Ao infinito... escrita por Ruts


Capítulo 7
Capítulo 7 ― Primeiras impressões.


Notas iniciais do capítulo

Olá, pessoas virtuais! Desculpem o atraso, mas aconteceram diversos empecilhos e enfim, aí está.

Espero que gostem da leitura.

Boa leitura.

P.S: Os itálicos são flashbacks.

Betado por Visenya Targaryen.



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Após receber quatrocentos milhões e quinhentos e sete mi conselhos sobre como agir, sobre o que falar, sobre como não deixar meus sentimentos transparecerem e blábláblá , Enziel finalmente me disse onde encontrar o tal do Tommy. Ele estava “coincidentemente” me alugando um quarto no apartamento dele. É óbvio que o arcanjo havia mexido os pauzinhos (não levem para o lado malicioso, pelo amor dos anjos) para que aquilo ocorresse. Era a oportunidade perfeita para eu ficar de olho no demo. Quero dizer, no lindinho do meu protegido.

Cheguei naquele prédio meio xexelento e torci o nariz ao entrar na recepção. A palheta de cores era extremamente deprimente, em tons escuros de marrom e cinza. Fala sério, aquilo parecia um presídio.

A recepcionista era meio gordinha, tinha o cabelo ensebado e mascava um chiclete com a boca aberta. Aproximei-me, receosa, e lhe dirigi o meu melhor sorriso.

― Olá, vim aqui por causa de um anúncio que vi no jornal. Parece que tem alguém alugando um quarto num dos apartamentos e eu estou interessada.

Esperei ela responder, mas tudo que ela fez foi me olhar com cara de peixe morto e estourar uma bolinha de chiclete.

Eu. Mereço.

― Poderia me dizer qual é o número do apartamento, por favor?

Ela continuou a me olhar e eu já estava perdendo a paciência quando uma voz calorosa falou atrás de mim:

― Acho que sei o que está procurando, moça. O meu irmão colocou um anúncio no jornal hoje de manhã! Venha, vou chamar ele para a senhora.

Virei-me para trás e vi uma garotinha de mais ou menos uns oito anos me estendendo a mão, toda animada. Fofa. Não fosse pelo fato de seu irmão ser o meu assassino, eu até poderia gostar dela.

― Como você se chama? ― perguntei, pegando em sua mão e sendo arrastada pela recepção para sabe-se lá Deus aonde.

― Rosemary. Mas eu não gosto, então pode me chamar de Ro. E você, moça?

Até que ela era educada.

― Angeles.

Ela olhou pra mim, os olhinhos castanhos brilhando de empolgação.

― A gente pode brincar a tarde toda! Vamos cortar o cabelo da minha boneca nova. Apesar do maninho brigar comigo quando eu faço isso... ― concluiu ela com um biquinho infantil nos lábios.

Gente, ela era uma gracinha. Os cabelinhos castanhos estavam presos numa trança e o vestidinho branco reluzia. As bochechas eram vermelhas e ela carregava uma bolsinha rosa.

― O que tem aí nessa bolsinha? ― perguntei, notando que ela estava me levando em direção ao elevador. Arregalei os olhos, puxando meu braço de volta.

Ela olhou para trás confusa por eu ter soltado sua mão, mas respondeu mesmo assim.

― Meu cartãozinho verde, ― acho que ela queria dizer R.G... mas vai saber ― meu batom e meu espelho.

Dei uma risadinha nervosa, ainda encarando as portas metálicas do elevador.

― Eu não vou entrar aí ― resmunguei, olhando em volta em busca de uma escada.

― A senhora tem medo? ― questionou ela parecendo curiosa.

Balancei a cabeça negativamente, tentando soar sincera.

Roza, o que está fazendo sozinha aqui em baixo? Eu já falei pra você não ficar andando por aí! ― ralhou uma voz com um forte sotaque e eu imediatamente olhei para trás.

― Desculpa... ― murmurou ela baixinho, parecendo envergonhada.

“Respira, Angeles”, era só o que eu conseguia pensar naquele momento.

       Era ele. Deus me acuda.

Virei-me para trás.

― Quem é você? ― perguntou ele rispidamente.

― Hã... Angeles, muito prazer ― disse dando um sorriso amarelo.

Ele me olhou de cima a baixo e bufou, me dando as costas e ignorando completamente minha mão estendida.

Okay, Angeles, não leve para o lado pessoal, mas o que esse desgraçado tem comigo? Primeiro ele me mata e depois age como um cafajeste?! Argh, ninguém merece!

Respirei fundo uma, duas, três, dez vezes.

― Miserable (miserável) ― xinguei baixinho, cerrando os punhos.

― O que a senhora disse foi em outra língua? ― perguntou Rosemary parando ao meu lado, lançando-me um olhar de desculpas e curiosidade.

Ignorei sua pergunta e corri atrás dele, que havia virado num pequeno corredor. Eram as escadas.
        “Glória a Deus!”, berrei em pensamento.

Subi alguns degraus correndo e toquei seu ombro.

― O que quer? ― perguntou rispidamente. De novo.

― Eu vim por causa do maldito anúncio! ― exasperei, pronta para lhe dar um belo soco no nariz.

― Ah, o aluguel do quarto. Venha, vou te mostrar o apartamento. Mas saiba que não sairá barato.

Dei uma risadinha seca antes de responder:

― Dinheiro não é problema.

Pelo menos eu achava que não, já que o Enziel havia dito que cuidaria de tudo.

Ele deu de ombros antes de se virar e continuar a subir os degraus.

Setenta e seis. Setenta e seis degraus eu tive que subir para chegar ao apartamento dele. E é óbvio que fui resmungando o caminho inteiro, enquanto ele apenas me ignorava.

Ótimo.

― Então, por que se interessou pelo anúncio? ― indagou ele de repente, lançando-me um olhar por cima do ombro, girando a maçaneta da porta logo em seguida.

― Porque esse apartamento fica próximo à minha faculdade ― respondi mecanicamente, como o arcanjo havia me ensinado.

― Hm... ― resmungou. ― Você cursa o quê?

― Veterinária.

― E você tem quantos anos?

― Vinte e três.

― Trabalha em quê?

― Por enquanto estou procurando um estágio numa clínica, mas a mensalidade do apartamento eu pagarei com a mesada que os meus pais me mandam ― menti.

― Usa algum tipo de droga?

Franzi o cenho.

― Não.

― É alguma pervertida maluca que, hipoteticamente falando, poderia entrar no meu quarto durante a noite e cometer atos pervertidos comigo?

Revirei os olhos.

― Não.

― Hm, que pena. ― E o desgraçado ainda tinha um sorrisinho malicioso no rosto.

― Acabou o interrogatório?

Ele arqueou as sobrancelhas e então disse, totalmente sério:

― Tenho uma última pergunta.

Assenti com a cabeça para que ele prosseguisse.

― Você acredita em panspermia?

Arregalei os olhos. Mas que diabos?

― Hein?

― A teoria de que a vida no planeta veio do espaço e de que todo mundo acha que é de autoria de Hermann vonHelmholtz, porém na verdade remonta a cinco séculos antes de Cristo, porque Anaxágoras era um gênio desgraçado.

Ele continuava sério e eu continuava com os olhos arregalados.

De repente seus lábios começaram a tremer e ele explodiu numa gargalhada alta, balançando a cabeça em negativo.

― Eu estava brincando.

Dei um sorriso extremamente falso e lhe respondi:

― E eu vou te acertar bem no nariz, seu idiota.

Ele riu de novo e abriu a porta convidando-me para entrar.

Mal prestei atenção no apartamento, fiquei apenas pensando em como seu humor havia mudado repentinamente de uma hora para a outra. De mal educado para esquisito, de esquisito para nerd e de nerd para palhaço. Mas sem nunca deixar de ser um idiota de primeira.

Ele se virou pra mim num momento, explicando não sei o quê e notei como seus olhos eram absurdamente escuros e ferozes. Sua feição era quase animal, mesmo aquele sorrisinho debochado.

― Podemos fechar negócio? ― questionou ele de repente. Eu apenas assenti.

Aquilo seria uma tortura.

Morar sozinha tinha lá suas vantagens, porém eu detestava ficar sozinha no mesmo apartamento que meu irmão havia vivido comigo. A cada cômodo que eu entrava podia sentir a presença dele, podia ouvir sua risada e até mesmo suas broncas.

No dia em que se completou exatamente dois anos de sua morte , eu tive uma recaída. Não sabia bem se era depressão, ataque de fúria ou algum tipo de trauma, mas eu simplesmente surtei assim que entrei no quarto que pertencia a ele. Caíra de joelhos ao chão, chorando copiosamente e batendo os punhos cerrados no chão com tanta força que logo eles estavam dormentes. Chutei e quebrei tudo que podia, gritando o mais alto que conseguia . A dor que eu sentia fisicamente por bater nas coisas nem se comparava com a que se propagava na minha alma. Soquei o espelho, derrubei o guarda-roupa e joguei longe o colchão.

Escutei alguém chamar o meu nome no mesmo instante em que tirava as gavetas da cômoda e as arremessava pelo quarto, produzindo barulhos estrondosos.

A porta se abriu e eu continuei a chorar. Encostei-me parede do quarto do meu irmão sentindo o corpo latejar, principalmente minhas mãos, e escorreguei sem forças até o chão.

Fechei os olhos soluçando, quando senti alguém me abraçar. E pelo modo como os braços me rodearam com força, soube que era ele.

― Vá! Me deixe sozinha, por favor, Ben... ― sussurrei com a voz esganiçada, sentindo vergonha de repente por ele ter me encontrado naquele estado.

Mas ele não foi. Simplesmente continuou no chão abraçado comigo, sua bengala jogada perto de nós.

― Não, você não entende. Me solta, me deixa sozinha! ― berrei tentando empurrá-lo, contudo seus braços de ferro apenas me apertaram mais.

― Ah, Angel, eu nunca vou te deixar...

Uma de suas mãos soltou minhas costas e ele a levou até meu rosto, secando algumas das lágrimas que rolavam pelas minhas bochechas. Suspirei cansada enquanto ele erguia a outra mão também, passeando as duas pelo meu rosto.

― Eu sou louco por você, Angel ― murmurou ele. ― Vou estar aqui sempre que precisar. Mesmo sendo cego eu consigo sentir quando você precisa de mim. Pedi a Dana que me trouxesse porque senti meu peito ficar apertado de repente e me lembrei que hoje faria dois anos desde que seu irmão faleceu. Mas eu estou aqui, meu amor. Eu estou aqui pra você.

Levei minhas mãos trêmulas até seu rosto o trazendo para mim, beijando-o logo em seguida. O beijei, pois não sabia o que responder. E dizer que eu estava completamente apaixonada por ele parecia não ser o suficiente.

 

Após aquela breve conversa que tive com o meu assass... quero dizer, com o rapaz Tommy, decidimos que eu poderia utilizar o quarto a partir do momento que eu adiantasse à ele um mês do aluguel (que era bem carinho, por sinal).

Fui até o banco que Enziel havia me dito e saquei o dinheiro da conta que ele tinha arranjado para mim. Aproveitei para comprar algumas roupas e materiais escolares para a faculdade, já que começaria a cursar na semana seguinte.

Voltei tarde da noite para o prédio, um pouco receosa de encontrá-lo de novo. Apesar de ter de protegê-lo, a antipatia que eu sentia era descomunal.

O cara me dava arrepios.

Bati na porta, lotada de sacolas nas duas mãos, duas bolsas e uma mochila penduradas nos meus ombros. Depois de ter subido setenta e seis degraus. Sim, eu devia ganhar um prêmio por todo aquele sacrifício.

A porta se abriu em alguns instantes, revelando um Tommy totalmente relaxado. Ele vestia uma camisa social branca aberta (e vale a pena ressaltar, muito amassada, assim como o seu cabelo e sua cara), calça moletom e meias. O cabelo negro, que ia até a altura dos ombros, estava bagunçado e sua barba por fazer completava ainda mais o visual desleixado.

Franzi o nariz ao olhar para ele.

― Quê? Não faça essa cara, eu estou na minha casa.

Revirei os olhos, cansada e dolorida por carregar todo aquele peso, e dei um passo para frente.

Ele bloqueou a passagem e arqueou as sobrancelhas, estendendo a mão.

― O dinheiro, querida.

― Me deixa entrar, isso aqui está pesado ― choraminguei dando mais um passo para frente.

Ele me olhou de cima a baixo de novo e bufou, deixando que eu entrasse.

Joguei as sacolas, bolsas e a mochila todas no sofá e massageei os ombros, dando um gemido dolorido.

Tommy deu um pigarro e eu mordi a língua para não xingá-lo.

Paz interior. Paz interior. Paz interior. Paz in...”

― Moça, o dinheiro.

Soltei um resmungo e abri minha bolsa, pegando de lá as várias notas que eu havia sacado no banco. Ele as pegou e contou, sorrindo para si mesmo.

Mercenário maldito.

Danke, Engel― disse ele, com um forte sotaque e uma piscadela. Não entendi absolutamente nada do que ele disse, pois soou como “Dáánque Enguel”.

― Mas hein?

Ele riu e me deu as costas, seguindo por um corredor.

― Ei, onde fica o meu quarto? ― gritei, mas em resposta só ouvi o barulho da porta batendo.

Balancei a cabeça em negação, pensando no quanto eu era sortuda, até que ouvi um barulhinho vindo de fora. Franzi o cenho e caminhei até a porta, ouvindo o barulhinho de novo.

Para a minha surpresa, ao abrir a porta me deparei com um lindo gatinho rajado dos olhos verdes. Ele se assustou com a minha presença e correu para o cantinho da parede que finalizava o corredor dos apartamentos.

― Calma, calma, eu não vou te machucar ― sussurrei, aproximando-me dele devagar. Agachei na sua frente e deixei que ele cheirasse a minha mão antes de acariciá-lo.

― Você está perdido, corazón (coração)? ― indaguei, como se ele fosse me responder.

Ele miou de volta e começou a ronronar, esfregando-se nas minhas pernas.

Olhei para os lados em busca de algum possível dono, mas como não havia ninguém, peguei-o no colo e me dirigi para o apartamento.

Entrei devagar, torcendo para que Tommy ainda estivesse no quarto.

O gatinho miou novamente, parecendo cansado.

― Você deve estar faminto, né? Tadinho.

 Procurei pela cozinha e logo a encontrei. Era minúscula e tinha apenas uma geladeira, um fogão e um balcão encardido que ele devia usar como mesa. Argh.

Abri a geladeira em busca de leite, já que eu não tinha ração.

Peguei uma tampa de pote e despejei um pouquinho de leite junto com uns pedacinhos de pão, para dar sustância. Mais tarde eu sairia para comprar ração a ele.

Ele sugou tudo em questão de segundos, desesperado por mais. Sorri diante daquela visão.

― O que esse bicho está fazendo na minha cozinha? ― reverberou uma voz grave e furiosa. ― E eu me refiro ao de quatro patas!


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Notas finais do capítulo

Algo a ser considerado?
Beijos coloridos! ahsuahsua
Até o próximo!



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