Apocalypse escrita por SuicideFish


Capítulo 4
Matthew


Notas iniciais do capítulo

Demorei mais do que o normal, eu sei, mas os bloqueios criativos não ajudaram. Mas ta aí, espero que gostem.

Ah, parabéns Drei, seu lerdo. ♥



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Sentei na beirada da varanda da cabana e respirei fundo. Era minha vez de ficar vigiando, novamente. Dean, Tam, e Sammy estavam dentro da cabana, dormindo a essa hora. Eu não os culpava; Dean passou o dia coletando coisas ao redor, Tam tinha passado a noite anterior vigiando, e Sammy tinha apenas 11 anos ainda. E, bem, sem ela, não teríamos como ter feito fogo na noite passada. Não sei como ela fez aquilo com eletricidade, mas, pelo menos, nos manteve aquecidos.

Olhei para meus pés; as botinas que havia roubado de uma loja uns meses atrás já estavam desgastadas em função das longas caminhadas até achar um local seguro. Realmente, tive sorte em achar essa cabana. Se não fosse por ela, sei lá aonde eu poderia estar agora.

— Sei lá aonde eu estaria. — Sussurrei para mim mesmo, deslizando a mão até o bolso da calça, retirando uma foto amassada e levemente rasgada num canto. Sorri levemente; toda vez que olhava para a foto, sentia um arrepio. Não qualquer arrepio. Sentia como se aquela garota na foto, abraçada em Buster, fosse alguém importante para mim. Só queria me lembrar o que havia acontecido desde que acordei naquele ginásio.

Continuei mergulhado em meus pensamentos, até ouvir um barulho vindo pelo lado da cabana. Deixei a foto no chão e tentei controlar meu nervosismo, o que não deu muito certo, já que minhas costas começavam a coçar incontrolavelmente quando isso acontecia. Algo a ver com um mecanismo de defesa do meu corpo, em que as asas querem se abrir, eu acho. Ouvi outro barulho, parecido com o quebrar de um galho; levantei, cerrando os punhos, seguindo até aonde achei que era a origem dos barulhos. E então, a vi: seu corpo estava num tom estranho, amarronzado. Seus cabelos eram azuis, porém tomavam uma cor mais escura à medida que eu tentava me aproximar, ainda com os punhos cerrados. Franzi a testa; algo nela era estranho. Algo nela me fazia sentir estranho. Analisei seu corpo inteiro, vendo-o se tornar totalmente marrom. Parei de analisá-la assim que olhei em seus olhos coloridos; estranhamente, eles eram a única coisa que não havia mudado completamente de cor. Ainda estavam o mesmo laranja e o mesmo violeta de sempre. Os mesmos olhos que eu havia visto...

E então, meu corpo paralisou. Foi como se algo estivesse segurando-me, me impedindo de continuar a caminhar. Ou de pensar. Apenas voltei para mim mesmo quando senti meus pulmões queimarem, indicando que eu estava prendendo a respiração. Pisquei algumas vezes. Não poderia ser; não tinha COMO ser. Estendi a mão levemente, tentando chegar mais perto da garota, porém ela recuou ainda mais. Percebi que ela estava tão confusa quanto eu.

— Não... Não pode ser. — Quando finalmente havia recuperado as forças para falar, a garota parou de recuar. Senti algo estranho em meu corpo, como se um estalo viesse à minha mente. E, finalmente, algo havia se conectado durante tanto tempo. — Megan?

— C-como você... — Ela parecia estar aliviada em ouvir seu nome. Sua expressão havia suavizado, porém seus olhos estavam cansados. Agora seu corpo não estava mais marrom, e sua pele havia voltado para um leve tom bronzeado. Notei que seu cabelo também não estava mais azul; sua coloração, agora, estava voltando para um loiro levemente claro, e apenas as pontas de seus cabelos continuavam azuis. — Quem é você?

Não pude deixar de soltar uma risada, mas logo lembrei que nem eu sabia quem ela era direito. Apenas sentia que algo nela me fazia sentir bem, eu me sentia seguro. E sabia que seu nome era Megan.

— Ahm... — Olhei para baixo, pondo as mãos nos bolsos. — Olha, as coisas são meio complicadas. Na verdade... Ugh. — Suspirei, frustrado. Como as coisas poderiam estar tão confusas agora? — Escuta. Por quê não entramos, e eu te explico as coisas? Não podemos ficar aqui fora muito tempo. Só preciso saber se você tem alguma comida, ou algo do tipo, ou Dean vai acabar com a minha raça.

— Ah. — Ela murmurou baixinho, pondo uma das mochilas que estava segurando no chão, sei abaixando para abri-la. — Eu tenho... algumas latas de feijão, alguns copos de noodles, e barras de cereal. — Ela me olhou, erguendo a sobrancelha. — Seu chefe vai gostar disso?

— Ele... não é meu chefe. — Mordi o lábio, olhando para os lados. — Ele só cuidava da cabana antes de eu chegar. Tive a sorte de ter comida naquela época, ou estaria sozinho agora.

— Aham, tá. — Ela sorriu sarcasticamente com o canto da boca. Algo naquele sorriso fazia meu corpo tremer. Como se eu já tivesse o visto havia anos. Realmente, eu já tinha o visto. Só não sabia como.

— Vamos logo, Megg. — Arregalei os olhos perceber que havia a chamado assim. Percebi que sua expressão era tão confusa quanto a minha, porém tentei ignorar o que tinha acabado de acontecer e decidi seguir para a cabana, apenas fazendo um gesto com a cabeça para a garota me seguir.

Guiei Megan até a entrada do chalé, abrindo a porta levemente. Olhei para trás e percebi que ela estava segurando um pedaço de papel, e só então me toquei que era minha foto. Olhei para a expressão de Megan, que parecia mais confusa do que nunca. Ela olhou para mim, franzindo o lábio.

— Eu sei. — Murmurei, como se tivesse lido sua mente. — Estranho, não? Acho que a essa hora você já percebeu que bem... somos...

— Eu e você? É, eu senti também. Olha, Matthew... — Ela paralisou por alguns segundos, e eu fiz o mesmo. Afinal, como poderíamos saber um o nome do outro? Sem ao menos nos conhecermos? Quero dizer, sem ao menos lembrarmos que nos conhecermos. Suspirei, puxando a garota levemente pelo pulso. — E-eu... não sei...

— Só vamos entrar. — Mumurei, fazendo um gesto para ela entrar. — Eu vou explicar tudo amanhã, e podemos tentar entender mais um pouco dessa loucura, ok? Você deve estar cansada. — Ela concordou, e entramos na cabana. Olhei para fora mais uma vez para me certificar de que não tinha nada, e finalmente fechei a porta.

— Olha. Somos em quatro aqui. Eu, Dean, Sammy, e Tam. Sammy é a mais nova, então vai levar um tempo para se acostumar. Tam vai gostar de você, ela é mais ou menos da minha idade. Só bem menor do que nós dois. — Sorri levemente, e percebi que ela sorriu também. Porém seus olhos estavam vazios, como se algo estivesse faltando. Apenas não sabia dizer o que. — Eu e você... Bem, ainda temos que descobrir algumas coisas. — Senti um nó na garganta se formar, e respirei fundo. — E tem o Dean.

— Seu chefe. — Ela revirou os olhos debochadamente, rindo.

— É, meu... — Ri levemente, quando percebi o que ela havia falado. — EI! — Ela riu mais alto, e senti seu corpo relaxar. Balancei a cabeça para os lados, ainda sorrindo. — Você pode dormir aqui no meu sofá, eu durmo no tapete. Não tem problema. — Dei de ombros, gesticulando para a garota sentar no estofado.

— Matthew? — Uma voz grossa ecoou das escadas da cabana. Ouvi passos, o que indicava que ele estava descendo. Arqueei as sobrancelhas, respirando fundo. Isso não ia sair bem. — Quem é essa? — Ele acenou com a cabeça, analisando Megan.

— Ahm... Oi, Dean. Essa é a Megan. Ela... apareceu há pouco, na floresta. Estava perdida. — Observei Dean franzir a testa, e engoli seco. Sei que não devia ter medo dele, porém ele era mais forte, mais alto, e mais velho. — E tem comida. Bastante, até.

— Hm. — Ele arqueou a sobrancelha, cruzando os braços. — Você está com mais alguém?

— É... n-não. — Ela balanço a cabeça negativamente, olhando para o chão. Algo me dizia que ela estava prestes a chorar. Ele bufou.

— Qual o seu poder, Megan? — Ele pronunciou seu nome com desgosto, o que me fez ficar irritado. Não sabia por quê.

— Eu... controlo as cores. — Ela ainda olhava para o chão. Vi Dean tentar segurar o riso, e senti minha raiva subir.

— Dean, se quer falar algo, fale de uma vez. — Cerrei o punho, olhando-o. Ele me lançou um olhar mortal; seus olhos negros poderiam fazer qualquer pessoa sair correndo de medo. — Ela não vai nos fazer mal. Mal consegue se manter acordada.
Ouvi mais passos vindo das escadas. Ótimo, mais uma.

— O que está acontecendo? — Ela olhou para Dean, esfregando os olhos cor de mel. — Quem é ela? Ela veio nos roubar? — Ela apontou para Megan, e eu balancei a cabeça.

— Não, Sammy. — Falei, olhando para a garota. — Ela estava perdida, e eu a encontrei enquanto cuidava da cabana. O nome dela é Megan.

— Sam, maninha, volte para sua cama. — Dean olhou para a garota, sorrindo. Sammy era a única pessoa da casa que Dean realmente se importava.

— Não! — Ela bateu o pé no chão, cruzando os braços. — Eu quero participar disso também! Eu nunca participo. — Ela moldou um biquinho, olhando para baixo.

— Ei, Sammy, né? — Era a voz de Megan. Ela se dirigiu até o pé da escada, estendendo a mão para a garota. — Por que você não vem comigo e deixa o Dean e o Matthew conversarem? Posso mudar a cor do seu cabelo, se quiser. — Sorri ao ouvir as palavras de Megan. Tudo nela era tão... familiar.

— SIM! — Vi os olhos de Sammy brilharem. Ela desceu as escadas correndo, pegando na mão de Megan, que me lançou um olhar indicando para subir as escadas. Assenti com a cabeça, subindo os degraus silenciosamente, gesticulando para Dean subir também. Ele fez o mesmo, e subimos para um quarto no fim do mini-corredor da cabana. Assim que entrei no quarto, e ele fechou a porta atrás de mim. Virei-me para observar sua expressão rústica, com os braços tatuados cruzados.

— Quer me explicar que porra está acontecendo? — Ele murmurou, franzindo a testa.

— É... Olha, Dean. Sabe aquela garota da foto? Aquela que eu falei para você no dia em que cheguei. Então... acho que é ela.

— Hahahah! — Ele gargalhou. — Você realmente ACHA que ela ainda está viva a essa hora? Se toca, Matthew, ela já deve ter morrido. Você nem se lembra dela.

— Não ouse falar da Megan assim. — Cerrei o punho, me aproximando dele. — Porque ela está aqui, e está no andar debaixo, e não tem nada que você possa fazer para tirá-la daqui. — Me aproximei mais ainda de Dean, encarando-o nos olhos. — E se você a colocar para fora daqui, vai ter que me por para fora também. E você não colocaria uma criatura mística capaz de ficar com mais de 2 metros de altura e de projetar luz, além de poder curar todos aqui, para fora, colocaria? — Estreitei os olhos, tentando soar o mais ameaçador possível.

— Seus argumentos são ótimos, Matthew. — Ele soava sério. — Mas isso não muda o fato de que aquela garota na foto está morta em algum canto. Ela não é a mesma que está ali embaixo, aceite. Ela morreu, e você nem sabe quem ela sequer foi na sua vida.

E então, senti como se uma força interna me impulsionasse, e eu desferi um soco em sua têmpora. Ele fechou os olhos, e pôs a mão sobre o rosto.

— Saia. Agora. — Seu tom era mais grosso do que o normal. — Amanhã conversaremos sobre isso. — Ele saiu da porta, dando passagem para eu passar. — Ah. E volte para seu posto. Não queremos mais idiotas entrando aqui, queremos? Dois já são o suficiente.

Respirei fundo, batendo a porta com força assim que sai do quarto. Desci as escadas, balançando a mão levemente. Me curava rápido, porém a pancada havia sido forte. Olhei para o lado, e vi que Megan e Sammy estavam dormindo no sofá. Não pude deixar de rir; o cabelo de Sammy estava roxo. Desci o resto das escadas, e apanhei a foto que estava no chão, batendo o dedo indicador na figura. Segui até a porta de entrada da cabana, e olhei uma última vez para Megan e Sammy dormindo.

Mordi o lábio; ver Megan dormir soava tão familiar, assim como tudo o que ela fazia. Realmente, queria descobrir o que estava acontecendo. Balancei a cabeça e tentei afastar o pensamento, fechando a porta. Sentei novamente na varanda, suspirando.

— Amanhã é um novo dia. — Sussurrei para mim mesmo, olhando para o horizonte.


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Notas finais do capítulo

Ficou parado, eu sei. Mas eu precisava fazer isso, porque o drama vai vir depois (hehe). Vocês vão entender. Se gostaram, comentem! Ajuda bastante.
Até o próximo capítulo o/



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