— Tomara que ele não demore muito...

— Ei, Fubuki! Anda logo, não vamos sair daqui até você aparecer!

 Ouvi Kazemaru reclamar da minha demora e Hiroto me apressar para me arrumar logo, e esses eram os meus amigos. Mesmo dizendo que não tinha vontade alguma de sair, eles vieram atrás de mim e provavelmente não desistiriam de me tirar de casa (não se o Endo estivesse ali), mas quando olhei pela janela ele nem estava lá, então alguém deveria ter os incentivado, e eu sabia muito bem quem era.

— Fubukiii! –Hiroto gritou de novo.

— Eu já tô indo!

— Eu vou subir aí e te trazer a força e se tiver pelado, eu vou tirar foto e vou mostrar pra todo mundo!

— Cala essa boca, seu retardado!

— Não precisa me bater, Yasmin! Aii...

 Ri ouvindo-os do lado de fora enquanto terminava de enfaixar meu pulso. Dizem que cada um tem o amigo que merece, e agradeço por merecer tê-los como meus amigos, mesmo que eles sejam um pouco malucos.

~*~

— Pra onde estamos indo? –Perguntei já com todos a caminho de algum lugar.

— Pra casa do Endo, a mão dele vai fazer um churrasco. –Midorikawa disse animado.

— Churrasco? Em plena terça-feira?

— Sim, o capitão tirou 8 na redação, a mãe dele ficou tão feliz com esse milagres, que até resolveu fazer um churrasco pra comemorar. –Yasmin falou ao meu lado, estava de braços dados com Aki.

— Mas ele só conseguiu com a ajuda da Aki. –Kido se pronunciou escondendo um sorriso malicioso no rosto.

— Eu shippo... –Hiroto provocou e todos caíram na risada quando Kino quis sufoca-lo com o cordão que ficava em seu pescoço.

 Fomos o caminho todo conversando e rindo, já fazia uma semana desde o ocorrido no campo e ninguém havia vindo tirar satisfação comigo ainda, era muito estranho. Eu não conseguia tirar o peso da consciência por ter acontecido àquilo comigo de novo, ainda mais por ninguém ter dito nada. Eu queria saber o que eles pensavam, o que disseram depois que eu saí e sobre o Fudou também, ele não apareceu mais nos treinos e agora o time só ia para o campo uma vez por semana e eu não participava por escolha própria, mas o que aconteceu durante esse tempo eu não fazia ideia, e isto esta me consumindo por dentro.

 Uma semana antes...

 Todos estavam cabisbaixos e visivelmente preocupados dentro do salão quando ela entrou, ela também estava seria, limitou-se a sorrir minimamente e foi sentar-se em uma cadeira vazia perto do garoto de cabelos azuis.

— Não o achamos... O Fubuki deve ter ido pra casa... –Kazemaru foi direto, falando entre pausas em um tom baixo, mas que todos pudessem ouvir.

— Eu o encontrei numa praça perto do Instituto Imperial.

— Do Instituto Imperial? –Kido mostrou uma leve alteração em seu tom ao perguntar sobre sua antiga escola, Endo o olhou e em seguiu pediu para a garota prosseguir.

— Ele tá... “Bem” na medida do possível...

— Esse Fudou... Devíamos tirar ele do time, Endo. –Hiroto se pronunciou ainda irritado com a atitude do colega, Mamoru deu um longo suspiro e negou com a cabeça. –Mas Endo...!

— O treinador... Ele não vai permitir que ele saia...

 O moreno lançou a ele um olhar compreensivo, Hiroto até ia dizer algo para faze-lo mudar de ideia, mas Midorikawa o impediu.

— Eu admito que fiquei assustado com o que aconteceu. –Deu uma pequena pausa, parecia pensar no que ia falar quando a morena o olhou pelo canto dos olhos. –Como uma pessoa... Normal consegue fazer aquilo?

— Ele é normal, Midorikawa. –Yasmin respondeu ríspida, confirmando sua intuição de que realmente Ryuuji diria uma besteira.

— Eu sei, eu não disse que ele não é, mas como aquilo é possível? ... Você perguntou pra ele?

—... Não.

— Não acredito que você perdeu a chance de...

— Não é questão de chances, Midorikawa... –O olhar do garoto estreitou-se ao olhar para ela. –Eu acho que... Antes de eu chegar lá ele estava chorando... –O de cabelos verdes engoliu em seco, a tensão sobre eles parecia ter piorado, Endo até debruçou a cabeça sobre a mesa. –Ele estava com os olhos muito vermelhos e inchados, eu não tive coragem de perguntar...

— Nossa, eu vou matar o Fudou.

— Calma Hiroto. –O ruivo não respondeu, apenas parou de andar de um lado para o outro e voltou a sentar na cadeira que dividia com Midorikawa.

— Eu vou fazer o Fudou pedir desculpas... –Kido disse frio, o reflexo da luz em seus óculos dava a ele um ar totalmente sinistro e mau, além de sua própria expressão irritada.

— Ele não vai te ouvir. –Endo murmurou sem mudar de posição.

— Ele vai sim, nem que eu tenha que amarra-lo e amordaça-lo, mas ele vai me escutar!

— Kido. –Goenji, até então calado, chamou-o lançando um daqueles olhares que só o estrategista e o capitão entenderiam. –Vamos dar um tempo sobre isso. –O goleador disse dando por encerrada a sua participação no assunto.  

— Eu falei pra ele que ninguém ia tocar no assunto de novo, imaginei que alguém fosse pensar a mesma coisa. –Atsuki deu uma piscadinha para Shuya, este apenas acenou com a cabeça, ainda sério.

— O Fudou vai ficar fora dos treinos, o treinador avisou vocês?

— Sim... –Todos responderam em perfeita sincronia, com total desanimo. Assim Endo prosseguiu:

— Vamos evitar de chamar o Fubuki pra participar também, ele mesmo disse que não queria, não respeitamos a vontade dele.

— Tem razão, também temos uma parcela de culpa nisso. –Kazemaru concordou com o capitão.

—... Ei, eu tive uma ideia! –Yasmin falou um pouco mais animada, aproximando-se dos garotos e chamando-os para uma rodinha em volta dela para lhe disserem sobre sua armação.

~*~

— Vocês chegaram, finalmente! –Mamoru apareceu na varanda de sua casa com seu costumeiro sorriso gigante, usava uma bermuda cinza e uma camisa de estampa lisa branca, claro, com a bandana também na cabeça, como sempre. –Fubuki, que bom que você veio também!

— Conseguimos tirar ele de casa. –Kiyama respondeu sorrindo para o albino, que nada disse além de rir sem jeito. Endo, já terminando de destrancar o pequeno portão de casa deu espaço para que assim eles entrassem e pudessem se acomodar no quintal, onde tudo já parecia estar pronto.

— Vamos, minha mãe já arrumou tudo.

— Ainda bem, tô morrendo de fome. –Midorikawa lambeu os lábios sentindo seu estomago roncar audivelmente mais uma vez.

— Você sempre está. –Yuuto riu.

— Calado Kido, vamos logo!

 Uma enorme mesa estava posta sobre o quintal e esperava por no´s com um banquete deliciosos, a mãe do Endo também estava lá como ele disse, dando os últimos retoques para tudo ficar incrível. Todos nos sentamos depois de lavarmos as mãos e começamos a nos servir de tudo, agora entendi o porquê da insistência, a comida era realmente muito boa.

 Quando começou a escurecer a senhora Endo entrou e ficamos sozinhos lá, parecia mesmo uma festa, tinha musica, alguns até dançavam e tudo mais. Eu e Goenji éramos os mais quietos dali, tínhamos até conversado um pouco, mas somos muito fechados e não conseguimos pensar em mais nada para falar. Enquanto isso, Endo, Kido e Aki cantavam e dançavam um pouco, e Hiroto, Haruna, Midorikawa, Yasmin e Kazemaru dançavam todas as musicas que tocavam no meio do quintal. No momento tocava Troublemaker, acho que é esse o nome da musica do Olly Murs, ouvi Goenji dar uma risadinha ao meu lado, o olhei confuso, nunca o vi nem ao menos sorrir, que dirá rir daquele jeito.

— O que foi? –Perguntei sorrindo, ele riu outra vez e discretamente indicou com a cabeça o lugar onde todos dançavam.

 Aparentemente Yasmin e Hiroto estavam discutindo sobre quem dançava melhor, enquanto ele ficava a chamando de encrenqueira por conta da letra da musica, dizendo que ela combinava com Atsuki. Eu rir também, ela estava ficando bem irritada com ele.

— Há quanto tempo eles namoram? –Perguntei para Goenji e ele me olhou com uma expressão de duvida.

— Quem?

— A Yasmin e o Hiroto.

— Cara, eles não namoram. –Me olhou segurando a risada, estava sendo um pouco estranho ver Goenji rir daquela maneira, acho que eu não estava acostumado com aquilo.

— Sério? Nossa, eu pensei que eles estivessem juntos... –Voltei a  olha-los, eles pareciam realmente um casal de longos anos de namoro, pareciam se dar muito bem apesar de brigarem muito, notei que a musica já havia mudado, depois de terminar a discussão com um “Ah é?!”. Yasmin o segurou pela gola da blusa e começou a dançar, descendo e mexendo seus quadris de um lado para o outro, nem percebi quando fiquei de boca aberta enquanto via tudo.

— Eles não combinam nem um pouco. –Nem sequer o escutei dizer, Hiroto estava rindo a olhando e então ela subiu de novo, olhando-o nos lábios, tão perto que eu poderia jurar que eles se beijariam. Meu coração estava acelerado, nunca na minha vida eu tinha visto uma garota dançar daquele jeito, no Japão isso era extremamente raro, quase impossível de encontrar.

— A mãe do Endo vai nos expulsar se você continuar dançando assim.

— Eu não vou, só queria te provar que danço melhor. –Piscou para ele, ao meu lado tentei prestar novamente atenção ao que Goenji dizia depois do “Eles não namoram”, de alguma forma eu fiquei aliviado com aquilo.

— Minha musica!

 Era uma da Lady Gaga, Do What You Want, todos relaxaram mais quando ela começou a tocar e aos poucos voltaram para seus lugares, até mesmo Hiroto dançou um pouco e depois saiu para outro lugar que eu não pude ver onde era.

— Nossa, vocês nem sairão daí. –Haruna se aproximou de nós junto de Aki e Endo, sentando-se ao meu lado como sempre fazia, éramos relativamente próximos um do outro.

— Dançar é muito chato. –Goenji respondeu bebendo um pouco de refrigerante.

— É nada, tava super legal com a gente. Vamos depois? –Perguntou para nós dois, mas olhou primeiro para mim.

— É verdade, vocês estão muito quietos aqui. –Aki concluiu.

— Por mim tudo bem.

— Aí Goenji, até o Fubuki vai. Vaaamos! –Endo tentava puxa-lo pela mão, mas ele nem se mexia e o olhava com desprezo, era natural de Shuya agir daquela forma, até rir de Endo quando este quase caiu depois dele ameaçar soltar sua mão. –Caramba, como você é pesado!

— Para de me chamar de gordo, vamos vai. –Finalmente cedeu e seguiu Endo até o meio do quintal onde nós fomos atrás, Yasmin e Kazemaru estavam conversando ali perto, mas não conseguia saber sobre o que era. Após isso, novas musicas começaram a tocar, inclusive musicas que eu sabia que Hiroto gostava, mas nada dele voltar. Acabei me preocupando demais e deixei transparecer, tanto que Haruna percebeu enquanto dançávamos e perguntou se estava tudo bem, depois de avisa-la eu fui atrás de Hiroto na esperança de encontra-lo por outros cantos da casa, ele não devia ter ido longe.

— Que bom que você conseguiu vir...

 Pude ouvir vozes vindas de trás da casa, lugar por onde eu estava acabando de passar, parecia ser o Midorikawa falando enquanto Hiroto ria, sua risada era inconfundível. Fui naquela direção e o vi sentado no colo de Midori enquanto acariciava seu rosto, ambos em cima do que parecia ser a metade de um tronco caído.

— Eu sei, tive que despistar todo mund...

 Ele foi totalmente interrompido pelo beijo que Midorikawa acabava de lhe dar, na boca, de língua, até ouvi Kiyama suspirar entre os lábios dele. Eu precisava sair dali antes que me visse, não queria estragar aquele momento dos dois juntos.

— Hmm... Midori...

 Apressei-me em se afastar sem ser percebido, mas quando me virei acabei pisando em um galho e alguns metros depois deste estava Yasmin me olhando assustada.

— Fubuki? –Ouvi Hiroto me chamar, e quando olhei para trás notei o olhar atônito de ambos agora separados.

— Vem cá. –Senti alguém puxar minha mão e me afastar rapidamente dali, chegando até o quintal novamente ela me pediu para te esperar e voltou para onde Hiroto e Midorikawa estavam.

||

— que droga, devíamos ter ido lá pra fora... –Ryuuji falou preocupado.

— Ele falou alguma coisa?

— Não, eu nem conversei com ele ainda. Fiquem aqui vocês dois, que eu vou explicar tudo pra ele, tá?

— Tá bom, valeu. –Hiro a abraçou rapidamente e ao solta-la pegou na mão de Ryuuji e o puxou de novo para sentarem-se sobre aquele tronco derrubado, enquanto a garota corria de volta na direção do albino.

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 Seu olhar estava tenso, seu corpo inteiro na verdade. Ao aproximar-se sorriu minimante e pegou de novo em minha mão, meu corpo estremeceu.

— Não se preocupe, eu não ligo para essas coisas...

— E-eu sei, mas... Eu tenho ainda uma coisa pra te dizer.

 O castanho quase negro de seus olhos me olharam com suplica e com sua mão sobre a minha ela me guiou até a garagem da casa, onde ficava um pequeno canteiro de tulipas vermelhas, paramos de andar e ficamos um de frente ao outro.

— Fubuki... O Hiroto e Midori, eles... Eles meio que estão juntos, mas não namoram serio ainda... –Tropeçando um pouco nas palavras e fazendo pausas exageradas ela proclamou com nervosismo. –Eu queria que você guardasse esse segredo por enquanto, para o bem dos dois... É uma longa historia, mas...

— Tá tudo bem, não precisa se preocupar, eu não vou contar a ninguém... –Tranquilizei-a, em resposta a menina sorriu nervosamente passando a mão em seus cumpridos cabelos.

— É que... Os dois se gostam muito a muito tempo e só faz alguns meses que eles começaram a ficar de verdade, o problema é a madrasta do Midori, ela implica muito com ele por causa disso...

— Entendo... Deve ser difícil pra ela também...

— Não Fubuki, ela bate nele, o espanca.

 Afirmou com seriedade, eu mal podia acreditar no que ouvia.

— Isso é serio?

— Sim... –Suspirou. –Ela não quer que ele fique com o Hiroto, não quer um sobrinho gay e faz essas coisas para tentar faze-lo mudar de “ideia”, como se gostar de alguém fosse algo fácil de mudar em segundos.

— Nossa... Eu não fazia ideia... –E era verdade, eu nunca cheguei a imaginar aquilo. Midoriakwa era uma das pessoas mais legais e divertidas que eu havia conhecido, era contagiante a forma com que ele tratava a todos com bondade e sinceridade, brincando com a gente... Sempre sorrindo. Imagino o quão difícil deve ser para ele conviver com isso, escondendo quem ele é de verdade e sofrendo com uma mulher que não o aceita do jeito que ele é... É incrível o que você pode esconder com o sorriso...

— Você pode fazer isso?

— Claro... Pode contar comigo. –Sorriu agradecida e de repente me abraçou, deixando-me incerto em retribuir por alguns instantes até ceder totalmente e abraça-la também. Suas mãos deslizaram por minhas costas, fazendo um carinho delicado que me confortou e me fez bem, mesmo que eu não fosse fã de abraços.

— Eu vou voltar lá pra dentro, daqui a pouco a festa acaba e estamos aqui... –Riu ao me soltar.

— Eu também vou, nem aproveitei direito aqui.

— Então vamos, eu quero dançar com você também. –Lançou-me uma piscadela e passou a minha frente sorrindo e eu não consegui dizer mais nada, apenas a segui. Pela primeira vez em todos aqueles anos depois do acidente, eu não pensava no meu irmão morto ou na minha família, me lamentando por isso. Por aquelas breves horas eu estava me divertindo depois de tanto tempo, eu sabia que não era com Atsuya que eu sonharia naquela noite, e sim com a garota que segurava e aquecia a minha mão com a sua, enquanto andava ao meu lado sorrindo.