Satoro se sentou em uma mesa atrás da minha na fileira a minha esquerda. Eu o espiei por cima do ombro e ele deu uma piscadela pra mim. Olhei rapidamente para frente morrendo de vergonha. Mais que droga! O que está acontecendo comigo? Nunca me senti tão nervosa perto de alguém antes. Sempre fui muito confiante e determinada. Por que isso agora? Cocei freneticamente minha cabeça com as mãos.

–Aaargh... Droga!

–O problema está muito difícil de resolver senhorita Atsuko? – Perguntou nosso professor Umino. Fiquei paralisada com as mãos ainda na cabeça. Não tinha percebido o que tinha feito. Levantei-me em um salto e comecei a explicar, ou quase isso:

–Ah... Não! Digo... Está difícil sim, mas não é por... Quero dizer... Desculpe, Umino-sensei. – Me inclinei reverenciando-o, morrendo de vergonha.

–Está tudo bem. Só tente não se expressar tão alto da próxima vez, ok? –A turma deu risada.

–O-ok!

Sorte minha que meu professor do cursinho era muito legal. Se fosse a senhora Hino (minha professora da escola) teria me posto para fora no mesmo instante.

Olhei Satoro novamente e ele sorriu e deu de ombros como se dissesse: “Não foi minha culpa!”. É claro que foi!

O resto da aula foi bem tranquilo. Quando terminou e fomos dispensados, Satoro foi para a saída ao meu lado. Não disse uma palavra. Acho que estava esperando eu falar alguma coisa, missão impossível. Chegando à rua ele tocou meu ombro:

–Bom Aki-chan... –Aki-chan? Quando foi que ele ficou tão intimo?- Te vejo amanhã?

–Ah... C-claro! Até amanhã! – Eu respondi sorrindo e corando. Ele me olhou e sorriu pendendo a cabeça para a direita.

–Até! Ah! Posso te pedir uma coisa?

–Sim!

–Você pode me emprestar as suas anotações da aula de hoje?

–Posso! Qual parte você não conseguiu copiar? –Falei pegando meu caderno.

–Todas!

–TODAS????

–Há há há há não gosto muito de escrever lições ou qualquer coisa que se passe em uma sala de aula, a menos que sejam partituras.

Tomei um susto. Como assim ele não gosta de copiar nada? Ele me parecia ser tão responsável. Olha que cara mais limpa!!!

–Você não tem vergonha de dizer uma coisa dessas não?

–Não. Por que eu teria?

–Bom, porque é um ato irresponsável. Como espera ingressar em uma faculdade desse jeito?

–Colando? –Disse ele dando de ombros. Mas que folgado!!

–Eu não acredito...

–Aki, me escute. Só porque não gosto de copiar não significa que eu não preste atenção na aula. Se eu realmente não me importasse acha mesmo que te pediria as suas anotações?

–Sei... E provavelmente vai me pedi-las todos os dias, né?

–Ué... Eu posso? –Me perguntou sorrindo.

–Claro que não!

–Que pena! Pensei que você me poderia ser útil...

–Oi?

–É! Esqueça o que eu disse. Até amanhã, Atsuko-sam –“Atsuko-sam”?

–HEY! Espera!

Ele saiu andando e nem olhou pra trás quando eu chamei. Mais que cara mais idiota! E eu aqui toda “coisada” por causa dele.

–AI QUE ÓÓÓÓÓÓÓÓDIO!!!

Todo mundo na rua parou e ficou me olhando. Consequência: Paralisei. Corei. Corri. Só parei a quatro quarteirões dali em um playground. E aquele nem era o caminho para a minha casa. Sentei no balanço para tomar um folego.

–Meu Deus, que vergonha!

–E aí Aki? Gostou do caminhão?

–Kohai! –Ele apareceu atrás de mim do nada. Levantei e fiquei em posição de luta sem me transformar – O que está fazendo aqui?

–Qual é? Não sabe dizer outra coisa não?

–Não! E como assim caminhão?

–O caminhão que mandei pra você. Vejo que não o recebeu. Que pena.

–Desgraçado! COMO SE ATREVE? – Me transformei e voe pra cima dele, mas ele desviou.

–Caramba! Você está muito lenta! Deve ser a falta de prática! Assim nem tem graça brigar com você!

–O que foi? Está com medo que eu acabe com a sua raça como sempre?

–Desse jeito? –Ele apontou pra mim com desdém - Não me faça rir! Eu poderia te matar com um golpe só!

–Por que não tenta?

–Porque não tem graça. – Ele falou com uma cara tão maligna que eu não me aguentei e acertei um soco direto nele que o jogou no escorregador que se quebrou com o impacto.

–Ai... Pelo jeito você ainda tem um pouco de força. –Disse se levantando massageando o queixo com a mão.

–Pode acreditar, tenho mais força do que você imagina.

–É! Mas vamos ver por quanto tempo. –Ele virou sombra e sumiu. Voltei a minha forma humana.

–VOCÊ ACHA QUE EU TENHO MEDO DE VOCÊ, SEU IDIOTA? PODE ESPERAR QUE EU AINDA VOU ARRANCAR AS SUAS ASAS COM AS MINHAS PRÓPRIAS MÃOS E DEPOIS VOU TER O PRAZER DE ENCRAVAR AS MINHAS ESPADAS JUNTINHAS NO SEU PEITO ESTÚPIDO!!!

Quando eu vi, tinha um monte de gente no parquinho me olhando. Claro que eles não viram o que aconteceu antes porque minha forma de anjo é invisível. Consequência: Paralisei. Corei. Corri.