— Derek? Está tudo bem? — A caçadora perguntou delicadamente, colocando as mãos nas costas largas do lobisomem.

Eles tinham acabado de chegar no loft, após a conversa estressante na clínica veterinária e Derek estava com a expressão fechada, as sobrancelhas franzidas, os lábios enrugados.

— Esse garoto... — Ele soltou um palavrão baixo, xingando Stiles por seu plano, xingando Lydia por ter seguido o plano e ainda ter sido possuída com o garoto.

— Vai dar tudo certo, a gente vai conseguir livra-los dessa.

— Como você pode ter essa certeza? Nas últimas duas vezes que o Nogitsune atacou, alguém morreu nesse processo e agora os dois...

— Eu sei como que está preocupado, mas tenta relaxar. — Callie o interrompeu, sem saber o que falar, como acalmar o homem que estava visivelmente estressado.

— Como vou relaxar? — A forma raivosa que Derek falou, socando a parede perto dele, surpreendeu a caçadora.

Primeiro, ela ficou assustada em ver o quanto ele estava alterado, depois pensou em brigar, mas então, percebeu como o lobisomem respirava forte, como seu peitoral subia e descia violentamente. Seus olhos pareciam ainda mais verdes, a boca estava entre aberta, as mãos fechadas em punho.

Ele ficava tão lindo quando estava nervoso, que a reação de Callie foi completamente diferente da esperada.

— Mas que droga, Derek, por que você faz isso?

— O que? — Ele perguntou, ainda alterado, mas curioso com a mudança na voz dela.

— Eu estou com muita vontade de transar com você.

A expressão de Derek ficou surpresa e em questão de segundos, toda a raiva se dissolveu. Callie, de alguma forma, fazia todo o ódio, toda irritação momentânea, desaparecer.

— E isso é culpa minha? — Ele riu nasalado, deliciado, esquecendo imediatamente a irritação, as preocupações e a mulher, se aproximou, colocando as mãos no seu peito.

— Claro que é, é culpa sua e desse peitoral lindo, desse abdômen definido, dessa voz rouca, dessa pele gostosa. — Callie mordeu o pescoço do lobisomem, que estremeceu, sorrindo. —Você não pode fazer essa carinha sexy de irritação para mim.

Ele mordeu o lábio inferior, segurou o queixo da mulher e a beijou com uma delicadeza surpreendente. Seus lábios se moveram lentamente, as línguas tiveram calma e precisão, foi um beijo repleto de sentimentos, que relaxou os corpos.

— Eu nunca disse isso para ninguém. — Ela parou o beijo repentinamente, soltando a frase em meio a respiração irregular.

— Nunca disse o que? Que queria transar? — A voz dele estava divertida e levemente irônica, parecia prestes a soltar uma piada maldosa, mas a resposta de Callie o deixou sem fôlego.

—Eu nunca disse que amava alguém, porque nunca tive a certeza que tenho agora. Eu amo você, Derek Hale. — Ela disse com os olhos fixos nele, as mãos firmes em seu pescoço, mantendo os rostos próximos. — Eu amo seu jeitinho rabugento, a sua marra, tenho vontade de tirar todas as dores, todos os traumas e tomar para mim. Amo quando o faço sorrir e tenho vontade de beija-lo o tempo todo, de o consolar. — Percebendo como o rosto dele estava surpreso e a maneira como estava sem reação, ela abriu um sorriso leve e acrescentou uma provocação. — E claro, sinto vontade de fazer sexo o tempo todo.

Derek não conseguiu responder. Não por falta de sentimentos, mas por falta de palavras.

Ele não estava acostumado com a palavra amor, não estava acostumado com aquele sentimento que fazia seu coração disparar. Ele conhecia a dor, a morte, o luto, o sofrimento, a solidão e passou tanto tempo fugindo de relações sérias, tanto tempo com medo de perder o que prezava, tanto tempo sendo traído, enganado, que não sabia como reagir ao perceber, que pela primeira vez, tudo estava dando certo para ele.

Ele ficou em silêncio por um longo tempo, paralisado e temeu que a caçadora interpretasse aquilo de forma errada, mas o que recebeu foi um sorriso gigantesco.

— Não precisa dizer nada, eu sei que você me ama.

E então, ele agarrou aquela cintura fina, tomou para si aqueles lábios gostosos e a beijou novamente, com intensidade, com força e paixão.

Derek rosnava de desejo, ronronava de prazer. Callie arfava de expectativa, gemia muito baixo, como se quisesse manter aquele momento em segredo. Eles se fundiam, se beijavam, mordiam, puxavam, agarravam.

Ele era dela e ela era dele. Naquele momento, nada mais importava, nem mesmo as preocupações que antes os afligiam.

***

— Kira? — O alfa ligou para a namorada assim que acordou de seu sono conturbado.

— O que aconteceu? — A voz da garota demonstrava sono e preocupação.

— Nada, só quis ligar. — Ele mentiu, sem saber como dizer que Stiles e Lydia estavam possuídos.

Por alguns instantes, os adolescentes ficaram em silêncio, os dois apertando os celulares contra as orelhas, cada um em seu quarto. O que parecia ser uma distância insuportável, como se suas casas fossem separadas por milhares de quilômetros.

— Você resolveu me ligar ás quatro da manhã?

Scott, de olhos arregalados, olhou pela primeira vez para o relógio na sua cômoda. Anunciando que eram quatro horas em ponto. Ele se xingou baixinho, por não ter visto antes a hora e entendendo a voz de sono da garota.

— Eu posso ir para aí? Queria conversar. — Finalmente falou, decidido a falar para Kira tudo o que estava acontecendo, mesmo com o medo de prejudicar sua gravidez.

Ela tinha o direito de saber e Scott não suportaria a culpa de esconder as coisas da mulher que carregava em seu ventre, um ser mínimo, um garotinho que ainda não conhecia, mas amava tanto, que o fazia enxergar o mundo de forma completamente diferente.

— Tudo bem, vou deixar a janela aberta. — Scott sorriu com a expectativa de passar a noite com a garota e antes de encerrar a ligação, ela fez um único pedido. — Eu estou com desejo de comer chocolate, lasanha de micro-ondas e pipoca.

— Vou dar um jeito de trazer, Deus me livre de ter um filho com cabeça de lasanha.

Com risadas singelas, eles finalmente encerraram a ligação e por alguns segundos, Scott se distraiu das tragédias que pareciam perseguir seu melhor amigo, mas assim que se levantou e foi tomar um banho, novamente foi incapaz de pensar em outra coisa que não fosse o maldito plano que a alcateia organizou para salvar Stiles, Lydia e eliminar de vez a ameaça do Nogitsune e da Morte.

Scott chegou na casa de Kira em questão de minutos, segurando uma sacola com todas as comidas prometidas. Ele pulou sem dificuldades até a janela do segundo andar e entrou no quarto da menina, a encontrando deitada, com uma blusa curta, acariciando a barriga levemente estufada.

A Kitsune o encarou e sorriu, ele não conseguiu resistir e lhe lançou um meio sorriso abobalhado.

Eles tiveram longos minutos de paz. Kira devorou a comida e ele, a admirou, acariciando o cabelo liso e brilhoso que o encantava. Conversaram sobre muitos assuntos, todos inúteis e sem importância, depois falaram sobre a gravidez e discutiram baixinho sobre qual nome dar ao menininho que estava por vir.

— O que você queria falar, Scott? — E então, ela finalmente perguntou, quando estavam deitados, um de frente para o outro.

— É sobre Stiles e Lydia.

Ele falou tudo de uma vez, despejando sobre os acontecimentos desastrosos, sobre o plano perigoso que parecia ser a única chance dos amigos sobreviverem e os motivos que o fez esconder tudo aquilo dela.

Kira não brigou, ela entendeu que Scott tentava protege-la, ela não disse nada, apenas arregalou os pequenos olhos e deixou escapar poucas lágrimas de preocupação, de medo.

Quando ele acabou de falar, com a testa franzida de preocupação, os olhos voltados para baixo, sentiu as mãos pequenas da menina acariciando seu rosto. Scott suspirou, tremulo e a encarou com tanta intensidade, que fez Kira perder o compasso da respiração.

Suas bocas se uniram por instinto, pois eles sabiam que sempre encontrariam conforto, proteção no beijo que compartilhavam. Os momentos que passava com Kira, eram os únicos em que o lobisomem podia se libertar do peso de ser um alfa, ele sentia a preocupação se esvair, como se não fosse responsável por nada, como se sua vida de resumisse a mover a boca da maneira certa, a encaixar as mãos da maneira certa, a tomar a pequena menina para si.

A Kitsune acariciou o seu rosto e o lobisomem, acariciou a barriga que protegia o bebê em formação.

Demonstraram o amor e a preocupação em silêncio, deixando soar apenas o som dos movimentos de suas bocas.

***

Três dias, esse foi o tempo necessário para a alcateia se organizar.

— Você tem certeza que isso vai funcionar? — Sabrina perguntou, olhando com preocupação para seu alfa.

— Tem que funcionar. — Foi a resposta, tentando soar seguro, tentando convencer a si mesmo que salvaria seu melhor amigo.

— Vocês são uma droga para fazer planos. — Callie murmurou, segurando com firmeza a besta em seu ombro, pronta para atirar.

— Não temos tempo para pensar melhor, as vidas deles estão em risco. — Scott disse, segurando o celular em sua mão já repleta de garras.

— As nossas vidas também estão. — Isaac, disse ácido, mas pronto para o que estava por vir, com a transformação completa.

Scott ignorou o lobisomem loiro e discou o número de Derek, que atendeu no segundo toque.

— Tudo pronto?

— Sim, assim que você der um sinal, eu vou ser isca para demônio. — O Hale não demonstrava medo, nem qualquer tipo de insegurança.

— Ok. — O Alfa, expondo os olhos vermelhos, olhou para os lados, onde Isaac, Sabrina e Callie aguardavam com expectativa o que ele falaria. — Vamos salvar nossos amigos.

E em questão de segundos, Beacon Hills presenciou, mais uma vez, uma batalha física e psíquica.