos da academia e ficou assistindo o treino da irmã, que ignorou a presença dela.
–K, será que eu posso falar com você? -A atriz perguntou assim que a irmã terminou a sequência, mas a única resposta que obteve foi os socos contínuos contra as luvas de foco que Cobra tinha acabado de colocar.
–É rápido, eu prometo. -Bianca insistiu, mas continuou sendo ignorada.
–K, vamos fazer uma pausa. -Cobreloa sugeriu, incomodado com a situação.
–Não, nós vamos continuar o treino. -Ela respondeu o amigo.
–Por favor, K? -A irmã implorou.
–Você está me atrapalhando, Bianca. -A loira respondeu secamente.
–Ai Karina, para de ser cabeça dura. -Cobra disse. -Conversa com a sua irmã direito ou nós encerramos o treino por aqui.
–Imbecil. -A lutadora deu um soco mais forte contra o amigo e se virou para a irmã. -O que você quer, Bianca?
–Te dar parabéns.
–Valeu. Agora eu posso continuar o meu treino?
–Será que eu posso te dar um abraço? -Bianca perguntou, mas o olhar cortante que ela recebeu foi o suficiente para que ela desistisse da ideia.
–Mais alguma coisa? -Karina perguntou impaciente.
–Bom, eu sei que você nunca gostou de festa, mas a Dandara vai preparar um jantar especial pra você. Ela vai fazer aquele arroz à piamontese que você adora. -A atriz se esforçou. -Se você quiser convidar mais alguém, o papai não vai se importar.
–Faz o que você quiser, Bianca, só me deixa em paz. -Foi o que a irmã respondeu.
–Tudo bem. -A mais velha desistiu. -Feliz aniversário, K.
Depois que a atriz saiu, os dois lutadores voltaram a treinar.
–Porra, Karina. Precisava ser tão grossa assim com a sua irmã? -Cobreloa perguntou.
–E quem diz isso é o mister simpatia do Catete, né?! -A garota ironizou. -Desde quando você se importa com o que eu falo ou deixo de falar com a Bianca?
–Eu só acho que você está adiando o inevitável, loirinha.
–O que você quer dizer com isso?
–Cara, ela é a sua irmã. Já faz um tempo que eu não vejo a minha família, mas eu ainda sei o que isso significa. -Ele admitiu a contragosto.
–Acho que se tem alguém aqui que não entende o significado de família, é a princesinha do Gael. Desde sempre a Bianca tem essa mania de manipular os outros pra que as coisas saiam do jeito que ela quer, mas dessa vez ela passou dos limites. -Karina disse. -Agora será que nós podemos nos concentrar no meio treinamento?
–Tudo bem, teimosia. - Ele cedeu. -Ah, e que horas é pra chegar na sua casa?
–Do que você está falando, Cobreloa?
–Eu estou falando do seu jantar de aniversário, Duarte. A Bianquinha deixou bem claro que você pode levar quem você quiser, e como eu sou o único amigo que você tem...
–Idiota. -Ela respondeu rindo e voltando a atenção para o treino.
Na sua sala, Bianca estava desanimada. Ela já tinha perdido a conta de quantas pessoas tinham dito a ela que o tempo resolveria tudo, que Karina a perdoaria, que tudo voltaria a ser como era antes, mas esse dia parecia estar mais longe do que nunca.
A atriz tentou focar na administração da academia, mas os números pareciam não fazer sentido. A verdade é que nessa data, Bianca sempre focava no aniversário da irmã - preparando um café da manhã especial, tagarelando no ouvido da aniversariante durante todo o dia, pensando no cardápio do jantar e fazendo o bolo favorito da mais nova.
Estando brigada com Karina, a garota estava livre para pensar no lado negativo do dia.
Quando Gael chegou na academia, ele cumprimentou os seus lutadores, deu um abraço na filha mais nova - mesmo já tendo dado os parabéns antes -, e conferiu como andavam os treinos. Depois de ver que os exercícios estavam correndo como deveriam, ele foi até a filha mais velha, para analisar a parte administrativa.
E foi então que ele encontrou Bianca encarando a tela do computador com o olhar perdido. O lutador sentiu o coração apertar, se lembrando bem daquela expressão, já que tinha sido assim que ele havia encontrado a filha mais velha no hospital há dezessete anos.
Ele se lembrava com clareza do olhar assustadoramente vazio da criança de três anos encarando a parede branca da sala de espera.
E como naquele dia, a menina abriu um sorriso - mesmo que forçado - ao vê-lo.
–Bom dia, paizinho. -Ela se levantou para abraçar o pai.
–Bom dia, filha. Está tudo bem por aqui?
–Tudo tranquilo. Ah, tem um documento que você precisa assinar. -Ela respondeu mexendo em alguns papéis que estavam na mesa.
–Tem certeza que está tudo bem, Bianca? -Ele perguntou, obrigando a filha a olhar pra ele.
Ela fechou os olhos e respirou fundo.
–Vai ficar tudo bem. -A atriz repetiu a frase que mais tinha ouvido nos últimos meses.
Gael já estava acostumado a olhar para a filha mais velha e ver a cópia de Ana, já que Bianca, além de ser fisicamente semelhante à mãe, tinha uma personalidade tão forte quanto a eterna Julieta. No entanto, existiam alguns momentos - extremamente raros - que ele conseguia ver o que a primogênita havia herdado dele.
A verdade é que o mestre de muay-thai nunca soube lidar com os seus sentimentos, principalmente os negativos. Era mais fácil fingir que estava tudo bem; era mais fácil ignorar aquela dor. Ele sabia que eventualmente ela desapareceria - ou que, pelo menos, ele conseguiria fingir que ela desapareceu.
Mas o tempo é um professor paciente, daqueles que explica a matéria de várias formas, assinalando os erros com uma caneta vermelha, para que no futuro, eles não se repitam. E aos poucos, Gael aprendeu que externar - através de socos ou de conversas com cactos - era a melhor forma de aliviar a dor.
E não saber lidar com os sentimentos negativos foi uma característica herdada por Bianca Duarte. Desde criança, naquela data, Gael via a filha mais velha encher Karina de paparicos pelo aniversário, conversando tanto na cabeça da irmã que nenhuma delas tinha tempo de pensar na mãe. Bianca se esforçava para que a mais nova tivesse tudo aquilo que ela tinha tido com a mãe - desde o cheiro de flores pela casa, até o bolo de chocolate que Ana fazia -, e assim, enquanto Karina costumava lamentava a perda prematura da mãe, a irmã fingia que a mãe não fazia falta nenhuma.
–Você sabe que não precisa fingir que não dói, filha. -Ele disse.
Naquele momento desapareceu a máscara que ela insistia em manter e as lágrimas molharam a camisa do pai em questão de segundos.
–Eu sinto tanta saudade dela. -Ela desabafou.
O pai a abraçou com mais força, compartilhando da dor que a filha sentia.
–Todo mundo diz que com o tempo a dor some, mas ela ainda não sumiu. -Bianca murmurou. -E as vezes eu acho que nunca vai sumir.
–Vai melhorar, filha. -Gael garantiu. -A dor vai diminuir.
–Mas essa sensação de vazio que ela deixou sempre vai existir, não é?!
O mestre não respondeu, porque a pergunta não precisava de resposta. Ambos sabiam que o vazio não sumiria.
Bianca se esforçou até conseguir engolir o choro e rapidamente enxugou as lágrima, se recompondo.
–Bom, hoje é aniversário da K, não vamos estragar isso, né?! -Ela disse forçando um sorriso.
–Verdade, hoje é dia de festa. -Gael disse limpando as lágrimas que tinham escorrido. -O que você vai fazer pra gente? O favorito da K?
–Na verdade, quem vai fazer é a Dandara. -A atriz exibiu um sorriso triste. -Se eu fizer, é provável que a K nem coma.
–Mas eu tenho certeza que se você fizer aquele bolo de chocolate, ela não vai resistir. -O pai incentivou.
–Talvez.
(...)
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Acho que eu tenho que desejar um feliz 2015 pra vocês, mesmo que atrasado, HAHAHA. Estava com muita dificuldade de encerrar esse capítulo, e preciso confessar que não estou muito satisfeita com o resultado final dele, mas ok.
Obrigada por acompanharem a minha fic e comentem se gostarem.
Ps: eu realmente estou insatisfeita com ele capítulo, mas mais porque ele é um gancho pra uma outra situação que eu ia desenrolar aqui, mas preferi deixar pro próximo. Desculpa.